Doce Andrômeda, por que tanta espera
Timidamente entre estrelas? Adiante!
Siga animada a multidão brilhante
Aonde ela for. [i]
Endymion, de John Keats
ANDROMEDA
a Ἀνδρομέδη de Arato e Ἀνδρομέδα de Eratóstenes, Hiparco e Ptolomeu representa no céu a filha de Cefeu e Cassiopeia, rei e rainha da Aethiopia, acorrentada e exposta ao monstro marinho como castigo à vanglória de sua mãe, que afirmava possuir uma beleza superior à das nereidas. Safo, do século VII aC, supostamente a mencionou, enquanto Eurípides e Sófocles, do século V aC, escreveram dramas nos quais ela figurava como personagem; mas ela parece ter vindo de muito além dos tempos clássicos, e provavelmente devemos buscar no Eufrates por sua origem, assim como a de sua família e da Baleia. Sayce alega que ela aparece no Enûma Eliš, o épico babilônico da criação, de mais de dois milênios antes da nossa era, associada à história de Bel Marduque e do dragão Tiamat, que indubitavelmente é a base da história de Perseu e Andrômeda. Ela também era conhecida na Fenícia, onde a influência caldeia já era sentida em épocas mais remotas.
Como constelação, essas estrelas sempre mantiveram nossa denominação, frequentemente com a adição Mulier Catenata, a Mulher Acorrentada, e muitos dos latinos clássicos aludiam a ela como familiar e uma grande favorita. Germânico a chamava de Virgo Devota, Virgem Devota; um escoliasta, Persea, por ser noiva de Perseu; enquanto Manílio, e novamente Germânico, usaram Cepheis, Cefeíde, de seu pai.
Em algumas edições das Tábuas Afonsinas e do Almagesto, ela é Alamac, a partir do título de sua estrela γ; e Andromada, descrita como Mulier qui non vidit maritum (mulher que não conheceu marido), evidentemente de al-Bīrūnī, e isto reaparece no Carens Omnino Viro de Bayer. Ali ibn Ridwan (Haly), o tradutor para o latim dos comentários arábios ao Tetrabiblos, usou Asnade, o qual se lê no Berlin Codex como Ansnade et est mulier quae non habet vivum maritum; estes se modificaram por inúmeras transcrições de al-Armalah, a Viúva, aplicada pelos arábios à Andrômeda; mas o filólogo Buttmann diz ser de Anroneda, outra forma errônea de nossa palavra [ii]. A Antamarda dos hindus é a variante deles ao nome clássico.
Andrômeda, na representação de Bayer |
Outros, que naturalmente achavam que ela estava muito longe de casa naquele lugar, situaram Iope na Aethiopia e fizeram-na negra; Ovídio expressa-o em seu patriae fusca colore suae [iv], embora ele tenha seguido Heródoto atribuindo-a à Índia. Manílio [1], ao contrário, em sua versão da história, descreveu-a como nivea cervice (de pescoço alvo); mas a Aethiopia desta lenda provavelmente ficava ao longo do Mar Vermelho, no sudoeste da Arábia.
Astrônomos arábios conheciam estas estrelas como al-Marʾah al-Musalsalah, o equivalente deles para o título descritivo clássico, — o Almara Almasulsala de Chilmead, — pois nomes mitológicos ocidentais não tinham aceitação em sua ciência, embora fossem familiarizados com as ideias. Mas eles representaram um Bezerro-Marinho, ou Foca, Vitulus marinus catenatus, como Bayer o latinizou, com uma corrente ao redor de seu pescoço unindo-o a um dos Peixes; pois seus escrúpulos religiosos os desencorajavam a representar a forma humana. Tais imagens eram proibidas pelo Alcorão; e nas declarações orais atribuídas pela tradição ao Profeta encontra-se este anátema:
Ai daquele que pinta a semelhança de um ser vivo: no Dia do Julgamento, aqueles que ele retratou se levantarão do túmulo e lhe pedirão por suas almas. Então, na verdade, incapaz de tornar vivo o trabalho de suas mãos, ele será consumido em chamas eternas. [v]
Esta ainda é a crença dos muçulmanos, pois William Holman Hunt foi alertado disso, enquanto pintava seu Scape Goat in the Wilderness, pelo xeque sobre cuja proteção se encontrava à época.
Andrômeda, no De Astronomia. |
Caesius [3] afirmou que ela representava a bíblica Abigail dos Livros de Samuel; e Julius Schiller, em 1627, compôs de suas estrelas o Sepulchrum Christi [4], o “sepulcro novo, em que ainda ninguém havia sido posto” [vii].
O impulso aparentemente universal dos observadores de estrelas para encontrar objetos terrenos nos céus é demonstrado pela Cruz composta por algumas das estrelas de Andrômeda: β, γ e δ marcam-lhe a barra vertical, α e κ, a transversa. Mas um grupo muito mais notável, uma imensa Concha de Sopa, é prontamente visto seguindo γ e β até o Quadrado de Pégaso, muito superior, em extensão pelo menos, ao famoso par de Conchas ao redor do polo.
Andrômeda é limitada ao norte por Cassiopeia e Perseu; a leste, por Perseu; ao sul, por Peixes e Triângulo; e a oeste, por Lagarto e Pégaso.
O trecho de Milton em Paraíso Perdido, em que Satã inspeciona nosso mundo
do ponto mais oriental
De Libra à estrela velosa que leva
Andrômeda aos distantes mares atlânticos
Além do horizonte, [viii]
parece ter confundido muitos; mas o poeta apenas buscava mostrar a ampla visão que o arquidemônio tinha a leste e oeste, através de seis signos do zodíaco, da Balança ao Carneiro com o velo dourado; Andrômeda, acima deste último, é aparentemente levada por ele para o oeste e, portanto, para um observador da Inglaterra, para sobre o Atlântico.
Andromeda de Kingsley descreve muito bem sua posição:
Eu te faço
Uma estrela alta nos céus, um sinal e uma esperança aos marinheiros,
Espalhando teus longos braços alvos toda a noite nas alturas do éter,
Firme junto a teu pai e teu herói, teu esposo, enquanto próximo a ti tua mãe
Senta-se em seu trono de marfim e entrelaça tranças ambrosiais;
Durante toda a noite, tu brilharás; [ix]
pois estes membros da família real, Andrômeda, Cassiopeia, Cefeu e Perseu, encontram-se contíguos uns aos outros, total ou parcialmente sobre a Via Láctea.
Andrômeda no Descrição das Estrelas Fixas, de al-Ṣūfī. |
Os n.os 51 e 54 Andromedae de Flamsteed são ψ e υ Persei, embora estejam posicionados exatamente onde Ptolomeu desejava que estivessem — aos pés da dama; assim também α desse asterismo foi designada como δ Pegasi por Bayer, e sua β era a lúcida de um dos Peixes, o setentrional.
Argelander contou 83 estrelas nessa constelação, e Heis, 138. [x]
Lalande e Dupuis afirmam que a esfera fenícia exibia uma grande Eira neste local, em que estrelas de Cassiopeia representavam um dos Respigadores no enorme Campo de Trigo que ocupava boa parte do céu daquele povo; suas dimensões exatas, todavia, são-nos desconhecidas.
α, Dupla, magnitudes: 2.2 e 11
Alpheratz, Alpherat e Sirrah vêm do nome arábio as-Surrat al-Faras, o Umbigo do Cavalo, pois essa estrela estava inicialmente associada a Pégaso, e depois foi transferida ao cabelo da Mulher; daí, já houve quem a denominasse estranhamente de Umbilicus Andromedae. Porém, em toda a astronomia arábia tardia inspirada em Ptolomeu, ela era descrita como al-Rās al-Marʾah al-Musalsalah, a Cabeça da Mulher Acorrentada.
Arato designou-a como ξῦνός ἀστήρ. i.e., comum a ambas as constelações, e ela ainda é contabilizada em Pégaso como a δ dessa figura, embora não tenha uso geralizado entre astrônomos.
Na Inglaterra, três séculos atrás, ela era familarmente conhecida como Andromeda's Head, Cabeça de Andrômeda.
Com β Cassiopeiae e γ Pegasi ela compõe as Three Guides, Três Guias, que marcam o coluro equinocial, o primeiro meridiano dos céus; e com γ Pegasi, o lado oriental do Grande Quadrado de Pégaso.
No zodíaco lunar hindu, esta estrela juntamente com α, β e γ Pegasi, — o Grande Quadrado, — constituía o duplo nakshatra, — o 25.o e o 26.o [xi], — Pūrva Bhādrapadā e Uttara Bhādrapadā, o Primeiro e o Segundo dos Pés Abençoados, ou Auspiciosos; também apresentados como Proṣṭhapāda, Com os Pés Apoiados; enquanto o Professor Weber, de Berlim, afirmou que as quatro estrelas brilhantes deviam representar o Pratiṣṭhāna, uma Plataforma ou Suporte.
Com γ Pegasi, a estrela determinante, ela formava a 14.o xiù Bì, uma Muralha ou Parede, antigamente Lek [xii], e o manzil Al Fargu, de al-Fargh al-Muʾakhkhar [xiii], o Vertedouro Traseiro do Jarro d'Água, pois Qazwīnī chamou-o como al-Fargh al-Thānī, o Segundo Vertedouro; que os primeiros árabes imaginaram nessa região do céu uma boca de poço e seus acessórios.
O título persa para esta estação lunar, Kaht [xiv]; o sogdiano, Bar Farshat; o corasmiano, Wabir; e o copta, Artulosia, têm todos, de certo modo, significados similares.
Na Astrologia, α prognostica honra e riqueza a todos aqueles nascidos sobre sua influência.
β, 2.3
Mirach foi descrita nas Tábuas Afonsinas de 1521 como super mirat, donde se derivou sua atual denominação, bem como as variantes ocasionais Mirac, Merach, Mirar, Mirath, Mirax, etc.; mirat provavelmente vem da descrição super mizar, presente na edição de 1515 do Almagesto, do árabe mīʾzar, um avental ou vestes para cintura. Scaliger, o grande erudito crítico do século XV, tomou este Mizar como um nome, e Riccioli seguiu-o nesse uso, criando assim confusão entre essa estrela e ζ Ursae Majoris. O Mirae usado por Smyth é, sem sombra de dúvida, meramente um erro tipográfico, muito embora o termo Miraë apareça em 1639 no Treatise [5] de Chilmead para a mesma palavra aplicada a β Ursae Majoris.
Hiparco parece referenciar-se a ela como ζώνη, Cinturão; e, sinonimamente, alguns a alcunharam de Cingulum; outros, Ventrale, de sua antiga posição na figura, embora atualmente se encontre ao lado esquerdo do quadril. Na astronomia arábia tardia, ela marcava o lado direito de Andrômeda e era conhecida como al-Janb al-Musalsalah, o Lado da Mulher Acorrentada. β aparecia em representações muito antigas como a lúcida do mais setentrional dos dois Peixes, e marcava o 28.o manzil al-Baṭn al-Ḥūt [xv], a Barriga do Peixe (ou da Baleia), ou al-Qalb al-Ḥūt, o Coração do Peixe (ou da Baleia); e o correspondente xiù Kuí, as Pernas ou o Passo das Pernas, antigamente Kwet. Nesta localização, ela era al-Rishāʾ [xvi], a Corda (de Poço), o Cabo ou Fio, por estar na linha que une os Peixes; mas este título atualmente pertence a α Piscium.
Brown a inclui, com υ, φ e χ Piscium, na estação lunar copta Kuton, o fio; e Renouf, em Arit, um asterismo do Egito Antigo. Ela situa-se entre α e γ, distante cerca de 15° de ambas; e na astrologia era uma estrela afortunada, pressagiando fama e felicidade no matrimônio.
γ, Binária, — e talvez terciária, 2.3, 5.5, e 6.5
Esta é Alamac nas Tábuas Afonsinas e no Almagesto de 1515; Alamak em Riccioli; Alamech de Flamsteed; e atualmente Almach, Almak, Almaack, Almaac e Almaak; todas de al-ʿAnāq al-ʾArḍ, o Carcaral, também chamado de Lince do Deserto, lá popularmente conhecido como al-Barīd. A conjectura de Scaliger de que seu nome venha de al-Maak [xvii], o Coturno, embora boa o bastante para uma estrela que marca o pé esquerdo de Andrômeda, não é aceitável; pois Ulugh Beg, um século e meio antes, bem como al-Tizīnī [6] e os globos árabes antes dele, deram-lhe o nome completo do animal. Mas a propriedade de tal designação não é óbvia em conexão com Andrômeda, e indicaria que ela pertence a uma astronomia árabe muito primitiva.
Sobre ela Bayer escreveu perperam Alhames [xviii], uma forma errônea de algumas das já apresentadas acima. Riccioli [7] também menciona este nome, mas somente para repudiá-lo.
Muḥammad al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit [8] designou-a como al-Khāmis al-Naʿāmāt, que seu editor traduziu como Quinta Struthionum, a 5.o dos Avestruzes; mas não encontrei em nenhum outro local a associação de tais aves com esta constelação.
Hyde fornece outra designação para γ como al-Rijl al-Musalsalah, o Pé da Mulher Acorrentada.
Na astronomia da China, esta estrela era chamada Tiān Dà Jiāng Jūn Yī, a Primeira Estrela do Grande General Celestial [xix]. Na Astrologia, era tida como honorável e eminente.
Sua binariedade foi descoberta por Johann Tobias Mayer de Gottingen em 1778; e Wilhelm Struve [9], em outubro de 1842, descobriu que sua companheira era também uma binária muito próxima, separada por menos de 1'' num ângulo de posição de 100°, e provavelmente teria outra companheira. As duas componentes maiores estão separadas por 10.4'' num ângulo de posição de 63.3°. O contraste de suas cores é extraordinariamente belo. Sir William Herschel escreveu sobre isso em 1804:
Esta estrela dupla é um dos mais belos objetos do céu. A impressionante diferença na cor das duas estrelas sugere a ideia de um sol com seu planeta, à qual o contraste de seus tamanhos desiguais não contribui pouco; mas Webb relata serem estacionárias. [xx]
De sua vizinhança irradiam-se os Andromedídeos ou Bielídeos, os meteoros de novembro, que se apresentaram majestosamente no 27 desse mês em 1872 e 1885, e no 23 em 1892, e associados por Secchi e outros com o célebre cometa descoberto por Biela em 1826, o qual, em seu retorno em 1832, quase deixou a França em pânico. O cometa fragmentou-se em dois pouco antes de sua passagem de 1846 e parece já se ter desintegrado por completo, pois não foi mais avistado a partir de 1859. A própria chuva de meteoros já não é mais observada com facilidade nos dias atuais. Ela completa três revoluções em aproximadamente vinte anos, embora sujeita a grandes perturbações por Júpiter. Esses objetos movem-se na mesma direção da Terra, e portanto com velocidade relativa baixa, — cerca de dezesseis quilômetros por segundo, — deixando no céu pequenas fagulhas amarelo-avermelhadas. O radiante, situado a nordeste de γ, é notável por sua extensão: entre 7 a 10 graus de dâmetro. Já se alegou que o meteorito ferroso Mazapil, que caiu no Norte do México em 27 de novembro de 1885, fosse um pedaço do próprio cometa Biela. [xxi]
δ, Dupla, 3 e 12.5
Burritt juntou à letra dessa estrela o título Delta, talvez por ela formar um triângulo com ε e uma pequena estrela adjacente. Ela marca o radiante dos Andromedídeos I, de 21 de julho. [xxii]
Suas componentes estão separadas por 27.9'' num ângulo de posição de 299.3°.
Na antiga China, ela participava da mansão lunar Kuí (Pernas). Seu título particular era Kuí Sù Wǔ, a Quinta Estrela das Pernas.
θ, uma estrela de magnitude 4.7, com ρ e σ formavam a constelação chinesa Tiān Jiù [10], o Estábulo Celestial.
ι, 4.3,
foi nomeada por al-Muwaqqit como Keff al-Salsalat, do árabe Kaff al-Musalsalah, traduzido para o Latim como Manus Catenata, ambos com o significado de Palma da Mulher Acorrentada.
ξ, 4.9,
é Adhil, aparecendo pela primeira vez no Almagesto de 1515 e, novamente, nas Tábuas Afonsinas de 1521, de al-Dhayl, a Cauda do Vestido, o equivalente árabe ao σύρμα de Ptolomeu; mas Baily pensava que tal título se aplicasse melhor à A [xxiii], ligeiramente mais débil, que se encontra aproximadamente nessa parte do vestido da dama; e Bayer erroneamente o deu à estrela B, de sexta magnitude, argumentando — pois ele era um tanto adepto da astrologia, apesar do Os Protestantium de sua época — que, com as estrelas circundantes, ela participava da natureza de Vênus. [xxiv]
υ, 4.0,
é atualmente conhecida como Titawin, após a votação mundial promovida em 2015 pela União Astronômica Internacional, através da internet. O nome homenageia Titawin, antigo nome da medina do atual Tetuão, no Marrocos.
Ela foi a primeira estrela ao redor da qual um sistema exoplanetário foi descoberto. Seu primeiro planeta foi descoberto em 1996, por Geoffrey Marcy e Paul Butler, da Universidade Estadual de San Francisco. Outros 3 planetas foram encontrados nos poucos anos seguintes. Três deles receberam nomes na mesma votação promovida pela União Astronômica Internacional: Saffar, Samh e Majriti, que homenageiam, respectivamente Ibn al-Saffar, Ibn al‐Samh and Maslama al-Majriti, astrônomos do al-Andalus nos séculos X e XI.
φ, Binária, 4.9 e 6.5, e χ, 5,
na Astronomia chinesa formavam o Jūn Nán Mén, o Portão Sul do Acampamento; elas situam-se na cauda próximo à estrela σύρμα. Os componentes de φ foram registrados por Burnham em 1879, separados por 0.3'' num ângulo de posição de 272.4°.
14 Andromedae, 5.22
Essa fraca estrela, conhecida inicialmente como 14 Andromeda, nas listas de Flamsteed, recebeu o nome Veritate, na votação mundial promovida em 2015 pela pela União Astronômica Internacional. Seu nome é uma forma ablativa latina, que significa “Onde há Verdade”.
Sabe-se que Veritate possui ao menos um planeta. Este tem aproximadamente 5.3 massas jupiterianas e foi batizado como Spe — “Onde há Esperança”, em Latim —, na mesma votação mundial.
51 Andromedae (υ Persei), 3.8
Chama-se Nembus, e a história de seu nome, bem como sua atribuição a uma constelação, apresenta curiosos enganos. Ptolomeu a incluiu em Andrômeda no Almagesto, mas Bayer a moveu para Perseu, designando-a como υ Persei. Flamsteed a moveu de volta para Andrômeda, atribuindo-a o número 51.
Bayer considerava que ela marcasse a ponta da arma de Perseu e indicou diversos nomes que, supostamente, se referiam a esta localização. Mas nenhum deles — a rigor nome algum — foi adotado pelas listas de nomes estelares subsequentes. Sobre eles, Bayer escreveu
In falce adamanthina trium praecedens. Falx dicitur & curvus Harpes, Gladius falcatus, & incurvus, Arab. Nembus, Maroni Ensis falcatus, & curvus Saturni dens. [xxv]
A anotação “Arab.” deve estar errada, pois Nembus não é uma palavra árabe, tampouco latina; e se por acaso a intenção fosse escrever Nimbus, ainda assim estaria errada, pois não há indício de nebulosidade ao redor desta estrela. Curvus Saturni dens foi uma designação que Virgílio usou nas Geórgicas [xxvi] para um “podão”, o equivalente a uma Foice e a uma Ἅρπη, tão claramente associadas a Perseu.
NGC 1224, ou M 31 [11]
Hevelius catalogou-a em seu Prodromus, e Flamsteed inseriu-a em sua Historia Coelestis como nebulosa supra cingulum e nebulosa cinguli; mas Hiparco, Ptolomeu, Ulugh Beg, Tycho Brahe e Bayer não fazem alusão a ela, o que levou alguns a supor que ela tivesse variado em brilho, aumentando-o em épocas mais recentes; mas não há evidência sobre isso, e não é algo que pareça provável. [xxviii]
Marius disse que ela parecia com a luz diluída duma chama de vela vista através de um chifre [13], enquanto outros desses antigos astrônomos descreveram-na de forma diferente; essa discordância provavelmente se deve aos diferentes métodos de observação empregados. Sua natureza real ainda não foi determinada, embora a astrofotografia mostrou-a como “um grande corpo saturniforme, com um núcleo grande, comparativamente condensado, cercado por uma série de aneis, que nos parecem elípticos, mas provavelmente apenas devido ao ângulo sob o qual se apresentam a nossa visão” [xxix]; “uma aglomeração de matéria nebulosa parcialmente condensada em forma sólida” [xxx] — um novo e enorme sistema solar em formação.
Estima-se que seu comprimento, ou diâmetro, cerca de 3½°, corresponda a mais de trinta mil vezes a distância da Terra ao Sol.
Sua companheira assistente, visível como uma nebulosa no mesmo campo se um telescópio de pequeno porte for usado, é o aglomerado estelar NGC 221, ou M 32, descoberta em 1749 por Le Gentil. Ela é aproximadamente circular em forma e, aproximadamente, 1/8 do tamanho da Grande Nebulosa. Sir William Huggins e outros sugeriram que esta pequena nebulosa próxima à maior possa consistir de planetas em processo de formação.
S Andromedae, a nova de 1885 quer gerou tanto interesse, foi vista inicialmente em meados de agosto, a 16'' de arco a sudeste do núcleo, e, por um breve período, com magnitude entre 6 e 7; mas ela logo desapareceu para instrumentos comuns, e Hall a viu pela última vez com um refrator de 26 polegadas em Washington, em 1.o de fevereiro de 1886, com magnitude 16.
Notas de Rodapé (do texto original)
[1]Manílio, autor do Astronômicas, frequentemente referenciado nestas páginas, prosperou à época de Augusto e Tibério e provavelmente foi o primeiro autor latino a escrever extensivamente sobre Astronomia e Astrologia; mas ele aderiu fielmente ao esquema de Arato para as constelações e não fez menção à Cabeleira de Berenice, ao Pequeno Cavalo ou ao Cruzeiro do Sul. O texto, tal como o temos, é de um manuscrito exumado no século XV de uma antiga biblioteca alemã por Poggius, o célebre Gian Francesco Poggio Bracciolini, que resgatou muito da nossa literatura clássica da poeira dos tempos.
[2]As figuras deste antigo manuscrito são vívidas, muitas delas belíssimas, e todas decoradas com estrelas, mas não apresentam uma ordenação correta; e, embora se encontrem em perfeito estado de conservação, alegou-se que sejam tão velhas quanto a antiga Roma. Hugo Grotius reproduziu-as em sua Syntagma Arateorum, e o manuscrito original ainda se encontra preservado na biblioteca da Universidade de Leiden. [Nota do Tradutor: Allen chama-o Leyden Manuscript; atualmente é conhecido como Aratea de Leiden, sendo “aratea” um nome geral usado para manuscritos de poemas astronômicos, aos moldes do de Arato. In 1999, Mostert & Mostert (Quaerendo, v. 20, 248–261) dataram a confecção do manuscrito em 816 dC.]
[3]A obra de Caesius (Philipp von Zesen), o Coelum Astronomico-Poeticum, publicado por Joan Blaeu em Amsterdã em 1662, é muito usado por Lalande, e é uma fonte muito interessante de nomes estelares e da mitologia das constelações, apresentando muitas passagens de autores gregos e romanos. Ele menciona sessenta e quatro figuras, mas alguns de seus títulos estelares, assim como talvez aqueles de outros autores astronômicos, parecem ser meramente sinônimos para os originais erroneamente tomados.
[4]Este apareceu no Coelum Stellatum Christianum, que, segundo a folha de rosto, era uma produção conjunta de Schiller e Bayer, uma reimpressão ampliada da Uranometria de 1603; mas Gould diz que era na realidade a 2a edição da obra de Bayer, quase pronta para impressão à época da morte deste em 1625, apropriada por Schiller para incorporar suas próprias modificações absurdas nas constelações.
[5]Este livro, a Learned Treatise on Globes, consiste da tradução por Edmund Chilmead, de Oxford, de duas obras mais antigas em Latim escritas, respectivamente, por Robert Hues e Johannes Isacius Pontanus. trata-se duma descrição curiosamente singular dos globos celestes daquele e do século anterior, com sua nomenclatura estelar.
[6]O catálogo deste autor, Muḥammad abu Bakr al-Tizīnī al-Muwaqqit, foi publicado em Damasco em 1533 com 302 estrelas, e por sua longa lista de nomes estelares puramente árabes foi considerado digno de tradução e republicação por Hyde, em 1665, com o texto original. O muwaqqit de seu título indica que ele era um xeque de uma grande mesquita.
[7]Este último autor, a quem farei frequentemente referenciarei, foi Giovanni Battista Riccioli, da Companhia de Jesus, cujos Almagestum Novum de 1651 e Astronomia Reformata de 1665 foram famosos à época e são interessantes aos dias atuais, por terem preservado muito da estranha nomenclatura estelar medieval e do conhecimento astronômico geral de seu tempo. No 2.o volume dessa última obra se encontra uma longa lista de nomes, curiosidades filológicas, com o seguinte título: Nomina Stellarum Peregrinum & Plerumque Arabica; enquanto o comentário sobre o assunto, ne mirere Lector, si eidem Stellae diversa nomina videbis adscripta, pro diversitate Dialectorum aut codicum fortasse corruptorum, poderia muito bem servir como lema para este livro. Ele é reconhecido também por ter desenhado para seu Almagesto o 2.o mapa da Lua, — Hevelius precedeu-o nisso quatro anos antes,— e por ter dado vários nomes aos seus acidentes de relevo, dos quais mais de duzentos nomes ainda estão em uso nos dias atuais, enquanto todos, tirante seis, daqueles cunhados por seus contemporâneos mais célebres foram descartados. Seus nomes lunares eram naturalmente jesuítas; ele tampouco foi modesto, pois seu próprio nome é o primeiro da lista, seguido pelo de seu colega Grimaldi.
[8]O manuscrito árabe desse autor, com sua lista estelar datada do ano 1650, foi revisto por E. B. Knobel no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society (junho, 1895). Ele contém 112 estrelas, possivelmente retiradas do catálogo de al-Tizīnī do século anterior. O akhṣāṣī de seu título vem de uma vila de nome similar no Faium, indubitavelmente seu local de nascimento; e, tal como Tizīnī, ele foi xeque da grande mesquista no Cairo, onde sua obra foi escrita.
[9]Struve foi o primeiro diretor do Observatório Astronômico de Pulkovo, onde foi sucedido por seu filho Otto; e dois de seus netos têm nomes já celebrados na Astronomia.
[10]Os nomes estelares da China que são fornecidos aqui são poucos em comparação com o total de nomes usados por aquele país. Eu ocasionalmente os cito meramente para indicar o caráter geral da nomenclatura estelar chinesa.
[11]NGC refere-se ao New General Catalogue de John L. E. Dreyer, publicado em 1887; já o M explicita os objetos no Catálogo Messier.
[12]Este planeta era conhecido pelos gregos como Ζεύς; e como Φαέϑων, o Brilhante.
[13]Isto nos faz lembrar do belo símile de Dante em Paraíso, embora relacionado a um objeto diferente: “Como o fogo a luzir sob o alabastro.” (Nota do Tradutor: verso 24, Canto XV, de Paraíso, Divina Comédia, na tradução de José Pedro Xavier Pinheiro).
Notas Explicativas da Tradução
[i] Versos 605-608, Livro IV, do poema Endymion, de John Keats. A tradução versificada é nossa. No original: “Andromeda! Sweet woman! why delaying / So timidly among the stars: come hither! / Join this bright throng, and nimbly follow whither / They all are going”.
[ii] Essa informação é dada por Ideler em seu Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 314: “Hr. Buttmann ist der Meinung, Ansnade sey unmittelbar aus انرندة, Anroneda (für Andromeda) entstanden, indem man das ر für ein ز las”.
[iii] Esta frase destacada parece ser uma citação de Allen a algum autor, mas não foi possível localizar o texto original.
[iv] Trecho dos vv. 35-36 da Carta XV das Heroides de Ovídio. No original: Candida si non sum, placuit Cepheia Perseo / Andromede, patriae fusca colore suae. Na tradução de Joaquim Brasil Fontes em Eros, tecelão de mitos: a poesia de Safo de Lesbos: “Não sou clara? A Perseu agradou a Cephéia / Andromeda, nascida em terra de negros”.
[v] Não descobri a referência original desta sentença. Ela parece formada por uma mistura de trechos de vários hádices que tratam da proibição de desenhar vida animada.
[vi] Allen chama esse livro de Hyginus, nome latino de seu suposto autor. A obra é ainda conhecida como De Astronomia, Poeticon Astronomicon ou Clarissimi uiri Hyginii Poeticon astronomicon opus utilissimum, sendo este último o título com o qual veio a ser publicada postumamente em 1482.
[vii] Trecho de João 19: 41, na versão da tradução Almeida Corrigida Fiel.
[viii] Versos 557-560, Livro III, de Paraíso Perdido, de Milton. No original: “(...) from eastern point / Of Libra to the fleecy star that bears / Andromeda far off Atlantic seas / Beyond th' Horizon, (...)”. A referência à Libra e à “fleecy star” (Áries) como extensão do céu também é encontrada na tradução inglesa feita pelo Rev. Henry Francis Cary de Paraíso, na Divina Comédia, nos dois primeiros versos do Canto XXIX: “No Longer than what time Latona's twins / Cover'd of Libra and the fleecy star”. Allen chama atenção para a impossibilidade de observar simultaneamente no céu o ponto mais oriental de Libra e a estrela lanosa (uma referência à Áries), posto que estão diametralmente opostos no zodíaco. A tradução de António José de Lima Leitão não evidencia tão claramente essa incongruência astronômica: “Desde o ponto oriental da fiel Balança / Té à crinita estrela que, transpondo / De Atlante os mares, do horizonte as metas, / A Andrômeda livrou de crua morte”.
[ix] Versos 467-472 do poema Andromeda de Charles Kingsley. No original: “(...) I set thee / High for a star in the heavens, a sign and a hope for the seamen, / Spreading thy long white arms all night in the heights of the aether, / Hard by thy sire and the hero, thy spouse, while near thee thy mother / Sits in her ivory chair, as she plaits ambrosial tresses; / All night long thou wilt shine; (...)”.
[x] Há muito mais do que 183 estrelas na constelação de Andrômeda. Essa frase só faz sentido considerando que tais listas se limitam a estrelas mais brilhantes do que um limite de magnitude pré-estabelecido, usualmente aquele da observação a olho nu.”
[xi] Para Allen, estes seriam os 24.o e o 25.o nakshatras; porém, em listas atuais figuram como os 25.o e o 26.o ou, ainda, como os 26.o e o 27.o. Essa indefinição está relacionada à origem dos nakshatras: segundo o Vedas, o 1.o nakshatra seria Kṛttikā, onde se encontram as Plêiades; essa é a ordem usada por Allen. Em compilações mais recentes, a origem dos nakshatras passou a ser o ponto da eclíptica diametralmente oposto à estrela Spica; nessa, Kṛttikā é o 3.o nakshatra.
[xii] Allen afirma que este xiù era o 25.o mas todas as listas informam que este é o 14.o , mesmo a lista publicada por Ideler, que foi uma das principais fontes de Allen. Todavia, a 25.a posição poderia ser entendida se ele tomar como origem o xiù Mǎo, onde se encontram as Plêiades, tal como explicado na nota xi acima. Não está claro donde Allen retirou a informação de que o antigo nome deste xiù fosse Lek.
[xiii] Allen propõe “the Hindmost Loiterer” (aproximadamente, o Vagante da Retaguarda) como uma possível tradução para esse nome árabe, mas logo a seguir informa que mais provalmente a tradução seja “o Vertedouro Traseiro”. Essa confusão deve ter gerada pelo uso da transcrição Al Farigh, em vez de al-Fargh, para الفرغ. O radical فرغ contém a ideia geral de vazio. Lane (pg. 2381) indica que فَرِغَ pode indicar o estado de um homem que está desocupado, desempregado ou em lazer. Deve vir daí a tradução inicial sugerida por Allen. Por outro lado, a forma Fargh é plenamente compatível com o significado de فَرغ (Lane, pg. 2382) como local por onde a água verte, i.e., um vertedouro.
[xiv] Allen informa que o nome dessa mansão lunar em Persa seria Miyan, a partir da lista de mansões lunares presente no Cap. 2 do Bundahishn, escritas em Pazend (Persa Médio). A seu respeito, E. W. West escreveu em 1880: “os nomes em Pazend estão tão corrompidos que nenhuma confiabilidade pode ser conferida a eles” (Pahlavi Texts, Cap I, p. 11). À época de Allen, essa era a única fonte desses títulos, mas outra fonte foi encontrada posteriormente (nomes de algumas mansões lunares em Pálavi e uma lista no Dēnkird, Livro III, Cap. 419). O engano já começa pelo Bundahishn informar que são 28 as mansões lunares, mas fornecer 27 nomes únicos: justamente o nome Miyan (Meyān ou, ainda, Maian) aparece duplicado, na 11.a e 27.a posição. Segundo Raham Asha (em Calculation of Asterisms — “lunar mansions”, arquivo pdf distribuído online), essa palavra significa “meio, centro”, e parece ser um nome adequado para a 11.a mansão lunar, que se situa relativamente no centro da lista. Sua aparição como título na 27.a posição parece relacionar-se com uma tríade de asterismos: as três últimas mansões lunares persas se chamam Kahtsar, Kahtmeyān (ou kaht-myān) e Kaht, “a cabeça de Kaht, o meio de Kaht, e Kaht (propriamente dito)” apontando Kaht (ou Kayt) como uma constelação próxima a Peixes, possivelmente Andrômeda, Pégaso ou mesmo a Baleia (http://www.iranicaonline.org/articles/constellations, consultado em 01/10/2017)
[xv] No texto de Allen, este seria o 26.o manzil, mas em listas modernas ele figura como o 28.o, como explicado na nota xi acima.
[xvi] Há uma provável confusão etimológica nessa passagem. Talvez tenha sido um erro tipográfico e/ou de transliteração, mas Allen usa o nome Al Risḣā que em sua transliteração deve corresponder a الرسخا; o radical رسخ corresponde ao conceito “estabelecer firmemente, deixar fixo, atado” (Lane, pg. 1080). Por outro lado, o nome árabe الرشاء (forte corda, cabo, fio) corresponderia à transliteração Al Rishāʾ no padrão usado por Allen.
[xvii] Allen informa que Scaliger propôs etimologia al-Mauk. No original, Scaliger propôs al-Maak, porém a palavra em caracteres árabes que fornece é مواق (Muaq), deixando em dúvida se há erro tipográfico nessa frase de Allen. Em Arabische Sternnamen in Europa, p. 105, Kunitzsch informa que Grotius repete a proposta de Scaliger, mas a transcreve como الماق (al-Māq). Não encontrei nenhuma dessas palavras em dicionários modernos. Não está claro qual a forma correta, especialmente porque não confirmei o significado da palavra árabe. Usei a forma al-Maak, que é a presente no texto original de Scaliger.
[xviii] A frase original de Bayer, no Uranometria, pg. 39, é: In Australi pede lucida, Alamak, seu Almaak, perperam Alhames (A mais brilhante no pé austral, Alamak, ou Almaak, erroneamente Alhames).
[xix] O Grande General Celestial era um asterismo chinês composto por cerca de 28 estrelas, entre as quais γ Andromedae, φ Persei, 51 Andromedae, 49 Andromedae, χ Andromedae, υ Andromedae, τ Andromedae, 56 Andromedae, β Trianguli, γ Trianguli e δ Trianguli (https://en.wikipedia.org/wiki/Teen_Ta_Tseang_Keun, consultado em 03/09/2017).
[xx] Em seus escritos, Herschell hipotetiza que γ Andromedae pudesse ser um sistema planetário composto por um sol e seu planeta. Porém a oração adversativa da citação de Allen (“mas Webb relata serem estacionárias”) não faz parte do mesmo parágrafo anterior por ele escrito no artigo Continuation of an Account of the Changes that have happened in the Relative Situation of Double Stars (in Philosophical Transactions of the Royal Society of London, vol. 94, pg. 364) de 1804; e soa mesmo ligeiramente fora de contexto. Em seu artigo de 1804, Hersechell lista um conjunto de indícios de que a posição relativa das componentes de γ Andromedae tenha variado com o tempo e arremata com a declaração: “precisamos também saber se um movimento próprio foi observado para essa estrela”. É nesse sentido que o comentário acerca de Webb deve ser entendido: que foi possível observar variação de posição relativa entre elas. Talvez Allen tenha encontrado essa informação noutro artigo posterior de Herschell ou doutro autor.
[xxi] O meteorito ferroso Mazapil caiu no México na mesma noite de 1885 em que os Bielídeos ressurgiram com espetacular intensidade (Beech, 2002, “The Mazapil meteorite: From paradigm to periphery”, Meteoritics & Planetary Science 37, 649-660). Essa incrível coincidência foi tomada por William F. Denning como uma evidência de que o meteorito pudesse ter sido parte da chuva de meteoros e, portanto, um fragmento do cometa Biela (em seu livro Telescopic Work for Starlight Evenings, pg. 270). Ao longo das décadas seguintes, a associação do Mazapil com o Biela foi enfraquecendo, pois a compreensão acerca da composição dos cometas mostrou ser inviável que eles contivessem material largamente fracionado como aquele que compõe o Mazapil. Atualmente, considera-se que a ocorrência dos dois eventos na mesma noite tenha sido meramente coincidência.
[xxii] Essa chuva de meteoros foi registrada por William F. Denning em 1878 (The Meteor Shower of Andromedes I, Nature, 18, issue 465, pg. 568), mas não há registros posteriores dela na literatura. Provavelmente está extinta. Devido a ela, Allen nomeia como Andromedídeos II aquela associada ao cometa Biela.
[xxiii] Na nomenclatura de Bayer, as estrelas mais débeis que ω eram assinaladas com letras romanas: A, B, C, etc. Seguindo os mapas de Bayer no Uranometria, essa estrela A corresponde a 49 Andromedae.
[xxiv] Essa estrela B é mais conhecida como 60 Andromedae. O título Os Protestantium (Osso Protestante) foi conferido a Bayer por sua denodada defesa da Igreja.
[xxv] Anotação de Bayer sobre υ Persei em sua Uranometria. Em tradução nossa: “Na foice de ferro que antecede o trio. É chamada de Foice & Alfange curvo, Gládio recurvado & arqueado, Arab. Nembus, Espada recurvada de Maronus, & Dente recurvado de Saturno”. Suponho que “Maroni Ensis” signifique “Espada de Maronus”; a única referência plausível me parece ser Ioannes Maronus, patriarca maronita falecido em 707 no Líbano. Talvez “Espada de Maronus” queira significar uma espada recurvada, como usada no Oriente Médio. Não encontrei outra explicação melhor.
[xxvi] V. 406 das Geórgicas, Livro II: “Rusticus, et curvo Saturni dente relictam”. Saturno é mitologicamente representado usando um podão ou foice. O “dente curvo de Saturno” é uma alusão a esse instrumento, usado para poder e colher a uva.
[xxvii] Por conta desse impasse na nomeação dos satélites, todos os satélites jupiterianos descobertos posteriormente passaram a ter um número de ordem e um nome próprio. A União Astronômica Internacional manteve esses dois sistemas, inclusive ampliando-o para os demais corpos do sistema solar. O número ordinal tem a vantagem de servir como designação temporária, quando ainda não há nome próprio aprovado. E atualmente acontece o oposto ao que Allen sustenta: a exploração espacial popularizou os nomes dos satélites do Sistema Solar, que atualmente são mais conhecidos do que suas designações ordinais.
[xxviii] À época de Allen, não era sabido que a Nebulosa de Andrômeda é uma galáxia, ainda maior do que a nossa. A suposição de variabilidade na luz dessa galáxia como um todo pode ser descartada.
[xxix] Trecho do vol. 2 de A Handbook of descriptive and practical astronomy, de George F. Chambers, publicado em 1890, pela Clarendon Press. O autor faz o comentário acerca das fotografias de Isaac Roberts, presentes no livro Selection of Photographs, Star-Clusters and Nebulae.
[xxx] Trecho do livro The Concise Knowledge Astronomy, de Agnes Mary Clerke, Alfred Fowler, e John Ellard Gore, publicado em 1898 pela Cambridge University Press.
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