Constelações, parte II

(Leia a parte I)



Quais foram a época de formação e locais de origem das mais antigas das atuais figuras celestes são questões que muitas vezes foram feitas, mas até recentemente eram impossíveis de ser respondidas, sendo-o agora apenas em parte e de forma provisória. Grécia e Roma, Egito e Caldeia, China, Índia, Etiópia e Fenícia, e talvez outros povos, todos reivindicam essa honra, citando história, teoria e tradição como prova; mas podemos seguramente concordar com Laplace de que suas formas e nomes não lhes foram dadas ao acaso.

Biografia de Arato, em uma edição dos Fenômenos publicada em Basel, em 1547.
Imagem distribuída pela Lynx Open Ed. dentro da Galileo's World Exhibition.

Arato [1], o primeiro escritor poético grego sobre Astronomia que nos é conhecido, descrevia-as como proveniente dos tempos mais remotos, e escreveu nos Fenômenos:

Um homem de outrora
Uma nomenclatura pensou e elaborou,
E formas adequadas encontrou.
(...)
E julgou adequado criar grupos de estrelas,
Tais que ordenadas umas junto às outras,
Pudessem mostrar suas formas.
E assim as estrelas
Duma vez receberam nomes e agora conhecidas nascem. [i]

Sua esfera, provavelmente idêntica à de Eudoxo do século anterior, representava com precisão os céus de aproximadamente 2000 a 2200 aC, um fato que induziu muitos a pensar que se tratasse de uma reprodução proveniente da Babilônia; e a discordância entre a descrição feita pelo poeta e o céu de sua época levou Hiparco, o primeiro comentarista dos Fenômenos, a muitas críticas dispensáveis, embora nalguns casos bem fundamentadas; pois Arato era, como diz Cícero, hominem ignarum astronomiae. Ainda assim seu poema é, aos dias atuais, aparentemente nossa única fonte de conhecimento quanto à disposição das primeiras constelações, tendo sido seguido de perto por todos os mapas estelares como um guia indispensável. Parece ter sido uma versificação da prosa homônima de Eudoxo, atualmente perdida, um tanto influenciada pelos escritos de Teofrasto e muito bem afamada em sua época. Landseer [2] escreveu em sua Sabaean Researches de 1823:

Quando o poema intitulado os Fenômenos de Arato foi introduzido em Roma por Cícero e outras proeminentes personalidades, lemos que se tornara um delicado passatempo das moças romanas trabalhar as formas celestes em ouro e prata nas tapeçarias mais caras; e isto fora anteriormente feito em Atenas, onde tetos côncavos eram também decorados com as figuras do céu, sob os auspícios de Antígono Gónatas,

Rei da Macedônia e patrono de Arato. O poema sempre foi muito traduzido, versificado, comentado e referenciado; conhecemos trinta e cinco comentaristas gregos desta obra. “Ele continuou a ser usado como manual prático de astronomia sideral até o século VI de nossa era.” [ii] Cícero traduziu-o em sua juventude, setenta anos antes do aparecimento da Eneida de Virgílio; César Germânico fez o mesmo em aproximadamente 15 dC; e Rúfio Festo Avieno versificou-o no século IV de nossa era: todas comentadas por Hugo Grócio em sua Syntagma Arateorum de 1600. Dentre as diversas traduções inglesas, a mais literal e útil é aquela do Sr. Robert Brown Jr., de 1885.

A suposta referência a ele feita por São Paulo nos Atos dos Apóstolos, 17:28, talvez o tenha tornado popular entre os cristãos de sua época e das subsequentes, pois aparentes referências a ele são encontradas nos escritos dos pais da igreja.

Pode ser admitido que, com exceção de Ursa Menor, Pequeno Cavalo e Libra, em sua forma atual, a origem das quarenta e oito constelações primitivas perdeu-se na remota antiguidade. Ainda assim, Plínio assevera que Áries e Sagitário foram formadas por Cleóstrato em algum momento entre 548 e 432 aC; e as demais, com igual improbabilidade, foram atribuídas por Eudemo, pupilo de Aristóteles, ao pitagórico Enópides de Quios de cerca de 500 aC, com base na transmissão oral de conhecimentos egípcios.

Quaisquer que sejam os fatos acerca de tudo isso, sabemos que uma longa linha de gregos notáveis, de Homero e Hesíodo a Ptolomeu, interessavam-se por, e preservaram a nós, seus céus constelados. Dentre esses, os primeiros astrônomos foram Tales, 640-546 aC, que nos deu a Ursa Menor; Eudoxo, que, segundo a história comum, trouxe as constelações do Egito e, em cerca 366 aC, foi o primeiro a publicá-las no original em prosa dos Fenômenos, a quem Cícero chamou de maior astrônomo que já viveu; embora Hiparco [3], sobre o qual Plínio afirmou nunquam satis laudatus [iii], seja reconhecido como o fundador de nossa ciência moderna. Seus escritos, entretanto, foram perdidos, excetuando seus Comentário e catálogo estelar reproduzido por Ptolomeu. Todos esses são mencionados com respeito até mesmo pelos astrônomos atuais; e é certo que encontramos em sua terra a fonte imediata da maioria das constelações, tal como hoje aparecem em nossos mapas, e das histórias com elas relacionadas. No entanto, elas são, sem sombra de dúvida, em muitos casos, variações de lendas e observações de longa antecedência, talvez pré-históricas, provindas do Eufrates, Ganges e Nilo; de fato, os astrônomos gregos sempre reconheceram sua dívida para com a Caldeia e Egito, mas deram mais crédito a este último.

Embora tenhamos poucas denominações estelares individuais provenientes da Grécia, os personagens da expedição dos argonautas estão amplamente representados nos céus; e São Clemente, seguido por muitos, — inclusive o grande Sir Isaac Newton, — atribuía a invenção das constelações a Quíron, o reputado preceptor de Jasão, para que este as usasse nessa célebre viagem, fixando-lhe a data em cerca de 1420 aC. E, coincidentemente quanto ao tempo de sua formação, a grande autoridade de Sêneca afirmou que elas provinham dos gregos de aproximadamente 1500 aC, o que pode ser verdadeiro na medida em que eles então as adotaram duma nação mais antiga. Mas os mitologistas atribuíram-nas a Atlas, o Suportador, o pai das Híades e das Plêiades, tão perito no conhecimento dos céus que é representado sustentando-os; e eles tinham uma história adequada a cada figura celeste.

Mas muito disso é mais do que incerto, até um tanto infantil, e só temos certeza de que a Grécia originou nossa astronomia científica e dedicou-lhe muita atenção desde a época de Tales e Anaximandro, culminando nas obras da Escola de Alexandria [4], egípcia na localização, embora inteiramente grega em suas características.

Aos romanos devemos muito pouco em termos de astronomia, — na verdade eles sempre foram muito propensos a reconhecer a superioridade da Grécia nesta matéria, — embora encontremos muito da mitologia estelar e meteorologia em sua poesia e prosa. Contudo, nenhum astrônomo propriamente dito surgiu entre eles; e quando Júlio César necessitou de um para sua reforma do calendário, embora fosse ele mesmo um pouco hábil na ciência, como mostra seu De Astris, viu-se compelido a convocar Sosígenes em seu auxílio. O arquiteto Vitrúvio (Marco Vitrúvio Polião), de pouco antes do início de nossa era, aparentemente era o mais letrado cientificamente dentre eles, e no 9.o tomo de seu De Architectura conta-nos muito acerca do conhecimento estelar romano em conexão com a localização adequada de relógios de sol; enquanto Columela, do nosso primeiro século, em seu De Re Rustica fez muitas alusões a estrelas e constelações em sua suposta conexão com o tempo e colheitas.

Muitos têm defendido que o Egito foi onde primeiro se deu formas e nomes a grupos de estrelas. Dupuis, talvez inspirado por Macróbio do nosso quinto século, traçou o atual zodíaco solar àquele país, e datou-o em 13000 anos antes de nossa era, quando o fluxo do Nilo, com suas consequentes colheitas, e as estações coincidiam com as posições das figuras individuais e as personagens que lhe foram atribuídas. Nisto ele foi seguido por outros até mesmo em nossos dias.

O pouco que sabemos sobre as primitivas constelações do Egito indica que elas aparentemente tinham origem nativa, e não se pareciam em nenhum aspecto com aquelas da Grécia, as quais, se foram de fato adotadas, foram-no numa época muito tardia em sua história e a partir da influência dos gregos dominantes, talvez favorecida por recordações da Caldeia. Diodoro Sículo, do primeiro século antes de Cristo, e Luciano, de três séculos depois, distintamente o asseveram.

Os seguintes são alguns dos grupos estelares nativos do Egito, na medida do que podemos atualmente afirmar: Sah (ou Sahu), identificado com Órion, embora restrito à cabeça dessa figura segundo alguns; Sept, Set, Sothis, etc., a estrela Sírius e seu entorno; o Hipopótamo, uma parte do nosso Dragão; a Coxa, nossa Ursa Maior; o Gamo, nossa Cassiopeia, embora alguns posicionem aí a Perna. Os grupos duvidosos são Mena, ou Menat, uma figura imensa, caso Renouf [5] estiver correto em sua declaração de que ela incluía Antares e Arcturus; as Muitas Estrelas, nossa Cabeleira de Berenice; Arit, que Renouf acredita ter sido marcada por β Andromedae; o Velocino, indicado por algumas estrelas de Áries; o Ganso, ao redor de α Arietis; Chu, ou Chow, as Plêiades; o Cinocéfalo, reivindicado por Lalande para as estrelas do Altar; o Servo, que Brugsch diz ser nosso Pégaso, embora o planisfério de Dendera mostre um chacal nessa posição; as Duas Estrelas, que podemos supor serem Castor e Pólux; e o Portador do Alaúde, ou Repā, o Lorde, talvez nossa Spica.

Planisfério de Dendera, em exposição no Louvre.
Aquelas até o momento não identificadas são as Estrelas da Água; o Arauto de Mena; os Seguidores de Mena; Necht, na vizinhança do nosso Dragão; o Leão, que não coincide com nossa constelação Leão; e a Lebre, com algumas outras que Lalande indefinidamente situou nas bordas de Ofiúco e Escorpião e em Aquário.

Na história documentada do Egito, uma referência é feita ao equinócio vernal, situado então em nosso Touro, em 3285 aC; no entanto, a astronomia desse país não era científica, e sabemos pouco sobre ela exceto que estava conectada à religião. Há cerca de 5200 aC, no norte do país, o culto às estrelas boreais estava associado ao deus An, Annu, Ant ou On, sob o suposto governo de Set, ou Tifão, o deus das trevas, reconhecido sob muitos sinônimos. Aquele às estrelas orientais e ocidentais era indicado pelos templos e pirâmides de Gizé, há 4000 aC; enquanto no Sul do Egito, o culto às estrelas austrais, tão antigo quanto há 6400 aC ou talvez mais, era presidido por Hórus, uma divindade solar do Sul, embora depois ele ocasionalmente tenha aparecido como uma dividade do Norte. As estrelas que nasciam representavam as deusas da juventude; aquelas que se punham, os deuses moribundos; enquanto uma figura composta por três estrelas juntas simbolizava divindade.

Afirmações de que a Índia foi o berço da Astronomia e o local de surgimento das figuras consteladas foram feitas por muitos — particularmente, há um século atrás, por Sir William Jones, Colebrooke, Davis e Von Schlegel; mas a pesquisa moderna encontra pouca coisa na literatura sânscrita que confirme esta crença, enquanto parece ser geralmente reconhecido que os hindus emprestaram muito da Grécia, talvez começando com Pitágoras, que teria viajado para lá e até ouvido os ensinamentos de Zoroastro. De fato, Ariabata, do nosso século V ou VI, reconhecia os mesmos signos que Hiparco; e seu astrônomo posterior mais notável, Varāhamihira [6], de 504, ao escrever sobre as constelações, usou denominações gregas, modificadas, contudo, para se adequar ao seu idioma nativo. Mas a Arábia provavelmente também exerceu influência sobre eles, assim como sobre o resto da Ásia.

A opinião do Professor Whitney sobre isso é resumida assim:

Consideramos a ciência hindu como uma ramificação da grega, que brotou não muito antes do início da era cristã e alcançou sua forma plenamente desenvolvida no decurso dos séculos V e VI;

mas desfavoravelmente a critica, tal como al-Bīrūnī. Os anais da China, uma nação que nunca deixou de reivindicar a invenção de quase tudo, velho ou novo, sobre a terra ou no céu, atribuem a formação das constelações a Dà Rǎo, o primeiro-ministro de Huángdì [iv], em 2637 aC, e alardeiam uma observação das Plêiades, em 2537 aC, realizada dum observatório que dizem ter sido erigido em 2608 aC. Mas a observação de estrelas naquele país, de fato, parece ter-se iniciado apenas por volta de dez a doze séculos antes de nossa era, e mesmo assim apenas com motivação de astrologia.

Acredita-se, no entanto, que as realizações científicas dos chineses, provavelmente bastante superestimadas, devem-se em grande parte à Caldeia e, mais tarde, aos arábios, nos tempos dos califas, aparentemente terem exercido influência sobre eles; ao passo que todo o seu progresso recente é devido aos missionários jesuítas que se estabeleceram entre eles no século XVI, durante os primeiros anos da dinastia Qīng, e introduziram o conhecimento de nossas figuras ocidentais. Estas foram, daí em diante, largamente adotadas, e nossas próprias denominações estelares, nas traduções que os chineses chamam Xī Guó Míng, os Nomes das Nações Ocidentais, tornaram-se comuns, especialmente no caso das constelações visíveis apenas ao sul do paralelo de Pequim, 40º. Aqueles nativos da China são chamados de Zhōng Guó Míng, os Nomes do Reino do Meio; e Edkins [v] informa acerca deles que houve dois grandes períodos de nomeação de estrelas: o primeiro, por volta de 2300 aC, pelo povo, e o segundo, de 1120 a 220 aC, durante a dinastia Zhōu, que claramente mostram uma origem imperial. E foi durante esse período, cerca de 600 aC, que se elaborou uma carta com 1460 estrelas precisamente representadas. Esta encontra-se agora na Biblioteca Real de Paris.

Em toda a sua história na China, a Astronomia esteve sob os cuidados especiais do Estado, o regulador de todos os assuntos da vida, pública e privada.

Os antigos chineses incluíam as vinte e oito xiù e os doze gōng, ou figuras zodiacais, em quatro grandes áreas celestes de igual tamanho, — Qīng Lóng, o Dragão Azul Celeste; Xuán Wǔ, a Tartaruga Negra [vi]; Zhū Què (ou Zhū Niǎo), o Pássaro, Fênix, Faisão ou Perdiz Escarlate; e Baí Hǔ, o Tigre Branco. E eles delimitaram, em suas constelações gerais, três grandes yuán, ou fortificações, — Zǐ Wēi (Palácio Proibido Púrpura), contendo as estrelas circumpolares; Tiān Shì (Mercado Celestial) e Tài Wēi (Palácio Supremo), contendo as demais que lhes eram visíveis.

O Observations of Comets de Williams é acompanhado por um conjunto completo de 351 antigos asterismos traçados sobre as figuras de Flamsteed; mas, por maior que esse número possa parecer, Gustave Schlegel, em sua Uranographie Chinoise de 1875, citou 670 que ele assegura remontar de até 17000 aC!

No vizinho Japão, alguns, mesmo dentre seus homens sábios, acreditavam que as estrelas foram feitas para guiar os navegantes de povos distantes, com seu tributo, até a terra dos Mikados [vii].

A reivindicação pela Etiópia da invenção das constelações provavelmente pode ser cogitada apenas pela consideração desse país como o Cuche do sudoeste da Ásia [viii], — a Aethiopia oriental de Homero, — a estender-se ao longo dos Golfos Arábico e Persa, donde as primeiras migrações através do Mar Vermelho no Estreito de Bab-el-Mandeb podem ter levado o conhecimento astronômico diretamente para o Nilo, ou, de forma indireta, para Meroé na Aethiopia ocidental, a moderna Núbia, e dali para o Norte ao Egito.

Da ciência estelar fenícia pouco se sabe, e afirmações quanto a sua antiguidade repousam em grande parte no fato de que este povo foi a grande nação marítima dos tempos antigos, tal que algum conhecimento acerca dos corpos celestes era-lhes necessário. Ademais, Tales, o pai da Astronomia e professor dos gregos nas ciências, — de fato, um dos Sete Sábios, — provavelmente era fenício de nascimento; e Samuel Bochart, o erudito orientalista do século XVII, bem como outras autoridades, pensavam que muitos de nossos antigos grupos no céu fossem meras reproduções das figuras de proa dos navios cartagineses, sidônios e tírios: isto, se estiver correto, poderia explicar a incompletude daquelas tais como Argo, Pegasus, e Taurus, bem como o carácter marinho de muitas deles. Mas a opinião geral é que o fenícios obtiveram da Caldeia aquela astronomia que se supõe que tiveram.

Ideler, em Sternkunde der Chaldäer de 1815, afirmou que as constelações originaram-se na região do Eufrates, — “reduplicações de ideias mais simples conectadas com fenômenos naturais,” — e convicção quanto à veracidade disto parece estar crescendo entre estudantes da arqueologia estelar. De fato, recentes descobertas tornam aparentemente seguro dizer que ao menos aquelas do Zodíaco foram inicialmente formadas na Acádia, provavelmente em época quase pré-histórica, e que aí, bem como entre todas as primeiras nações, “sua ordem e harmonia contrastava-se e opunha-se ao movimento supostamente desordenado dos planetas”. É também provável que muitos dos grupos extrazodiacais, mais ou menos na mesma forma e localização dos que temos hoje em dia, bem como os mitos a eles associados, provieram do Vale do Grande Rio, originalmente introduzidos por invasores do Norte; pois Bailly assevera que a ciência corrente na Caldeia, bem como na Índia e Pérsia, pertencia a uma latitude maior do que aquela da Babilônia, Benares e Persépolis [ix].

Entre os babilônios, as principais estrelas representavam seus deuses principais, e eles ligavam as diversas constelações a determinadas nações sobre cujo destino supunham dominar. Caracteres cuneiformes dispostos em forma estelar formavam o ideograma de Ilu, a Divindade; enquanto, combinando negócios e religião, suas Kudurrus, ou pedras miliares, recentemente desenterradas, que marcavam os limites e fronteiras de lotes urbanos e terrenos agrícolas, muitas vezes são inscritos com alguma constelação, provavelmente a que representava o deus tutelar do dono. Mas qualquer que seja as nossas conclusões quanto ao início da Astronomia no vale do Eufrates, pode-se considerar plenamente estabelecido que a Astrologia, no presente sentido da palavra, teve lá sua origem, e que os modernos aspectos astrológicos do sol, da lua e dos planetas são aqueles em curso sobre esse rio e em todas as eras desde então.

O profeta Isaías, em 700 aC, ao pronunciar o julgamento do Todo-Poderoso sobre a Babilônia, refere com desprezo a

os astrólogos, os que perscrutam os astros, os que prognosticam de mês em mês; [x]

Daniel, um século depois, reconhecia seus captores como versados na arte, embora ele mesmo e seus companheiros fossem “dez vezes melhores”; muito embora, os termos “babilônios” e “caldeus” chegaram quase ao nosso tempo como sinônimos de observadores, e adivinhos, das estrelas, independentemente de sua nacionalidade individual.

Mas a arte tornou-se amplamente difundida noutros lugares, e especialmente em voga em Roma, onde os seus devotos, conhecidos como babylonii, chaldaei, astronomi, astrologi, genethliaci, mathematici e planetarii, parecem ter florescido não obstante os esforços envidados para suprimi-los e sua ridicularização por Cícero, Juvenal e outros da época. Na verdade, eles foram expulsos da cidade por lei em 139 aC, e outras vezes depois disso, mas amiúde retornavam. Na Grécia, Eudoxo e Aristarco de Samos sentiram necessário instar seus compatriotas contra ela, embora Beroso ensinou-a lá pouco depois deles e sua influência por toda parte até cerca de duzentos anos atrás seja bem conhecida. A crença de Dante nela é várias vezes exposta por toda a Divina Comédia, enquanto aos dias de Shakespeare — de fato, mesmo um século após — a confiança nela era quase universal, e muito foi feito disto em todo tipo de drama e poesia. Kent, em Rei Lear, apenas expressa a opinião prevalente quando declara:

São as estrelas, as estrelas acima de nós que governam nossa condição. [xi]

Cecil, Barão de Burghley, calculou o mapa natal da rainha Elizabete I; Lilly foi consultado pelo rei Carlos I, em 1647, acerca de sua fuga do castelo Carisbrooke; Flamsteed traçou um horóscopo dos céus no momento da fundação do Observatório Real, em 10 de agosto de 1675, embora tenha-lhe anotado Risum teneatis amici; e, mais ou menos à mesma época, astrólogos eram costumeiramente convocados para as sessões do Parlamento. A arte mantinha-se reconhecida mesmo entre as classes mais instruídas do século seguinte; pois evidência astrológica ainda chegou a ser aceita num tribunal de justiça em 1758, e Sir Walter Scott fez Guy Mannering delinear um horóscopo para o jovem lorde de Ellangowan que este último preservou até a idade madura.

Não é improvável que a decadência da Astrologia na Inglaterra tenha sido apressada pela publicação de Hudibras, de Samuel Butler, obra que expôs ao ridículo de modo tão bem sucedido e popular a prática astrológica e seu maior expoente William Lilly, apresentado sob a alcunha Sidrophel. Entre suas passagens, lemos acerca de tais devotos:

Que mentiras contam até mais,
Em desenhos e mapas natais,
Do que os magos caldeus e ciganos
Por centenas de milhares de anos. [xii]

Johnathan Swift seguiu na mesma linha em sua Predictions for the year 1708 by Isaac Bickerstaff, Esq..

No continente, a Astrologia predominou ainda mais, e até homens das ciências estavam seriamente interessados nela. Gassendi iniciou sua distinta carreira praticando-a; Tycho fez previsões a partir do cometa de 1577, e, tal como veio a acontecer, bem sucedidamente, as realizações e momento da morte de Gustavo Adolfo [xiii]; o ainda mais ilustre Kepler profetizou com base nas estrelas a chegada de um inverno rigoroso, e assim aconteceu. Maria Mitchell escreveu sobre esses dois astrônomos:

Ambos os filósofos inclinaram-se às opiniões astrológicas de seu tempo; e Kepler certamente acreditava nelas. Ele delineava mapas natais, quando premido pela falta de dinheiro, e publicava almanaques astrológicos, embora admitisse que tais procedimentos fossem pouco melhores do que a mendicância, e seu trabalho, conjecturas sem valor;

e ele melancolicamente disse:

As escassas recompensas dum astrônomo não me proveriam pão, se os homens não entretivessem esperanças de ler o futuro nos céus.

O horóscopo de Wallenstein delineado por um ou pelo outro desses ilustres homens ainda se encontra preservado na biblioteca do Observatório Poulkowa. A crença de Napoleão em sua estrela guia é bem conhecida. Porém, como ciência oculta, a Astrologia praticamente morreu na Inglaterra com os astrônomos do século XVII. Ela ainda floresce no Leste, contudo, especialmente entre os chineses e persas. O recente nascimento do filho do cônsul-geral chinês em Nova Iorque foi a ocasião para muita troca telegráfica entre os principais astrólogos do Reino Celestial que deveriam prever seu futuro; e o horóscopo dos persas ainda nos dias atuais é cuidadosamente preservado durante sua vida, queimado após sua morte, e suas cinzas são espalhadas por sobre o rio sagrado. De certo modo, ela permanece entre o povo por toda parte, pois seus almanaques e periódicos ainda são publicados; seus anúncios e previsões para signos podem ser vistos diariamente em nossas maiores cidades; uma sociedade para seu estudo, chamada The Zodiac, foi estabelecida em Nova Iorque, em 1897; e mesmo atualmente há muitos distritos alemães nos quais o horóscopo da criança é regularmente guardado juntamente com o certificado de batismo, na arca familiar.

Não deve ser olvidado que a Astrologia, a “filha tola de sábia mãe” no dizer de Kepler, originalmente incluía a Astronomia, tendo sido Sêneca o primeiro, na época clássica, a distinguir o significado das duas palavras; e foi nisto seguido por Santo Isidoro de Sevilha (Isidorus Hispalensis), o Egrégio Doutor do século VII e autor de Origines et Etymologiae; embora mesmo ao século XVII encontremos confusão em seu uso, pois Minsheu menciona os “astrólogos” como os que estabeleceram os “asterismos”, e o diarista John Evelyn escreveu sobre o “Sr. Flamsteed, o culto astrólogo.”

Ao contrário, e não há muito tempo, a palavra “astrônomo” era aplicada àqueles que atualmente chamaríamos “astrólogos”. Shakespeare devotou seu 14º soneto a este assunto, começando assim:

Não faço meus julgamentos pelas estrelas;
Embora conheça bem a astronomia, [xiv]

e em Troilus and Cressida lemos

Quando ele atua, astrônomos predizem-no. [xv]

Mas esta é uma longa digressão de meu assunto.

A contribuição da Arábia à antiga Astronomia foi discreta, pois embora as tribos anteriores aos dias de Maomé indubitavelmente prestassem muita atenção aos corpos celestes, faziam-no de modo inteiramente não científico, meramente observacional e supersticioso; e somente em seus dias subsequentes de paz e poder, após o Profeta tê-los amalgamado em uma nação ativa, sua classe mais instruída levou a sério o estudo do céu. Mesmo isto foi feito apenas ao longo das linhas estabelecidas por Ptolomeu, e eles fizeram pouca coisa original. Ainda assim, devemos-lhes e a seus assistentes judeus muita gratidão por terem preservado o conhecimento do início da Astronomia moderna durante o milhar de anos da Era Medieval e das Trevas; ao mesmo tempo, como já vimos, nossos nomes estelares devem-se em grande parte a eles.

Os árabes pagãos veneravam estrelas, — os sabeus, — como ainda o fazem os parses com nossa própria estrela especial, o Sol; na verdade, este culto foi muito comum na antiguidade. Era universal na antiga Índia, e constantemente aludido em seus livros sagrados; sacerdotes egípcios apontaram a Plutarco estrelas que teriam sido Ísis e Osíris; na Grécia, Aristófanes fez especial menção a isto em sua Pax, 419 aC, e Aristóteles escreveu a Alexandre:

O céu está cheio de deuses aos quais damos o nome das estrelas.

No Timeu de Platão, lemos sobre sua divindade suprema:

Depois de ter constituído o todo, dividiu-o em número de almas igual ao de astros e atribuiu uma a cada um. [...] Aquele que viver bem durante o tempo que lhe cabe, regressará à morada do astro que lhe está associado, para aí ter uma vida feliz e conforme. [xvi]

Dante adotou-o no Paraíso:

Parer tornarsi l’anime alle stelle,
Secondo la sentenza di Platone; [xvii]

enquanto Virgílio escreveu nas Geórgicas:

viva volare
Sideris in numerum, atque alto succedere coelo; [xviii]

Milton, em Paraíso Perdido:

Deste astro belo os argentados campos
É mais provável que povoados sejam
De entes — espécie média entre anjos e homens; [xix]

e Wordsworth, já quase em nossos dias, em seus Poems of the Imagination:

Mansões nas estrelas fez a Natureza
Onde habitam as almas abençoadas
Em túnicas imortais, de luz bordadas. [xx]

De fato, esse pensamento tem estado em vigor ao longo da história, em todas as tradições, na vida civilizada e selvagem, em cada continente e ilhas do mar.

O patriarca cristão Orígenes, com base na suposta autoridade do Livro de Jó, 25:5, e talvez influenciado pelo 43º versículo do capítulo 13 do Evangelho de São Mateus, afirmou que as próprias estrelas fossem seres vivos; e Dionísio Exíguo, o cronologista de nosso século VI, estabeleceu nas constelações a hierarquia angelical, assinalando aos querubins o domínio das estrelas fixas. Shakespeare fez várias alusões a este atributo estelar. Em Rei Henrique VI, Bedford, invocando o fantasma de Henrique V, disse

Tua alma criará uma estrela muito mais gloriosa
Que a de Júlio César; [xxi]

e em Péricles encontramos

Os céus fizeram dele uma estrela. [xxii]

Mesmo aos dias atuais, de acordo com o Sr. Andrew Lang, o folclore alemão considera que quando morre uma criança, Deus cria uma nova estrela — uma superstição também encontrada na Nova Inglaterra há cinquenta ou mais anos. O camponês alemão diz a seus filhos que as estrelas são os olhos dos anjos; e o aldeão inglês põe na cabeça dos jovens que é ruim apontar para as estrelas, embora ele não saiba dizer por quê.

De forma muito parecida, al-Bīrūnī citou de Varāhamihira:

Cometas são aqueles seres, levados aos céus por conta de seus méritos, cujo tempo de moradia no céu chegou ao fim e que estão retornando à terra.

Cícero, em De Natura Deorum, asseverou que as constelações eram tidas como divinas; e Estácio, que as ninfas marinhas eram as constelações do mar, as habitantes divinas das águas, tal como aqueloutras eram dos céus. Ademais, este mesmo autor [xxiii], noutro texto, representou a Aurora a expulsar as estrelas do céu com um chicote, qual fossem animais; e Manílio taxou-as de um rebanho de ovelhas em curso [xxiv]; enquanto Shelley, em seu Prometheus Unbound, escrevendo sobre o trabalho do astrônomo, diz:

Do céu o negror quamanho
Astros entrega, e quais ovelhas dum rebanho
Ante os olhos passam, são contadas, e rolam. [xxv]

No Norte da Índia, mesmo atualmente as mulheres ensinam seus filhos que as estrelas são gado e que a Lua as pastoreia.

Seguindo a opinião de Josefo, Orígenes afirmou que as constelações eram conhecidas muito tempo antes dos dias dos patriarcas por Noé, Enoque, Set e Adão — de fato, elas foram mencionadas no Livro de Enoque como “já nomeadas e divididas” [xxvi]; e alegou que longevidade desses antigos era uma bênção especialmente concedida para dar-lhes oportunidade a um período longo e continuado de observação e comparação dos corpos celestes.

Na arte cristã primitiva, a estrela era um emblema particular de santidade, aparecendo muitas vezes sobre a cabeça ou sobre o tórax das representações dos santos.


Notas de Rodapé (do texto original)


[1] Arato, supostamente, é o quis alter que, juntamente com Conon, estava representado nas “tigelas de faia, trabalho de entalhe do divino Alcímedon”, as quais Menalcas aposta com Damoetas na 3.a Écloga das Bucólicas. (Nota do Tradutor: menção aos versos 40-41, In medio duo signa: Conon, et — quis fuit alter, / Descripsit radio totum qui gentibus orbem. Trata-se de Conon de Samos, célebre astrônomo e matemático grego, que viveu entre 280 e 220 aC. Comentaristas ao longo dos séculos divergiram sobre quem seria o segundo personagem, anônimo, descrito apenas por sua obra: Arato ou Eudoxo, Arquimedes, Hiparco, Eudemo, Euclides ou mesmo Hesíodo, apud Charles Anthon, P. Virgilii Maronis Bucolica et Georgica: The Eclogues and Georgics of Virgil. With English notes, critical and explanatory, and a metrical index, pág. 74, 1847, Londres.)
[2] John Landseer, gravador e escritor de arte, era o pai de Thomas e de Sir Edwin Landseer.
[3] O Abarchis ou Abrachys dos arábios.
[4] Esta grande escola foi iniciada por homens como Aristilo e Timocares, sob o governo de Ptolomeu I Sóter, cerca de 300 aC, os primeiros astrônomos realmente científicos que deram início às observações que geralmente se acredita terem levado Hiparco a descobrir o fenômeno da precessão; e foi dirigida Aristarco, Eratóstenes (o inventor da esfera armilar), Euclides (o geômetra), Conon, Sosígenes, e finalmente Ptolomeu, que encerrou a famosa lista em 151 dC, embora a escola tenha sido nominalmente mantida até a destruição final da grande Biblioteca de Alexandria no século VII.
[5] O eminente egiptologista Sir Peter Le Page Renouf, que faleceu em 1897.
[6] al-Bīrūnī mencionou este autor como um excelente astrônomo e fez muitas referências a sua obra Brihat Samhita, ou Grande Compilação.

Notas Explicativas da Tradução


[i] Esta tradução foi feita a partir dos versos em inglês quotados por Allen, provenientes da tradução versificada de Robert Brown Jr., datada de 1885: “some man of yore / A nomenclature thought of and devised, / And forms sufficient found. / (...) / So thought he good to make the stellar groups, / That each by other lying orderly, / They might display their forms. And thus the stars / At once took names and rise familiar now”. No original grego, esses versos (373-384) fazem parte de uma estrofe maior, na qual se discute a origem dos nomes das constelações:
  (...) τά τις ἀνδρῶν οὐκέτ᾽ ἐόντων
ἐφράσατ᾽ ἠδ᾽ ἐνόησεν ἅπαντ᾽ ὀνομαστὶ καλέσσαι
375  ἤλιθα μορφώσας. οὐ γάρ κ᾽ ἐδυνήσατο πάντων
οἰόθι κεκριμένων ὄνομ᾽ εἰπεῖν, οὐδὲ δαῆναι.
πολλοὶ γὰρ πάντη, πολέων δ᾽ ἐπὶ ἶσα πέλονται
έτρα τε καὶ χροιή, πάντες γε μὲν ἀμφιέλικτοι.
τῶ καὶ ὁμηγερέας οἱ ἐείσατο ποιήσασθαι
380  ἀστέρας, ὄφρ᾽ ἐπιτὰξ ἄλλῳ παρακείμενος ἄλλος
εἴδεα σημαίνοιεν. ἄφαρ δ᾽ ὀνομαστὰ γένοντο
ἄστρα, καὶ οὐκέτι νῦν ὑπὸ θαύματι τέλλεται ἀστήρ.
ἀλλ᾽ οἱ μὲν καθαροῖς ἐναρηρότες εἰδώλοισιν
φαίνονται: (...)
Duma comparação com outras traduções, concluo que a de Robert Brown Jr. não é muito fiel ao original, talvez pela necessidade de ater-se à versificação (mas veja também a nota xxvi acima). Por exemplo, na tradução de A. W. & G. R. Mair (1921), este trecho completo se lê: “which someone of the men that are no more noted and marked how to group in figures and call all by a single name. For it had passed his skill to know each single star or name them one by one. Many are they on every hand and of many the magnitudes and colours are the same, while all go circling round. Wherefore he deemed fit to group the stars in companies, so that in order, set each by other, they might form figures. Hence the constellations got their names, and now no longer does any star rise a marvel from beneath the horizon.” Sentido similar a este é encontrado na tradução de Douglas Kidd (1997): “that one of the men who are no more devised and contrived to call by names, grouping them in compact shapes: he could not, of course, have named or identified all the stars taken individually, because there are so many all over the sky, and many alike in magnitude and colour, while all have a circling movement; therefore he decided to make the stars into groups, so that different stars arranged together in order could represent figures; and thereupon the named constellations were created, and no star-rising now takes us by surprise.
[ii] Excerto da obra An Historical Survey of the Astronomy of the Ancients, de George Cornewall Lewis, Londres (1862), pg. 148.
[iii] Trecho de Naturalis Historia, Livro II, Capítulo XXVI.
[iv] Huángdì (黃帝) é conhecido popularmente como “O Imperador Amarelo”, ancestral mítico do povo chinês. Embora Dà Rǎo seja descrito por Allen como seu primeiro-ministro, a rigor era um dos oficiais do imperador.
[v] Joseph Edkins foi um missionário protestante inglês, no século XIX, que se especializou em religiões da China e filologia. Seus comentários quotados por Allen foram originalmente publicados no The China Review (vol. XVI, nº. 5-6, 1876/1878).
[vi] A Tartaruga Negra também é chamada de O Guerreiro Negro, segundo a pronúncia em algumas localidades da China. Allen usa esta última denominação, com base no texto de John Williams em Observations of comets, from B.C. 611 to A.D. 1640, pg. xxii: “The Chinese arrange these 28 stellar divisions under four general heads, answering to our east, west, north, and south. These divisions are of very remote antiquity, and have received the names of Tsing Lung, 'the Azure Dragon;' Heung Woo, 'the Black Warrior;' Choo Neaou, 'the Red Bird;' and Pih Hoo, 'the White Tiger.'
[vii] Mikado era um título honorífico pelo qual os imperadores do Japão eram conhecidos.
[viii] Homero foi quem primeiro aludiu aos Αἰθίοπες, afirmando que estes podiam ser encontrados em ambas as extremidades do mundo, a leste e a oeste, separados pelo mar. Embora a maioria dos textos gregos que lhe seguiram localizavam a Αἰθιοπία na região subsaariana, identificando-a ao antigo reino de Cuche, em torno da capital Meroé, geógrafos e historiadores da antiguidade usaram esse nome para uma região muito maior, que incluía a Península Arábica e parte da Índia.
[ix] Jean Sylvain Bailly, astrônomo francês do século XVIII, produziu algumas obras universalmente admiradas por seus contemporâneos, mas pontilhadas de especulações infundadas. Parece ser este o caso da afirmação de que a ciência dos todos os principais povos antigos é originária de uma latitude bem mais ao norte da Índia e Pérsia. Ele assim conclui porque Le livre de Zoroastre est la loi de l'Asie occidentale, le livre savant de la Perse & d'une partie de l'Inde. Nous en avons extrait la plupart des connoissances astronomiques des Perses qui sont dans cet ouvrage. On y lit que le plus long jour d'été est double du plus court jour d'hiver. Ceci détermine le climat où le livre de Zoroaftre a été composé, où cet ancien philosophe a recueilli les connoissances qu'il nous a transmises. Il n'y a que le climat de 16 heures, c'est-à-dire, où le plus long jour est de 16 heures, & le plus court de 8, qui puisse satisfaire à cette condition. Ce climat répond à la latitude de 49°, qui est celle de Selinginskoi. On trouve vers ce parallèle une ville sous le nom de Locman, qui pourroit être la patrie du célèbre fabuliste des Perses; le même, sans doute, que l'Esope des Grecs; ce qui ramene aux climats septentrionaux l'origine de l'apologue & de la morale, comme celle de la philosophie & de l'Astronomie. D'où résulte ce paradoxe singulier, que ce n'est pas dans l'Egypte, dans la Perse, dans la Chaldée, dans les Indes, à la Chine, mais sous ce parallèle & vers le nord, que l'on doit chercher l'origine de ces anciennes connoissances (Histoire de l'astronomie ancienne, pp. 100-101)
[x] Isaías 47:13. Tradução a partir do original de Allen, por sua vez proveniente da Bíblia do Rei James.
[xi] Trecho do Ato IV, Cena 3, de Rei Lear. Tradução nossa, a partir do original.
[xii] Trecho do Canto III de Hudibras, pg. 175. No original: And is one cause they tell more lies, / In figures and nativities, / Than th' old Chaldean conjurors / In so many hundred thousand years.
[xiii] Conta-se que em 1577 Tycho Brahe previu que um príncipe, ainda por nascer na Finlândia, arrasaria a Alemanha e morreria em 1632. A vida do rei Gustavo II Adolfo, da Suécia, ilustrou plenamente nessa previsão.
[xiv] Versos traduzidos por Thereza Cristina Rocque da Motta, disponível no blog 154 Sonetos de William Shakespeare. No original, lê-se: Not from the stars do I my judgment pluck, / And yet methinks I have astronomy.
[xv] Trecho da fala de Thersites no Ato I de Troilus and Cressida. No original: When he performs astronomers foretell it.
[xvi] Trecho da fala de Timeu, excertos das seções 41d e 42b, segundo a tradução diretamente do grego feita por Rodolfo Lopes (Timeu-Crítias, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 2011). Allen emprega a tradução ao inglês feita no século XIX por Henry Davis, baseada na tradução latina de Stallbaum: And after having thus framed the universe, he allotted to it souls equal in number to the stars, inserting each in each. ... And he declared also, that after living well for the time appointed to him, each one should once more return to the habitation of his associate star, and spend a blessed and suitable existence. A sentença “And he also declared” desta tradução, não faz parte do texto original: συστήσας δὲ τὸ πᾶν διεῖλεν ψυχὰς ἰσαρίθμους τοῖς ἄστροις, (...) καὶ ὁ μὲν εὖ τὸν προσήκοντα χρόνον βιούς, πάλιν εἰς τὴν τοῦ συννόμου πορευθεὶς οἴκησιν ἄστρου, βίον εὐδαίμονα καὶ συνήθη ἕξοιῇ, tampouco figura noutras traduções em língua inglesa: And having made it he divided the whole mixture into souls equal in number to the stars, and assigned each soul to a star. ... He who lived well during his appointed time was to return and dwell in his native star, and there he would have a blessed and congenial existence [por Benjamin Jowett]; And when He had compounded the whole He divided it into souls equal in number to the stars, and each several soul He assigned to one star. ... And he that has lived his appointed time well shall return again to his abode in his native star, and shall gain a life that is blessed and congenial [W. R. M. Lamb].
[xvii] Trecho do Canto IV, v. 23-24, do Paraíso, na Divina Comédia. Em tradução literal nossa: “Parecendo retornar as almas às estrelas, / segundo a opinião de Platão”. Na tradução versificada de José Pedro Xavier Pinheiro: “Se das estrelas a alma torna ao meio, / como Platão filósofo assegura”.
[xviii] Versos 226 e 227 do Livro IV das Geórgicas. Em tradução literal nossa: “Vivas, voam para seu local estelar, e entram nas alturas do céu”. Na tradução versificada feita por António Feliciano de Castilho: “ao pélago sidéreo / arrancando-se do orbe os entes se dirigem, / diziam, para os céus donde hão tomado origem”.
[xix] Versos 460-462, Canto III, de Paraíso Perdido. A tradução apresentada foi feita por António José de Lima Leitão. No original: “Those argent fields more likely habitants, / Translated saints, or middle spirits hold. / Betwixt the angelical and human kind”.
[xx] Tradução versificada nossa. No original: “The stars are mansions built by nature's hand, / And, haply, there the spirits of the blest / Dwell clothed in radiance, their immortal vest”.
[xxi] No original: “a far more glorious star thy soul will make / Than Julius Caesar”.
[xxii] No original: “Heavens make a star of him”.
[xxiii] Esta afirmação provavelmente se deve a Allen ter quotado de memória, o que talvez explique a referência imprecisa (“this same author elsewhere represented...”) e minha incapacidade para encontrar qualquer passagem na obra completa de Cícero em que houvesse tal representação da Aurora. Por outro lado, há uma representação bastante similar feita por Ovídio, em Os Fastos, livro V, vv. 159-160: “Postera cum roseam pulsis Hyperionis astris in matutinis lampada tollet equis”. Em tradução nossa, com base na tradução ao inglês por James George Frazer: “Quando em seguida a filha de Hiperião, sobre os corcéis da manhã, levanta o candeeiro rosado, os astros são postos em fuga”. Na tradução versificada de Antonio Feliciano de Castilho: “Quando outra vez a Hiperionia moça, afugentando os astros somnolentos”.
[xxiv] Segundo os comentários de Holdsworth em Remarks and Dissertations on Virgil, p. 119, Manílio representava as estrelas como um rebanho, nos vv. 311-313 do Astronomicon, Liber V: At, cum secretis improvidus Haedus in astris / Erranti similis fratrum vestigia quaerit / Postque gregem longo producitur intervallo. Na tradução de Marcelo Vieira Fernandes (in Manílio — Astronômicas: Tradução, Introdução e Notas, Dissertação de Mestrado, PPG Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, 2006), estes versos dizem: “Mas, quando o imprevidente Bode, semelhante àquele que vaga em retiradas cavernas, procura as pegadas dos seus irmãos, mostrando-se só depois de longo intervalo atrás de seu rebanho”. Também lemos nos vv. 226-229 do Astronomicon, Liber II outra alusão às estrelas como um rebanho: Ut, quae terrena censentur sidera sorte, / Princeps armenti taurus, regnoque superbus / Lanigeri gregis est aries, pestisque duorum / Praedatorque leo, & dumosis Scorpios arvis. Estes, na tradução de Marcelo Vieira Fernandes: “Quanto às estrelas que são contadas sob a condição terrena, são elas: o Touro, chefe do armento; Áries, orgulhoso de seu poder sobre o rebanho lanígero; e, ruína e predador dos dois, o Leão; e o Escorpião, nas sarças dos campos”.
[xxv] Trecho da fala da Terra, em Prometheus Unbound, Ato 4, Cena 4.1. Tradução versificada nossa. No original: “Heaven's utmost deep / Gives up her stars, and like a flock of sheep / They pass before his eye, are number'd, and roll on”. Toda essa cena versa sobre o homem, e não sobre o trabalho do astrônomo, tal como afirma Allen.
[xxvi] Faz-se alusão a um suposto livro perdido de Enoque, do qual Orígenes deve ter tido conhecimento, talvez por transmissão oral. François Rolleston assim informa em Mazzaroth: “Origen is thought to allude to a book of Enoch, not that now known as such”.

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