Constelações, parte I


O céu abobada-se acima de nós com seus afrescos celestiais pintados pelo pensamento do Grande Artista.
Sketches de Allen Throckmorton



AS CONSTELAÇÕES

atualmente designadas por linhas arbitrárias exteriores às, e inteiramente independentes das, figuras, em tempos antigos estavam confinadas às bordas das formas que supostamente representavam, embora qualquer semelhança fosse apenas ocasionalmente perceptível. Todas as estrelas adjacentes, situadas além das figuras, foram chamadas pelos gregos de αμόρφωτοι, informes, e σποράδες, espalhadas, o que foi seguido pelos autores latinos com suas extra, informes, dispersae, disseminatae e sparsiles; e pelos árabes com suas al-Khārij min al-Ṣūrah, a Parte Fora da Imagem.


Nos dias atuais, todavia, toda estrela se encontra dentro dos limites de alguma constelação, embora não haja concordância entre os astrônomos acerca desses limites em alguns casos [i]. Ainda assim, aqueles adotados por Argelander são geralmente aceitos para as figuras boreais, bem como o são para as austrais os adotados por Gould; os limites de Gould em grande parte estão de acordo com as sugestões de Sir John Herschel, i.e., são formados por arcos de meridianos e paralelos de declinação para uma dada época.

As figuras eram denominadas de forma variada pelos gregos: Σήματα e Τείρεα, Signos; Σώματα, Corpos; Ζώδια, Animais; e Μετέορα, Coisas nos Céus, donde nossa palavra Meteoros. Hiparco usou Ἀστερισμόι, como o fez Ptolomeu, mas também aludiu a elas como Μορφώσεις, Imagens, e Σχήματα, Figuras.

Plínio e outros autores latinos chamavam-nas de Astra, Sidera e Signa, e só mais tarde surgia Constellatio e, no Almagesto datado de 1515, Stellatio; e os árabes as conheciam como al-Ṣuwar, Figuras.

Arato, nos Φαινόμενα de 270 a.C., menciona quarenta e cinco, mas muitas destas provavelmente foram formadas milênios antes pelos caldeus ou, até mesmo, por seus predecessores; e, de fato, não se supõe que ele tenha criado nenhuma das que descreveu. Eratóstenes, aproximadamente um século após Arato, reduziu esse número a quarenta e duas nos Καταστερισμοί, cuja autoria lhe foi atribuída até a época de Bernhardy; assim também o fez Caio Júlio Higino, aproximadamente no começo de nossa era, em sua reputada obra, o Poeticon Astronomicon, e Décimo Magno Ausônio, o poeta cristão de quase quatro séculos depois.

Supõe-se que o Catálogo de Hiparco, atualmente perdido exceto no que foi preservado por Ptolomeu, contivesse 1080 estrelas de quarenta e nove constelações; mas seu Comentário a Eudoxo e Arato [ii], que ainda temos, menciona apenas quarenta e seis. Foi sobre esse grande astrônomo que Plínio escreveu, no ano 78, segundo a tradução de Philemon Holland, em 1601 [iii], em seu Historie of the World:

O mesmo homem foi tão longe que tentou (uma coisa difícil até mesmo para a divindade) registrar para a posteridade o número exato de estrelas; [iv]

e assegurou que isto foi motivado pelo aparecimento, em 134 aC, de uma nova brilhante, ou estrela temporária, em Escorpião. As observações de Hiparco parecem ter sido realizadas entre 162 e 127 aC.

Plínio, embora fosse um cosmógrafo medíocre, devotou dois capítulos à Astronomia no Naturalis Historia, e, segundo a leitura que lhe é usualmente feita, mencionou setenta e dois asterismos [1] contendo 1600 estrelas ao todo; mas isto, se o original foi corretamente compreendido, só poderia ser possível pela contagem em separado de partes das antigas figuras, já que ele em canto algum alude a qualquer outra nova, tirante seu Thronos Caesaris, provavelmente o Cruzeiro do Sul.

Ptolomeu prosseguiu cientificamente com aquelas atualmente conhecidas como as quarenta e oito primitivas, no 7.o e 8.o livros da Sintaxe, doze no Zodíaco, vinte e uma boreais e quinze austrais, somando ao todo 1028 estrelas, incluindo 102 ἀμόρφωτοι, todas provavelmente de Hiparco, embora com algumas autodeclaradas alterações de sua lavra; pois no 5.o capítulo de seu 7.o livro, ele escreveu:

não empregamos as mesmas figuras das constelações usadas por aqueles antes de nós, tanto quanto estes não o fizeram com respeito aos que lhes antecederam, mas sim fizemos uso frequente de outras que mais fielmente representassem as formas que elas delineiam. [v]

Seu catálogo supostamente compreendia todas as estrelas ao norte da 54.a declinação austral, contendo observações que se iniciaram em 127 dC e duraram até 151; e encontramos com ele a primeira lista comparativa de magnitudes estelares.

Uma página das
Tábuas Afonsinas.
No ano 1252, a Europa retomou sua antiga posição em pesquisa astronômica pela compilação dos Libros del Saber de Astronomia, as célebres Tábuas Afonsinas, por astrônomos arábios ou mouros, em Toledo, sob os auspícios do Infante, e posteriormente Rei, Afonso X, o Sábio, e o Astrônomo, de Leão e Castela, que “trocou a coroa pelo astrolábio e olvidou da terra por conta do céu”.[vi]

Essas tabelas e suas traduções latinas estão fortemente arabizadas, como claramente transparece em nossos nomes estelares modernos que foram delas retirados; entretanto a obra toda foi principalmente apenas copiada de Ptolomeu, com algumas correções necessárias. Mas ela provavelmente representa bastante a ciência da Idade Média, e esteve em uso até pelo menos o século 16; pois Eden [2], em 1555, citava [vii] On the Maner of Fyndynge the Longitude de Gemma Phrysius: “Então tanto pelas efemérides quanto pelas tabelas de Afonso...” Várias edições foram impressas: a primeira em 1483, duas centenas de anos após a morte de Afonso; e novamente, em 1492 e 1521, todas essas em Veneza e em Latim; em 1545, em Paris; em 1641, em Madri; e, por fim, esplendidamente reproduzidas lá, entre 1863 e 1867, do texto espanhol mais antigo acessível, com ilustrações, supostamente cópias das originais.

Foi esse Afonso que tem sido frequentemente condenado por seu comentário:

Tivesse eu estado presente durante a Criação, teria oferecido algumas sugestões úteis para o melhor ordenamento do universo;

mas como ele falava sobre o absurdo sistema ptolomaico, não parece tão irreverente aos dias atuais como o fora antes dos dias de Copérnico. Carlyle citou-o em sua History of Friedrich II of Prussia, —

que parecia uma máquina de manivela; que era uma pena que o Criador não tivesse tomado conselhos!

e afirmou que esta, e apenas esta, de suas muitas declarações sábias é ainda lembrada pela humanidade.

Desde o tempo de Ptolomeu, com exceção das Tábuas Afonsinas, nenhum avanço foi feito na ciência astronômica por 1300 anos, e a Syntaxis continuou a ser o padrão da astronomia mundial, “um tipo de Bíblia astronômica, da qual nada era suprimido e à qual nada substancial era, em princípio, adicionado.”

Estátua de Ulugh Beg
em Samarcanda.
No século XV, contudo, ela foi corrigida e copiada sob os auspícios do célebre Ulugh Beg, neto do grande conquistador tártaro Timūr-e-Lang, Timur o Coxo, nosso Tamerlão, e, como suas Tábuas, foram publicadas em Samarcanda, com a data de 5 de julho de 1437. Nestas, as descrições das constelações provém de uma tradução feita por al-Ṣūfī cinco séculos antes, tendo alguns grupos os títulos modificados; e a excelência intrínseca da obra, bem como a grande e merecida reputação de seu autor como astrônomo, apoiado por muito assistentes capazes, tornou-a autoridade padrão por aproximadamente dois séculos. Posteriormente a Ulugh Beg, já da Europa, surgiram em 1548-51 os globos de Gerardo Mercator (Gerhard Kramer), sobre os quais se situavam cinquenta e um asterismos que continham, ao todo, 934 estrelas, além de inúmeras informes. Por essa época, a grande obra de Copérnico lançava as bases da astronomia moderna, e foi logo seguida pelo catálogo póstumo de Tycho Brahe, em 1602, com suas quarenta e seis constelações, mas apenas 777 estrelas, número místico, e talvez por isso empregado, já que seu autor, embora tenha sido o primeiro astrônomo observador da era moderna, ainda se encontrava sob a influência da Astrologia.

No ano subsequente, aparecia a Uranometria de Johann Bayer, o grande advogado protestante de Augsburgo, uma obra também muita tingida de ciência oculta, no que o autor provavelmente seguia Tycho. Continha gravuras espirituosas, ao estilo de Dürer [viii], das antigas quarenta e oito figuras, uma lista de 1709 estrelas e doze novos asterismos austrais. Estes últimos eram sua notável novidade, além do fato de que nas pranchas das antigas constelações pela primeira vez apareciam formalmente letras gregas e romanas para indicar as estrelas individuais, convenientemente substituindo as pesadas descrições até então em voga [3]. Embora este letreamento não veio a ser de uso geral senão no século seguinte, Bayer fora precedido nisto 50 anos antes por Piccolomini de Siena, e diz-se que até mesmo os persas e hebreus tiveram algo semelhante. Dr. Robert Wittie, de Londres, em sua Ὀυρανοσκοπία de 1681, escreveu sobre esse último povo:

Aben Ezra conta que eles primeiramente dividiram as estrelas em constelações, e representaram-nas todas por letras hebraicas, ao fim das quais adicionavam uma segunda letra para expressar a forma e, muitas vezes, uma terceira para marcar a natureza da constelação.

À maneira de Bayer, novas constelações foram publicadas no Planisphaerium Stellatum de 1624 por Jakob Bartsch (Bartschius); nas Tábuas Rudolfinas, edição do catálogo de Tycho feita por Kepler em 1627; na obra de Augustin Rover em 1679; e no Catalogue of Southern Stars do mesmo ano, pelo Dr. Edmund Halley, de suas observações em Santa Helena. O Prodromus Astronomiae de 1690, por Johann Hewel, ou Hoevelke (Hevelius), e seu apêndice com pranchas, o Firmamentum Sobiescianum, também forneceu novas figuras, bem como o fez a Historia Coelestis Britannica do Rev. Dr. John Flamsteed, finalizada em 1729 por Crosthwait e Sharp após a morte de Flamsteed em 1719. Essa compreendia cinquenta e quatro constelações, tendo suas estrelas numeradas consecutivamente em ordem de ascensão reta; e foi acompanhada de um Atlas suplementar em 1753, e novamente em 1781. O abade Nicolas Louis de Lacaille, “o verdadeiro Colombo do céu austral” [4], em suas Mémoires de 1752 e em seu Coelum Stelliferum de 1763, introduziu catorze novos grupos, “aos quais designou os nomes dos principais implementos das Ciências e Belas Artes”; enquanto umas poucas outras foram formadas por Pierre Charles Le Monnier de 1741 a 1755, e por Joseph Jerome Le Français (dit de La Lande) de 1776 a 1792, cuja obra Astronomie, em sua 3a edição, continha um total de oitenta e oito constelações. Finalmente, em 1800, Johann Ellert Bode publicou nove figuras adicionais em sua Uranographia, embora algumas dessas fossem de Lalande; uma 2a edição, intitulada Die Gestirne, veio a ser lançada em 1805. Mas nenhuma das criações desses três últimos autores são atualmente reconhecidas.

A maioria dessas novas constelações ficava, é claro, no sul, um quarto dos céus que, embora mencionado por um escriba dos anos do faraó Neku, que enviou uma frota fenícia para circum-navegar a África em cerca de 600 dC, era praticamente desconhecido até a descoberta do Novo Mundo ter estimulado os esforços dos primeiros viajantes no começo do século XVI. Alguns destes deixaram registros de suas observações estelares — entre eles os italianos Corsali, Pigafetta e Vespúcio, e os holandeses Petrus Theodori van Emden (Embdanus), também conhecido como Pieter Dirkszoon Keyser, e Friedrich Houtmann. Mas os resultados não apareceram formalmente até um século mais tarde nas obras de Bayer e Kepler, apesar de terem sido mencionados nas Décadas de Peter Martyr [5] e nas traduções de Eden e obras similares; e algumas das figuras foram inseridas nos, atualmente quase desconhecidos, globos de Emeric Mollineux, Jodocus Hondius e Jansenius Caesius (Willem Janszoon Blaeu), de 1592 e dos anos seguintes.

O espaço até então desprovido de constelações ao redor do polo sul, objeto dessas observações, era excêntrico com respeito ao polo, embora tivesse forma circular, atingindo a Argonave, Altar e Centauro, atualmente a 20° desde o polo, de um lado, a Baleia e o Peixe Austral, a 60° do outro lado; e em seu centro, próximo a γ Hydri e a Nubecula Minor (Pequena Nuvem de Magalhães), situou-se o polo entre 2000 e 2400 aC, quando α Draconis correspondia ao outro polo ao norte. Disto vem o engenhoso argumento de Proctor [ix] de que esta foi a época da constituição das últimas das antigas constelações.

É possivelmente digno de nota que o Ductor in linguas, ou Guide into Tongues, o dicionário poliglota de 1617-27, por John Minsheu (Minshaeus), à palavra Asterisme em suas últimas edições aludia a

Oitenta e quatro ao todo, além de algumas encontradas nos últimos tempos pelos Descobridores do Polo Sul;

mas ele não forneceu nenhuma lista detalhada e, sem dúvida, errou em sua declaração.

Nos dias atuais, há discrepância no número de constelações aceitas pelos astrônomos [x], poucos dos quais concordam inteiramente no reconhecimento das formações modernas. Pois, embora Ideler tenha descrito 106, com alusões a outras completamente obsoletas ou das quais aproximadamente todos os traços foram perdidos, Argelander catalogou apenas oitenta e seis, incluindo Vela, Puppis e Carina sob Argo; e o British Association Catalogue de 1845, apenas oitenta e quatro. Prof. Young reconhece o uso generalizado de sessenta e sete, embora catalogue oitenta e quatro, dividindo Argo em Carina, Puppis, e Vela; o Star Atlas de Upton, de 1896, oitenta e cinco; e o Standard Dictionary [xi], oitenta e nove, mas a lista de 188 nomes estelares que este último traz é decepcionante. Tampouco eu deveria deixar de mencionar um livro muito popular a seu tempo, o Geography of the Heavens, com seu Atlas por Elijah H. Burritt, publicado em várias edições entre 1833 e 1856. Este descrevia cinquenta constelações bem aceitas visíveis desde a latitude de Hartford, em Connecticut, 41°46'; embora sua tabela daquelas do céu inteiro incluíssem noventa e seis, a maioria das quais apareciam nos mapas que o acompanhavam, usando figuras dos desenhos de Wollaston. Embora não fosse um trabalho original de grande valor científico, e estivesse tanto errado quanto deficiente em sua nomenclatura estelar, teve uma vendagem de mais de um quarto de milhão de cópias, e muito influenciou na disseminação de conhecimentos astronômicos a essa geração. Fico feliz em pagar aqui meu próprio tributo à memória do autor, em reconhecimento ao serviço prestado por estimular-me um interesse nos céus em meus dias de menino.

Entre oitenta e noventa constelações podem ser consideradas atualmente mais ou menos admitidas; enquanto provavelmente um milhão de estrelas são cartografas nos vários mapas modernos, e isto em breve pode aumentar para talvez três milhões após a finalização do presente trabalho fotográfico do céu pela associação internacional de dezoito observatórios engajados nesta tarefa em diferentes partes do mundo [xii]. Os primeiros resultados impressos dessas observações devem ser esperados para os próximos poucos anos; os resultados integrais, talvez em vinte e cinco ou trinta anos.

Tem sido usual entre os astrônomos condenar esta multiplicidade de figuras celestes, e com boa razão; pois, como Agnes Mary Clerke escreveu em sua monografia The Herschels and Modern Astronomy (pg. 185):

Mapas celestes haviam-se tornado “um sistema de desarranjo e confusão” — duma confusão “pioradamente confusa”. Novos asterismos, extraídos de antigos, existiam precariamente, aceitos por alguns, ignorados por outros; áreas vazias do céu foram anexadas por astrônomos usurpadores como monumentos a seus glorificados telescópios, quadrantes, sextantes, relógios; um forno químico foi erigido à margem do rio Erídano, este mesmo uma figura sinuosa e inquietante; enquanto serpentes e dragões seguiam suas desconcertantes convoluções por horas e horas de ascensão reta;

e mais, de sentido similar. Este estado da questão levou a Royal Astronomical Society, em 1841, a incumbir Sir John Herschel e o Sr. Francis Baily da tarefa de buscar uma reforma. E embora uma melhora tenha sido proposta através do descarte de várias figuras e da subdivisão doutras, suas mudanças eram muito abrangentes e não se tornaram bem sucedidas, de forma que as constelações se mantêm atualmente tal como eram nos dias de então, e assim provavelmente permanecerão, ao menos entre o povo.

A mudança no antigo sistema de designações estelares, no entanto, foi muito mais extensa e, tirante na mente popular, encontra-se praticamente realizada; mas agora, por sua vez, resta a confusão em seus substitutos, os vários números e letras de catálogos, mesmo entre os astrônomos e, certamente, entre nós, leigos contempladores de estrelas. Sobre isto, Agnes M. Clerke continua, graficamente:

tolices palpáveis, discrepâncias não resolvidas, anomalias de todas as espécies imagináveis, sobrevivem numa teia inextricável de designações arbitrárias, a ponto de uma estrela frequentemente ter tantos apelidos quanto um talentoso escroque.


Notas de Rodapé (do texto original)


[1] O Treatise de Chilmead traz uma tentativa de explicação para isso, com base nos Commentaries on Manilius de Scaliger: “que ele poderia desatar esse nó, lendo aquelas palavras de Plínio assim: (…) discreta in duo de L signa, &c.., onde em vez de setenta e duas, ele teria de ter mais duas [para completar cinquenta]: o que perfaz 48. justamente o número registrado por Ptolomeu.” [Nota do tradutor: Há diversos outros autores que fazem menção à correção de Scaliger ao texto de Plínio: por ex., Smith, à pg. 68 do The Philological Museum, e Cleomedes, à pg. 305 do Circularis Doctrinae de Sublimibus Libri II. O comentário original de Scaliger encontra-se à pg. 67 — ou pg. 62 duma edição posterior — na seção intitulada Notae in Spheram M. Manili: Plinius libro secundo, capite uno & quadragesimo: Patrocinatur vastitas caeli immensa, discreta altitudine, in duo atque LXX signa. Legendum: vastitas caeli, immensa altitudine, discreta in duo de L signa, id est, in duodequinquaginta. Tot enim sunt μορφώσεις ab Hipparcho, Eudoxo, & allis designatae.]
[2] Richard Eden foi um dos principais autores do reinado de Maria Tudor, e o tradutor dos escritos de Peter Martyr acerca dos navegadores pioneiros Vespúcio, Corsali, Pigafetta e outros. Decades of the newe worlde or west India, de sua lavra, foi o terceiro livro inglês sobre a América, ou Armenica, como ele a chamava, publicado em Londres em 1555.
[3] Nenhuma marcação letreada, no entanto, foi aplicada por Bayer às estrelas das doze novas figuras austrais.
[4] É interessante saber que as observações de Lacaille foram feitas através de uma lente de meia polegada de diâmetro.
[5] Peter Martyr — não o grande reformador Vermigli — era Pietro Martire d'Anghiera, Angleria, ou Angliera, de seu suposto local de nascimento, próximo a Milão. Sua obra De Rebus Oceanicis et Orbe Novo, lançada entre 1511 e 1521, é uma fonte muito interessante de informação sobre as primeiras viagens às Américas, em grande parte derivada dos relatos de Colombo.


Notas Explicativas da Tradução


[i] Allen refere-se ao problema de não existir uma padronização dos limites de cada constelação, e tampouco uma lista de constelações, que fosse unanimemente aceita pelos astrônomos de sua época. A divisão da esfera celeste em 88 constelações claramente delimitadas só foi oficializada pela União Astronômica Internacional em 1928.
[ii] O nome completo desta obra é “Comentário aos Fenômenos de Eudoxo e aos de Arato” (Τῶν Ἀράτου καὶ Εὐδόξου φαινομένων ἐξήγησις).
[iii] A data apresentada por Allen — 1634 — refere-se ao ano de uma edição posterior da Historie of the World. Fiz a correção para a data da primeira edição, já que a tradução de Holland não foi refeita nas edições seguintes.
[iv] Trecho do Capítulo XXIV, Livro II, do Naturalis Historia de Plínio. A tradução ao português foi feita a partir da tradução ao inglês de Philemon Holland e comparada à outra tradução ao inglês, mais recente, feita por John Bostock. No original latino: ideoque ausus rem etiam deo inprobam, adnumerare posteris stellas.
[v] Esta tradução segue o excerto apresentado por Allen em inglês. Em algumas traduções do Almagesto, o texto referente a esse excerto na verdade encontra-se exatamente no fim do 4.o Capítulo do 7.o Livro, que antecede as tabelas do 5.o Capítulo. No original: Καὶ ταῖς διαμορφώσεσι δ’ αὐταῖς ταῖς καθ’ ἕκαστον τῶν ἀστέρων οὐ πάντως συγκεχρήμεθα ταῖς αὐταῖς, αἶς καὶ οἱ πρὸ ἡμῶν, καθάπερ οὐδ’ ἐκεῖνοι ταῖς ἔτι πρὸ αὐτῶν, ἀλλ’ ἑτέραις πολλαχῆ κατὰ τὸ οἰκειότερον καὶ μᾶλλον ἀκόλουθον τῷ εὐρύθμῷ τῶν διατυπώσεων.
[vi] Allen não informa a fonte desta informação, que parece ser uma citação textual baseada, provavelmente, na descrição de Juan de Mariana sobre Afonso X — “era... mas á propósito para las letras, que para el gobierno de los vasallos: contemplaba el cielo y miraba las estrellas; mas en el entretanto perdió la tierra y el reino” (Historia General de España, Libro 13o, Cap. XX). Manuel Rico y Sinobas fornece uma avaliação similar mas culpa os adversários do rei por sua fama póstuma, no prefácio a uma reedição das Tábuas Afonsinas em 1863: “Para vencer à D. Alfonso se generalizó en las masas la idea del desprecio, y de la necesidad de destronarle, enterrándole en vida, é ideándole el famoso y supuesto epitafio para su sarcófago, que segun cuentan decia: Mientras Alfonso contemplaba las cosas celestiales perdió las terrenas.”
[vii] O nome completo deste texto de Richard Eden é The Maner of fyndynge the longitude of regions by divers wayes after the description of Gemma Phrysius. A frase original da citação é “Then eyther by the Ephimerides or by the tables of Alphonſus yowe owght to knowe in what houre the moone entereth into the ſame ſigne of the Zodiake in an other region or towne whoſe longitude is well knowen”.
[viii] Albrecht Dürer (1471-1528), gravurista e pintor alemão, autor da primeira carta celeste impressa na Europa. Bayer copiou integralmente suas ilustrações para a maioria das constelações da Uranometria (apud Edward S. Holden, 1890, Contributions of Raphael and of Albrecht Dürer to Astronomy, Publications of the Astronomical Society of the Pacific, Vol. 2, no. 6, pg. 19)
[ix] Richard Anthony Proctor (1837-1888), astrônomo inglês. A mudança na posição dos polos, de que trata esse parágrafo, é consequência da precessão dos equinócios.
[x] Vide nota i acima.
[xi] A Standard Dictionary of the English Language, Funk & Wagnalls Company.
[xii] Trata-se do projeto Carte du Ciel, lançado aos fins do século XIX, para produzir o primeiro levantamento fotográfico de todo o céu.

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