si quaeritis astra
Tunc oritur magni praepes adunca Jovis. [i]
Os Fastos de Ovídio
Jove ordenou ao príncipe das aves,
e portador de seu trovão também,
o pássaro a quem o dourado Ganimedes
Qual seu emissário conhecia muito bem. [ii]
Odes de Horácio
AQUILA
também assim chamada entre os italianos, é a nossa Águia, a Aigle dos franceses, Adler para os alemães e Eagle dos anglofalantes. Próxima e a oeste do Golfinho, é apresentada a voar em direção ao leste através da Via Láctea. Suas estrelas mais austrais constituíam a constelação de Antínoo, atualmente desusada. Antigas representações mostravam uma flecha segura entre as garras da Águia; e Hevelius incluiu um arco e flecha em sua descrição do jovem; mas no mapa de Heis,[iii] o adolescente é seguro pela Águia, uma vez que os alemães mantiveram essa associação em seu título combinado der Adler mit dem Antinoüs.
Supostamente, nossa constelação é representada pelo pássaro que figura na pedra uranográfica eufrateana de aproximadamente 1200 aC, e é mencionada nas tabuinhas como Idkhu Zamama,[iv] a Águia, o Olho Vivente.
Águia, Antínoo, Golfinho e Flecha no Urania's Mirror, de S. Hall. |
Como as águias muitas vezes foram confundidas com os abutres na ornitologia grega e romana, ao menos na nomenclatura, a constelação também foi chamada Vultur volans (Abutre Voador), com as estrelas β e γ, a cada lado da α, marcando-lhes as asas estendidas. Este título chegou mesmo até os dias de Flamsteed, e sua tradução como Flying Grype tornou-se popular no Inglês Antigo, especialmente entre astrólogos, que lhe atribuíam uma poderosa virtude.
Os gregos chamavam-na de Ἀετός, a Águia, mas também usaram para ela uma variedade de outros nomes. Enquanto poeticamente ela era Διός Ὄρνις, a Ave de Zeus, Píndaro a tinha como Οἰωνῶν Βασιλεῦς,[v] o Rei das Aves, que, ornitologicamente, chegou aos nossos dias. Posteriormente, chamaram-na Βάσανος, Βασανισμός e Βασανιστήριον, todos os três títulos com o significado de Tortura, o que Hyde associou ao mito da águia (ou abutre) que devorava o fígado de Prometeu. Da mesma forma, encontramos entre seus nomes romanos Aquila Promethei e Tortor Promethei, respectivamente, Águia e Tortura de Prometeu; mas Ideler afirma que esta ideia surgiu após Scaliger confundir as palavras árabes ʿIqāb, Punição ou Penalidade, com ʿUqāb, Águia.
Águia, em Hyginus |
Thompson crê que a fábula, na ornitologia grega, da águia que ataca o cisne mas é por ele derrotada encontra-se simbolicamente representada pela constelação da “Águia, que nasce a leste, imediatamente após o Cisne, mas ao se pôr a oeste desce um pouco antes daquela constelação mais setentrional”.
Um pensamento semelhante poderia existir entre os antigos quanto à águia em oposição ao golfinho e à serpente,[vii] pois suas contrapartes estelares, Aquila, Delphinus e Serpens, estão situadas relativamente próximas no céu.
Em conexão com a história de Ganimedes, a águia aparece nas moedas de Cálcis, Dárdanos e Élida, e geralmente naquelas de Malos na Cilícia e da Camarina; por outro lado, ela aparece empoleirada no Golfinho nas moedas de Sinope e de outras cidades, mormente aquelas situadas às margens do Mar Negro e do Helesponto. Uma moeda, que exibia suas estrelas mais proeminentes, foi cunhada em Roma, em 94 aC, por Mânio Aquílio,[1] evidentemente por inspiração de seu nome; e uma moeda de Agrigento trazia a Águia, com Câncer no reverso, — um se põe quando o outro nasce.
Entre os árabes, a figura clássica era chamada de al-ʿUqāb, provavelmente sua Águia Negra, que foi citada por Chilmead como Alhhakhab; enquanto a denominação al-Nasr al-Ṭāʾir, a Águia Voadora, confinava-se às estrelas α, β e γ, embora isso fosse contrário ao seu costume de usar uma única estrela para representar uma figura celestial. Grotius denominou toda a constelação como Altair e Alcair; e Bayer usou Alcar e Atair. Contudo, al-Akhṣāṣī referiu-se a ela como al-Ghurāb, o Corvo, provavelmente um nome arábio tardio, pois é a única instância conhecida em que tal denominação se aplicou a nossa Águia.
Seus títulos persas eram Alub, Gherges, e Šāhīn tara zed, o Falcão da Estrela Marcante de al-Tūsī, mas compartilhado entre β e γ. Nas Tábuas Ilkhanianas, bem como provavelmente noutras fontes, era chamada de Γύψ πετόμενος, o Abutre ou Condor Volante; os turcos a chamavam de Taushaugjil, sua Águia Caçadora; — nomes aplicáveis, todos eles, às três estrelas brilhantes.
Os hebreus conheciam-na como Neshr, uma Águia, Falcão ou Abutre; e a Paráfrase Caldeia afirmava que ela figurava nos estandartes de Dã; mas como esses símbolos tribais mais apropriadamente se relacionavam ao zodíaco, Escorpião era usualmente atribuído a Dã. Esta confusão pode ter vindo do fato, afirmado por Sir William Drummond, de que Scorpio era interpretada como uma Águia aos dias de Abraão.[viii] Caesius afirma que ela representava a Águia Romana ou a Águia de São João; mas Julius Schiller a transformou na Grande Mártir Santa Catarina em seu planisfério celeste cristão; e Erhard Weigel, um professor em Jena no século XVII, deu início a um novo conjunto de constelações, baseado na heráldica então tanto em voga, entre as quais figurou a Águia de Brandenburgo, composta pelas constelações clássicas da Águia, Antínoo e Golfinho. E Hevelius afirmou que a Águia estelar era uma representação adequada para aquela ave nos brasões polonês e teutão.
Os chineses tinham aí os Bois de Carga, mencionados no livro de poemas intitulado Shījīng, compilado 500 anos antes de Cristo por Confúcio. A passagem correspondente na tradução do Reverendo James Legge diz:
Brilliant show the Draught Oxen,
But they do not serve to draw our carts; [ix]
e as três estrelas brilhantes eram seu Boiadeiro, a quem a Ponte de Pegas dava acesso à Donzela Fiandeira, nossa Lira, através do Rio do Céu, a Via Láctea.[x] Esta história é contada de várias formas; em algumas delas, as estrelas do Cisne tomam o lugar daquelas da Águia, ou é a Lira que se torna as Irmãs Tecelãs.
As duas estrelas mais brilhantes da imagem, Vega e Altair, simbolizam amantes separados pela Via Láctea, em um difundido mito oriental |
A versão coreana, mais detalhada, tornou o Boiadeiro em um Príncipe, e a Dama em sua Noiva, ambos banidos para diferentes partes do céu pelo sogro irado, mas com o direito de se reencontrarem uma vez por ano se puderem cruzar o Rio. Isto eles conseguem através da amigável ajuda de amáveis pegas, que se reúnem vindas de todas as partes do reino durante a 7.a lua, e que em cuja 7.a noite formam a esvoaçante ponte através da qual o casal se encontra, ainda amantes, embora casados. Quando o dia termina, eles retornam aos seus respectivos locais de exílio, e a ponte se desfaz; os pássaros se espalham de volta aos seus lares com as cabeças depenadas após as penas terem sido gastas pelos pesados pés do Príncipe e de sua companheira. Mas como tudo isso acontece durante o tempo de muda dos pássaros, suas cabeças nuas não devem causar surpresa; tampouco o são, por ocorrer na estação chuvosa, as chuvas concomitantes que, se matutinas, serão atribuídas pelos contadores de histórias às lágrimas de felicidade do casal, ou se noturnas, à tristeza da separação. Se uma pega for encontrada em qualquer lugar por volta de casa nesse momento, ela será perseguida pelas crianças com maus-tratos bem merecidos por sua indiferença egoísta em relação a seu dever. Também é digno de menção que o problema na casa real se originou após o desafortunado investimento que o Príncipe fez com os sapeques [xi] paternos num esquema muito promissor para canalizar a Via Láctea e desviar seu fluido de modo a nutrir estrelas distantes.
Uma outra versão é apresentada pelo Reverendo William Elliot Griffis em seu livro Japanese Fairy World, na qual a Dama Fiandeira é a industriosa princesa Shokujo, separada pelo Rio Celestial de seu pastor amado, Kinjin. Mas nesta, o narrador representa os amantes por Capricórnio e pela estrela Vega.
Os nativos australianos conheciam a constelação da Águia inteira como Totyarguil (ou Totyerguil), um de seus personagens míticos, o qual, enquanto se banhava, foi morto por um kelpie.[xii] Eles também tinham uma Águia no céu, que localizavam em Sírius.
Foi nesta constelação, a noroeste de Altair, que o Professor Edward E. Barnard descobriu um cometa a partir de seu rastro deixado numa fotografia feita no Observatório Lick em 12 de outubro de 1892 — a primeiro cometa a ser descoberto mediante o uso da fotografia.
Argelander catalogou 82 estrelas visíveis a olho nu na Águia, incluindo aquelas de Antínoo; Heis viu 123.
α, 1.3, amarelo pálido.
Altair é parte do nome árabico para a constelação; mas ocasionalmente foi escrito como Althair, Athair, Attair e Atair; este último os leitores de Ben Hur relembrarão como o nome de um dos corcéis do xeque Ilderim na corrida de bigas em Antióquia. Também se usou o nome alterado para Alcair, Alchayr e Alcar.
Na Syntaxis ela era Ἀετός, um dos poucos títulos estelares usados por Ptolomeu, provavelmente usado primeiro para α e, depois, transferido à figura estelar após a formação desta, como em outros casos nos dias antigos da Astronomia. Mesmo seis ou sete séculos antes de Ptolomeu ela era chamada de Αἰετός,[xiii] pois o coro na Ῥῆσος, até recentemente atribuída a Eurípedes, canta:
Qual é a estrela que agora passa?
sendo a resposta:
As Plêiades se mostram a Leste,
A Águia plana no cume do céu. [xiv]
Supõe-se que bem antes disso, no Eufrates, ela era Idkhu, a Águia, ou Erigu, o Pássaro Poderoso, nomes que foram quotados por Brown, quem crê que ela também corresponda ao persa Muru, o Pássaro, ao sogdiano Shad Mashir e ao the corasmiano Sadmasij, o Nobre Falcão.
Nos Essays on the Ruling Races of Prehistoric Times de J. F. Hewitt, afirma-se que os mitos tardios do Zoroastrismo [xv] tratam Altair como Vanant, o Quarto Ocidental dos céus, que antes disso era marcado pelo nosso Corvo.
Também os kooris da Austrália viam nela uma águia, chamando-a de Bunjil, seu nome para a Aquila audax, uma espécie predadora existente na Oceania; e tinham β e γ por suas viúvas, representadas por cisnes negros.
Com β e γ ela constituía o vigésimo terceiro nakshatra [xvi] Shravana, a Orelha, provavelmente o primeiro a ser marcado, embora também seja conhecido como Shrona, Coxo, ou Ashvattha, a Figueira Sagrada. O asterismo tem Vishnu por regente. Estas estrelas representam as Três Pegadas que o deus deixou no céu, sendo o seu símbolo um tridente.
Na China α, β e γ eram Hé Gǔ, o Tambor (ou Percussão) do Rio. Altair também era mais conhecida pelos nomes que aludem à história do Boiadeiro e da Noiva Fiandeira: Qiān Niú Xīng e Niú Láng Xīng, ambas palavras com sentido de Estrela Boiadeira.
Na Micronésia, foi chamada de Mai-lapa, a Grande e Velha Fruta-Pão, enquanto os Maoris a denominavam Poutu-te-rangi, o Pilar dos Céus.
Na astrologia, Altair era vista como uma fonte de enganos e pressagiava o perigo advindo dos répteis.
Ptolomeu, que designava o grau de brilho estelar por letras gregas, aplicou-lhe a letra β indicando que se tratava de uma estrela de segunda grandeza, daí alguns supõem que a intensidade de sua luz tenha aumentado desde seus dias. Ela é agora uma estrela padrão de 1.a grandeza de acordo com Pogson, na escala fotométrica “absoluta” geralmente adotada por especialistas em fotometria estelar, e é muito usada na navegação astronômica. Já Flamsteed fez dela a estrela de referência fundamental em suas observações do Sol e na construção de seu catálogo.
Sua paralaxe [2] de 0".214, considerada por Elkin como aproximadamente exata, indica a distância de 15.2 anos-luz.
Altair tem um movimento próprio alto, de 0".65 por ano; e Gould a considerou ligeiramente variável.
Ela marca a junção da asa direita com o corpo da ave, e nasce ao pôr do sol por volta de 15 de junho, culminando em 1.o de setembro.
Próximo a ela apareceu, no ano 389, um objeto que não se sabe se foi um transiente estelar ou cometa, mas que Cuspinianus afirmou ter igualado Vênus em brilho, que desapareceu após três semanas de visibilidade; e há registro de outro parecido, sessenta anos antes disso, nesta mesma constelação.
Cerca de 5° a leste de Altair, segundo Denning, situa-se o ponto radiante dos Aquilídeos, a chuva de meteoros visível de 7 de junho a 12 de agosto.
β, 3.9, laranja pálido.
Alshain vem de Shāhīn, parte do nome persa da constelação; mas al-Akhṣāṣī a denominou al-ʿUnuq al-Ghurāb, o Pescoço do Corvo, que veio a ser traduzida ao Latim como Collum Corvi.
É a mais austral das duas estrelas que flanqueiam Altair; ainda assim, embora ela carregue a segunda letra grega, não é mais brilhante que γ ou δ.
γ, 3, laranja pálido.
Tarazed, ou Tarazad, do mesmo título persa, situa-se a norte de Altair. Estas três estrelas (α, β e γ) constituem a Família da Águia, tendo a linha imaginária que as une a dimensão de 5°. No catálogo de al-Akhṣāṣī, γ era Menkib al-Nesr, em Latim Humerus Vulturis, o Ombro da Águia.
Logo a norte de γ encontra-se π, a única dupla facilmente observável e bela da constelação. Suas componentes, de magnitudes 6 e 6.8, separadas por 1".5, encontram-se num ângulo de posição de 120°.7.
δ
Não possui um nome particular nos dias atuais, mas já teve nomes no passado, a maioria dos quais compartilhado com outras estrelas em um asterismo.
Juntamente com η e θ, estrelas de 3.a e 4.a magnitude, em Antínoo, formava o asterismo al-Mīzān, a Escala da Balança, da antiga Arábia, a partir de seu alinhamento e distâncias de separação aproximadamente iguais. Sendo δ a estrela mais a oeste desse trio, Jim Kaler sugeriu-lhe o nome Almizan Occidental, ainda não reconhecido pela IAU.
Bečvář denominou-a Deneb Okab, Cauda do Corvo, em seu Skalnate Pleso Atlas of the Heavens, mas aparentemente o fez por confusão, posto que tal nome é associado desde a antiguidade às ε e ζ.
Já al-Akhṣāṣī denominou-a Djenubi Menkib al-Nesr, derivada do árabe Mankib al-Nasr al-Djanūbī, que foi traduzida ao Latim como Australior Humerus Vulturis, o Ombro Austral da Águia.
ε, 4.3, alaranjada, e ζ, 3.3, branca.
Cada uma dessas é conhecida como Deneb ou Deneb Okab, from Dhanab al-ʿUqāb, a Cauda da Águia, a qual elas marcam. Alguns diferenciaram-nas chamando ε de Deneb Okab Borealis, por estar mais ao norte, e ζ de Deneb Okab Australis. Curiosamente, a lista de al-Akhṣāṣī nomeia apenas ζ como Dzaneb al Tair, corruptela do árabe Dhanab (al-Nasr) al-Ṭāʾir, a Cauda (da Águia) Volante, também traduzida ao Latim sem o termo “Águia”: Cauda Volantis.
Na China, ε e ζ eram Wú e Yuè, nomes de antigos estados feudais.
Em 2016, a União Internacional Astronômica montou um grupo de trabalho para nomear oficialmente estrelas (o chamado Working Group on Star Names). Uma de suas determinações foi de que os nomes seriam atribuídos apenas a estrelas isoladas e não a sistemas múltiplos. ζ Aquila é um sistema múltiplo composto por 5 estrelas. Em 2018, o WGSN/IAU decidiu nomear apenas a estrela primária desse sistema (ζ Aquila A) como Okab.
η,
em Antínoo, era uma das estrelas que formava o asterismo al-Mīzān, sendo referenciada no catálogo de Rhoads como Al Mizān II.
É uma variável cefeida digna de nota, descoberta por Pigott em 1784, ligeiramente amarelada, que flutua em brilho de magnitude 3.5 a 4.7 em um período de sete dias e quatro horas, sendo portanto um objeto interessante e conveniente para observação casual e rotineira.
θ.
Nas modernas listas de nomes estelares, θ figura informalmente com o nome Tseen Foo, derivada do chinês Tiān Fú, a Viga ou Varela Celestial, inicialmente um asterismo composto por θ, η e duas outras estrelas menores da Águia.
Foi listada no catálogo de al-Akhṣāṣī como Thanih Ras al Akab, do árabe Thānī al-Rāʾs al-ʿUqāb, com seu correspondente em Latim: Secunda Capitis Vulturis, a Segunda da Cabeça da Águia.
Sendo θ uma das estrelas que formava o asterismo al-Mīzān, foi referenciada no catálogo de Rhoads como Al Mizān III.
ι, 4.3, e λ, 3.6,
eram as al-Ẓalīmayn (ou Al Thalimain em transliteração incorreta embora mais conhecida), significando os Dois Avestruzes, por alguma confusão com outras estrelas não muito distantes, e de mesmo nome, em Sagitário; mas a Syntaxis de Grynaeus, de 1538, atribuía λ e outras estrelas não numeradas à constelação do Golfinho.
ι, com δ, η e κ, entre outras, formava o asterismo chinês Yòu Qí, a Bandeira Direita; ρ marcava Zuǒ Qí, a Bandeira Esquerda.
λ, com h, g e outras estrelas do Escudo, formavam o Tiān Biàn, o Oficial do Mercado. [xvii]
ξ
Recebeu o nome Libertas, Libertade, em votação eletrônica mundial promovida pela União Internacional Astronômica em 2015. Seu primeiro planeta conhecido também foi batizado como Fortitudo, Fortitude, na mesma ocasião.
Notas de Rodapé (do texto original)
[1] Este foi o cônsul derrotado e capturado por Mitrídates, que o matou derramando-lhe ouro fundido pela garganta em punição por sua rapacidade.
[2] Uma paralaxe de 1" representa uma distância à Terra de 3.26 anos-luz. Um ano-luz, uma das unidades para medida de distância astronômica, equivale à distância que a luz percorre ao longo de um ano,— algo como 63 000 vezes a distância da Terra ao Sol. Nenhuma estrela tem uma paralaxe tão grande; a estrela mais próxima ao Sol, Proxima Centauri, têm a maior paralaxe estelar (0".75).
Notas Explicativas da Tradução
[i] Trecho dos vv. 195-196 do Livro VI de Os Fastos de Ovídio. Na tradução ao português feita por Antonio Feliciano de Castilho: “mas se incarais os ceos, nascer lá vedes / a aguia real de Jove”.
[ii] Versos 1-4 da Ode IV, Livro IV, das Odes de Horácio. A tradução apresentada se baseia na tradução inglesa feita por Gladstone, que consta no texto de Allen: “Jove for the prince of birds decreed, / And carrier of his thunder, too, / The bird whom golden Ganymede / Too well for trusty agent knew”. No original latino: “Qualem ministrum fulminis alitem, / cui rex deorum regnum in avis vagas / permisit expertus fidelem / Iuppiter in Ganymede flavo”.
[iii] Atlas Coelestis Novus, de Eduard Heis (1872).
O mapa pode ser consultado online.
[iv] Como na nota [xxxvi] em Andromeda, Allen usa a transcrição de Brown: Idχu Zamama, onde χ parece representar o fonema /kʰ/.
[v] Allen usou uma grafia errada: Ὄινῶν Βασιλεῦς. O nome se encontra no v. 21, Livro 13, das Odes de Píndaro.
[vi] Encontramos em Pausânias (Descrição da Grécia, Tomo 8) uma fantasiosa suposição de que as aves do Lago Estínfalo teriam vindo da Arábia: “O deserto da Arábia produz, entre outras criaturas selvagens, aves chamadas estinfálias, que são tão selvagens contra homens quanto leões ou leopardos. Estas voam contra aqueles que vêm caçá-las, ferindo-os e matando-os com seus bicos. Toda armadura de bronze ou ferro que os homens usam é perfurada pelos pássaros; mas, se tecerem um corsolete grosso, os bicos das aves estinfálias ficam presos ao corsolete, tal como as asas das pequenas aves se grudam no guano. Essas aves têm o tamanho de grous e são como os íbis, mas seus bicos são mais poderosos e não tortos como os dos íbis. Se as modernas aves árabes com o mesmo nome das antigas aves arcadianas também são da mesma raça, não sei. Mas se sempre houve pássaros estinfálios, assim como sempre houve falcões e águias, eu deveria considerá-los pássaros de origem árabe, e uma parte deles poderia ter voado em alguma ocasião para Arcádia e chegado a Estínfalo” (tradução nossa ao português a partir da tradução inglesa feita por W. H. S. Jones). As aves do Lago Estínfalo também costumavam ser chamadas a Aves de Ares, por isso Insula Martis é outro local associado a elas, como se lê na Fábula 30 de Higino: “Aves Stymphalides in insula Martis” (Aves estinfálias na Ilha de Marte).
[vii] A simbologia antiga por vezes contrapunha águia e golfinho ou águia e serpente em algumas moedas gregas cunhadas nos séculos IV-III aC. Numismáticos apontam que a contraposição entre águia e golfinho poderia representar a união das deidades celestiais (Zeus) e marinhas (Poseidon), embora a variação da atitude da águia com respeito ao golfinho (ora a águia apenas se empoleira no golfinho, ora o ataca) dificulta uma interpretação mais clara do simbolismo (Vagi, D., Eagles and Dolphis). Já a representação da águia que ataca a serpente é mais comum a várias culturas antigas, surgindo inclusive na Babilônia e entre os astecas.
[viii] Sobre essa associação veja também a nota [xxxi] em Andromeda. Algumas fontes também usam uma Serpente como símbolo da tribo de Dã.
[ix] Brilhantes mostram-se os Bois de Carga, / mas eles não servem para puxar nossas carroças.
[x] Esta é uma história clássica do folclores oriental. Conta-se que um jovem, o Pastor, representado pela estrela Altair, foi impedido de se encontrar com a Donzela, representada por Vega, ambos separados por um rio de prata (a Via Láctea). Apenas durante uma determinada época do ano (a sétima noite do sétimo mês do calendário lunar chinês), várias pegas deixam as cidades chinesas e formam uma ponte no céu, através da Via Láctea, pela qual o Pastor pode ir ao encontro de sua amada. Nesse dia, celebra-se o Festival Qīxì (de significado similar ao Dia dos Namorados) na China, na Coreia e no Japão. O festival é realizado no verão, quando Vega e Altair se encontram próximas ao zênite nesses países.
[xi] Sapeque era o nome dado a antigas moedas, originalmente feitas de cobre, usadas no oriente.
[xii] Kelpie é uma denominação genérica para demônios ou espíritos marinhos transmorfos, que podem assumir forma humana ou animal, por vezes a de um cavalo. A origem do termo é escocesa, mas variantes do mito são encontradas em várias regiões do mundo.
[xiii] Αἰετός é uma forma dialetal de Ἀετός, ambas com significado de Águia.
[xiv] Essa tradução toma por base os versos em Inglês apresentados por Allen: “What is the star now passing? / (...) / The Pleiades show themselves in the east, / The Eagle soars in the summit of heaven”. Tracei essa tradução particular até uma passagem, atribuída a Norman Lockyer, no livro The story of the stars: New descriptive astronomy, de Joel Dorman Steele (1869, Barnes & Company: Nova Iorque, nota de rodapé à pg. 311). Nesta passagem, Lockyer discorre sobre a medição da passagem do tempo pelos gregos e exemplifica o uso da culminação de estrelas através desses versos. Numa outra tradução disponível online (sem informação acerca do tradutor), essa passagem é um tanto diferente e a pergunta feita pelo coro não é claramente sobre qual estrela se encontra no céu, embora implique a noção de hora: “Whose watch is it? who relieves me? / (...) / and the seven Pleiads mount the sky; / athwart the firmament the eagle floats” (http://classics.mit.edu/Euripides/rhesus.html, acessado em 10/09/2018). Tem o mesmo sentido desta última a tradução ao inglês feita por E. P. Coleridge: “Whose watch is it? who relieves me? / (...) / and the seven Pleiads mount the sky; / in the middle of the heavens the eagle floats” e aquela feita por Murray: “Say, whose is the watch? Who exchanges / With us? (...) / (...) the Pleiades seven / Move low on the margin of heaven, / And the Eagle is risen and ranges / The mid-vault of the skies”. O primeiro verso do original grego dá respaldo a essas duas traduções: “τίνος ἁ φυλακά; τίς ἀμείβει” (quem está de guarda? quem me renderá?). Disso é possível concluir que a tradução atribuída a Lockyer, usada posteriormente por Allen, reescreve a pergunta do coro para dar-lhe o sentido exclusivo de consulta ao horário, de modo a apresentar o contexto da resposta que faz referência às estrelas.
[xv] J. F. Hewitt (e Allen, na citação) atribuem esses mitos ao “povo zend”, que nunca foi apropriadamente identificado. Seria o povo em cujo idioma o Avesta foi escrito. Hegel já discutia essa questão em The Philosophy of History: “Where the Zend people, mentioned in the religious books of Zoroaster, lived, is difficult to determine”. Atualmente se associa esse povo aos ancestrais indo-iranianos, em alguns casos aos próprios arianos. Devido à própria dificuldade de verificar a informação, optei por reescrever o parágrafo, sem lhe retirar o sentido.
[xvi] Para Allen, trata-se do vigésimo primeiro nakshatra. Veja a nota [xi] em Andromeda.
[xvii] Allen escreve Tseen Peen, e o traduz como “the Heavenly Casque”, o Capacete Celestial.
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