Aquarius


Em que as comas do sol se fortalecem
No Aquário, e a noite iguala o dia ausente,
Quando as geadas matinais parecem
Da alva irmã figurar a imagem pura,
Mas tais feições em breve se esvaecem. [i]
Tradução de José Pedro Xavier Pinheiro para o Inferno, de Dante.


AQUARIUS

O nosso Aquário, il Aquario na Itália, le Verseau na França, the Waterman nos países anglofalantes e der Wassermann na Alemanha, universalmente leva este título ou outros semelhantes. Ideler considera uma razão para isto o fato de o Sol atravessá-lo durante a estação chuvosa (do hemisfério norte). Além disto, a proximidade a outras formas estelares análogas é digna de menção: Capricórnio, Baleia, Golfinho, Erídano, Hidra, Peixes e Peixe Austral, todas formas aquáticas dos céus primitivos, estando ainda a Nave Argo e a Taça em sua vizinhança. Arato informa que algumas dessas estrelas “são chamadas de Água" [ii]; de fato, na astronomia eufrateana esta região do céu era o Mar, e considerava-se que ela estava sob o domínio de Aquário.

Aquário, na representação de Hevelius

A constelação imemorialmente tem sido representada, mesmo nas mais primitivas tabuinhas babilônicas, como um homem, ou menino, que derrama água de um balde ou jarro, com um conveniente toalhete na mão esquerda, embora, às vezes a figura humana fosse omitida. Pois mesmo conhecendo-a, os arábios não ousavam representá-la e a marcavam ou por uma mula que carrega dois barris de água ou por simples balde de água. Esta última representação era a ideia que Ulugh Beg tinha dela, que sua palavra original foi traduzida por Hyde como Situla, o balde de água romano; mas al-Bīrūnī a tinha em suas cartas astrológicas como Amphora, uma jarra de vinho de duas alças, que deve ter tirado de Ausônio, o poeta do nosso século IV. Diz-se que mesmo Vercingetorix, o oponente de César na Gália, em 52 aC, pôs uma figura similar em seus estáteres com a denominação Diota, a Jarra de Duas Alças.

No zodíaco romano, ele era o Pavão, símbolo de Juno, a Hera dos Gregos, em cujo mês Gamelion — entre nossos janeiro e fevereiro — o Sol se encontra neste signo; e noutras vezes foi representado como um Ganso, outro pássaro sagrado dessa deusa.

Cristãos do Novo Testamento nos séculos XVI e XVII consideraram-no apropriado para representar São João Batista, ou ainda o apóstolo São Judas Tadeu, embora outros retrocederam a Naamã nas águas do Jordão e até mesmo a Moisés retirado das águas.

Sua nomenclatura é vasta, mas consistente. Na literatura grega, ele era o Ὑδροχόος, o Ὑδροχοεύς épico, ou Aguadeiro, transliterado por Catulo como Hydrochous, e por Germânico como Hydrochoos; embora este último também o tenham chamado de Aquitenens (Portador da Água) e Fundens latices (o que verte o líquido), afirmando que ele personificava Deucalião do dilúvio grego, em 1500 aC. Ausônio usou Urnam qui tenet (o que tem o jarro); Prudêncio, Hydrius Puer (Menino da Água); Manílio, Aequoreus Juvenis (Jovem Marinho), ou simplesmente Juvenis, e Ganymedes, o belo garoto frígio, filho de Tros e copeiro de Jove, sobre o qual Estácio escreveu em sua Tebaida:

E a águia altaneira de Jove leva
Sob a asa dourada, o Frígio às estrelas. [iii]

Este título também aparece em Cícero, Higino e Virgílio; e em Ovídio, nos Fastos, como Ganymede Juvenis, Puer Idaeus (Menino Ideu), e Iliacus (Ilíaco), de seu local de nascimento, bem como Juvenis gerens aquam (Jovem que traz a água) [iv]; conquanto, num sentido mais amplo, tomaram-lhe como uma representação do criador Jove, o que derrama a água sobre a terra.

Encontramo-lo, também, como Aristeu, o Elias grego, que trouxe chuva aos habitantes de Ceos, e Cécrope, da cigarra nutrida pelo orvalho, cujos ovos são chocados pelas chuvas [v]; enquanto Apiano, o historiador do nosso século II, chamou-o Hydridurus [vi], que reapareceu no Almagesto de 1515 como Idrudurus e Hauritor aquae (o que retira água da fonte). O grande poeta lírico grego Píndaro declarou que ele simbolizava o gênio das fontes do Nilo, as águas que dão vida à terra. Horácio juntou ao seu título moderno Tyrannus aquae (Regente da Água), escrevendo que ele “entristece o ano inverso” [vii], o que James Thomson (1700-1748) seguiu no poema Winter em sua obra Seasons:

Feroz Aquário macula o ano inverso; [viii]

e Virgílio, chamando-o de frigidus, disse similarmente que ele, quando coincidente com o Sol, fechava o ano com umidade:

Extremoque inrorat Aquarius anno. [ix]

Na Babilônia, ele estava associado ao 11.o mês Araḫ Šabaṭu, época chamada de Praga da Chuva, entre janeiro e fevereiro; e o Épico da Criação tem um relato do Dilúvio em seu 11.o livro, que corresponde a esta 11.a constelação (cada um dos demais livros coincide numericamente com os outros signos zodiacais). Nesse reino, era conhecido como Gu ou Gula [x], o Ku-ur-ku acadiano, o Trono das Águas Fluentes; e ele era também Rammān ou Rammānu, o Deus da Tempestade, e mais primitivamente Nin-Imma,[xi] apresentada a derramar água de um vaso, embora por vezes só o vaso fosse representado. Alguns asseguram que Senhor dos Canais seja o significado [xii] da palavra acadiana para Aquário.

Abenezra chamou-o de Monius dos egípcios, de muau ou mῶ, que no idioma deles significa “água”;[xiii] Kircher afirma que ele era o ϒπευθέριαν deles, Brachium absconditum (Braço Oculto), o Local da Boa Fortuna [xiv]; que Brown, entretanto, limita a suas estrelas α, γ, δ e η sob a forma duma mansão lunar copta; e Garrett Serviss escreveu que “os antigos egípcios imaginavam que o poente de Aquário causava a cheia do Nilo, como se ele afundasse seu enorme jarro no rio para enchê-lo”.[xv]

Aquário, no Descrição das Estrelas Fixas, de al-Ṣūfī.
Entre os arábios, seu nome é al-Dalū, o Balde d'Água; e em Qazwīnī, al-Sākib ul-Māʾ, o Despejador de Água; do primeiro desses termos vem o Edeleu de Bayer, e o Eldelis de Chilmead. Os persas conheciam-no como Dol ou Dūl; os hebreus, como D'li (o Delle de Riccioli); os sírios, como Daulo, como o latim Dolium (Barril); e os turcos, como Kugha, — todas com o significado de Balde d'Água. No Bundahishn persa, ele é Vahik.

Na China, com Capricórnio, Peixes e parte do Sagitário, constituía a primitiva Serpente, ou Tartaruga, Tiān Yuán; e posteriormente foi conhecido como Hièn Yīng, o Guerreiro ou Herói Negro, o Hièn Wǔ, ou Hiuen Heaou,[xvi] da dinastia Han, que Dupuis anota como Hiven Mao. Era o símbolo do imperador Tchoun Hin, em cujo reinado ocorreu um grande dilúvio [xvii]; mas após a chegada dos jesuítas, tornou-se Bǎo Píng, o Vaso Precioso. Ele contém três dos xiù, e encabeça a lista dos signos zodiacais como o Rato, que é considerado um signo do elemento “água” e serviu como um ideograma para a água no Extremo Oriente.

Algumas estrelas mais fracas de Aquário, — ι, λ, σ e ϕ, — com outras de Capricórnio e Peixes, formavam o asterismo Lěi Bì Zhèn, o Acampamento Entrincheirado.

No Ganges, bem como na China, ele iniciava o círculo de signos zodiacais; e al-Bīrūnī disse que em certa época na Índia ele era Khumba, ou Kumbaba, que nos faz lembrar da divindade elamita chamada Κόμβη, ou Deus da Tempestade, de Hesíquio. Tal era igualmente o nome tâmil para ele, segundo Lalande, que anotou Coumbum. Varāhamihira, sob influência da astronomia grega, chamou-o de Hridroga e Udruvaga, nos quais reconhecemos Ὑδροχόος.

Entre os magos e druidas, ele representava a própria ciência da astronomia.

Os anglo-saxões chamavam-no se Waeter-gyt, o Despejador de Água; e não muito tempo depois deles John Trevisa, o tradutor inglês, em 1398 relembrou sua forma clássica com antiquada elegância:

The Sygne Aquarius is the butlere of the goddes and yevyth them a water-potte. [xviii]

Livros em inglês publicados posteriormente traziam Aquary, Aquarye, e, tempos depois, o estranho nome Skinker (Licorista). Este último, que intrigou mais de um comentarista, encontra-se no raro livro Meteorologiae by Mr. Cock, Philomathemat. de 1703:

Jupiter in the Skinker opposed by Saturn in the Lion did raise mighty South-west winds. [xix]

Mas essa passagem merece sua própria explicação: no zodíaco, Aquário fica oposto a Leão; já o arcaico termo usado para a constelação evoca sua tradicional identificação com o copeiro celestial Ganimedes amplamente comentada acima.

Embora autores antigos variavam na sua atribuição das doze constelações zodiacais às doze tribos de Israel, geralmente estavam de acordo em apontar Aquário a Rubem, “impetuoso como a água”.[xx] Mas a origem de toda essa legenda judaica, o discurso de Jacó a seus filhos junto ao leito de morte no Egito e o último cântico de Moisés no Monte Nebo, não são suficientemente claros para garantir muita confiança quanto à correta atribuição de quaisquer símbolos tribais, se é que de fato os israelitas tivessem algum. O pouco que temos sobre o assunto vem de Josefo e da Paráfrase Caldeia.[xxi]

Dante, no Canto XIX do Purgatório, escreveu:

Quando ao geomante fúlgida aparece
A Fortuna Maior lá no Oriente,
Donde rápida a noite se esvaece; [xxii]

o que é explicado por Longfellow em suas notas assim:

Fortuna Major, símbolo
geomântico usado por Dante
como representação
alegórica de Aquário.
A geomancia é uma arte divinatória que usa pontos marcados no solo ou seixos arranjados em certos glifos, que possuem nomes peculiares. Entre esses há um chamado Fortuna Major, que é desenhado como um diapasão, e, por um esforço de imaginação, também pode ser formado por algumas das últimas estrelas de Aquário e também das primeiras de Peixes.

Na astrologia, ele compõe o Trígono de Ar, juntamente como Gêmeos e Libra, e é

um signo digno de nota, pois não havia dúvidas de que suas estrelas possuíssem influência, força e eficácia, com as quais elas alteravam o ar e as estações de “uma maneira maravilhosa, estranha e secreta”; [xxiii]

e um almanaque manuscrito iluminado de 1386, possivelmente o mais antigo em nosso idioma que já foi impresso, afirma sobre este signo: “It is gode to byg castellis, and to wed, and lat blode”.[xxiv] Com Capricórnio forma o Domicílio de Saturno, que rege as pernas e os tornozelos; e se dizia que quando o Sol estava em Aquário, junto ao horizonte, o tempo ficava sempre chuvoso. Ou que se Saturno aí se encontra, ele tem o indivíduo completamente em suas garras — caput et collum; enquanto Júpiter, nesse signo, afetaria humeros, pectus et pedes. [xxv]

Como Junonis astrum (Constelação de Juno), ele era um signo diurno, sendo Juno e Jove seus guardiões, e regia sobre a Cilícia e Tiro; posteriormente, sobre a Arábia, Tartária, Dinamarca, Rússia, Suécia, Vestfália, Bremen e Hamburgo. [xxvi]

Myths and Marvels of Astronomy de Proctor apresenta uma lista de cores astrológicas aos signos do zodíaco, atribuindo a Aquário um azul celeste;[xxvii] enquanto Lúcio Ampélio, no nosso século II, em seu Liber Memorialis atribuiu os cuidados de vários ventos a diversos signos, confiando a este a guarda de Euro e Noto, que sopram do leste, ou sudoeste, e do sul, respectivamente.

Diz-se que o símbolo astronômico deste signo, ♒, que mostra linhas onduladas, era o hieróglifo que representava a Água,[xxviii] título de Aquário no país do Nilo, onde uma vara de medição parece ter sido associada a ele; de fato, Burritt representou uma assim na mão da figura como Norma Nilotica, uma alusão ao antigo nilômetro.

Aquário, no Celestial Atlas de Jamieson (1822). Jamieson foi o primeiro a representar o nilômetro
como um asterismo, na mão esquerda de Aquário, entre o Golfinho e Capricórnio.

Brown, no 47.o volume da Archaeologia, apresenta essas interessantes notas acerca dos símbolos dos signos:

Com respeito a estes, o Sr. C. W. King observa: “embora os planetas sejam geralmente representados por seus emblemas, ainda assim nem eles nem os signos são encontrados representados em obras antigas por tais símbolos tão familiares aos olhos em nossos almanaques. Sempre que estão marcados em pedra, pode-se tomá-la sem hesitação como um produto do cinquecento, ou do século seguinte... Com respeito à origem desses hieróglifos, nunca fui capaz de traçá-la. Eles são vistos exatamente como suas formas atuais em manuscritos medievais muito antigos”; e o Sr. King inclina-se, na falta de uma melhor explicação, “a suspeitar que tenham sido concebidos por sábios árabes” — uma opinião da qual não partilho. O assunto é certamente envolto em grande obscuridade; e mesmo o Professor Sayce recentemente informou-me que foi incapaz de traçar a origem dos símbolos zodiacais até sua primeira aparição na literatura ocidental.

Já Agnes M. Clerke escreve que eles são encontrados em manuscritos por volta do século X, mas em esculturas apenas a partir dos séculos XV ou XVI. Sua origem é desconhecida; mas alguns deles, se não todos, possuem associações antigas.

The Rosicrucians de Hargrave Jennings traz a ilustração de um objeto que mostra uma cruz egípcia e um disco marcados com os símbolos usuais de Leão e Virgem, ou Escorpião, que alegadamente se encontram no tórax duma múmia da Universidade de Londres. Se essa informação estiver correta, pode-se reivindicar uma origem muito mais antiga para tais símbolos [1] do que até agora se supôs.[xxix]

Cibele, em escultura feita na Ásia Menor,
por volta do século II aC. Ladeiam-na um
leão e um jovem que porta uma ânfora/urna
sobre o ombro. Encontra-se no Hermitage
Museum de São Petersburgo.
De suas pesquisas sobre o simbolismo astronômico arcaico em moedas clássicas, monumentos, etc., D'Arcy W. Thompson concluiu que o grande baixo-relevo da Cibele Asiática, atualmente no Hermitage Museum de São Petersburgo, foi elaborado para representar os antigos trópicos de Aquário e Leão;[xxx] e que Aquário, Águia, — ou mais provavelmente o outro Vultur, nossa Lira, — Leão e Touro estão representados na cena familiar de Ezequiel, 1:10 e 10:14, e no Apocalipse, 4:7.[xxxi]

Aquário não é uma constelação conspícua, sendo marcada principalmente pelas estrelas γ, ζ, η e π — que compõem o Jarro, o reconhecível Y, — chamado pelos gregos de Κάλπη, Κάλπις, Κάλπεις, e Situla, ou Urna, pelos romanos, que chegou a ser considerada uma constelação distinta por Plínio; e por uma linha de estrelas mais fracas: λ, ϕ, χ, ψ e ω, que indicam a água que escorre do Jarro até a boca do Peixe Austral, ou, como às vezes é desenhado, que se une ao rio Erídano. Joseph Spence, comentando sobre esta figura no globo de Farnese e acerca de sua descrição por Manílio: Ad juvenem, aeternas fundentem Piscibus undas (ao jovem que verte ondas eternas aos Peixes), e Fundentis semper Aquarii (do Aquário sempre a verter), escreveu o seguinte:

Ganimedes, o copeiro de Júpiter. Ele porta a taça ou pequena urna em sua mão, inclinada para baixo; e está sempre derramando dela: como de fato deveria estar, para ser capaz de duma fonte tão pequena formar aquele rio que vemos a correr de seus pés e atravessar uma parte considerável do globo. [xxxii]

Manílio encerra suas linhas sobre Aquário com Sic profluit urna, que Spence traduz como “And so the urn flows on” (E assim a urna mana); aditando:

que parece ser uma expressão proverbial entre os antigos, tomada da vertência incessante desta urna; e que não seria de todo inaplicável hoje em dia, quando as damas contam uma estória, ou certos advogados fazem apelações.
Aquário, na representação de Bode

Gêmino de Rodes, em sua Ἐισαγωγή, de cerca de 77 aC, criou uma constelação distinta a partir dessa corrente com o nome Χύσις ὕδατος, o Derramamento de Água; mas Arato também a chamou assim, bem como de Água, embora nesta última ele incluiu β Ceti e a estrela Fomalhaut. Cícero anota-a como Aqua; e o escoliasta em Germânico, como Effusio aquae (Efusão de água). Também foram títulos comumente usados Effusor e Fusor aquae (O que derrama água). Mais recentemente, Burritt usou Fluvius Aquarii (Corrente de Aquário) e Cascata.

Em alguns mapas, as estrelas que marcam as costelas da figura desta constelação são misturadas com C e outras em Capricórnio.

Embora seja de importância astronômica principalmente por sua posição zodiacal e por sua riqueza em duplas, aglomerados e nebulosas, também é interessante o fato de que uma de suas três estrelas ψ foi ocultada pelo planeta Marte em 1.o de outubro de 1672. Esta ocultação foi prevista por Flamsteed, e, por sua sugestão, observada e constatada na França e por Richer em Caiena; e os vários resultados independentes são considerados confiáveis, embora feitos há mais de dois séculos. Isso permitiu aos astrônomos, em particular a Leverrier, determinar com precisão o movimento médio de Marte e essencialmente os ajudar a calcular a massa da Terra e a nossa distância ao Sol.

Aquário se situa entre Capricórnio e Peixes. Atualmente, o Sol entra em Aquário por volta do dia 16 de fevereiro e o deixa por volta de 12 de março.

Argelander cataloga aí 97 estrelas visíveis a olho nu; Heis, 146.

Lalande, citando Fírmico e a esfera egípcia de Petosíris,[2] escreveu no L'Astronomie:

Aquarius se lève, avec un autre constellation qu'il nomme Aquarius Minor, avec la Faulx, le Loup, le Lièvre & l'Autel; [xxxiii]

mas em parte alguma há alusão a este Aquário Menor, e a declaração está incorreta com respeito às demais constelações; de fato a Foice é completamente desconhecida nos tempos atuais.

α, 3.2, amarelo pálido

Sadalmelik vem do árabe Saʿd al-Malik, Sorte (ou Sortudo) do Rei, algumas vezes escrito como Saʿd al-Mulk, Sorte (ou Sortudo) do Reino, e sob este último nome Qazwīnī and Ulugh Beg a combinaram com ο Aquarii. Entre os astrólogos ela foi similarmente chamada Sidus Faustum Regis (Estrela Afortunada do Rei). Burritt a chamou El Melik e Phard, mas este último nome parece incompreensível.

O nome Rucbah da Century Cyclopedia aplicado a esta estrela está errado — na verdade, ele se aplicaria a α Sagittarii.

Sadalmelik jaz no ombro direito da figura, 1° ao sul do Equador Celeste, e possui uma distante companheira pálida de magnitude 11.

Com ε e θ Pegasi, ela compunha o 12.o xiù Wēi, o Telhado [xxxiv], antigamente Gui, e era sua estrela determinante.

Gould a considera vermelha, de magnitude 2.7. Entre α e η encontra-se o radiante dos Eta Aquarídeos, a chuva de meteoros visível entre 29 de abril e 2 de maio.

β, 3.1, amarelo pálido

Sadalsuud — não Sund ou Saud, como frequentemente escrevem — vem de Saʿd al-Suʿūd, liberalmente traduzido como “a mais sortuda dentre as sortudas” ou “a sorte das sortes”, por nascer com o Sol ao término do inverno e início da época de chuva contínua e branda. Este título também pertence ao 24.o manzil,[xxxv] que inclui esta estrela, bem como ξ Aquarii e C Capricorni. Daí, al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit a denomina como Nir Saad al Saaoud, corruptela para Naīr Sa‘d al-Su‘ūd, a Mais Brilhante da Sorte das Sortes.

β e ξ também formam a estação lunar persa Bunda e a copta análoga Upuineuti, a Fundação; mas β sozinha marca o xiù , Vazio, antigamente Ko, o xiù central dentre sete que, tomados juntos, formam o Hièn Wǔ, o Guerreiro Negro, no quadrante norte do céu. Ela é encontrada nas listas hindus como Kalpeny, de significado desconhecido. No Eufrates ela era Kakkab Nammakh,[xxxvi] a Estrela do Poderoso Destino, que pode ter dado origem ao nome do manzil, bem como àquele pelo qual os astrólogos a chamam — Fortuna Fortunarum (Sorte das Sortes), por vezes Lucida Fortuna Fortunarum.

Al-Fayrūzabādī de Coração, editor do al-Qāmūs, o grande dicionário árabe do século XIV, chamou algumas das estrelas menores situadas abaixo desta de al-Auʾā,[xxxvii] o plural de Naūʾ, uma estrela, mas sem explicações, e elas certamente são inconspícuas.

γ, 4.1, esverdeada,

no braço direito junto à borda interna do Jarro, a estrela mais para oeste no Y, é Sadachbia, de Saʿd al-ʾAkhbiyah, que foi interpretada como a Sorte das Coisas Ocultas ou Locais Ocultos, porque quando ela emergia dos raios solares todos os vermes e répteis, recolhidos durante o frio precedente, saiam de suas tocas! Mas como essa palavra ʾAkhbiyah é meramente o plural de Khibāʾ, uma tenda [xxxviii], uma explicação mais simples para o nome da estrela é que ela ascende durante a aurora primaveril, quando, após a escassez e sofrimento do inverno, as tendas dos nômades eram levantadas nos pastos revigorados e um clima agradável tinha início. Essa imagem faz de “Felicidade das Tendas”, proposta pelo Professor Whitney, uma interessante tradução do original. Ulugh Beg incluiu ζ, η e π com γ sob esta designação — ζ no centro, marcando o topo da tenda; Qazwīnī, entretanto, considerava essa estrela central como al-Saʿd, e as três ao redor como suas tendas. E al-Muwaqqit a designou Aoul al Achbiya, traduzida para o Latim como Prima Tabernaculorum, a Primeira da Sorte das Tendas.

Todas essas estrelas, juntamente com α, formavam o 25.o manzil,[xxxix] que leva o mesmo nome Saʿd al-ʾAkhbiyah.

Na Índia, era a estrela determinante do 24.o nakshatra Shatabhisha,[xl] os Cem Físicos, cujo regente é Varuna, o deus das águas celestiais e chefe dos Adityas, as diversas divindades mais antigas da mitologia hindu, todas geradas por Aditi, a Mãe do Universo.

γ, ζ, η e π formavam [xli] o asterismo chinês Fén Mù, a Tumba.

Foi próximo a γ que o frade capuchinho de Colônia, Schyrlaeus de Rheita,[3] em 1643, imaginou ter encontrado cinco novos satélites ao redor de Júpiter, os quais nomeou Stellae Urbani Octavi (Estrelas de Urbano VIII) em homenagem ao pontífice regente; e um tratado, De novem Stellae circa Jovem, foi escrito por Lobkowitz sobre essa maravilhosa descoberta. “O planeta, entretanto, logo desertou seus companheiros, e as estrelas mostraram-se como o pequeno grupo que se situa diante do Jarro”.[xlii]

δ, 3.4,

a Scheat de Tycho, e Scheat Edeleu de Riccioli, é Skat nas listas modernas, e possui propostas de etimologia variadas: tanto de al-Shiʾat, um Desejo, que teria sido encontrado para esta estrela em globos arábicos; ou de al-Sāq, a Canela da Perna, próximo à qual se localiza na figura estelar. Mas Hyde, provavelmente seguindo Grotius, afirma que ele vem do al-Sa‘d das estrelas precedentes.

No Eufrates, ela parecia estar associada a Ziusudra, o 10.o rei antediluviano e herói do Dilúvio. Já com β, κ e outras adjacentes, ela compunha a estação lunar Apin, o Canal, e individualmente era a Estrela da Fundação [xliii]. As estações correspondentes, Khatsar na Pérsia, Shawshat em Sogdiana, e Mashtawand na Corásmia, também são determinadas por essa estrela.

Os chineses a conheciam, com τ, χ e as três estrelas ψ, como Yǔ Lín Jūn, a Guarda Imperial.

Próximo a δ irradia-se uma chuva de meteoros, os Delta Aquarídeos, de 27 a 29 de julho, e não muito distante dela Mayer registrou como uma estrela fixa, em 25 de setembro de 1756, o objeto que aproximadamente vinte anos depois Sir William Herschel observou como um cometa, mas que depois foi reconhecido como um novo planeta, o nosso Urano.

ε, 3.4,

é Albali, do árabe al-Bāliʿ, o Engolidor, a mais brilhante do 23.o manzil,[xliv] al-Saʿd al-Bulaʿ, a Sorte do Engolidor, que incluía μ e ν; estas últimas também eram conhecidas como al-Būlaʿān (os Dois Engolidores) no dual. Qazwīnī diz que esse título estranho vem do fato que as duas estrelas mais externas eram mais “abertas” α e β do Capricórnio, tal que pareciam engolir, ou absorver, a luz das outras! No catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit ela era denominada Nir Saad Bula, a Mais Brilhante da Sorte do Engolidor, que foi traduzida para o latim como Lucida Fortunae Dissipantis, de mesmo significado. O xiù correspondente, , a Mulher, no passado escrito Nok, era composto destas estrelas com a adição de outras, não identificadas, sendo ε a determinante; e as mesmas três formavam o asterismo lunar eufrateano Munakha,[xlv] a Cabra-Peixe, e o copta Upeuritos, o Descobridor.

Bayer menciona-a como Mantellum e Mantile, que marca o Toalhete ou Guardanapo seguro pela mão do jovem; mas em alguns desenhos antigos isto era mostrado como um Feixe de Talos de Grãos.

Grotius usou Ancha e Pyxis, mas nenhum desses nomes é apropriado; em nossos dias o primeiro título se aplica apenas a θ, enquanto o último nunca é encontrado como uma denominação estelar, exceto na Pyxis Nautica de Lacaille, na Argonave.

Para leste de ε, próximo a ν, encontra-se a Nebulosa Saturno, NGC 7009, que telescópios de porte médio mostram um tanto parecida com o planeta.

ζ, Binária, 4 e 4.1, muito branca e branca

Seu antigo nome é Sadaltager, do árabe Saʿd al-Tājir, a Sorte do Mercador. Mas no catálogo de estrelas do calendário de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit, era Achr al Achbiya, que foi traduzido para o latim como Postrema Tabernaculorum, o Fim (da Sorte) das Tendas. Trata-se de uma interessante estrela situada no centro do Y do Jarro, e quase exatamente sobre o Equador Celeste.

Mayer descobriu sua binariedade em 1777, e a companheira em si, notada pela primeira vez por Herschel em 1804, foi confirmada por seu filho em 1821. Os componentes possuem uma separação angular de 3.8", num ângulo de posição de 322°, e um período orbital de aproximadamente 587 anos.

θ, 4.3,

é Ancha, o Quadril, embora em muitos atlas modernos esta estrela se situe no cinturão à frente da figura. A palavra vem do latim usado na Idade Média, e ainda aparece nos idiomas neolatinos como no Português (anca) e no Francês (hanche).

Reeves diz que na China ela era chamada de Lèi, Lágrima. Este talvez fosse um nome variante, posto que θ formava com ρ um asterismo de significado similar, mas nome diverso: , o Choro.

κ, 5.5,

Situla, o nome usado para esta estrela, vem do termo do Latim Clássico para um Jarro ou Balde de Água. Os arábios usavam uma palavra um tanto similar, Saṭl, um Balde, e mais remotamente al-Dalū. Gassendi, entretanto, derivou o nome da estrela de sitis, sede, interpretando o Jarro do Aguadeiro como um tipo de Forno!

Téon de Alexandria, pai da célebre Hipácia do nosso século V, denominou esta estrela de Ὀινοχοεία, o Derramamento do Vinho, como se realizado por Ganimedes; e outros a chamaram de Κάλπη e Urna, cuja borda austral, próxima ao escoamento, ela marca.

Keats, no Endymion, escreveu muito fantasiosamente sobre este Jarro:

Cristalino irmão da roda do céu,
Aquário! A quem o rei Jove deu,
Não asas, mas dois esguinchos azuis
Qual cascatas — tuas fontes de luz
Diana os quer. [xlvi]

Na China, ela compunha o Xū Liáng, o Templo ou Ponte Vazia.

λ, 3.8, vermelha

A mais proeminente dentre as estrelas no começo da Corrente é atualmente conhecida como Hydor (do grego Ὕδωρ, a Água), nome que Proclo lhe atribuiu, seguindo Arato. Este nome foi resgatado em épocas modernas, seguindo compilações feitas por apaixonados pela Astronomia. Não possui ainda reconhecimento oficial pela União Astronômica Internacional.

Outros autores clássicos chamaram-na de Ἔκχυσις, a Efusão; Arato descreveu-a

Como um leve fluxo de água aqui e ali
Esparramadas, giram estrelas brilhantes, mas pequenas. [xlvii]

Embora esses títulos tenham sido usados por Bayer para λ, originalmente designavam todo o grupo tomado separadamente como a Corrente.

Na Índia, λ e cerca de uma centena de estrelas ao redor faziam parte do 24.o nakshatra Shatabhisha.

Com ι, σ e ϕ, ela formava o asterismo chinês Lěi Bì Zhèn, o Acampamento Entrincheirado; mas este também inclui estrelas de Capricórnio e Peixes.

π, 4.8,

foi chamada de Seat por Grotius, como uma do grupo al-Saʿd al-ʾAkhbiyah. Mas esse nome é raramente usado. Sua etimologia talvez se ligue à de δ Aquarii.

No catálogo estelar de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit, esta estrela foi denominada Wasat Al Achbiya, que foi traduzido para o Latim como Media Tabernaculorum, o Meio da Sorte das Tendas.

Na China, compunha com outras mais brilhantes o asterismo Fén Mù, a Tumba. Em particular, π Aquarii era chamada de Fén Mù Sì, a Quarta Estrela da Tumba.





ν e μ eram conhecidas na Arábia como al-Būlaʿān (os Dois Engolidores). Mas na China, ν era parte do asterismo Tiān Lěi Chéng, as Muralhas Celestiais, juntamente com ξ e várias estrelas menores de Aquário e Capricórnio.

ο, 4.7, um pouco a sudoeste de α, já foi associada a esta sob o título al-Sa‘d al-Mulk. Na China, era a principal estrela do asterismo Gài Wū, a Cobertura.

Outro grupo de três pequenas estrelas em Aquário formavam o asterismo chinês Fū Yuè, o Machado do Carrasco, segundo Reeves. Mas sua localização é incerta. Alguns o situam junto à Baleia, e outros no Escultor!


Notas de Rodapé (do texto original)


[1] Um artigo muito interessante sobre os símbolos astronômicos encontra-se em Histoire de l' Astronomie Ancienne, de Bailly, publicado em Paris, em 1775.
[2] Petosíris, o filósofo de Nechepsos, o rei astrônomo de Saís, era um personagem praticamente mítico para os gregos; pois Ptolomeu usou para ele o termo άρχᾶιος, embora ele fosse geralmente associado ao período 900-700 aC. [Nota do Tradutor: atualmente se aceita que Petosíris e Nechepsos não viveram no mesmo período. A tumba do primeiro encontra-se em Hermópolis e data do século IV aC; já Nechepsos, também conhecido como Nekauba, teria vivido no século VII aC, embora alguns estudiosos sustentem que possa se tratar de um personagem mítico criado para justificar o governo de uma dinastia. A associação dos dois se deve a um texto ocultista pseudepigráfico conhecido como Petosíris para Nechepsos].
[3] De Rheita é mais merecidamente conhecido como o suposto inventor do planetário, em 1650, uma honra também reivindicada para Arquimedes, do século III aC, para Possidônio o Estoico, mencionado por Cícero em De Natura Deorum, e para Boécio de aproximadamente 510 dC. Este instrumento é o atual orrery, assim nomeado por Sir Richard Steele em homenagem a Charles Boyle, Conde de Orrery, para quem um foi construído em 1715 por Rowley, a partir de desenhos do relojoeiro George Graham. Em 1758, Roger Long construiu um que tinha 5,5 m de diâmetro, para a Pembroke Hall, Cambridge, onde provavelmente ainda se encontra; e William Kitchiner mencionou um construído por Arnold, exibido anualmente em Londres, por volta do ano 1825, que tinha 40 m de circunferẽncia.


Notas Explicativas da Tradução


[i] Versos 2-6 do Canto XXIV do Inferno, de Dante. Allen usa aqui a tradução ao inglês feita por Longfellow. No original, em Italiano: che ’l sole i crin sotto l’Aquario tempra / e già le notti al mezzo dì sen vanno, / quando la brina in su la terra assempra / l’imagine di sua sorella bianca, / ma poco dura a la sua penna tempra.
[ii] Excerto do verso 399 dos Fenômenos de Arato. No original grego: τοὺς πάντας καλέουσιν ὕδωρ (todas estas são chamadas de “água”).
[iii] Versos 640-641 da tradução ao inglês feita por Alexander Pope da Tebaida, de Estácio. Embora fiel à narrativa, a tradução de Pope usa rimas a cada par de decassílabos, enquanto o original em Latim usa uma métrica distinta e não traz rimas. Estes dois versos de Pope não correspondem exatamente a dois outros versos do original. Como o texto de Allen se costura a partir da tradução de Pope, optei por também utilizá-la. Nela, os versos são: There from the chase Jove’s towering eagle bears, / On golden wings, the Phrygian to the stars.
[iv] O termo Juvenis gerens aquam também pode significar “jovem que administra a água”.
[v] Em cosmogonias antigas, era comum o uso de argumentos autóctones para explicar o surgimento da primeira geração de um povo particular como se estes tivessem brotado diretamente da Terra. Os atenienses se viam como descendentes de um povo que brotou do próprio solo ático — como cigarras —, e que nunca se mudaram de lá. Em suas festividades, usavam ornamentos na cabeça que representavam cigarras, cujos descendentes também brotam do solo. Cécrope I foi considerado o primeiro rei de Atenas e era, também, um autóctone e uma mistura de homem e serpente.
[vi] Sobre esse termo, John Hill escreve uma engraçada nota em Urania: “a name by which some have called the constellation Aquarius. We find it among some of the old greek writers; Appian has it, and these lovers of strange words got it.” Provavelmente é uma composição formada pelas palavras gregas ὕδωρ (água) + δῶρον (presente, oferta), embora com formação tipicamente latina: vogal de ligação (-i- e terminação em -us).
[vii] Excerto do verso 36, Livro I, da primeira das Sátiras de Horácio. No original: “inversum contristat Aquarius annum”. O verso faz parte de um arrazoado em que Horácio aponta o vício dos homens de jamais estarem satisfeitos com sua própria sorte, desejando as conquistas doutrem. Horácio cita o exemplo duma laboriosa e prevenida formiga, sobre como esta saberá usar os bens adquiridos tão logo Aquário “entristeça o ano inverso”. Isso ocorreria porque a entrada do Sol em Aquário inicia a estação úmida e fria. Este verso traz também o curioso termo “ano inverso”. O Dicionário Latino-Português, de Santos Saraiva, apresenta duas definições mutuamente excludentes: no verbete annus, é “o declinar do ano”, e no inversus é “o ano que entra”. Nos comentaristas clássicos há alguma divergência quanto ao significado do “inversus”. Paul F. A. Nitsch, em Vorlesungen über die Klassischen Dichter der Römer, opina tratar-se duma expressão meramente poética, que se refere a um ano em que as coisas dão errado: “Aquarius annum inversum contristat steht dichterisch für Aqu. ann. invertit et tristem facit. Annus inversus wie inversus ordo, inversa consuetudo bedeutet so viel als mutatus in contrarium. Annus für die Witterung eines Jahres war ja auch den Römern gewohnlich, die annus bonus, annus sitiens sagten”. Uma explicação mais interessante é fornecida em The Works of Horace Translated into English Prose: “The Sun enters into this Sign in the Month of January; and therefore Horace speaking of the Year, calls it inversum, that is, rolled round”. Dacier & Sanadon esclarecem melhor esta mesma linha de argumentação com duas notas em Oeuvres d'Horace en Latin, vol. 5: “Inversus annus, c'est la fin de l'année, l'année acomplie: car l'année est considerée comme un cercle qui tourne; c'est porquoi Homere l'appelle περιπλόμενον ἐνιαυτόν” e “Le Verseau (...) Le soleil y entre au mois de Janvrier, c'est porquois Horace a dit annum inversum, comme nous disouns l'année révolue”. Destarte, annus inversus representa o ano por um círculo que se “inverte” ao chegar ao seu fim, tornando ao começo. Não seria, portanto, um ano, mas sim um momento específico do ano, tal como falamos “a virada do ano” para nos referenciarmos à chegada do ano novo. Vale ainda apontar Josephus Juvencius, o qual em Q. Horacii Flacci Carmina Expurgata, tomo II, anota: “Inversum. Annus verti dicitur cum instauratur, cum denuo incipit, cum Sol ab uno Tropico ad alterum regreditur: quod fit mense Januario; cui mensi attribuitur Aquarius, signum sive pars Zodiaci undecima, in quam extremo Januario Sol ingreditur. Aquarius vocatur, quia pluvias et nives, tanquam plena ex amphora defundit in terras”; isto é, o ano é considerado invertido e recomeça quando o Sol se encontra no solstício de inverno. Nessa nota temos uma aparente incongruência: o solstício de inverno ocorre por volta de 21 de dezembro; a virada do ano, no último dia de dezembro; e a entrada do Sol em Aquário, em meados de janeiro, trazendo chuva e neve ao longo das semanas seguintes em fevereiro (várias semanas após o solstício). É possível reconciliar isto se considerarmos que a ligação de Aquário com o annus inversus remonta ao calendário romano anterior a Júlio César, que se iniciava em março; neste antigo calendário, a entrada do Sol em Aquário de fato anunciava o annus inversus e a estação fria e úmida.
[viii] Excerto do v. 43 do poema Winter, de James Thomson. No original: “fierce Aquarius stains th' inverted year”.
[ix] Excerto dos vv. 304-305 das Geórgicas, Livro III, de Virgílio. O trecho original citado é: “(...) quum frigidus olim / Jam cadit, extremoque inrorat Aquarius anno” (quando o gélido Aquário se põe e enxarca o fim do ano). Para a relação entre Aquário e o fim do ano, veja a nota [vii] sobre annus inversus acima.
[x] Allen informa que o jarro de Aquário era conhecido na Babilônia como “Gu”, que significaria segundo ele um “jarro de água transbordante”, mas essa tradução é questionada ainda a seu tempo por Jensen em Kosmologie der Babylonier: “Ob Gu einen 'Wassereimer', 'Schöpfeimer', bezeichen kann, weiss ich nicht. Die bisher veröffentlichen Texte geben keinen Aufschluss darüber”. Suponho que Allen tenha se baseado, ainda que indiretamente, nas traduções de Epping & Strassmeier que identificam Gu com uma ânfora (i.e., Aquário). Toda discussão que se segue foi apresentada inicialmente por Emmeline Plunket em Ancient Calendars & Constellations. Segundo Epping & Strassmeier, os nomes das constelações zodiacais aparecem frequentemente abreviados nas tabuinhas; de estudos comparados foi possível sugerir terminações adequadas a todas essas abreviações, com exceção de Gu. Strassmeier aponta que talvez essa constelação fosse conhecida apenas como Gu: “Gu is sonst fast ausschliesslich nur als Silbenzeichen 'Gu' bekannt”. Por outro lado, Sayce encontrou referências a uma constelação denominada Gula em textos astrológicos mais antigos que aqueles analisados por Epping & Strassmeier. Gula é um dos nomes da deusa Bau/Bahu, e personifica a 'água escura', ou o caos (segundo Plunket), que seria homenageada durante o solstício de inverno entre 2000 e 4000 anos aC, época em que o Sol estava em Aquário. Em linha com a opinião de Plunket, léxicos sumérios mais atualizados, incluindo as descobertas no compêndio astronômico conhecido como MUL.APIN, apontam que Aquário era conhecido na Suméria como “Gula”, nome da deusa da cura, que alguns traduzem como “A Grandiosa”.
[xi] Allen informa o nome Imma, que é modernamente chamado Nin-Imma. Tanto Gula (ver nota acima), quanto Rammān (também chamado de Adade) e Nin-Imma são deuses mesopotâmicos distintos. Provavelmente há alguma ligação dessas divindades com Aquário, mas não necessariamente na forma sugerida por Allen, de a constelação ter sido chamada de Rammān ou Nin-Imma. Sobre a associação de Rammān com Aquário, W. Muss-Arnolt escreve em The Names of the Assyro-Babylonian Months and Their Regents (in Journal of Biblical Literature, v. 11, n. 1, 1892, pp. 72-94) que o 11.o mês babilônico (arax ša-ba-ṭu), quando a devastação da natureza causada pelas chuvas incessantes e inundações atinge seu ponto máximo — a chamada de Praga da Chuva —, é dedicado a Rammān, “the leader in heaven and earth. (...) He is the storm god, and his name signifies the thunderer”, isto é, Rammān é o deus das tempestades e preside o mês das chuvas, quando o Sol se encontrava em Aquário. Já a ligação de Nin-Imma, deusa da fertilidade, com a constelação é pouco clara. Talvez Allen tenha-se confundido com a palavra suméria imma, que significa “água”.
[xii] Ao contrário, “Senhor dos Canais” parece ser um epíteto cerimonial associado a várias divindades mesopotâmicas e não o significado do nome de uma delas. Foi usada para Adade (Rammān) numa inscrição de Nabucodonosor I: “May Adad, the chief one in heaven and earth, lord of canals and rains, fills his rivers with obstructions” (Harper, R. F. 1904, in Babylonian and Assyrian Imprecations, The Biblical World, vol. 24, pp. 26-30). E também para outros deuses: “May Ea, the lord of canals, crown him with wisdom; may Merodach, the lord of canals, who loves his dinasty, surrond him with abundance” (Simcox, E. J. 1894, in Primitive Civilizations). Ainda, omiti várias frases que se seguem a este parágrafo, nas quais Allen fantasiosamente remonta o termo (Senhor dos Canais) a 15 mil anos atrás, sem qualquer evidência arqueológica.
[xiii] Abraham ibn Ezra ou Abenezra, filósofo judeu do século XII, supõe que Moisés tivesse recebido o nome egípcio Monius, da filha do faraó que o resgatou, pois este nome teria o significado “retirado das águas” naquele idioma. Não encontrei referência à associação de Monius com Aquário. Por outro lado, acerca das palavras muau e mῶ, George Rawlinson anota em The Historical Evidences of the Truth of the Scripture Records, citando Clemente de Alexandria e outros filósofos medievais, que “the Egyptians call water moü. (...) Moü is still 'water' in Coptic, and the old Egyptian word — given by Bunsen as muau — was similar”.
[xiv] Há um conjunto de inconsistências neste ponto. Allen informa que a tradução do termo apresentado por Kircher é “brachium beneficum”. Provavelmente segue autores mais antigos como Riccioli, em Almagestum Novum de 1651. Todavia, Kircher escreveu à página 566 de Lingua Aegyptiaca restituta, de 1634: υπευθέριαν, Brachium abſconditum. Arabicè سعد الأخبية Saad elachbieh. Statio Lunæ eſt, quæ incipit à vigeſimo primo grad. ♒, & terminatur in 4 ♓. Por consistência com o original, retirei do texto a tradução “brachium beneficum”. Do excerto aqui transcrito, nota-se ainda que Kircher não atribui a Aquarius a denominação υπευθέριαν mas tão somente à 26.a mansão lunar copta, exatamente o que informa Brown na frase em seguida. A informação acerca do “Local de Boa Fortuna” parece ser uma tentativa de unir a tradução “brachium beneficum” com o significado do nome da mansão lunar árabe سعد الأخبية, que inexplicavelmente é a 25.a e corresponde a graus que antecedem aqueles mencionados por Kircher. Cabe ainda mencionar uma informação prestada por Kircher que não encontrou menção nos textos seguintes: à página 50 de Lingua Aegyptiaca restituta pode-se encontrar duas denominações exclusivas para Aquário, ⲁⲣⲹⲱⲟⲥ (arkhōos) e ⲫⲣⲓⲩⲓⳓⲓ (phriuithi).
[xv] Trecho de Astronomy with an Opera-Glass, um livro de popularização da astronomia a olho nu, por Garret P. Serviss, publicada em 1888. Não consegui descobrir se Serviss fez essa afirmação com base em alguma obra de mitologia egípcia ou a partir de suas impressões pessoais.
[xvi] Hièn Yīng (玄英) e Hièn Wǔ (玄武) parecem ser as grafias adequadas para os nomes Hiuen Ying e Hiuen Wu, que Allen forneceu, com base na pronúncia Hakka. Em Mandarim moderno, a pronúncia de 玄 é Xuán. Veja nota [vi] de Constelações, Parte II. Os demais nomes: Hiuen Heaou e Hiven Mao, são provavelmente transliterações imperfeitas dos anteriores.
[xvii] Não existe um imperador Tchoun Hin (ou de nome similar) nas listas de imperadores chineses. Segundo as lendas, o dilúvio chinês teria ocorrido no reinado do imperador Yao (2333 aC – 2234 aC, na cronologia chinesa), também chamado de Fangxun (daí viria Tchoun?). A origem da informação prestada por Allen talvez seja o livro Mémoire sur l'origine des constellations, de Dupuis: Les Chinois également ont un Dictionnaire appellé Eulya, où il est dit expressément que Hiven-Mao, signe céleste, (que nous appellons nous Amphora & Deucalion), est le symbole du regne de Tchoun-Hin, & désigne cet Empereur sous lequel il y eut un grand déluge. Este livro Eulya talvez seja o Yùzhì Lǜlì Yuānyuán.
[xviii]O signo Aquário é o mordomo dos deuses e lhes oferece uma taça de água”.
[xix]Júpiter no Licorista oposto a Saturno no Leão gerou fortes ventos de sudoeste”.
[xx] Referência a Gênesis, 49, v. 4: “Impetuoso como a água, não serás o mais excelente, porquanto subiste ao leito de teu pai. (...)” na versão Almeida Corrigida e Revisada Fiel.
[xxi] As paráfrases ou targuns são comentários em aramaico à Bíblia hebraica.
[xxii] Excerto dos versos 4-6 do Canto XIX, do Purgatório, na Divina Comédia de Dante. Allen usou a tradução inglesa de Longfellow. A tradução é de José Pedro Xavier Pinheiro, que também adiciona comentários explicativos ao glifo Fortuna Major. No original, em italiano: “quando i geomanti lor Maggior Fortuna / veggiono in orïente, innanzi a l’alba, / surger per via che poco le sta bruna”.
[xxiii] Trecho do Bedford Catalogue, de 1844, escrito pelo almirante William Henry Smith, oficial da marinha britânica e autodidata em várias áreas da ciência, incluindo astronomia. O Bedford Catalogue era um notável manual para observação astronômica amadora no século XIX. Smith parece ter tido também algum interesse pela astrologia, pois nos parágrafos seguintes enumera um conjunto de “fatos” para provar que Aquário exerce influência sobre a personalidade e o clima, concluindo que eles são “both logical and conclusive, let no one scepticize”. Ao contrário do que possa ter pensado o almirante Smith em 1844, a ciência moderna não reconhece qualquer influência de signos, e configurações planetárias com respeito a esses, sobre a personalidade humana ou sobre o clima da Terra.
[xxiv] Trecho de Almanac for the Year 1386: Transcribed, Verbatim, from the Original Antique Illuminated Manuscript, publicado em 1812. À época de Allen, talvez fosse o manuscrito mais antigo em língua inglesa a ser transcrito e impresso; dificilmente esse título se mantém nos dias atuais. A tradução da frase em inglês médio é: “Ele é bom para grandes castelos, e para pronunciar juramentos e realizar sangrias”. A sangria, neste caso, é o antigo procedimento médico de retirada de sangue do paciente para tentar curar doenças. Em inglês médio, “and to wed” significa to pledge (realizar um juramento), que pode ser diante dum cônjuge, numa cerimônia de matrimônio, ou uma promessa a um amigo ou senhor; a frase não me permitiu restringir o sentido.
[xxv] A origem dessas curiosas afirmações são notas do almirante William Henry Smith no Bedford Catalogue (ver nota clxvi, acima), que fazem referência ao texto do Libellus Ysagogicus, do astrólogo arábio Alcabitius, do século XV. Nesse, encontram-se numa seção denominada De significatione planetarum in signis secundum membra hominis, e preconizam supostas dores em membros do corpo humano que seriam causadas pela presença de planetas em cada signo. Alcabitius fornece um rol de moléstias dessa natureza, dentre as quais se lê: In Aquario, Saturnus caput et collum, Iuppiter humeros, pectes et pedes, Mars cauillas et cor, Sol verenda & eorum succedentia, Venus genua & eorum succedentia, Mercurius fæmora & cor, Luna verenda. É possível que Allen tivesse apenas quotado as frases de Smith sem conhecer o contexto original, considerando que elas não fazem muito sentido do modo como seu texto as apresenta.
[xxvi] Os gregos antigos associavam os principais deuses de seu panteão aos signos zodiacais. Embora haja correspondências, essa associação não tem ligação com os regentes planetários da astrologia. Aquário correspondia a Juno, enquanto Leão correspondia a Jove/Zeus (em contraste com a regência astrológica de Leão, que corresponde ao Sol). Essa é a origem do verso 446, do Libro II, do Astronomicon de Manílio, que explica a denominação usada por Allen: Et Jovis adverso, Junonis Aquarius Astrum est, isto é, Aquário é a constelação de Juno, contrária a Jove (que regia o Leão, a constelação oposta (adverso) na roda zodiacal. Não está claro para mim porque Allen o atribuiu a Jove, uma vez que este apenas regia Leão, nos versos de Manílio; talvez devido a uma interpretação incorreta do trecho “Et Jovis adverso”. A denominação “signo diurno” é própria da astrologia: todos do hemisfério austral (i.e., a sequência de Escorpião a Peixes) eram chamados de diurnos. Já as regiões do globo terrestre sob o domínio de Aquário provém de astrologia mundana, que associa os signos a países, regiões e cidades.
[xxvii] Allen informa a cor “aqueous blue”, mas, na verdade, Proctor escreveu “sky-colored blue” (Myths and Marvels of Astronomy, pg. 37, edição de 1877).
[xxviii] Os egiptólogos reconhecem mais de um hieróglifo para representar a água. Um deles (𓈖), posteriormente associado ao som /n/, corresponde a uma única linha ondulada similar (embora mais longa) ao símbolo astronômico de Aquário. Curiosamente, considera-se que esse hieróglifo seja a origem da letra M.
[xxix] Não consegui descobrir se a afirmação de Hargrave é verdadeira. A ilustração aludida é a Fig. 36 do The Rosacrucians (p. 190). Thomas Inman, em Ancient faiths embodied in ancient names, vol. 1, p. 410, também menciona um desenho que pode ser encontrado no tórax de uma múmia da Universidade de Londres (originalmente apontado por Higgins em Anacalypsis, p. 217). O desenho é praticamente idêntico ao mostrado em The Rosacrucians, mas não se vê os símbolos zodiacais nesses dois últimos. Sem uma fotografia da múmia em questão, é difícil saber se Hargrave viu símbolos onde nada há, ou se Higgins reduziu o desenho ao misticismo que desejava sugerir: “And upon the breast of the one of the Mummies in the Museum of the London University, is a cross exactly in this shape, a cross upon a Calvary”. Quanto à origem dos símbolos astronômicos, Neugebauer (1975, in A history of ancient mathematical astronomy) aponta que alguns textos demóticos usavam hieróglifos associados aos nomes gregos das constelações zodiacais. Noutros papiros gregos tardios, símbolos associados aos deuses gregos foram usados para os respectivos planetas: o caduceu para Mercúrio, um colar para Vênus, uma foice para Saturno, etc. (Alexander Jones, 1999, in Astronomical papyri from Oxyrhynchus). É provável que essas formas tenham evoluído para as atuais, ainda que não haja comprovação dessa evolução por meio de registros em períodos intermediários.
[xxx] Essa obra, elaborada na Ásia Menor, data do século II aC. Uma reprodução pode ser vista à p. 48 de Mythology and monuments of ancient Athens, por J. E. Harrison, publicado em 1890, bem como no catálogo online do Hermitage Museum com o nome “Relief with the Representation of Cybele”. Entre 2000 e 4000 aC, os Solstícios de Inverno e Verão ocorriam nas constelações de Aquário e Leão, respectivamente. A imagem de Cibele, deusa-mãe ligada à terra e à fertilidade, é de fato representada ladeada por um leão e um jovem que carrega uma urna nos ombros, tal como Aquário.
[xxxi] Ezequiel, 1:10 — E a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e do lado direito todos os quatro tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi; e também tinham rosto de águia todos os quatro. Ezequiel, 10:14 — E cada um tinha quatro rostos; o rosto do primeiro era rosto de querubim, e o rosto do segundo, rosto de homem, e do terceiro era rosto de leão, e do quarto, rosto de águia. Apocalipse, 4:7 — E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o segundo animal semelhante a um bezerro, e tinha o terceiro animal o rosto como de homem, e o quarto animal era semelhante a uma águia voando. Todos excertos da versão Almeida Corrigida e Revisada Fiel. Muitos astrólogos e ocultistas também reconheceram na visão de Ezequiel uma alegoria calcada nas constelações, mais especificamente, nos signos fixos: Touro, Leão, Escorpião e Aquário. Esse simbolismo teria se originado na Babilônia, onde a mesma associação tetramorfa foi usada na arte assíria. A representação do signo de Escorpião por uma Águia (bem como por uma Serpente) é geralmente aceita pelos antigos astrólogos, incluindo Abenezra.
[xxxii] Trecho de Polymetes, de Joseph Spence, publicado em Londres, 1755, p. 172.
[xxxiii]Aquário se levanta, com outra constelação que ele nomeia Aquário Menor, com a Foice, o Lobo, a Lebre e o Altar”. Nessa passagem de L'Astronomie, Lalande esclarece que Fírmico menciona o nome de várias constelações que não são marcadas no Almagesto e nem citadas por outros autores antigos. Lalande acolhe a opinião de Nicolas Fréret de que Fírmico as retirou da esfera de Petosíris. Além de Aquário Menor, entre essas desconhecidas constelações, encontra-se uma Raposa junto a Ofiúco e Escorpião, o Cinocéfalo, o Cervo e uma segunda Lebre.
[xxxiv] Para Allen, este é o 23.o xiù (veja nota cvii acima, sobre a renumeração dos xiù em Allen). Ele também fornece as traduções: “Degrau” ou “Perigo”, ou ainda “Fundação” (apud Brown), válidas para o ideograma 危, mas não para o nome do xiù.
[xxxv] Para Allen, trata-se do 22.o manzil. Veja a nota [xv] em Andromeda.
[xxxvi] Allen usa a transcrição de Brown em Eufratean Stellar Researches (in Proceedings by Society of Biblical Archæology, 1895): Kakkak Nammaχ, sendo o último caractere a letra grega χ, provavelmente usada para representar o fonema /kʰ/.
[xxxvii] Não tive sucesso em localizar o original dessa afirmação, mas a denominação muito provavelmente está errada, talvez por transcrição incorreta. Segundo Allen, al-Auʾa seria o plural de Nauʾ, que teria o significado de “estrela”. O Arabic-English Lexicon de Lane contém نوء (Naūʾ), uma estrela ou asterismo que está a ponto de se pôr, cujo plural é anotado como انواء (ʾAnaūʾāʾ), e não al-Auʾa. Lane apresenta ainda uma longa discussão sobre o termo نوء, por seu complexo significado: geralmente está associado às estrelas ou asterismos das mansões lunares, e pode significar tanto o pôr desse astro a oeste, no momento da aurora, quanto o nascer simultâneo dum outro astro (ou manzil) a leste, junto com o Sol. O termo estava associado a previsões (especialmente de chuvas) e pode ter relação com a medida do tempo ao longo do ano, pois para saber a posição exata do Sol, era certamente mais fácil observar a descida do manzil oposto a oeste, do que observar o manzil ascendente ofuscado pela aurora. A'Obeyd (apud Lane) afirma que as انواء são 28 asterismos ou estrelas (no singular, نوء), o que também liga o nome às mansões lunares. Não está claro para mim porque o nome انواء veio a ser usado para as estrelas fracas mencionadas por Al-Fayrūzabādī.
[xxxviii] Segundo o Arabic-English Lexicon de Lane, Khibāʾ (خباء) tem o significado de tenda, mas deriva-se da raiz خبا que também está associada ao significado de ocultação, coisa escondida.
[xxxix] Para Allen, trata-se do 23.o manzil. Veja a nota [xv] em Andromeda.
[xl] Para Allen, trata-se do 23.o nakshatra. Veja a nota [xi] em Andromeda.
[xli] Allen inclui nela a estrela τ Aquarii, que não é reconhecida como tal em listas modernas. Ademais, essa mesma estrela é associada por Allen ao asterismo Yǔ Lín Jūn, determinado por δ Aquarii.
[xlii] Esta citação provém do Bedford Catalogue, pg. 515 (ver nota clxvi, para mais informações sobre esta obra).
[xliii] Não encontrei a referência original desta informação. Suponho que esteja em algum artigo de Brown. O nome Apin era comum a várias estrelas nas listas babilônicas, a começar pelo Mul.Apin.
[xliv] Para Allen, trata-se do 21.o manzil. Veja a nota [xv] em Andromeda.
[xlv] Como na nota [xxxvi], Allen usa a transcrição de Brown: Munaχa, onde χ parece representar o fonema /kʰ/.
[xlvii] Versos 584-588, Livro IV, do poema Endymion, de John Keats. A tradução versificada é nossa. No original: “Crystalline brother of the belt of heaven, / Aquarius ! to whom King Jove has given / Two liquid pulse streams 'stead of feather'd wings, / Two fan-like fountains, — thine illuminings / For Dian play”.
[xlviii] Esta tradução foi feita a partir dos versos em inglês quotados por Allen, provenientes da tradução versificada de Robert Brown Jr., datada de 1885: “Like a slight flow of water here and there / Scattered around, bright stars revolve but small”. Compare com a tradução feita por G. R. Mair, em 1921: “like some sprinked drops of water lightly shed on this side and on that, other stars wheel bright-eyed though weak”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário