Canis Major


Fierce on her front the blasting Dog-star glowed. [i]
On the French Revolution, de Samuel Taylor Coleridge

A luz de Sírius ainda lança escadas em contínua cascata. [ii]
O Estudante Empírico, de Cecília Meireles.


CANIS MAJOR

jaz a sudoeste de Órion, cortado em seu centro pelo Trópico de Capricórnio e tendo o limite oriental sobre a Via Láctea. É o nosso Cão Maior, mais raramente Grande Cão ou, simplesmente, Cão; o Cane Maggiore dos italianos, e Can Mayor dos espanhóis; Grand Chien para os franceses; Great Dog entre os anglófonos; e Großer Hund dos alemães. Por estar nos céus do Sul, também já foi chamado de Canis Australior (Cão Mais Austral).

Cão Maior, na representação de Hevelius

Nos antigos dias clássicos, ele era simplesmente Canis, representando Laelaps, o mastim de Actéon, ou aquele de Prócris, a ninfa de Diana, ou aquele dado a Céfalo por Eos e famoso pela velocidade que tanto encantou Jove que este o transferiu para o céu. Mas em épocas mais antigas, também foi o Cão de Órion ao qual Arato aludiu nos Prognósticos, e assim escreveu nos Fenômenos acerca de sua conexão com a Lebre:

Ardente segue atrás como que a perseguindo,
ergue-se depois dela e, quando ela descende, ele a vigia. [iii]

Homero tratou-o em grande parte como Κύων, mas seu Cão indubitavelmente limitava-se à estrela Sirius, como era geralmente tido entre os antigos até que, em alguma data desconhecida, a constelação como a conhecemos foi formada, — de fato, até bem depois, pois encontramos muitas alusões ao Cão para as quais não há certeza se se refere à constelação ou a sua lúcida. Hesíodo e Arato deram-lhe este título, mas ambos também usaram Σείριος, e o último μέγας; mas por esse adjetivo ele pretendia apenas caracterizar o brilho da estrela e não distingui-la do Cão Menor. Os gregos não reconheciam os dois cães, tal que a comparação destes não surgiu senão aos dias do romano Vitrúvio.

Cão Maior, ilustrado por Pardies em 1693
Ptolomeu e seus conterrâneos conheciam-na pelo título de Homero, e frequentemente como Αστροκύων, embora pareça singular que o primeiro nunca tenha usado a palavra Σείριος.

Os latinos adotaram seu Canis dos gregos, e desde então sempre manteve este nome, algumas vezes até Canicula no diminutivo (junto ao adjetivo candens, ardente), Erigonaeus e Icarius; estes dois últimos provêm da fábula do cão Maera, — cujo próprio nome significa Brilhante, do grego Μαῖρα, — transpostos para cá; tendo sido sua dona Erigone transformada na Virgem, e seu mestre Icário no Boieiro. Ovídio aludiu a isto com seu Icarii stella proterva canis;[iv] e Estácio mentionou o Icarium astrum,[v] embora Higino tenha-o atribuído ao Cão Menor.

Sirion e Syrius ocasionalmente é encontrado entre os melhores autores latinos; e as Tábuas Afonsinas de 1521 tinha Canis Syrius.

Virgílio levou-o para a 1.a Geórgica como uma marcação de calendário, —

adverso cedens Canis occidit astro, [vi]

instruindo ao fazendeiro semear o feijão, a alfafa e o painço no seu ocaso helíaco em 1.o de maio; o adverso aí provavelmente se refere à conhecida posição invertida da figura do Touro, mas pode também ter sido destinado a indicar a hostilidade do Touro ao Cão do Gigante que o atacava (isto é, Órion).

Custos Europae (Guardião de Europa) em alusão à história do Touro que, a despeito da vigilância do Cão, raptou aquela donzela; e Janitor Lethaeus, o Porteiro do Inferno, faz dele um Cérbero austral, o cão de guarda dos céus inferiores, que na antiga mitologia era considerado a moradia dos demônios: um título mais apropriado aqui do que para o asterismo de mesmo nome no céu boreal.

Bayer erroneamente citou como seus nomes próprios Dexter (Direita), Magnus (Magno) e Secundum (Segundo) enquanto outros usaram Alter (Outro) e Sequens (Sequente); mas estes originalmente apenas indicavam a posição, tamanho e ordem de nascimento do Cão com respeito ao seu companheiro menor.

O Cão Maior e constelações vizinhas, representadas numa edição francesa do Atlas Celeste de John Flamsteed.
 O aestifer de Cícero e Virgílio referiam-se à sua brilhante Sirius como a causa para o calor do verão, que também induziu o invidum agricolis [vii] de Horácio; e o Ὑδροφοβία de Bayer vinha da noção absurda, prevalente à época, da ocorrência de loucura canina somente durante o calor provocado pela Estrela do Cão: uma ideia encontrada inicialmente nos textos de Asclepíades do século III antes de Cristo. Ou pode ter vindo da confusão de Bayer, como compilador não tão cuidadoso, com o Ὑδραγωγόν, que Plutarco aplica a Sirius em seu De Isidoro, com o significado de “Condutora da Água”, isto é, a causa das cheias do Nilo.

O Cão Maior e a Lebre, numa prancha do Urania's Mirror, de Sidney Hall.

Arato categorizou a constelação como ποικίλος, como tendo variação de brilho em suas diferentes partes; ou malhada — o Cão, estando situado tanto dentro quanto para fora da Via Láctea, está assim diversificado em luz.

Na antiga Arábia, como de fato em todo lugar, ela tomou os títulos de sua lúcida, embora estranhamento corrompidos do original al-Shiʿrā al-ʿAbūr al-Yamaniyyah,[viii] a Estrela Brilhantemente Reluzente da Passagem do Iêmen, em direção de cuja província ela se punha. Entre estes encontramos, Almagesto latino de 1515, “canis: et est asehere, alahabor aliemenia”; na edição de 1551, Elscheere; na Uranometria de Bayer, Elseiri (que Grotius derivou de σείριος), Elsere, Sceara, Scera, Scheereliemini; no Treatise de Chilmead, Alsahare aliemalija; e Elchabar, que Lalande, em sua l’Astronomie, não injustificadamente derivou de al-Kabīr, Grandioso.

Os astrônomos arábios chamavam-na al-Kalb al-ʾAkbar, o Grande Cão, portanto seguindo os latinos; que foi transcrita por Chilmead como Alcheleb Alachbar; e al-Bīrūnī citou seu al-Kalb al-Jabbar, o Cão do Gigante, diretamente da concepção grega para a figura. De modo similar, era o Kelbo Gavoro dos persas.

Era, certamente, importante na astronomia praticada no Eufrates, e é mostrado em ruínas de templos e túmulos, variadamente retratado, mas muitas vezes exatamente como Arato o descreveu e é desenhado em mapas dos dias atuais — de pé sobre as patas traseiras, observando ou saltando em direção à Lebre. Charles A. Young descreve a figura como “sentada vigiando seu mestre Órion, mas de olho na Lebre”.

Ampliação da Figura motus quotidiani Cometae observati Neostaii ad Cocharum
ad Communie Cap. Schott, de 1668, por Stanislaus Lubieniecki. Note a cena clássica
descrita por Charles Young: "o cão, sentado, vigia a Lebre e Órion".


Somente Bayer e Flamsteed, entre seus ilustradores, mostraram-no como um típico buldogue.

Um Cão, presumivelmente este com outro adjacente, está representado no disco de marfim encontrado por Schliemann no sítio arqueológico de Tróia; e um espelho etrusco de idade desconhecida mostra-o com Órion, Lebre, a luz crescente e estrelas vizinhas corretamente situadas. E ambos os Cães, o Dragão, Peixes, Cisne, Perseu, os Gêmeos, Órion e a Lebre estariam presentes no Escudo de Heracles, segundo a descrição do antigo poema que leva este mesmo título, geralmente atribuído a Hesíodo.

Fugindo da representação clássica, Vicenzo Coronelli mostrou o
Cão Maior distraído, olhando para o lado oposto ao da Lebre de Órion.

Os hindus conheciam-no como Mṛgavyādha, o Matador de Cervos, e como Lubdhaka, o Caçador, que atirou a flecha, nosso Cinturão de Orion, no infame Prajāpati, a qual ainda é vista presa em seu corpo; e, muito antes, entre seus predecessores pré-históricos, era Saramā, um dos cães gêmeos, ou lobos, que guardavam a Via Láctea.

Entre as nações do norte, era Greip, o cão do mito de Sigurd.

Todos estes, sem dúvida, se referiam apenas a Sirius.

Novidius, que imaginou significado bíblico para todos grupo estelar, afirmou que este era o Cão de Tobias do Livro de Tobias 6:1, o que Moxon confirmou “because he hath a tayle” (porque ele tinha uma cauda), e apenas por essa razão; mas Julius Schiller, outro seguidor da mesma escola, enxergou aqui o real São Davi, padroeiro do País de Gales.

Gould catalogou 178 estrelas até a 7.a magnitude.

Salve, poderosa Sirius, monarca dos sóis!
Podemos nós deste pobre planeta falar contigo? [ix]
The Stars, de Lydia Huntley Sigourney.

α, binária, — 1.43 e 8.5, branco brilhante e amarela.

Sirius, a Estrela do Cão, frequentemente escrita Syrius ainda aos dias de Flamsteed e Maximilian Hell. Vez por outra seu título é aportuguesado como Sírius ou, ainda mais raramente, Sírio. Este nome tem sido geralmente derivado de σείριος, reluzente ou ardente, que apareceu pela primeira vez em Hesíodo como título desta estrela, embora também aplicado ao Sol, e por Íbico [x] a todas as estrelas. Vários autores gregos antigos usaram-no para nossa Sirius, provavelmente como um adjetivo, pois lemos em Eratóstenes:

tais estrelas são chamadas pelos astrônomos de σειρίους devido ao movimento tremeluzente de sua luz; [xi]

de modo que parece que a palavra, em suas formas σείρ, σείρος e σείριος, — Suídas usou as três tanto para o Sol quanto para a estrela, — originalmente fora empregada para indicar qualquer objeto celeste brilhante e cintilante, mas no decorrer do tempo tornou-se o nome próprio da mais brilhante de todas as estrelas. Entretanto, Lamb pensava que ela tivesse origem fenícia, significando o Chefe, e sendo originalmente um título para o Sol naquela nação; Jacob Bryant, o mitólogo, afirmou que era o Cahen Sihor dos egípcios;[xii] mas desse mesmo povo Brown considerou-a uma transcrição do Hesiri,[xiii] que conhecemos como Osíris; enquanto Dupuis afirmou que ela provinha do celta Syr.[xiv]

Plutarco chamou-a de Προόπτης, a Líder, que se ajusta bem a sua característica e é quase uma tradução exata de seus títulos eufrateano, persa, fenício e védico; mas Κύων, Κύων σείριος, Κύων ἀστήρ, Σείριος ἀστήρ, Σείριον ἄστρον, ou simplesmente το ἄστρον, eram seus nomes na antiga poesia e astronomia grega. Προκύων, nome mais conhecido para o Cão Menor e sua lúcida, também foi aplicado a Sirius por Cláudio Galeno por preceder as outras estrelas da constelação.

Homero aludiu a ela na Ilíada como Ὀπωρινός, a Estrela Outonal;[1] mas a estação pretendida correspondia aos últimos dias de julho, todos os de agosto, e o começo de setembro — isto é, a última parte do verão setentrional. Manoel Odorico Mendes traduziu esta célebre passagem assim:

arde-lhe o elmo, arde-lhe o escudo:
Como a estrela outonal que mais cintila
Banhada no Oceano, áscuas de fogo
Da cabeça e dos ombros lhe flamejam. [xv]

e mais adiante neste poema Homero compara Aquiles, visto por Príamo, a

(..) essa estrela
Cão de Órion nomeada, que, nascida
No outono, os astros vence em noite bruna. [xvi]

Os fazendeiros romanos sacrificavam-lhe um cão de pelagem vermelho-castanho em três de seus festivais quando, em abril e maio, o sol começava a se aproximar de Sirius. Estes, instituídos em 238 aC, eram a Robigalia, para assegurar a influência propícia de sua deusa Robigo em evitar a ferrugem e o míldio de seus campos; e as Floralia e Vinalia, para garantir a maturidade de suas flores desabrochantes, frutas e uvas.

Cão Maior, ilustrado nas Tábuas Afonsinas
Entre os latinos, ela naturalmente compartilhava dos títulos da constelação, tendo-os provavelmente originado; e ocasionalmente era até mesmo chamada de Canicula (Cãozinho);[xvii] de fato, ainda em 1420 o Palladium of Husbandry recomendava que certos trabalhos agrícolas deviam ser realizados “Er the caniculere, the hounde ascende”;[xviii] e, mais de um século depois, Eden, em sua Historie of the Vyage to Moscovie and Cathay, escreveu: “Serius is otherwise cauled Canicula, this is the dogge, of whom the canicular dayes have theyr name”.[xix]

Daí os nomes populares que ela tem entre os povos europeus: Dog-star no inglês, Hundsstern no alemão, Stella del Cane e Stella Canicola no italiano, Estel del Ca em catalão, Steaua Câine em romeno e Étoile du Chien em francês.

Já se afirmou que Ovídio e Virgílio se referiram a Sirius como Latrator Anubis, que representa uma divindade egípcia com cabeça de chacal ou cão, guardiã do horizonte visível e dos solstícios, transferida para Roma como deusa da caça; mas é muito incerto se eles tinham em mente a estrela ou a constelação.


Seu famoso nome al-Shiʿrā, ou al-Siʿrā, estendido com al-ʿAbūr al-Yamaniyyah, lembra bastante os equivalentes egípcio, persa, fenício, grego e romano, e, segundo pensava Ideler, pode ter tido uma origem comum em alguma fonte antiga: possivelmente o sânscrito Sūrya, o Brilhante, — o nome para o Sol. O ʿAbūr, ou Passagem, refere-se ao mito da fuga de Canopus para o Sul; e o adjetivo à mesma, ou talvez à posição mais para o sul da estrela em direção ao Iêmen, em distinção àquele de al-Ghumaisaʾ no Cão Menor, vista na direção de Sham, — Síria, — ao Norte. Destes nomes geográficos originaram-se os adjetivos árabes Yamaniyyah e Shamāliyyah, Meridional e Setentrional; embora o primeiro desses termos literalmente signifique “ao lado da mão direita”, isto é, para um observador voltado para o leste, em direção a Meca.
Cão Maior, gravado no Globo de Manuchihr, construído em Mashhad, em 1632-33 dC.

Nas Tábuas de Chrysococcas, seu título é Σιαὴρ Ιαμανὴ; e Carl Edward Sachau em sua tradução do Chronology de al-Bīrūnī anotou Sirius Jemenicus (Sirius do Iêmen). Riccioli tinha Halabor, que o Almagesto de 1515 aplicava à constelação; e Chilmead, Gabbar, Ecber e Habor; enquanto Shaari lobur, outra forma estranhamente corrompida, é encontrada no Egyptian Princess de Eber. Nas Tábuas Afonsinas o original é modificado para Asceher e Aschere Aliemini; enquanto Bayer fornece simplesmente Aschere e Elscheere para a estrela, com outras similares para tanto a estrela quanto a constelação. Scera é citado por Grotius para a estrela, e Sceara para o conjunto, derivada de um antigo léxico; e Alsere; mas ele traçou-os todos a Σείριος.

Na Arábia, ainda ao século XIX, ela era Suhail, a denominação geral para estrelas brilhantes.

O falecido poeta finlandês Zachris Topelius atribuiu a excepcional magnitude de Sirius ao fato de que os amantes Zulamith, o Forte, e Salami, a Justa, após mil anos de separação e labuta durante a construção de sua ponte, a Via Láctea, tendo-a terminado, ao se encontrar

Lançaram-se aos braços um do outro
E fundiram-se em um só;
E assim se tornaram a estrela mais brilhante
Que existe na abóbada celestial —
Grande Sirius, o poderoso sol
Sob o Cinturão de Órion. [xx]

Os australianos nativos conheciam-na como sua Águia, uma constelação por si só; enquanto os habitantes das Ilhas Cook, chamando-a pelo nome equivalente uma Laguna,[xxi] associavam-na em seu folclore a Aldebaran e às Plêiades. Os havaianos a conheciam como Ka'ulua, a Rainha do Céu, mas também a chamavam de Aa, Brilhante — tal como o Sūrya sânscrito —, Kau-ano-meha ou Kaulanomeha (Solitária e Sagrada), Kaulua-ihai-mohai (Flor dos Céus), Hoku-hoo-kele-waa (Estrela que faz a Canoa navegar), entre outros.

Partilhando os títulos sânscritos para a constelação, ela era o Matador de Cervos e o Caçador, enquanto os Vedas também a denominavam Tishiya ou Tishiga, Tistrija, Tishtrya, a Estrela Tistar ou Estrela do Chefe. Estes também encontramos na Pérsia; bem como Sira. O persa tardio e o pálavi possuem Tir, a Flecha. Edkins, contudo, considerou que Sirius, ou Procyon, era Vanand, e Arcturus, Tistar. A título de curiosidade, cabe mencionar aqui que ambos os nomes Tishtrya e Tir foram alegadamente encontrados no misterioso Manuscrito Voynich, cuja real natureza ainda permanece indecifrada.

Hewitt viu em Sirius o Shvānam,[xxii] ou Cão, dos Rig Veda que acorda os Ribhus, os deuses do ar, e “assim os chama para seu ofício de fazer chuva”, uma tarefa muito diferente daquela atribuída a essa estrela em Roma. No entanto, esses deuses, filologicamente, tinham uma conexão romana, pois Friedrich Maximilian Mueller, escrevendo a palavra Arbhu,[xxiii] associou-a ao Orfeu dos latinos. Hewitt também afirmou que na primitiva mitologia hindu Sirius era Sukra, o deus da chuva, antes que Indra fosse assim conhecida; e que no Avesta ela marcava um dos Quatro Quartos dos Céus.

Embora a identificação dos títulos estelares eufrateanos não esteja de modo algum estabelecida, especialmente e singularmente a respeito dessa grande estrela, ainda assim vários especialistas encontraram nomes mais ou menos prováveis.

Bertin e Brown consideraram conclusivamente provado que ela era Kak-shisha, o Cão que Lidera, e “uma Estrela do Sul”; enquanto Sayce transliterou a mesma inscrição babilônica como Kak-shidi, que signfica Criador da Prosperidade, uma característica que os persas também atribuíram a ela; e ela pode corresponder ao acadiano Du-shisha, o Diretor — em assiriano Mes-ri-e. Epping e Strassmaier têm Kak-ban como um título caldeu tardio, que Brown apresenta como Kal-bu, o Cão, “exatamente o nome para Sirius que esperaríamos encontrar”;[xxiv] Jensen tinha Kakkab lik-ku, a Estrela do Cão, revivida no Κύων de Homero; e ela talvez seja o assiriano Kal-bu Sa-mas, o Cão do Sol; e o acadiano Mul-lik-ud, a Estrela do Cão do Sol. Jensen também fornece Kakkab kasti, a Estrela do Arco, embora isso possa ser duvidoso; e Brown tinha, do assiriano, Su-ku-du, o Inquieto, Impetuoso, Flamejante, caracterizando bem a nítida cintilação e mudanças de cor em sua luz. Hewitt citou ainda o título acadiano Tis-khu.

Seus nasceres e ocasos eram tabelados regularmente na Caldeia por volta de 300 aC, e Oppert teria dito que os astrônomos babilônios não poderiam conhecer certos ciclos astronômicos, que eles de fato conheciam, se eles não tivessem observado Sirius da ilha de Tylos no Golfo Pérsico na quinta-feira, 29 de abril de 11542 aC! [xxv]

É a única estrela identificamos com absoluta certeza nos registros egípcios — seu hieróglifo, um cão, aparece frequentemente nos monumentos e muros dos templos em todo o país do Nilo. Sua adoração, principalmente no Norte, talvez, não se iniciou até cerca de 3285 aC, quando seu nascer helíaco no solstício de verão passou a marcar o Ano Novo do Egito e o início do período das cheias, embora a precessão tenha agora levado esta data para o dia 2 de agosto.[xxvi] Naquela época remota, segundo Lockyer, Sirius tinha substituído γ Draconis como um ponto de orientação, especialmente em Tebas, e particularmente no grande templo da rainha Hatshepsut, conhecido atualmente como Deir el-Bahari, o Mosteiro do Mar. Aí, ela foi simbolizada, sob o título de Isis Hathor, pela forma de uma vaca com disco e chifres aparecendo por trás das colinas ocidentais. Com esta mesma denominação, e portando ainda o título Sua Majestade de Dendera, ela é vista no pequeno templo de Ísis, eregido em 700 aC, que foi orientado em sua direção; bem como nas paredes do grande Memnonium, o Ramesseum, de el-Kurna em Tebas, provavelmente erguido na mesma época em que a adoração dessa estrela começou. Lockyer acreditou ter encontrado sete templos orientados à direção do nascer de Sirius. Ela também está representada nas paredes da pirâmide de degraus de Saqqara, que data de aproximadamente 2700 aC, erguida para o sepultamento do faraó Djoser.

Grande destaque é dado a ela no zodíaco quadrado de Dendera, onde é representada como uma vaca reclinada em um barco com a cabeça encimada por uma estrela; e de novo, imediatamente depois, como a deusa Sothis, acompanhada pela deusa Anget, com duas urnas das quais flui água, emblemáticas das cheias no nascer helíaco da estrela. Mas no antigo serviço do templo de Dendera era Isis Sothis; em Filas, Isis Sati, ou Satit; e, por muito tempo na mitologia do Egito, era tida como o local de descanso da alma dessa deusa e, portanto, sua estrela favorecida. Plutarco fez uma referência claro a isto; embora deva ser notado que a palavra Ísis às vezes também indicava algo luminoso a leste que anunciasse o nascer do Sol. Mais tarde, ela foi Osiris, irmão e marido de Ísis, mas essa palavra também foi aplicada a qualquer corpo celeste que se tornasse invisível por se pôr. Assim, seus títulos mudaram consideravelmente no longo período da história do Egito.

Como Thoth, e sendo o mais proeminente objeto estelar sob adoração naquele país, — seu nascer helíaco ocorria no mês de Thoth, — estava de alguma maneira associada aos igualmente proeminentes íbis sagrados, também tidos como símbolos de Ísis e Thoth, pois o pássaro e a estrela aparecem juntos, em várias formas, nos monumentos do Nilo, nas paredes dos templos e nos zodíacos.

Sirius era adorada, também, como Sihor,[xxvii] a Estrela do Nilo, e, até mais comumente, como Sothi e Sothis, seu popular nome greco-egípcio, a Brilhantemente Radiante, a Clara Estrela das Águas; mas no vernáculo era Sept, Sepet, Sopet e Sopdit; Sed [2] e Sot, — o Σήθ de Vettius Valens.

Esta estrela está na origem do período Canicular, Sótico ou Sotíaco nomeado em sua homenagem a ela, que despertou a atenção e confundiu as mentes de historiadores, antiquários e cronologistas. Lockyer fez uma discussão admirável sobre ele em seu Dawn of Astronomy.[xxviii]

Sir Edwin Arnold escreve sobre ela no seu Egyptian Princess:

E mesmo quando a Estrela de Kneph traz consigo o verão [xxix]
E o Nilo rapidamente encharca o sedento chão; [xxx]

pois os egípcios sempre atribuíam à Estrela do Cão a influência benéfica sobre as cheias que começavam no solstício de verão; de fato, alguns chegaram a afirmar que o Nilo na antiga Aethiopia tirou de Sirius seu nome Siris, embora outros considerem o oposto. Minsheu, que se alonga muito sobre isso, conclui assim: “Some thinke that the Dog-starre is called Sirius, because at the time the Dogge-starre reigneth, Nilus also overfloweth as though the water were led by that Starred”.[xxxi] De fato, tem sido fantasiosamente afirmado que seu título canino se originou no Egito, “por causa de sua suposta e dedicada vigilância sobre os interesses do lavrador; posto que seu nascer helíaco lhe dava a notícia de que o Nilo em breve transbordaria”.[xxxii]

Caesius citou para ela o nome Solechin como proveniente desse país, com o significado de Cão Estrelado, e derivou-a da palavra grego-egípcia Σολεκήν.

Talvez tenha sido a antiga importância deste Cão no Nilo que deu o nome popular, X Egípcio, à figura formada pelas estrelas Procyon e Betelgeuze, Naos e Phaet, com Sirius nos vértices dos dois triângulos e no centro da letra. Em nossos mapas, Sirius marca o nariz do Cão.

Diz-se que os fenícios a conheciam como Hannabeah, o Ladrador.

Os astrônomos da China não parecem ter dado tanta atenção a Sirius como os de outros países, mas ela é ocasionalmente mencionada, com outras estrelas do Cão Maior, como Lang Hoo;[xxxiii] e Reeves citou para ela Tiān Láng, o Lobo Celestial. De forma similar, foi chamada de Láng Xīng (Estrela do Lobo). Os astrólogos chineses afirmavam que, quando ela estava excepcionalmente brilhante, prenunciava ataques de ladrões; daí provavelmente outro de seus títulos chineses: Zéi Xīng, a Estrela do Ladrão.

Alguns viram nela o Mazzārōth do Livro de Jó;[xxxiv] outros, o Kesil [xxxv] dos hebreus; mas este povo também a conhecia como Sihor,[xxxvi] seu nome egípcio, e Ideler acreditava que a adoração aos Se’īrīm, ou “Demônios” da tradução Almeida Corrigida Fiel da Bíblia, os “Sátiros” da tradução Almeida Revista e Atualizada, a qual, como lemos em Levítico 17:7, era especialmente proibida aos judeus, pode ter tido referência a Sirius e Procyon, as Duas Sirii ou Shiʿrayayn,[xxxvii] que, como eles bem deviam saber, eram adoradas por seus feitores na terra de sua longa escravidão.

A culminação desta estrela à meia-noite era celebrada no grande tempo de Ceres em Elêusis, provavelmente na iniciação aos mistérios eleusinos; e os ceanos [xxxviii] das Cíclades previam, a partir de sua aparência em seu nascer helíaco, se o ano que se seguiria seria saudável ou o oposto. Na Arábia, também, ela foi objeto de veneração, especialmente pela tribo dos Qays, e provavelmente pelos Qudaʿa, embora Maomé tenha expressamente proibido tal adoração de estrelas por parte de seus seguidores. No entanto, ele mesmo prestou homenagem a alguma “estrela” nos céus que bem pode ter sido essa.

Na antiga astrologia e poesia, não há limite para as más influências que foram atribuídas a Sirius.

Homero escreveu, na tradução de Lord Derby,

The brightest he, bat sign to mortal man
Of evil augury.[xxxix]

A tradução bem liberal feita por Pope dos mesmos versos,[xl]

Terrific glory! for his burning breath
Taints the red air with fevers, plagues and death,[xli]

parece ter sido tirada do Shepheardes Calender para o mês de julho:

The rampant Lyon hunts he fast with dogge of noysome breath
Whose balefull barking brings in hast pyne, plagues and dreerye death. [xlii]

Spenser, contudo, também se inspirou noutra obra, pois encontramos na Eneida:

(..) aut Sirius ardor
Ille sitim morbosque ferens mortalibus aegris,
Nascitur, et laevo contristat lumine coelum. [xliii]

e na 4.a Geórgica:

Jam rapidus torrens sitientes Sirius Indos
Ardebat coelo, [xliv]

refigurada por Owen Meredith em sua Paraphrase acerca das Abelhas de Aristeu [xlv] narrada por Virgílio:

Swift Sirius, scorching thirsty Ind,
Was hot in heaven.[xlvi]

Hesíodo aconselhou seus compatriotas: “Quando Sirius tostar cabeça e joelhos, e o corpo estiver seco a conta do calor, sente-se à sombra e beba” — um conselho que é seguido universalmente, ainda hoje, embora sem muita preocupação com Sirius. Hipócrates, em suas obras Epidemias e Aforismos, deu muita importância ao poder desta estrela sobre as condições climáticas e o consequente efeito físico sobre a humanidade, e algumas de suas teorias estavam em voga na Itália ainda durante o século passado; embora a seu ver o resultado de toda a medicina dependeria do signo do zodíaco em que o sol por ventura se encontrasse. Manílio escreveu sobre Sirius, que ela era:

apressada em sua rápida corrida.
Astro nenhum chega mais violentamente do que ela
sobre a terra nem com maior prejuízo se retira. [xlvii]

Mas essas declarações sobre a influência odiosa da Estrela do Cão podem ter sido induzidas, parcialmente, pela sua má reputação do cão no Leste. [xlviii]

Seu nascer helíaco, por volta de 400 anos aC, coincidia com o ingresso do Sol na constelação do Leão, que marcava o período mais quente do ano no hemisfério norte, e esta observação, originalmente do Egito, adotada pelos romanos, que não eram observadores muito competentes, e sem consideração acerca de sua adequação à sua era e país, deu origem aos seus dies caniculariae, — os dias de cão ou dias caniculares —, e à associação do Cão e do Leão celestiais com o calor do verão. Embora não houvesse concordância na antiguidade, tanto quanto não há nos dias atuais, o período correspondente a tais dias ia aproximadamente de 3 de julho a 11 de agosto, pois era a época da estação insalubre da Itália, plenamente atribuída a Sirius. Os gregos, no entanto, geralmente consideravam que a influência da Estrela do Cão durava cinquenta dias. Ainda assim, alguns tinham uma visão mais correta sobre a questão, pois Gêmino escreveu:

Geralmente se crê que Sirius provoque o calor dos dias de cão; mas isso é um equívoco, pois a estrela meramente marca a estação do ano quando o calor do Sol está em seu máximo;

mas ele era um astrônomo.

Entretanto, a ideia prevaleceu, mesmo junto ao sensível Dante em seu “quando o fervor canicular se apura”;[xlix] enquanto Milton, em Lycidas, designou-a como “the swart star” (a estrela sombria).[l] E essa noção persistiu entre muitos, mesmo até o século XIX. Esta característica, sem dúvida, foi indicada no globo de Farnese, no qual a cabeça do Cão é rodeada por raios solares.

Mas Plínio tinha uma opinião mais gentil sobre esta estrela, como se lê na sua descrição acerca da origem do mel:

This coometh from the ayer at the rysynge of certeyne starres, and especially at the rysynge of Sirius, and not before the rysynge of Vergiliae (which are the seven starres cauled Pleiades) in the sprynge of the day;[li]

embora ele parece ter dúvida se “this bee the swette of heaven, or as it were a certeyne spettyl of the starres”.[lii] Esta ideia é inicialmente encontrada no História dos Animais de Aristóteles. Também favorável é a interpretação astrológica mais recente, segundo a qual riqueza e renome constituem a feliz sorte de todos aqueles nascidos sob a influência deste e de seu Cão companheiro. Willis escreveu no Scholar of Thebet ben Khorat:

Meiga Sirius tingida de violeta
Posta como uma flor nos bustos de Eva. [liii]

Quando em oposição ao Sol, Sirius supostamente produziria o frio do inverno boreal.

Ela tem sido ao longo de toda a história humana a estrela mais brilhante do céu, considerada por Plínio digna a figurar como uma constelação em si entre as demais, e teria até sido vista a pleno sol a olho nu por Bond em Cambridge, Massachusetts, e por outros ao meio-dia com o auxílio de pequenos aparelhos ópticos; mas muitos supuseram que sua cor tenha mudado de vermelho para o atual branco. Esta questão foi recentemente discutida, por See afirmativamente e Schiaparelli negativamente, de modo tão extenso que não nos permite repeti-lo aqui. No entanto, os argumentos levantados inclinam-se na direção contrária à admissão de qualquer mudança de cor nos tempos históricos.

O termo ποικίλος, usado por Arato para o Cão, é igualmente apropriado a Sirius no sentido de “muitas cores” ou “mutável”, e caracteriza-a admiravelmente, como se percebe quando se observa este magnífico objeto erguendo-se do horizonte numa noite de inverno. Tennyson, que é sempre preciso, bem como poético, em suas alusões astronômicas, escreve em The Princess:

a ardente Sirius altera o tom
E tremula entre vermelho e esmeralda; [liv]

isto, claro, devido a sua notável cintilação; e Arago indicou Barāqish como uma designação arábica para Sirius, que significaria “aquela que tem mil cores”, e afirmou até trinta mudanças de tonalidade por segundo foram observadas nela. [3]

Apesar de seu brilho, Sirius não é de modo algum a estrela mais próxima ao nosso sistema, embora esteja entre as mais próximas; apenas um punhado de outras têm uma distância menor. Sua paralaxe mede 0,379″, indicando uma distância de 8,6 anos-luz, pouco maior do que o dobro da de Proxima Centauri.

Alguns opinaram que a magnitude aparente de Sirius se devia parcialmente à brancura de seu tom e a seu maior brilho intrínseco; e que as estrelas vermelhas, Aldebaran, Betelgeuse e outras, pareceriam muito mais brilhantes do que são se tivessem a mesma cor que Sirius, pois raios de luz vermelha afetam a retina mais lentamente do que os de outras cores.[lv] A moderna escala de magnitudes que dá a esta estrela −1.46, — cerca de 9½ vezes mais brilhante do que a estrela padrão de 1.a magnitude Altair (α Aquilae), — dá ao Sol o valor −26.81, quase 14 bilhões de vezes mais brilhante que Sirius; mas, levando em conta a distância em que a estrela se encontra, descobrimos que Sirius é na verdade 25 vezes mais brilhante que o Sol.

Em fins do século XIX, seu espectro, denominado de tipo “siriano” (ou Tipo I) em distinção ao solar (Tipo II), deu nome a uma das quatro divisões gerais de espectros estelares instituídas por Secchi de suas observações entre 1863-67. Secchi descobriu que cerca de 11 de cada 12 estrelas por ele observadas tinham espectro ou siriano ou solar. Atualmente, a classificação de Secchi não é mais usada, mas seu antigo tipo siriano corresponde aproximadamente aos tipos espectrais O, B e A, na classificação de Morgan-Keenan.

Sirius aproxima-se de nosso sistema a uma velocidade de 5.5 quilômetros por segundo e, desde o ano de construção de Roma, já se deslocou na esfera celeste por mais do que o diâmetro angular da Lua.

O célebre Kant considerava que Sirius fosse o sol central da Via Láctea; e, dezoito séculos antes dele, o poeta Manílio já tinha afirmado que ela era "um sol distante para iluminar corpos remotos",[lvi] mostrando que, mesmo àquela época, alguns tinham conhecimento sobre a verdadeira natureza e função das estrelas.

Certas peculiaridades do movimento de Sirius levaram Bessel, em 1884, após dez anos de observação, a crer que ela tivesse uma companheira obscura; e cálculos de Peters e Auwers levaram Safford a estabelecer a posição dessa estrela satélite, onde foi encontrada em 31 de janeiro de 1862, na posição predita, por Alvan G. Clark,[4] em Cambridge, Massachusetts, enquanto testava uma lente de 18½ polegadas posteriormente instalada no Observatório de Dearborn. Ela mostrou-se uma estrela branca, com magnitude de 11.2, difícil de ser vista devido ao brilho de Sirius, da qual distava por apenas 10″; diminuindo para 5" em 1889; e vista e medida pela última vez por Burnham no Observatório Lick antes de seu desaparecimento final em abril de 1890. Seu reaparecimento foi observado a partir do mesmo observatório no outono de 1896 a uma distância de 3".7, com um ângulo de posição de 195°. Ela possui um período de 51½ anos, e uma órbita cujo diâmetro encontra-se entre os das órbitas de Urano e Netuno, sendo sua massa ½ da de Sirius e igual a de nosso sol, embora sua luz seja apenas 0.00001 vezes a de sua primária. Ela foi a primeira estrela anã branca a ser descoberta.

Durante boa parte do século XX, a binariedade de Sirius foi tema de um curioso debate na Etnoastronomia. O antropólogo Marcel Griaule sustentava que a tribo africana dos Dogons, do Mali, tinham conhecimento acerca do companheiro invisível de Sirius e de seu período orbital. Em 1991, o antropólogo Walter van Beek concluiu que Griaule exagerou em sua hipótese, pois os Dogons não tinham uma correspondência clara entre Sirius e o astro de seu mito, podendo este ser outras estrelas ou mesmo Vênus, a depender do indivídio da tribo que fosse questionado. Atualmente, esse caso é tratado como uma consequência de transmissão cultural, pois o Mali chegou a ser visitado em 1893 por uma expedição francesa destinada a observar um eclipse solar.

É notável que Voltaire em suas Micrômegas de 1752, uma imitação das Viagens de Gulliver, seguiu a — assim chamada — profética declaração de Swift sobre as duas luas de Marte pela suposição similar acerca de um imenso satélite de Sirius, a casa de seu herói.[lvii] Swift, no entanto, deve sua inspiração a Kepler, que mais de um século antes escrevera a Galileu:

Está tão longe de mim descrer na existência dos quatro planetas circunjovianos, que anseio por um telescópio para anteceder-lhe, se possível, na descoberta de dois ao redor de Marte (como me parece exigir a proporção), seis ou oito em torno de Saturno, e talvez um cada ao redor de Mercúrio e Vênus.

No século XIX, com as maiores lentes do Observatório Yerkes, Barnard encontrou outras estrelas na vizinhança imediata de Sirius, ofuscadas pela luz deste astro. Mas atualmente sabemos que não são satélites de Sirius; apenas se situam na mesma linha de visada.

β, 2.3, branca.

Tanto Mirzam, seu nome oficial estabelecido em 2016 pelo WGSN da União Astronômica Internacional, e as variantes Murzim e Mirza, provém de al-Murzim,[5] o Anunciador, frequentemente combinada pelos árabes com β Canis Minoris no plural al-Mirzamāni, ou como Mirzamā al-Shiʿrayayn, os Anunciadores das Duas Sirius; pois a hipótese de Ideler é que este título se aplicaria à estrela por ela anunciar o nascer iminente de Sirius. [lviii]

Buttmann assegurou que ela também era al-Kalb, o Cão, que corre à frente de Sirius, mas isso deve ter sido nos primitivos tempos da vida no deserto. Em nossos mapas, ela marca a pata dianteira direita do Cão.

Era a principal estrela do asterismo chinês Jūn Shì, o Mercado dos Soldados, o qual também continha outras do Cão Maior, como ν, π, ο e ξ.

γ, 4.5,

foi oficialmente denominada Muliphein em 2016 pelo WGSN da União Astronômica Internacional, do árabe al-Muḥlifayn, o Júri, nome usado para várias estrelas em posições distintas do céu, embora a rigor este título estivesse associado a δ e a estrelas do Muḥlifayn situado na vizinha constelação da Pomba. Burritt pode ter sido o autor dessa confusão, ao listá-la como Muliphen. Já o Century Atlas a nomeou Mirza, um dos nomes alternativos de β.

Bayer citou Isis, confirmado por Ideler, mas Grotius aplicou o título à adjacente μ, anotando, entretanto, nisi potius quarta sit,[lix] referindo-se assim a γ.

Montanari afirmou que ela despareceu completamente em 1670, e não foi novamente observada por vinte e três anos, quando foi reavistada por Miraldi, e desde então manteve luminosidade constante, embora muito fraca para sua letra. [lx]

Ela marca o topo da cabeça do Cão; para Bayer, ad aurem dextram (junto à orelha direita).

δ, 2.2, amarelo claro,

é a moderna Wezen, de al-Wazn, Peso, “pois a estrela parecia erguer-se com dificuldade do horizonte”;[lxi] mas Ideler classifica-o justamente como um nome estelar espantoso.[lxii]

Ela também era um dos Muḥlifayn particularmente descritos no capítulo dedicado à Pomba.

Na China, ela era parte do asterismo Hú Shǐ, o Arco e Flecha, juntamente com ε, η, κ e outras estrelas da Argonave. Daí seus nomes particulares Shǐ Zhōng Xīng (Estrela Central da Flecha) e Shǐ Xīng (Estrela da Flecha).

No catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit, ela foi designada como Thalath al Adzari, corruptela do árabe Tālit al-ʿAdhārī, que foi traduzido ao latim como Tertia Virginum, a Terceira Virgem, pois ela compunha com η e ο2 o asterismo al-ʿAdhārā, as Virgens.

É uma estrela supergigante, variável, de classe F8. Tem cerca de 17 vezes a massa do Sol, o que acaba indiretamente justificando a curiosa etimologia de seu nome. Jaz próximo aos quartos traseiros do Cão.[lxiii]

ε, Dupla, 2 e 9, laranja pálido e violeta.

Adhara, seu nome oficial, e as variantes Adara, Adard, Udara e Udra vêm de al-ʿAdhārā, as Virgens, aplicada a esta estrela em conexão com δ, η e ο2; talvez da lenda árabe de Suhayl. Ela também foi designada como Al Zara, que provavelmente tem o mesmo significado, embora com grafia errônea.

O catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit lista-a como Aoul al Adzari, que por sua vez é uma corruptela do árabe Awwal al-ʿAdhārī, traduzido ao latim como Prima Virginum, a Primeira Virgem.

Na China, ela era parte do asterismo Hú Shǐ, o Arco e Flecha.

Hú Shǐ, o Arco e Flecha, um dos antigos asterismo chineses.
 HD 52219 é uma companheira de magnitude 7.5, distante 6'.0, num ângulo de posição de 161°. Apesar da proximidade no céu, não se trata de um par físico.

Há 4,7 milhões de anos, Adhara estava a 34 anos-luz do Sol e era a estrela mais brilhante do céu, ostentando a magnitude de –3,99.

ζ, 3, laranja claro.


Seu nome Furud pode vir de al-Furūd, a Solitária, ou, talvez por um erro de transcrição,[lxiv] de al-Qurūd, os Símios, em referências às pequenas estrelas do entorno, sendo algumas da Pomba. Ideler considerou que esta última derivação fosse mais provável. Al-Ṣūfī mencionou-as como al-ʾAghribah, os Corvos.

ζ marca a ponta da pata traseira direita.

η, 2.4, vermelho pálido.


Seu nome Aludra é derivado de al-ʿAdhrāʾ (Virgem), forma singular de al-ʿAdhārā, e uma daquele grupo. Este título foi universalmente usado tanto nos catálogos e globos árabes, quanto nas nossas listas atuais.

Smyth escreveu em suas notas sobre η, “Bem, talvez Hiparco possa ser considerado o Líder dos antigos astrônomos![lxv] pois este grande homem usou esta estrela, então situada a 90° de ascensão reta, como uma conveniente marcação astronômica.

μ, uma dupla, de magnitudes 4.7 e 8, separadas por 2.9", amarela e azulada, era conhecida como Isis por Grotius, embora ele tenha admitido que provavelmente γ era a estrela referida pelo título.

ο1, uma estrela vermelha de 4.a magnitude, e π, uma dupla, de magnitudes 5 e 10, com outras pequenas estrelas no corpo do Cão, formavam o asterismo chinês Yě Jī,[lxvi] o Galo Selvagem.

Já no Catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit, ο2 foi nomeada no Thanih al Adzari, corruptela do árabe Thānī al-ʿAdhārī, traduzido ao latim como Secunda Virginum, a Segunda Virgem.

Cão Maior, na Uranometria de Bayer
As letras usadas por Bayer para esta constelação terminaram em ο, mas Bode adicionou outras até ω.

σ, 3.45,


foi batizada como Unurgunite em 2017 pelo WGSN da União Astronômica Internacional. Tal nome é uma transcrição imperfeita ao inglês de Nganurganity, o “lagarto dragão”, um espírito ancestral que a mitologia dos Boorong associava a esta estrela, segundo a qual Nganurganity lutava contra a Lua, ladeado por suas esposas, as estrelas δ e ε Canis Majoris.


Notas de Rodapé (do texto original)


[1] Os gregos não possuíam um termo que correspondesse exatamente ao nosso “outono” até o século V aC, quando este apareceu nos escritos atribuídos a Hipócrates.
[2] De acordo com Mueller, este Sed, ou Shed, das inscrições hieroglíficas aparece em hebraico como El Shaddar.
[3] O cintilômetro de Montigny chegou a marcar até 78 mudanças de tom por segundo em várias estrelas brancas situadas a 30° cima do horizonte, mas registrou um número menor mudanças naquelas estrelas de outras cores.
[4] Alvan Clark faleceu em 9 de junho de 1897, com 65 anos de idade, logo após a construção e instalação da lente de 40 polegadas no Observatório de Yerkes, a maior de suas grandes lentes, e a última, tirando a de 24 polegadas fabricada para Percival Lowell.
[5] Literalmente, o Rugidor, e assim uma das muitas denominações na língua arábica para o leão, para o qual este povo se vangloriava de possuir quatrocentas.


Notas Explicativas da Tradução


[i] Verso 19 do poema To a Young Lady, with a Poem on the French Revolution de Samuel Coleridge (in Juvenile Poems, 1836, Londres: William Pickering). Tradução aproximada: “Feroz em sua fronte a ardente Estrela do Cão brilhou”.
[ii] Allen usou aqui, como segunda epístrofe, excertos do poema Later Life, de Christina Rossetti: “One blazes through the brief bright summer's length, / Lavishing life-heat from a flaming car”. Em tradução aproximada: “Uma arde através do breve e brilhante verão, / Esbanjando o calor da vida de um carro flamejante”. Nestes versos, Rossetti compara Sirius com a Estrela Polar, considerando esta fria e impassível sob um trono. Os versos citados, isoladamente, não permitem entender que se trata de Sirius. Por conta disso, e para dar um caráter nacional a esta tradução, optei por citar um verso de Cecília Meireles em que Sirius é explicitamente mencionada. Note-se que Cecília usou o nome da estrela aportuguesado, com acento na sílaba tônica: Sírius.
[iii] Versos 340-341 dos Fenômenos de Arato. A tradução ao português é de C. Leonardo B. Antunes em Arato, Fenômenos (Cadernos de Tradução, 38, jan-jun, 2016, org. Bacarat Jr., J. C., Porto Alegre: Instituto de Letras da UFRGS). No original: Σείριος ἐξόπιθεν φέρεται μετιόντι ἐοικώς, / καί οἱ ἐπαντέλλει, καί μιν κατιόντα δοκεύει. Allen usou a tradução ao inglês feita por Robert Brown Jr.: “The constant Scorcher comes as in pursuit, / and rises with it and its setting spies”.
[iv] “Veemente estrela do cão de Icário”. Excerto do verso 4 da Elegia XVI de Amores de Ovídio.
[v] Verso 777 do Livro IV da Tebaida de Estácio.
[vi]E desce, cedendo ante a confrontante estrela do Cão”. Excerto dos vv. 217-218 da 1.a Geórgica, de Virgílio. Supõe-se tratar do ocaso helíaco do Touro, que antecede em poucos dias ao do Cão Maior. O Touro, assim, cederia o céu ao Cão que o confronta.
[vii] Em tradução aproximada: “hostil aos agricultores”.
[viii] Ideler lista três nomes para Sirius, aparentemente usados distintamente: الشعرى العبور al-Shiʿrā al-ʿAbūr, العبور al-ʿAbūr, e اليمنية, al-Yamaniyya, mas não a combinação desses três. Já o Bedford Catalogue menciona o nome الشعرى اليمنية al-Shiʿrā al-Yamaniyya. Considerando que Allen normalmente baseia suas afirmações sobre nomes árabes em uma dessas duas obras, a menos que haja outra fonte que desconheço, parece-me que ele juntou al-Shiʿrā al-ʿAbūr (Brilhantemente Reluzente da Passagem) com al-Shiʿrā al-Yamaniyya (Brilhantemente Reluzente do Iêmen) em al-Shiʿrā al-ʿAbūr al-Yamaniyyah, talvez por analogia com o nome de α Canis Minoris no mito árabe da fuga de Canopus.
[ix] Excerto do poema The Stars, de Lydia Huntley Sigourney, publicado em Richmond, em 1837, no Southern Literary Messenger, vol. III, no. V, pg. 280. O original possui um verso intercalado que Allen não citou: “— Hail, mighty Sirius! — monarch of the suns! / Whose golden sceptre subject worlds obey, —/ May we in this poor planet speak with thee?”.
[x] Íbico de Régio, poeta lírico grego do século VI aC. Em latim: Ibychus, mas Allen escreveu-lhe o nome erroneamente como Abychos.
[xi] Excerto do Capítulo 33 dos Katasterismoi de Eratóstenes. No original grego: “τοὺς δὲ τοιούτους ἀστέρας οἱ ἀστρολόγοι σειρίους καλοῦσι διὰ τὴν τῆς φλογὸς κίνησιν”.
[xii] In Analysis of Ancient Mythology, vol. I, 1775, (Londres: T. Payne), pg. 341. Neste mesmo livro, Bryant afirma que Cahen e Cohen têm a mesma etimologia, que significaria “Sacerdote, e também Lorde, Príncipe, por extensão, qualquer coisa nobre e divina; e prefixaria até mesmo o nome de divindades” (pg. 40). Em geral, essa obra contém uma longa discussão acerca de relações etimológicas entre outros idiomas e a língua egípcia, a maioria das quais parecem fantasiosas à luz do conhecimento acumulado nos séculos seguintes. O nome Cahen Sihor foi criado por Bryant a partir do prefixo já mencionado e Sihor, que o autor retirou de Isaías 14:12 traduzido como: “How art thou fallen, Halal, thou son of Sehor” (pg. 16). Bryant interpretou Sehor como o nome de uma divindade; mas nas bíblias ocidentais este versículo traz “filho da manhã” ou “filho da aurora”, em consonância com o aramaico šḥrˀ, “começo da manhã”. O próprio Jacob Bryant em Observations upon the Plagues inflicted upon the Egyptians (1810, Londres: Hamilton & Ogle) escreve à pg. 17-18: “The people above Syene stiled the Nile Siris, and Sirius, which was the name of Osiris, and the Sun: and upon solemn occasions made invocations to it as their chief guardian and protector”, em concordância com a interpretação de Brown, na mesma frase marcada por esta nota.
[xiii] Em hieróglifos egípcios, este nome aparece como wsjr, sem vogais, que não eram marcadas na escrita. Alguns egiptólogos transcreveram essa palavra como ꜣsjr /ʔɑsir/ ou jsjrj /isiri/ (provável origem da grafia Hesiri). A egiptologia moderna considera mais adequada a pronúncia /wɛsir/.
[xiv] W. Williams (in Primitive history, from the Creation to Cadmus, 1789, Chichester: J. Seagrave, pg. 511) informa que Syr seria uma palavra céltica para estrela. Em dicionários de galês, sŷr é uma antiga forma plural de seren (estrela).
[xv] Tradução versificada por Manoel Odorico Mendes correspondente aos vv. 4-6 do Livro V da Ilíada de Homero. No original grego: “Ἀργείοισι γένοιτο ἰδὲ κλέος ἐσθλὸν ἄροιτο: / δαῖέ οἱ ἐκ κόρυθός τε καὶ ἀσπίδος ἀκάματον πῦρ / ἀστέρ᾽ ὀπωρινῷ ἐναλίγκιον, ὅς τε μάλιστα”. Allen usa a tradução feita por Lorde Derby: “A fiery light / There flash’d, like autumn’s star, that brightest shines / When newly risen from his ocean bath”.
[xvi] Tradução versificada por Manoel Odorico Mendes correspondente aos vv. 25-29 do Livro XXII da Ilíada de Homero. No original grego: “τὸν δ᾽ ὃ γέρων Πρίαμος πρῶτος ἴδεν ὀφθαλμοῖσι / παμφαίνονθ᾽ ὥς τ᾽ ἀστέρ᾽ ἐπεσσύμενον πεδίοιο, / ὅς ῥά τ᾽ ὀπώρης εἶσιν, ἀρίζηλοι δέ οἱ αὐγαὶ / φαίνονται πολλοῖσι μετ᾽ ἀστράσι νυκτὸς ἀμολγῷ, / ὅν τε κύν᾽ Ὠρίωνος ἐπίκλησιν καλέουσι.”. Allen usa a tradução feita por Lorde Derby: “th’ autumnal star, whose brilliant ray / Shines eminent amid the depth of night, / Whom men the dog-star of Orion call”.
[xvii] O nome Canícula também já foi usado em português como um título poético para Sirius. Figurativamente, foi usado para designar a época do ano em que Sirius encontra-se em conjunção com o Sol, em pleno verão setentrional. Por isso, o termo passou a representar também ondas de calor, associadas à presença de circulações atmosféricas anticiclônicas quase estacionárias.
[xviii] Em tradução aproximada: “antes que a Canícula, o Cão ascenda”, isto é, antes do nascer helíaco de Sirius.
[xix] Em tradução aproximada: “Sirius é também chamada de Canícula, isto é, o Cão, a partir da qual os dias caniculares foram nomeados”. Ver nota [xvii] acima. Curiosamente, na linguagem popular brasileira ainda é comum ouvir a expressão “calor do cão”, sem que o emissor sequer desconfie de sua etimologia estelar.
[xx] Tradução não versificada nossa de versos do poema Vintergatan (Via Láctea) de Topelius, com base naqueles citados por Allen, cujo tradutor e referência original não consegui identificar: “Straight rushed into each other's arms / And melted into one; / So they became the brightest star / In heaven's high arch that dwelt — / Great Sirius, the mighty Sun / Beneath Orion's belt”. Os versos originais, escritos em sueco, não trazem menção explícita a Sirius ou a Órion, embora não deixem dúvida sobre a estrela ao qual se referem: “de sprungo i varandras famn — och strax en stjärna klar, / den klaraste på himlens valv, rann upp i deras spår”. Compare com a tradução de Charles Wharton Stork para estes versos: “Ran straight into each other’s arms — and then an orb of light, / The fairest in the vault of heaven, appeared where they had passed”.
[xxi] Allen informa que “the Hervey Islanders, calling it Mere, (...)”. As Ilhas Hervey foram rebatizadas como Ilhas Cook no século XIX. Interpretei que o nome “Mere” estivesse em inglês e não no idioma nativo das ilhas, dado que Allen neste mesmo parágrafo, Allen menciona que os aborígenes da Austrália chamavam Sirius de Águia, usando para isso a palavra também em inglês. Por outro lado, a wikipedia inglesa, no artigo sobre Sirius, tratou “Mere” como nome próprio, e não como palavra inglesa.
[xxii] Allen transcreveu este nome como Sivānam.
[xxiii] Os Ribhus (ऋभु) também poderiam ser chamados Arbhu, Rbhus ou Ribhuksan. Supõe-se que esta palavra seja cognata com o latim labor e o gótico arb-aiþs, ambas com o significado de “trabalho”.
[xxiv] In Brown, R. B. Jr., 1891, Remarks on the Euphratean Astronomical Names of the Signs of the Zodiac, Proceedings of the Society of Biblical Archaeology, 1891, pg. 271.
[xxv] Allen escreveu Zylos, mas provavelmente é Tylos, nome que se lê no Proceedings of the Society of Biblical Archaeology, 1879, pg. 4, que corresponderia ao atual Bahrein. Sobre os ciclos astronômicos mencionados por Oppert e a data 11542 aC, D. G. Brinton (1895; Current Notes on Anthropology. IV, Science, v. 1, no. 10, p. 254) traz o seguinte: “This venerable antiquity, however, appears quite modern compared to that assigned the same culture in some calculation laid before the Académie des Inscriptions by M. Oppert last summer. They had reference to the established beginnings of the Sothiac cycle and the Chaldean Saros, or recurrent cycle of eclipses. His argument was that the former dated from an observation of the cosmical rising of Sirius visible to the naked eye. This could occur only at an eclipse of the sun at its rising; and this he figured was upon a Thursday, August 29, in the year 11,542 before Christ! And as it was visible only south of latitude 26°, the locality of the observation he fixes for various reasons at the island of Tylos, the modern Bahrein, in the Persian Gulf”. Isto é, Oppert considerou que para os babilônios terem conhecimento do início do ciclo sótico e dos Saros, eles teriam de ser capazes de observar a olho nu o momento exato do nascer helíaco de Sirius, mas isso só seria possível durante um eclipse solar, do contrário Sirius estaria ofuscada. Buscando eclipses solares que teriam ocorrido simultaneamente ao dia do nascer helíaco de Sirius, Oppert chegou a essa remota data em 11542 aC. Este argumento pode parecer tão engenhoso quanto fantasioso; e nesse último quesito, é preciso ter em mente que a civilização babilônia não era tão antiga quanto essa data implica. O ciclo sótico possui duração de 1461 anos, enquanto o Saros dura 18 anos, 11 dias e 8 horas. Uma civilização milenar não seria preciso recuar tanto no tempo para identificá-los.
[xxvi] Allen informa o dia 10 de agosto. A data atual em 2 de agosto é fornecida pela Association Copernic. Confirmei a data em uma situação do céu em Cairo na alvorada do dia 2 de agosto através do aplicativo Stellarium.
[xxvii] Nome provavelmente retirado de Bryant. Veja nota [xii] acima.
[xxviii] Lockyer discute o modo como os egípcios usavam dois sistemas cronológicos: um ano civil egípcio de 365 dias e um “ano” de Sirius, o chamado ciclo sótico, que corresponderia a 1461 anos egípcios. O início do ciclo sótico ocorria quando o nascer helíaco de Sírius ocorresse no dia 1 do mês egípcio Thoth, que correspondia ao dia 19 de julho no Calendário Juliano. Eram necessários mais 1461 anos de 365 dias exatos para que esse evento se repetisse no mesmo dia.
[xxix] O Kneph era um motivo na antiga arte religiosa egípcia, que por vezes era representado por um ovo alado, um globo cercado por uma ou mais serpentes, ou Amon na forma de uma serpente chamada Kematef.
[xxx] A passagem deveria corresponder aos versos 49-50 do poema Egyptian Princess, de Edwin Arnold. Tradução versificada nossa. No original: “And even when the Star of Kneph has brought the summer round, / And the Nile rises fast and full along the thirsty ground”. Todavia, ou o autor modificou os versos numa edição posterior, ou Allen copiou-os de uma coletânea não confiável, pois na versão do poema que se encontra online, o verso 49 não cita a Estrela de Kneph, mas sim o Sol: “And ever when the shining sun has brought the summer round” (consultado em 19/06/2019 em https://www.bartleby.com/270/12/31.html).
[xxxi] “Alguns dizem que a Estrela do Cão se chama Sirius porque, à época em que Sirius rege, o Nilo também se enche como se as águas fossem conduzidas por aquela estrela”.
[xxxii] Não consegui identificar a referência original da citação entre aspas. No texto de Allen, o original corresponde a “because of its supposed watchful care over the interests of the husbandman; its rising giving him notice of the approaching overflow of the Nile”.
[xxxiii] O nome desse asterismo aparece em John Williams (Observations of comets, from B.C. 611 to A.D. 1640, pg. 16): “A.D. 180. In the 3rd year of the same epoch a comet appeared to the east of Lang Hoo. It entered into S. D. Chang and then disappeared. (…) Lang Hoo, Sirius and other stars in Canis Major”, que sugere que seja a denominação de asterismo formado por Sirius e outras estrelas do Cão Maior. Contudo, em sua tabela de asterismos nos apêndices, o nome não é listado, nem tampouco é usado nas pranchas do céu. Lang provavelmente é 狼 (Láng), também usado nos nomes 天狼 (Tiān Láng) e 狼星 (Láng Xīng) de Sirius; enquanto Hoo deve ser 弧 (Hú) do asterismo 弧矢 vizinho a Sirius. Láng Hú poderia ser, desta forma, a região do céu marcada por Sirius (Láng Xīng) e pelas demais estrelas do Cão Maior (Hú Shǐ), em concordância com a observação de Williams. Na tradução, optei por deixar o nome na grafia usada por Allen: Lang Hoo.
[xxxiv] Referência ao Livro de Jó 38:31-32. Em grande partes das traduções, Mazzārōth foi representado como constelações, Plêiades ou Órion.
[xxxv] Veja a nota [xxii] em Argo.
[xxxvi] A seguinte observação é um tanto especulativa. Provavelmente há coincidência de nomes e confluência de etimologias. Na nota [xii] acima, aponto que Sihor em Isaías 14:12 é traduzido como aurora e corresponde a uma palavra aramaica. Contudo, Bryant aponta esse versículo como evidência para a existência de uma entidade denominada Sihor, que corresponderia a Osiris e ao rio Nilo. Já no A Dictionary of the Bible, de William Smith, lê-se “Sihor — (dark), accurately Shihor, once The Shihor, or Shihor of Egypt, when unqualified a name of the Nile. It is held to signify ‘the black’ or ‘turbid’. In Jeremiah the identity of Shihor with the Nile seems distinctly stated. (Jeremiah 2:18)”. Uma vez que havia a suspeita de identificação de Sirius com Siris (Nilo), é compreensível que o nome Shihor (escuro) possa ter-se confundido com Sehor (manhã), sendo ambos associados a Sirius. Em hebraico, a palavra usada em Isaías 14:12 é שׁחר (šāḥar, alvorada), enquanto em Jeremias 2:18, שׁחוֹר (šiḥōwr, escuro).
[xxxvii] Nesta frase, Sirii é plural latino de Sirius. Analogamente, Shiʿrayayn é o dual árabe (as Duas Sírius).
[xxxviii] Habitantes de Ceos, também conhecida como Cea, uma das ilhas das Cíclades. Os ceanos eram conhecidos por oferecerem sacrifícios à Estrela do Cão, e por aguardarem o reaparecimento de Sirius no verão. Se a estrela se mostrasse de forma clara no seu nascer helíaco, o presságio seria de boa sorte; mas se estivesse enevoada ou com fraca luz, a previsão era de pestilência. Moedas desta ilha datadas do século III aC apresentam cães e estrelas com raios em emanação, outra mostra da importância de Sirius em sua cultura.
[xxxix] Referência aos vv. 30-31 do Livro XXII da Ilíada de Homero. No original grego: “λαμπρότατος μὲν ὅ γ᾽ ἐστί, κακὸν δέ τε σῆμα τέτυκται, / καί τε φέρει πολλὸν πυρετὸν δειλοῖσι βροτοῖσιν”. Na tradução versificada ao português por Manoel Odorico Mendes, esses presságios parecem ligeiramente menos aterrorizantes: “Por grande e resplendente, e agoura morbos / Contra os homens calores dardejando”. Compare com a tradução de A. T. Murray: “Brightest of all is he, yet withal is he a sign of evil, and bringeth much fever upon wretched mortals”; e de Samuel Butler: “brightest of them all though he be, he yet sends an ill sign for mortals, for he brings fire and fever in his train”.
[xl] Allen qualifica de “very liberal” a tradução da Ilíada feita por Pope porque, embora versificada, corresponde a uma tradução um tanto mais simbólica e imagética do texto grego.
[xli] Em tradução aproximada: “Terrível glória! pois sua respiração ardente / Macula o ar vermelho com febres, pragas e morte”.
[xlii] Versos 21-24 do capítulo Julho do extenso poema The Shepheardes Calender, composto por Edmund Spenser e publicado em Londres em 1579. Os versos emulam pastorais e éclogas de Virgílio e Battista Mantovano, escritos numa grafia deliberadamente arcaica para evocar uma conexão com a literatura medieval inglesa. Em tradução aproximada, os versos citados dizem: “O Leão desenfreado ele caça rapidamente, com o cão de respiração daninha / Cujos latidos funestos trazem pústulas, pragas e morte sombria”. Os versos poeticamente tratam o Sol como um caçador, que em julho entra no signo do Leão, tendo consigo o Cão (Sirius) que causaria o calor intenso conhecido como Canícula, causando pestilência, seca e muitas doenças.
[xliii] Versos 273-275 do Livro X da Eneida de Virgílio. Em tradução aproximada: “Ou Sirius ardejante, que traz sede e morbo aos mortais doentes, que se ergue e entristece o céu com luz inauspiciosa”. Allen usou a tradução ao inglês de um compêndio publicado em Londres, 1792, por Joseph Davidson: “The dogstar, that burning constellation, when he brings drought and diseases on sickly mortals, rises and saddens the sky with inauspicious light”. Compare com a tradução metrificada em português feita por Manoel Odorico Mendes: “ou sede e morbos / Dardejando os mortais, fervente Sírio / Com funesto luzir contrista o pólo”.
[xliv] Versos do Livro IV das Geórgicas de Virgílio. Em tradução aproximada: “Já a veloz Sirius, que torra os sedentos indianos, queimava o céu”. Compare com a tradução metrificada ao português por António José Ozorio de Pina Leitão: “Já o rápido Cão, que o Indio torra / Vomitava seus alitos ardentes”.
[xlv] Trata-se de uma história sobre a morte das abelhas de Aristeu, em punição à sua tentativa de seduzir Eurídice, narrada no Livro IV das Geórgicas de Virgílio. Aristeu era cultuado na ilha de Ceos (ver nota [xxxviii] acima), por ser considerado capaz de contrapor os efeitos nocivos atribuídos ao nascer helíaco da Estrela do Cão.
[xlvi] Em tradução aproximada: “A ligeira Sirius, que escalda a sedenta Índia, / estava quente no céu”.
[xlvii] Referência aos versos 451-453, do Livro I, do Astronomicon de Manílio. Tradução de Marcelo Vieira Fernandes (in Manílio — Astronômicas: Tradução, Introdução e Notas, Dissertação de Mestrado, PPG Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, 2006). Compare com o texto latino: “subsequitur rapido contenta Canicula cursu, / qua nullum terris violentius advenit astrum / nec gravius cedit”. Allen usou a tradução versificada feita por Thomas Creech que não corresponde estritamente ao original grego devido às demandas da versificação: “(…) from his nature flow / The most afflicting powers that rule below” (de seu curso natural / Os poderes mais atormentantes que governam o mundo).
[xlviii] Os cães eram considerados impuros pelo Islã, bem como pelo judaísmo rabínico. Há registros de uma longa superstição segundo a qual a mera visão de um cão durante uma oração poderia de anular as piedosas súplicas de um muçulmano. Alguns estudiosos propuseram que os sentimentos negativos dos povos do antigo Oriente Médio com respeito aos cães devem-se a que, em eras passadas, os cães geralmente viviam soltos e em matilhas, dedicando-se a atividade predatória.
[xlix] Excerto dos vv. 79-80 do Canto XXV do Inferno, da Divina Comédia de Dante. Allen usou a tradução inglesa de Longfellow, que é um pouco mais clara: “(...) great scourge / Of days canicular (...)”. A tradução apresentada em português é de José Pedro Xavier Pinheiro. No original, em italiano: “(...) sotto la gran fersa / dei dì canicular (...)”.
[l] Referência ao v. 138 do poema Lycidas, de Milton. O verso completo se lê: “On whose fresh lap the swart star sparely looks” (em cuja viçosa cobertura a estrela sombria parece esparramada).
[li] Referência ao capítulo XII do Livro XI do Naturalis Historia de Plínio. Em tradução aproximada: “Este vem do ar no nascer de certas estrelas, e especialmente no nascer de Sirius, e não antes do nascer das Virgílias (que são as sete estrelas chamadas Plêiades) no começo do dia”. No original latino: “Venit hoc ex aëre et maxime siderum exortu, praecipueque ipso sirio expendescente, nec omnino prius vergiliarum exortu, sublucanis temporibus”. Allen usou a tradução de Philemon Holland.
[lii] Referência ao capítulo XII do Livro XI do Naturalis Historia de Plínio. Em tradução aproximada: “se ele é o suor dos céus ou se é um tipo de saliva das estrelas”. No original latino: “sive ille est caeli sudor sive quaedam siderum saliva”. Allen usou a tradução de Philemon Holland.
[liii] Versos 29-30 do poema The Scholar of Thebet Ben Khorat, de Nathaniel Parker Willis. Tradução nossa. No original: “Mild Sirius tinct with dewy violet, / Set like a flower upon the breast of Eve”.
[liv] Excerto dos versos 252-253 do Canto V do poema The Princess, de Tennyson. Tradução nossa. No original: “the fiery Sirius alters hue / And bickers into red and emerald; (...)”.
[lv] Os valores atualmente conhecidos para as luminosidades dessas estrelas não corroboram essa afirmação. De fato, sendo gigantes, Aldebaran e Betelgeuse são intrinsicamente mais luminosas do que Sirius, porém se considerarmos que essa energia fosse irradiada nos mesmos comprimentos de onda que Sirius, ainda assim não pareceriam mais brilhantes no céu, devido à distância em que se encontram. Podemos compará-las em termos de magnitude bolométrica aparente. Considerando tanto suas luminosidades, quanto distâncias, Sirius, Aldebaran e Betelgeuse teriam, respectivamente, −1.66, −0.53 e −1.23 de magnitude bolométrica aparente. Sirius ainda pareceria mais brilhante que elas.
[lvi] Não consegui localizar a origem dessa afirmação. Não há uma frase assim na tradução ao Astronomicon feita por Thomas Creech, que é frequentemente usada por Allen; tampouco na tradução ao português feita por Marcelo Vieira Fernandes. Também não a encontrei no Bedford Catalogue ou no Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen de Ideler, as duas referências consultadas por Allen. Talvez a frase não seja da pena de Manílio, mas sim de outro autor, confundido por Allen.
[lvii] Em 1726, provavelmente influenciado pelas ideias de Kepler, Jonathan Swift escreveu nas Viagens de Gulliver que os cientistas de seu país imaginário Laputa tinham descoberto “duas estrelas menores, ou satélites, que orbitavam Marte”; Fobos e Deimos só foram realmente descobertos em 1877 pelo astrônomo Asaph Hall. Já Voltaire, em 1752, inspirado em Swift, iniciou assim o primeiro capítulo de Micrômegas: “Num desses planetas que giram em torno da estrela chamada Sirius, havia um jovem de muito espírito a quem tive a honra de conhecer (...)”.
[lviii] Ideler lançou a proposta de que Mirzam poderia representar um tipo de anunciador do nascer de uma estrela mais brilhante por comparar a posição relativa de três estrelas que tinham este nome com outras mais brilhantes situadas logo a leste delas. Ele escreveu no Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen: “Es giebt drey Sterne des Namens مرزم , Mirzam, nämlich γ im Orion, β im grossen Hunde und β im kleinen. Alle drey gehören zu den hellen, und alle drey gehn kurz vor einem nahe östlich stehenden Fixstern erster Grösse auf. Dies scheint auf einen gemeinschaftlichen Ursprung des Namens hinzudeuten. Das Wurzelwort رزم , razam, heisst unter andern murmuravit, und wird vom Kameel, vom Löwen und vom Donner gebraucht. Sollte also vielleicht Mirzam auf ein Verkündigen, Anmelden, hindeuten? Ich wage nicht darüber zu entscheiden. Abd-elrahman Sufi nennt γ im Orion S. 59 الرزوم, El-rezûm, und dieses Rezûm, so wie Mirzam, nimmt Hyde für eine der Benennungen des Löwen, woran die arabische Sprache so reich ist” (Há três estrelas com o nome Mirzam, nomeadamente γ Orionis, e β dos Cães Maior e Menor. Todas as três são brilhantes, e todos as três antecedem uma estrela primeira magnitude que se situa mais a leste. Isso parece indicar uma origem comum do nome. A raiz dessa palavra, razan, significa, entre outras coisas, a que murmura, e aplicável ao camelo, ao leão e ao trovão. Então, talvez Mirzam signifique uma proclamação ou anúncio? Eu não me atrevo a decidir. al-Ṣūfī chamou γ Orionis, El-Rezûm, e este Rezûm, tal como Mirzam, levou Hyde para um dos nomes do leão, para o qual a língua árabe é tão rica).
[lix] Não consegui localizar a obra original. Em tradução aproximada: “se não for, ao contrário, a quarta”. A “quarta” estrela é justamente γ na tabela do Almagesto dedicada ao Cão Maior.
[lx] Há várias outras estrelas mais brilhantes que γ na constelação do Cão Maior. Essa estrela ter sido listada por Bayer com a terceira letra implicaria ou que sua luminosidade diminuiu consideravelmente em poucas centenas de anos, ou que Bayer não seguiu a ordenação de brilho no letreamento das estrelas dessa constelação. A súbita perda de luminosidade (e seu suposto desaparecimento por vinte e três anos) não compatível com a escala de tempo da evolução estelar, que envolve períodos mais longos; mas é curioso que Bayer anote, para essa estrela, “Tertii”, isto é, de terceira grandeza, quando sua magnitude atual a classificaria como estrela de quarta grandeza, que, por sinal, é como o Almagesto a classifica.
[lxi] O original em inglês da frase entre aspas (“as the star seems to rise with difficulty from the horizon”) é uma citação a Smyth, W. H. 1844, A Cycle of Celestial Objects, Londres: John W. Parker, pg. 170. Essa “dificuldade” se refere ao arco percorrido pela estrela acima do horizonte, vista de um observador na Arábia, pois tendo uma declinação de −26°, ela não culminaria com grande altura.
[lxii] Esse espanto é descrito assim, nas próprias palavras de Ideler: “Sonderbare Sternnamen! Noch sonderbarer, dass die Araber selbst nicht recht wussten, welchen Sternen sie eigentlich angehörten” (Estranhos nomes de estrelas! Ainda mais estranho é que os árabes sequer sabiam a que estrelas eles realmente pertenciam.). A observação no Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 249, é motivada pela confusão dos nomes Wezn, Ḥaḍār e Muḥlif, que são usados indiscriminadamente para estrelas da Pomba, do Centauro, do Cão Maior e também para Canopus.
[lxiii] Allen informa que Wezen teria uma companheira de magnitude 7.5, distante 2’45"; mas o objeto que mais se assemelha a esse, segundo o SIMBAD@CDS seria a estrela CD −26 3910, que tem magnitude 8.6 e está a 4’25" de distância. Seria o caso de números trocados (2’45" vs. 4’25") na impressão do livro? De qualquer forma, esta estrela e Wezen são apenas duplas visuais.
[lxiv] O erro de transcrição poderia advir de ser a grafia de ambas as palavras é muito similar em árabe: al-Furūd (ألفرود) e al-Qurūd (ألقرود).
[lxv] No original: “Well may Hipparchus be dubbed the Praeses of ancient astronomers!”. In Smyth, W. H. 1844, A Cycle of Celestial Objects, Londres: John W. Parker, pg. 175.
[lxvi] Em listas modernas de identificação de asterismos chineses, seria a estrela ο2 que integraria o asterismo Yě Jī, enquanto ο1 e π integrariam o asterismo Jūn Shì, o Mercado dos Soldados.

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