Sentinela do luar numa alameda
Dei-lhe meu corpo aéreo de penumbra,
Fui a alma dum cisne amando leda...[i]
Aparição, de Ernani Salomão Rosas
CYGNUS
É o Cisne, situado entre o Dragão e Pégaso. Os franceses o conhecem como Cygne; os italianos, como Cigno; os ingleses como Swan; e os alemães como Schwan. Já para alguns, seu nome latino mais corretamente deveria ser Cycnus (Cicno).
Cygnus, na representação de Hevelius |
Ele é nomeado Κύκνος por Eratóstenes, mas geralmente Ὄρνις por outros gregos, pelo qual simplesmente indicavam um Pássaro de algum tipo, mais particularmente uma Galinha; embora o ἀιόλος de Arato pode indicar que ele tivesse em vista um cisne capaz de voar rapidamente; mas, como em grego esse adjetivo também significa “variegado”, é possível que a referência seja à posição do Pássaro sobre a Via Láctea, ante a sequência de áreas claras e escuras do plano galáctico. Daí que Brown o traduziu como “lantejoulado”. Arato também o descreveu como ἠερόεις,[ii] “escuro”, especialmente com respeito a suas asas,[iii] um erro que Hiparco corrigiu.[iv]
Cygnus, no Urania's Mirror de Sidney Hall |
Quando os romanos adotaram o título que usamos atualmente, nossa constelação tornou-se o cisne mítico associado a Cicno, o filho de Marte, ou do rei lígure Estênelo; ou o irmão [v] de Faetonte, transformado em cisne no rio Erídano (o atual rio Pó) e transportado ao céu.[1] Associada, também, a Leda, a amada de Jupiter e mãe de Castor, Pólux e Helena, ela foi classificada entre as constelações argonáuticas, e Helenae Genitor (Genitor de Helena), assim como outros nomes derivados dessa bem conhecida lenda, foram-lhe aplicados.
Cygnus, na Uranometria de Bayer |
Popularmente a constelação era chamada de Ales, Avis e Volucris, um Pássaro, — Ales Jovis (Pássaro de Jove), Ales Ledaeus (Pássaro de Leda) e Avis Veneris (Ave de Vênus), — enquanto Olor, outro termo para o Cisne, tanto o ornitológico quanto o estelar, esteve em uso até pouco tempo. Phoebi Assessor (Assistente de Febo) foi citado por Lalande, sendo o pássaro sagrado para essa divindade; e também encontramos para ele a denominação Vultur cadens (Abutre Cadente), embora este seja mais apropriadamente um título para a Lira. Como pássaro de Vênus ele também era conhecido como Myrtilus (Mirtilo), da murta consagrada àquela deusa; e ele também foi visto como Orpheus (Orfeu), colocado nos céus após a morte, junto à sua favorita Lira.
Cygnus, na representação de Bode. |
Cisne pode ter-se originado no Eufrates, pois as tabuinhas mostram um tipo de pássaro estelar, talvez Urakhga, a origem do árabe Rukh, o Pássaro Roca, o marinheiro Simbad encontrou. Em todo o caso, a sua figura atual não se originou entre os gregos, pois a história da constelação havia sido totalmente perdida para eles,[vi] como a do misterioso Engonasin, — uma prova evidente de que eles não eram os inventores de pelo menos alguns dos grupos estelares atribuídos a eles.
No Livro das Estrelas Fixas, de al-Ṣūfī, o Cisne era, por vezes, representado como uma Galinha. |
O termo que Scaliger citou para a constelação, al-Ridhādh, que se degenerou para El Rided, talvez seja o origem do Arided empregado para a lucida, mas seu significado é incerto, embora o autor afirme que tenha encontrado o termo num antigo dicionário Latim–Espanhol–Árabe com o significado de uma espécie de flor de perfume doce.[ix]
Hyde usa para ela o nome Kathā, do árabe al-Qaṭā, o Cortiçol, uma ave muito comum no Velho Mundo em regiões de planície e savana em climas desérticos ou semiáridos, similar em tamanho ao pombo; de fato, o tradutor de al-Ṣūfī, Schjellerup, definiu al-Ṭāʾir como le pigeon de poste (o Pombo-Correio).
As Tábuas Alfonsinas, na edição de Madri, que supostamente é uma reprodução das originais, ilustra sua Galina com uma galinha tristonha em vez de um Cisne, com o corrompido título árabe Altayr aldigeya, embora noutra parte elas mencionem Olor: Hyparcus Cygnum vocat;[x] o Almagesto Árabo-Latino de 1515 tinha Eurisim: et est volans: et jam vocatur gallina. et dicitur eurisim quasi redolens ut lilium ab ireo;[xi] as Tábuas Alfonsinas de 1521 traziam Hyresym; et dicitur quasi redolens ut lilium: et est volans: et jam vocatur gallina; Bayer escreveu sobre isso, quasi Rosa redolens Lilium; Riccioli, quasi Galli rosa; e contemporâneos deste último autor escreveram Hirezym e Hierizim. Os comentários de Ideler sobre isso mostram o processo indireto pelo qual alguns de nossos nomes de estrelas se originaram e são dignos de uma citação mais extensa:
Além disso, eles mantiveram o grego Ὄρνις não traduzido, como indica o globo borgiano, sobre o qual está escrito Lūrnis, ou Ūrnis (pois a primeira letra não está unida à segunda, então temos ambas as possibilidades de leitura). É muito provável que esse Ūrnis deu origem ao estranho título pelo qual o Cisne está listado no Almagesto Árabo-Latino: Eurisim (...). Provavelmente o tradutor encontrou no original arábico a palavra Ūrnis, a ele desconhecida. Naturalmente supôs que fosse grega, mas não sabia seu significado correto. Por outro lado, deve ter-lhe ocorrido a planta Ἐρύσιμον (Erysimum officinale, Linn.), que os romanos denominam Irio (veja Plínio, Hist. Nat. XVIII, 10, XXII, 25), e isso lembrava a Íris ou Lírio Florentino (Iris florentina, Linn.), ricamente perfumado, e assim, ao que me parece, ele traçou o pensamento por meio de uma associação perfeitamente natural de ideias até seu belo Eurisim, quasi redolens, ut lilium ab ireo. Ao mesmo tempo, acredito ter deparado com a pista para o título Albireo, que nunca foi satisfatoriamente explicado. Ele é dado à estrela que se situa no bico,— β,— por Bayer e em nossos mapas. Parece-me ser nada mais do que o ab ireo da frase acima, que veio a ser tornar um nome estelar arábico por um l interpolado.[xii]
O antigo Gallina continuou sendo usado pelos astrônomos até o século XVIII.
Na prancha de Ignace Pardies, a constelação aparece com seu nome alternativo: Olor. |
O Cisne é geralmente representado em pleno voo descendo a Via Láctea, a Correnteza do Céu, “planando em asas brilhantes”;[xiii] mas desenhos antigos mostram-no aparentemente levantando voo do solo.
O Coelum Stellatum Christianum propunha substituir o Cisne por Santa Helena com a Cruz. |
Caesius considerava que a constelação representasse o Cisne do Levítico 11:18, o Tinshemeth dos hebreus; mas outras traduções da Bíblia consideram que essa palavra represente um Bubo ou até mesmo por uma Íbis. Outros cristãos de seu tempo viram aí a Cruz do Calvário, Christi Crux, como Schickard escreveu, e Schiller, Crux cum S. Helena; isso chegou aos nosso dias como a Cruz do Norte,[xiv] bem conhecida por todos, e para os iniciantes em observações estelares provavelmente mais até do que o verdadeiro título da constelação. Lowell estava familiarizado com ela, e assim a traz ao seu New Year’s Eve, 1844:
Órion reclina-se em nicho estrelado,
A Lira que toca música audível
A ouvidos santos, e mil esplendores,
Coroado pela Cruz flamejante;[xv]
e Smith, em Come Learn of the Stars:
Lá vai Cygnus, o Cisne, voando para o sul, —
Sinal da Cruz e de Cristo para mim.[xvi]
Essa Cruz é formada por α, γ, η e β, marcando a posição vertical ao longo da Galáxia, tendo mais de 20° de comprimento, e ζ, ε, γ e δ correspondendo à trave.
Estas últimas também compunham um asterismo árabe, al-Fawāris, os Cavaleiros; a este grupo às vezes se juntava α e κ.
A lenda chinesa do Boiadeiro, ou Pastor, geralmente contada para nossa Águia, e seu amor pela habilidosa Donzela Fiandeira, nossa Lira, ocasionalmente inclui estrelas do Cisne. A constelação, em seus limites definidos pela União Astronômica Internacional, é denominada na China como Tiān É, com o mesmo significado da figura ocidental.
Embora seja interessante em muitos aspectos, destaca-se especialmente por possuir um número incomum de estrelas fortemente coloridas. Sobre isso Birmingham escreveu:
Uma área dos céus que inclui a Via Láctea, entre a Águia, Lira e o Cisne, parece ser tão peculiarmente povoada por estrelas vermelhas e laranjas que não poderia ser inadequadamente chamada de Região Vermelha ou Região Vermelha de Cygnus.[xvii]
Argelander localizou 146 membros da constelação visíveis a olho nu; e Heis, 197. É a posição do Cisne sobre a Via Láctea que explica essa densidade. Dentre essas estrelas, Espin listou uma centena que são duplas, triplas ou múltiplas. A Nebulosa do Véu Ocidental, também chamada de Nebulosa da Renda ou Nebulosa da Vassoura da Bruxa, NGC 6960, encontra-se dentro dos limites dessa constelação.
Encontramos entre os autores clássicos Ἰκτίνος, Miluus, Milvus e Mylvius, tirados do Parapegmata,[xviii] e, mesmo recentemente, considerados títulos para nosso Cisne, Águia e alguma figura celeste não identificada; mas Ideler mostrou que, por meio dessas palavras, provavelmente se fazia referência ao Milhafre, a ave de rapina predatória que migra anualmente na primavera, e não a qualquer objeto estelar.
α, 1.4, branco brilhante.
Deneb provém de al-Dhanab al-Dajājah, a Cauda da Galinha, que se tornou Denebadigege, Denebedigege, Deneb Adige, etc.
Nas Tábuas Alfonsinas aparece o nome Arided, e que frequentemente encontrado para essa estrela, como al-Ridhādh e El Rided o foram para a constelação. Referindo-se a este último título, Caesius denominou a estrela de Os rosae (Lábios de Rosa), correspondente ao alemão Rosamund, embora ele também a designou como Uropygium (Uropígio), a parte da ave popularmente conhecida como Bispo ou Sobrecu.
Ainda, α também é Aridif, de al-Ridf, o Que está mais Atrás; mas Bayer mudou-o para Arrioph; e Cary, para Arion.
Bayer indicou Gallina como um de seus títulos individuais.
Royal Hill afirmou que esta e as três estrelas brilhantes adjacentes na figura constelada eram conhecidas como os Triângulos.
Deneb possui um movimento próprio extremamente pequeno,[xix] o que a levou a ser considerada quase uma “estrela fixa”, embora isso não seja real.[xx]
Em 1892, Elkin estimou sua paralaxe como 0".047, mas o valor atualmente aceito é ainda menor: 0".00201. Seu espectro é do tipo siriano.
Fotografias feitas por Max Wolf, de Heidelberg, em junho de 1891, mostram que ela e γ encontram-se envolvidas por uma vasta nebulosa.
β, 3.2 e 5.1, amarelo topázio e azul safira.
Albireo, seu título universalmente conhecido, não está de modo algum associado com a Arábia, mas sim parece ter sido inicialmente aplicado à estrela a partir de uma confusão no sentido da locução ab ireo que se encontra na descrição da constelação no Almagesto de 1515. Albireo no Standard Dictionary indubitavelmente vem de um erro de tipografia, assim como Abbireo, Alberio e Albeiro, que ocasionalmente se lê.
Os arábios designam β como al-Minqār al-Dajājah, o Bico da Galinha, onde ela ainda se situa em nossos mapas. Riccioli escreveu-o como Menkar Eldigiagich; e também a citou como Hierizim. Já no Catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit seu nome está corrompido para Menchir al Dedjadjet, traduzido ao latim como Rostrum Gallinae (Bico da Galinha).
β é um dos majestosos objetos do céu, e Agnes Clerke, classificando suas cores como dourado e azul claro, afirma que ela “talvez apresente o mais adorável efeito de cor dos céus”.[xxi] Por estarem separados por 35", os componentes podem ser facilmente resolvidos por um pequeno telescópio amador. Não sabemos ainda se o sistema é uma binária física ou uma dupla óptica. Sendo uma binária, deve ter um período de revolução muito longo, ainda indeterminado. Pesquisas mais recentes tendem a considerar que Albireo seja uma dupla óptica, pois os movimentos próprios dos componentes são ligeiramente diferentes. Também as distâncias das estrelas ao Sol diferem um pouco nas medições feitas pelo satélite Hipparcos.
Próximo a β, em 20 de junho de 1670 surgiu uma nova que foi descrita pelo monge cartuxo Anthelme Voituret.[xxii] Ela desapareceu após dois anos de brilho variável, mas ainda é observada como uma fonte de radiação infravermelha e ondas de rádio. Hevelius a denominou Nova 1670, considerada a mais antiga nova registrada desde a invenção do telescópio. Na divisão do céu empreendida em 1928 pela União Astronômica Internacional, essa estrela passou a figurar na constelação da Raposa, donde seu atual nome Nova Vulpeculae 1670, bem como CK Vulpeculae.[xxiii]
No pescoço do Cisne, não muito longe de β, encontra-se a variável χ, uma estrela de tipo S que vai da magnitude 4.5 até 13.5 em 406 dias. Algumas vezes, em seu máximo, ela se mantém apenas na sexta magnitude.
γ, 2.7,
é Sadr, — por vezes incorretamente escrito como Sudr ou Sadir, — de al-Ṣadr al-Dajājah, o Peito da Galinha, e era um dos Fawāris dos árabes. No Catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit, esse nome surge corrompido como Sadr al Dedjadjet, que foi traduzido ao latim como Pectus Gallinae (Peito da Galinha).
Na China, ela era a principal estrela do asterismo Tiān Jīn, o Vau Celestial, no qual também se encontravam as estrelas α e δ, entre outras.
γ encontra-se no meio de belas fileiras de pequenas estrelas, estando ela própria envolvida por uma nebulosidade difusa que se estende até α; enquanto o espaço entre ela e β talvez seja mais o rico em estrelas dentre quaisquer outros de extensão semelhante nos céus.[xxiv] Espin afirma que as estrelas que apresentam espectro do quarto tipo [xxv] parecem se concentrar em torno de γ e dos chifres de Touro.[xxvi] Seu próprio espectro é de uma supergigante de tipo F. De acordo com as observações do satélite Gaia, ela se move em nossa direção a uma velocidade de 6 km/s.
δ, 2.7, branca.
É oficialmente conhecida como Fawaris desde 2018, quando recebeu essa denominação do WGSN da União Astronômica Internacional. Embora tradicionalmente não possuísse nome próprio, ela fazia parte do asterismo árabe al-Fawāris (os Cavaleiros).
ε, 2.6, amarela,
sobre a asa direita, é Aljanah, do árabe al-Janāḥ, a Asa. Este nome lhe foi oficialmente conferido em 2017 pelo WGSN da União Astronômica Internacional, já que anteriormente ε era denominada por uma diferente transliteração da mesma palavra árabe, Gienah, ou ainda como Gienah Cygni para evitar confusão com γ Corvi (também denominada Gienah).
Entre α, γ e esta estrela encontra-se o Saco de Carvão Boreal, uma área que parece quase vazia à olho nu, em plena Via Láctea; tal como o seu análogo mais famoso que, coincidentemente, situa-se junto à Cruz do Sul.
6° a nordeste de ε temos 61 Cygni, uma das estrelas mais próximas ao Sol. Se a distância da Terra ao Sol fosse representada como 1 centímetro, aquela a 61 Cygni seria pouco mais de 7 quilômetros. Também é notável por seu grande movimento próprio, que lhe rendeu a alcunha de Estrela Voadora; ela se aproxima da estrela σ com 5.2 segundos de arco por ano, e estará ao seu lado dentro de 1500 anos.[xxvii] Há 4000 anos, ela estava ao lado de ε.
Ela é uma binária de 6.a magnitude, estando seus componentes separados por 28″, com ângulo de posição 152°. Foi a primeira estrela a ter paralaxe trigonométrica determinada, por Friedrich Bessel entre 1837 e 1840; daí sua alcunha Estrela de Bessel.
Na China, ζ, ρ e outras estrelas adjacentes formavam o asterismo Chē Fǔ, o Pátio para Carretas; θ, ι, κ e várias outras estrelas vizinhas formavam Xī Zhòng, nome de um lendário ministro da dinastia Xia que teria inventado a carreta de guerra, a qual leva o mesmo nome. Já a estrela μ1 era Jiù, o Pilão, e as estrelas 4 e 17 Cygni participavam do asterismo Niǎn Dào, a Passagem Imperial.
π1, 4.8,
é Azelfafage, possivelmente uma forma corrompida de Adelfalferes, de al-Ẓilf al-Faras, a Pegada ou Rastro do Cavalo; e, citando Ideler,
Deve-se a que ou a pata de Pégaso [atualmente marcada por π Pegasi] se estendia a esta estrela, ou que nesta região deveriam estar localizados os pés do Garanhão que, como iremos ver mais adiante, algum astrônomo árabe introduziu entre Pégaso e o Cisne.[xxviii]
Ou o título pode ter vindo de al-Dhayl al-Dajājah, a Cauda da Galinha, cujo local exato ela marca.
Seu nome já foi escrito como Azelfafge; mas Bayer, em cujo texto a palavra aparentemente foi usada pela primeira vez, tinha “Azelfage id est Tarcuta”.[2]
π1, com outras vinte estrelas no Cisne, Andrômeda e Lagarto, formavam o asterismo chinês Téng Shé, a Serpente Alada.
P Cygni, ou 34 Cygni, de 5.a magnitude, localizada na base do pescoço do Cisne, é uma hipergigante da classe das estrelas variáveis luminosas azuis. Ela apresenta linhas de emissão antecedidas por seus análogos em absorção, em um padrão característico de estrelas envolvidas por nuvens de gás. Foi descoberta por Janson, como uma nova de 2.a magnitude, em 18 de agosto de 1600; foi numerada como 27 no catálogo de Tycho, com a designação nova anni 1600 in pectore Cygni; e Kepler achou relevante dedicar-lhe uma monografia em 1606. Christian Huygens, o astrônomo holandês do século XVII, chamou-a de Renaissante (Renascente) do Cisne, por sua extraordinária variação de brilho; mas estas agora parecem ter cessado.
ω1, ω2 e 43 Cygni,[xxix] segundo Ideler, eram coletivamente Ruchba de al-Rukbah al-Dajājah, o Joelho da Galinha; mas atualmente as três marcam a terça parte da asa esquerda.
Notas de Rodapé (do texto original)
[1] Um artigo muito interessante sobre os símbolos astronômicos encontra-se em Histoire de l' Astronomie Ancienne, de Bailly, publicado em Paris, em 1775.
[2] O que seria isto? Parece ter escapado aos comentários de todas as autoridades no assunto.
Notas Explicativas da Tradução
[i] Versos 9-11 do soneto Aparição, de Ernani Rosas. No texto em inglês, à epígrafe deste capítulo, Allen citou um excerto de tradução versificada do poema Pan Tadeusz, de Adam Mickiewicz: “Those deathless odalisques of heaven’s hareem, / The Stars, unveil; a lonely cloud is roll’d / Past by the wind, as bears an azure stream / A sleeping swan’s white plumage fringed with gold” (Tais odaliscas imortais do harém celestial, / As estrelas, revelam-se; uma nuvem solitária é levada a rolar / Pelo vento, como carrega uma corrente azul / Uma plumagem branca de um cisne adormecido com franjas de ouro). Não consegui identificar a tradução usada por Allen, mas esses versos correspondem a parte da 17.a estrofe do Livro XI no Pan Tadeusz, na qual originalmente nada há sobre o Cisne, o qual foi incluído na versificação inglesa por uma metáfora: “Kilka gwiazd świeci z głębi, jako perły ze dna / Przez fale; z boku chmura biała, sama jedna, / Podlatuje i skrzydła w błękicie zanurza, / Podobne do niknących piór Anioła Stróża” (Algumas estrelas brilham das profundezas, como pérolas no fundo do mar / Através das ondas; uma nuvem branca ao lado, isolada, / Ela voa e mergulha suas asas no azul, / Semelhante às esvanescentes penas do Anjo da Guarda).
[ii] Allen escreveu erroneamente ἠϱόεις.
[iii] Referência aos versos 276-277 dos Fenômenos de Arato: “ἄλλα μὲν ἠερόεις, τὰ δέ οἱ ἐπὶ τετρήχυνται / ἀστράσιν οὔτι λίην μεγάλοις, ἀτὰρ οὐ μὲν ἀφαυροῖς”. Na tradução de Luciana Malacarne (in Arato, Fenômenos. Cadernos de Tradução, 38, jan-jun, 2016, org. Bacarat Jr., J. C., Porto Alegre: Instituto de Letras da UFRGS): “escura em algumas partes, mas outras encrespam-se / com estrelas não muito grandes, ainda que não débeis”.
[iv] Arato afirma que o Cisne seria escuro pois não teria estrelas muito brilhantes e Hiparco aponta que isso está errado: “Πάλιν δέ Ἄρατος ἐν τοῖς ἑξῆς ἀγνοεῖ, ἐπὶ τοῦ Ὄρνιϑος λέγων — (...) — καὶ γὰρ πολλοὺς καὶ λαμπροὺς ἀστέρας ἐχει ὁ Ὄρνις, τὸν δέ ἐν τῇ οὐρα καὶ σφόδρα λαμπρόν, ἔγγιστα τε ἴσον τῷ ἐν τῇ Λύρα λαμπρῷ” (Além disso, Arato se engana quando fala sobre o Cisne: (…) A saber, o Cisne tem muitas estrelas brilhantes; a da cauda é até muito brilhante e quase igual em brilho à mais brilhante da Lira) — in Hipparchi in Arati et Eudoxi Phaenomena commentariorum libri tres, 1894, Leipzig: B. G. Teubner, pg. 63).
[v] Sérvio Honorato escreve que Cicno era amante de Faetonte, uma informação que talvez Allen tenha preferido omitir por questões da moral de seu tempo. A lenda conta que Cicno passou a prantear a morte de Faetonte junto ao rio Erídano. Para liberá-lo de sua dor, os deuses o transformaram num cisne. Mesmo assim ele mantinha a memória do incidente de Faetonte, evitando o calor do Sol. Já para Virgílio, Cicno lamentou a morte do amante até a velhice, e seus cabelos grisalhos se tornaram penas brancas quando foi transformado em cisne.
[vi] Allen se refere aqui ao fato de os gregos darem ao Cisne o nome genérico Ὄρνις, Pássaro, o que implicaria a ausência de um mito particular para a constelação.
[vii] O nome al-Ṭāʾir al-Ardūf, citado por Allen, provavelmente está incorreto, uma vez que o termo Ardūf (اردوف) não se encontra em dicionários de árabe e tampouco corresponde a uma palavra árabe, com base em buscas online. Além disso, Ideler cita para a constelação apenas a denominação al-Ṭāʾir. Não fui capaz de descobrir em que referência Allen se baseou para fazer essa citação. Contudo, noto que Ardūf contém o radical RDF tal como ردف (Ridf) citado por Ideler como nome variante para essa constelação (Allen transcreveu-o como Radif), bem como o têm al-Ridfu, um dos nomes de α Cygni segundo o Arabic-English Lexicon de Lane. Ideler aponta que o Almagesto Árabo-Latino transcreve o nome de α Cygni como Aridef. Essa confluência de palavras com o radical RDF sugere que um desses termos (ou palavra similar) esteve em uso na nomenclatura do Cisne na Arábia.
[viii] Allen transcreveu-o como al-Radif.
[ix] Apud Ideler, in Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 79: “Arided, wofür der arabisch-lateinische Almagest richtiger Aridef liest, nimmt Scaliger S. 476 für الرذاذ, El-rided, welches er in einem alten spanisch-lateinisch-arabischen Wörterbuch als die Benennung einer wohlriechenden Blume gefunden haben will. Existirt wirklich ein solches Wort in irgend einem Dialect der arabischen Sprache, so ist das obige quasi redolens um so erklärlicher.” (Arided, para a qual o Almagesto árabo-latino mais corretamente lê Aridef, foi tomada por Scaliger à página 476 como الرذاذ, El-rided, que ele afirma ter encontrado em um antigo dicionário espanhol-latim-árabe como o nome de uma flor perfumada. Se tal palavra realmente existe em qualquer dialeto da língua árabe, então o quasi redolens acima é ainda mais explicável”. Sobre o termo “quasi redolens” veja a nota [xvii] abaixo.
[x] Olor e Cygnus são sinônimos em Latim. A frase se lê como Olor: que Hiparcos chama de Cignus.
[xi] Em tradução aproximada: “que é Volante, também chamada de Galinha, que é dita Eurisim tão perfumada quanto o Lírio dentre as Íris”.
[xii] Ideler (in Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 75) supõe que Eurisim seja um erro de tradução do árabe ao latim, pela confusão do nome اورنس (Ūrnis) com uma palavra grega, que tomou como a planta Ἐρύσιμον. Nesse caso, a expressão “quasi redolens” teria sido adicionada pelo tradutor. Contudo, Ideler também aponta, páginas depois, que a tradução de Scaliger para الرذاذ (ver a nota [ix] acima) como uma flor perfumada poderia reforçar a relação entre a constelação e a planta.
[xiii] O trecho entre aspas é uma citação aos versos 45-46 do poema The Constellations, de William Culent Bryant: “The Lyre with silver cords, the Swan uppoised / On gleaming wings, the Dolphin gliding on” (A Lira com cordas prateadas, o Cisne planando / em Asas Brilhantes, o Golfinho deslizando).
[xiv] O asterismo da Cruz do Norte é o principal fator pelo qual a constelação Crux é denominada Cruz (Cruzeiro) do Sul.
[xv] Tradução metrificada dos versos 33-36 do poema New Year’s Eve, 1844 de James Russell Lowell. No original em inglês: “Orion kneeling in his starry niche, / The Lyre whose strings give music audible / To holy ears, and countless splendors more, / Crowned by the blazing Cross high-hung o’er all”.
[xvi] No original: “Yonder goes Cygnus, the Swan, flying southward, — / Sign of the Cross and of Christ unto me”. Não fui capaz de localizar nem o poema original citado por Allen, nem identificar seu autor. Com base no índice de autores fornecido por Allen ao fim do livro, Smith deve ser George Smith, porém este é assiriologista e não poeta.
[xvii] Apud Birmingham, J. (1879), The Red Stars: Observations and Catalogue, Trans. of the Royal Irish Acad., v. 26, pp. 249-354. Essa região de estrelas vermelhas é um reflexo do avermelhamento causado pela poeira interestelar nessa região da Via Láctea. É justamente aí que encontramos a Fenda de Aquila (Aquila Rift), uma área de grande extinção interestelar causada por uma nuvem molecular próxima ao Sol.
[xviii] Parapegma (pl. parapegmata) é qualquer recurso utilizado para traçar uma data de ocorrência cíclica. No caso desse texto, a migração do milhafre é o parapegmata associado ao período do ano e, por conseguinte, à uma configuração estelar.
[xix] Os dados atuais indicam um movimento próprio total de 2,01 milissegundos de arco por ano.
[xx] No texto original, esse parágrafo contém algumas informações adicionais sobre o movimento de Dened e sua aproximação ao Sol. Retirei-o desta versão porque essas informações se baseiam em dados de velocidade e distância muito ultrapassados.
[xxi] A frase entre aspas é uma citação a Clerke, A. M. 1890, in System of Stars, Londres: Longmans, Green and Co., pg. 157. No original: “perhaps the most lovely effect of colour in the heavens”.
[xxii] Anthelme Voituret, também conhecido como Antelmo de Dijon, padre Antelmo ou Dom Antelmo, viveu entre 1618 e 1683 na França.
[xxiii] Allen informa ainda que John Russell Hind teria localizado uma estrela de magnitude 10.5 em 1852 que poderia corresponder ao remanescente da Nova 1670. Hetherington, B. (1970, in Nova Vulpeculae 1670, Journal of the British Astronomical Association, v. 80, p. 381) aponta que tal estrela apresentava magnitude 12 em 1861 e que várias buscas posteriores não mais tiveram sucesso em encontrar uma contrapartida óptica para a nova.
[xxiv] Isso se deve a que o Braço Local (também chamado de Esporão de Órion) cruza a dianteira do anel galactocêntrico do Sol na região do Cisne, levando a uma grande concentração de estrelas jovens e regiões de formação estelar nessa área.
[xxv] Trata-se do tipo IV na antiga classificação estelar de Angelo Secchi, que corresponde às atuais estrelas carbonadas.
[xxvi] Em A Catalogue of the Stars of the IV. Type (Espin, T. E. 1889, Month. Not. Roy. Astr. Soc. 49, p. 364), Espin lista 113 estrelas que apresentam espectro de quarto tipo. De sua tabela é possível verificar que há um grande número delas ao redor das ascenções retas 5h e 20h, aproximadamente aquelas que correspondem a Sadr e aos Chifres do Touro. Essa concentração se deve apenas a presença de regiões de formação estelar e associações estelares próximas ao Sol em Cisne e no Touro; para os limites de magnitude das observações de Espin, tais foram as regiões onde um maior número de estrelas carbonadas foi encontrado. Atualmente consideramos que a distribuição espacial das estrelas carbonadas se concentre em torno do plano galáctico (veja Galactic distributions of carbon- and oxygen-rich AGB stars revealed by the AKARI mid-infrared all-sky survey, Ishihara D. et al. 2011, Astron. & Astroph., 534, A79).
[xxvii] Allen superestimou esse intervalo de tempo como 15000 anos.
[xxviii] Apud Ideler, in Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 79-80. No original: “es sey nun, daſs man den Fuſs des Pegasus bis zu diesem Stern verlängert, oder sich in dieser Gegend die Füſse des vollständigen Pferdes, jenes Sternbildes, gedacht hat, das einige Araber, wie wir unten sehn werden, zwischen den Pegasus und den Schwan eingeschoben haben”.
[xxix] No original, Allen cita ω3 Cygni como Ruchba, com base no texto de Ideler: “und für 3 ω ركبة الدجاجة , Rukhba el-dedschâdsche, Knie der Henne” (in Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 79). Todavia, não existe uma estrela ω3 Cygni na base de dados CDS. Nas pranchas originais de Bayer no Uranometria, nota-se que mesmo a estrela ω Cygni não está claramente marcada (ao contrário de outras). Ideler menciona três estrelas designadas como ω. Há na região indicada por Bayer duas estrelas próximas de 5.a magnitude, reconhecidas como ω1 e ω2 Cygni, além de uma terceira de magnitude 5⅔ (43 Cygni), 40′ a noroeste de ω1 Cygni. Concluo ser esta a terceira estrela mencionada por Ideler.
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