Corona Borealis


Looke ! how the crowne which Ariadne wore
Upon her yvory forehead, (...)
Being now placed in the firmament,
Through the bright heavens doth her beams display,
And is unto the starres an ornament,
Which round about her move in order excellent. [i]
The Faerie Queene, de Spenser.


CORONA BOREALIS

Esta é a Coroa Boreal ou Coroa do Norte, que os ingleses chamam de Northern Crown, os franceses de Couronne Boréale, os alemães de Nördliche Krone, e os italianos de Corona Boreale.
Coroa Boreal, na representação de Hevelius

Era a única coroa estelar conhecida por Eratóstenes e os antigos gregos, mas eles a chamavam de Στέφανος, uma Guirlanda; e seus sucessores, que começaram a identificar a Coroa do Sul, aditaram ao título da original os distintivos τρῶτος e βόρειος para representar sua prioridade e posição ao norte. Os romanos adotaram o nome e adjetivos gregos em Corona borea, borealis e septentrionalis; e além disso a conheciam como Coroa de Vulcano feita ex auro et indicis gemmis (de ouro e gemas da Índia); ou Coroa de Anfitrite, provavelmente de sua proximidade no céu ao Golfinho associado a essa deusa. Mas ela geralmente era Ariadnaea Corona, Corona Ariadnae, Corona Ariadnes, Cressa Corona, Corona Gnosida, Corona Cretica e Gnossis, variada por Minoia Corona e Minoia Virgo que se encontra em Valério Flaco e Germânico, e Ariadnaea Sidus em Ovídio; essas designações clássicas referem-se a Ariadne, ou a seu pai Minos, rei de Creta, e a seu local de nascimento naquela ilha, em Cnossos, onde Teseu a desposou. Quando foi abandonada por ele, tornou-se a esposa de Liber Bacchus, e assim passou a usar o nome Libera; já a coroa que Teseu — ou, segundo dizem alguns, a deusa Vênus — lhe tinha dado foi transferida para o céu, onde se tornou nossa constelação; ainda no século III aC, Apolônio de Rodes escrevia sobre isso em As Argonauticas:

(…) e no meio do céu, como sinal
uma coroa estrelada, chamada Ariadne,
toda noite gira entre as constelações celestiais. [ii]

Coroa Boreal em duas pranchas de Bode: à direita de Hércules e à esquerda do Boieiro.

Em seu poema Lamia, Keats mudou-lhe o nome para Ariadne’s tiar (Tiara de Ariadne); e outros representaram-na como os Cabelos Enrolados de Ariadne como companhia para as Tranças Escorridas de Berenice. Alguns autores, contudo, — entre os quais Ovídio no seu Os Fastos, — consideravam que a própria Ariadne tinha sido transformada em constelação; e Elizabeth Browning, em How Bacchus comforts Ariadne:

(…) Ou escolherás
Uma glória mais insuperável? — fique com tudo —
Uma casa celestial, o próprio Kronion como parente. [iii]

Esta lenda de Ariadne e sua Coroa parece ter sido registrada pela primeira vez por Ferécides de Siro no começo do século V aC.
Ariadne abandonada por Teseu. Óleo sobre tela, de Angelica Kauffmann (1774).

Dante, referindo-se ao infortúnio de Ariadne, denominou essas estrelas como la Figliuola di Minoi (a Filha de Minos),[iv] dando muito destaque a seu pai,[1] quem “era tão conhecido pela justiça que chegou a ser chamado de Favorito dos Deuses, e após a morte foi nomeado Juiz Supremo nas Regiões Infernais”.[v]

Em todas as épocas, a Coroa foi uma constelação favorita, tanto popularmente quanto na literatura, e poucos de nossos grupos estelares tiveram tantos títulos, embora o inglês da Idade Média usualmente escrevesse o nome de seu portador como “Adrian” e “Adriane”.

Chaucer tem essa estranha passagem sobre a constelação:

And in the ſygne of Taurus men may ſe
The ſtonis of her corowne ſhynè clere; [vi]

mas isso parece incompreensível, a menos que se deva a alguma confusão na mente do poeta com a localização de Corônis das Híades.[vii] Estas, no entanto, situam-se no céu exatamente opostas à Coroa. Essa oposição levou Skeat a engenhosamente sugerir que Chaucer pode ter desejado dizer que quando o Sol estava em Touro, a Coroa era especialmente perceptível no céu da meia noite, como é exatamente o caso.
Coroa Boreal, no canto superior direito, no Atlas de Burritt.

O “Arquipoeta da Inglaterra”, Edmund Spenser, escreveu no Shepheardes Calender [2] de 1579:

And now the Sonne hath reared up his fyriefooted teme,
Making his way betweene the Cuppe and golden Diademe; [viii]

pois um dos antigos títulos da Coroa era Diadema Coeli (Diadema do Céu).

O título Wreath of Flowers (Guirlanda de Flores), ocasionalmente usado para ela, é meramente o significado primitivo das palavras Στέφανος e Corona.
Bayer representou a Coroa Boreal como uma guirlanda de flores.

Oculus foi outro nome desta constelação — um termo comumente usado na poesia e prosa pós-augustana para qualquer luminar celeste; e Prudêncio [3] chamou-a de Maera, a Brilhante ou Faiscante.

Como a ardens corona das Geórgicas, Virgílio incluiu-a com as Plêiades como um marco do calendário, na seguinte passagem:

Mas se o chão lavrares
Para trigadas e robusta escandea,
Se pretendes colhêr sómente espigas,
As matinaes Atlantides se escondão
E da coroa ardente a gnosia estrella
Do sol se aparte, antes que dês aos sulcos
A devida semente, confiando,
D’esta maneira, á terra constrangida,
Do anno as esperanças. [ix]

Columela, de modo semelhante, chamou-a Cnosius Ardor Bacchi,[x] e Naxius Ardor, de Naxos, onde Ariadne foi abandonada por Teseu; e particularmente designou sua lucida como clara stella.
Coroa Boreal no planisfério de Coronelli. Vemos que a constelação, coincidentemente, se situa entre duas figuras humanas (Hércules e Boieiro) e duas figuras reptílicas (Serpente e Dragão).

Suas estrelas também eram bem favorecidas pelos astrólogos, o que Manílio expressou desta forma:

O nascido sob a Coroa cultivará um jardim ornado de brilhantes flores,
E um outeiro azulado pelas oliveiras ou verde por sua grama.
Plantará pálidas violetas e purpúreos jacintos, e lírios,
E papoulas que imitam o brilho das cores tírias, e a rosa primaveril,
Florescendo rubicunda de seu vermelho sangue,
E pintará os prados com cores naturais. Ou bem entrelaçará
Flores de variados tipos e as disporá em guirlandas,
Imitando, por esse meio, a constelação sob a qual nasceu,
E coroas fabricará semelhantes à da menina de Cnosso. [xi]

Bayer escrever sobre ela Azophi Parma, pelo qual ele quis dizer que al-Ṣūfī a chamou de Escudo;[xii] mas a maioria dos astrônomos arábios traduzia o título clássico como al-Iklīl al-Shamāliyyah, que se degenerou em Acliluschemali e Aclushemali, e apareceu em Ulugh Beg apenas como Iklīl.

Mas na primitiva Arábia havia uma figura diferente nessa região do céu, al-Fakkah, o Anel Quebrado ou Prato Quebrado, que o tradutor de Ulugh Beg transcreveu como Phecca, e outros como Alphaca, Alfecca, Alfacca, Foca, Alfeta e Alfelta; enquanto Riccioli usou Alphena Syrochaldaeis (siriocaldeia); e Schickard, Alphakhaco.
Nessa página do Livro das Estrelas Fixas, de al-Ṣūfī, vemos a Coroa Boreal como um círculo quebrado (canto inferior esquerdo).

Hyde citou Qaṣʿat al-Ṣaʿālīk e Qaṣʿat al-Masākīn, a Vasilha dos Vigaristas ou Vasilha dos Pedintes; os persas tinham o mesmo em Kāsah Darwīshān, a Vasilha dos Dervixes, ou Kāsah Shekesteh, a Vasilha Rompida, pois o círculo está quebrado. Bullialdus latinizou alguns desses títulos em seu Discus parvus confractus, evidentemente retirado do Πινάκιν κέκλασμένον, o Pequeno Prato Quebrado, de Chrysococcas, o qual, contudo, deve ser lido Πινάκιον.

As Tábuas Afonsinas têm Malfelcarre, “dos caldeus”, e Riccioli, Malphelcane, consideradas por Ideler como uma forma degenerada do árabe al-Munīr al-Fakkah, a Resplandecente do Anel Quebrado; embora Buttmann derive-a de Al Malf al Khatar, dando-lhe como tradução a Volta da Guirlanda ou a Junção da Coroa;[xiii] e Scaliger sugira Mālf al Qurrah, de significado aproximado, que mais corretamente deveria ser escrito al-Milaff al-Kurrah.[xiv] Bayer escreveu Malphelcarre quod est sertum pupillae, o Círculo da Pupila do Olho; e, embora ele não explique a origem, pode tê-la representado melhor do que julgava, pois Pupilla é o equivalente latino de Κόρη, o qual, como nome próprio, era um título de Perséfone. No Astronomie de Lalande, Dupuis devotou muito espaço à identificação desta deusa, a Proserpina dos romanos, com o caldeu Phersephon, formado pela junção das palavras Phe’er, Coroa, e Serphon, Nortenha. Portanto, se Dupuis estiver correto, a origem desta figura, bem como de seu nome, pode estar muito antes dos dias cretenses.

Diz-se que os hebreus a denominavam ʿAṭārōth, a Coroa,[xv] — talvez da rainha semítica Cushiopeia; e os sírios, Ashtaroth, sua Astarte, a Ἀφροδίτη dos gregos e a Vênus dos romanos; mas tudo isso parece muito incerto, tanto quanto é a conjectura de Ewald de que ela correspondesse ao Mazzārōth bíblico.

Blake cita-lhe o nome Vichaca, usado por Flammarion, mas não oferece explicações.

Reeves catalogou-a como o asterismo chinês Guàn Suǒ, a Correia Enrolada.

Nas histórias célticas, esse grupo estrelar era Caer Arianrod, a Casa de Arianrod ou Ethlenn, a irmã de Gwydyon e filha de Don, o Rei das Fadas, e seu nome guarda uma singular semelhança com o da clássica dona da Coroa.

Os índios Shawnee conheciam-na como as Irmãs Celestes, sendo a mais brilhante dentre elas a esposa do caçador Águia Branca, nossa Arcturus. E os Skidi viam a Coroa como um Concelho de estrelas, cuja presidência atribuíam a Polaris.

Caesius disse que ela representava a Coroa que Assuero colocou sobre a cabeça de Ester,[xvi] ou a Coroa do rei Amonita, que pesava um talento de ouro,[xvii] ou ainda a Coroa de Espinhos usada por Cristo.
No Coelum Stellatum Christianum, a Coroa Boreal é representada como a Coroa de Espinhos de Cristo.

A Aratea de Leiden mostra-a como uma guirlanda de louros, e desta forma, ou como uma típica coroa, ela aparece nos mapas. No Firmamentum Firmianum, uma obra de 1731, dedicada ao Príncipe-Arcebispo de Salzburgo, da família Firmian, a representação é a da Corona Firmiana, com chifres de veado do brasão dessa família. Mas uma exceção à regra pode ser observada em uma ilustração, existente nas Tábuas Afonsinas originais, de um círculo simples de três quartos, totalmente diferente de uma coroa ou guirlanda. Proctor sugeriu que nos primórdios da astronomia, ela talvez formasse o braço direito do Boieiro.

Ela é de interesse para o astrônomo por abrigar muitas binárias próximas, e é um objeto favorito entre observadores jovens, que geralmente a conhecem como Coroa de Ariadne. Certamente é muito mais parecida com o nome que a batiza do que normalmente é o caso com nossas figuras celestes; e é igualmente sugestiva aos nativos australianos sua semelhança a um bumerange, donde seu nome entre eles: Woomera.

Aí apareceu muito repentinamente, 58′ ao sul de ε, em 12 de maio de 1866, a célebre Blaze Star (Estrela Fulgurante) como um astro de 2.a magnitude visível a olho nu por apenas oito dias, diminuindo, com algumas flutuações, para a magnitude 10 à taxa de meia magnitude por dia, mas subindo novamente para a 8.a, onde ainda permanece como T Coronae Borealis, uma estrela amarela pálida, ligeiramente variável. Embora classificada nessa época como uma nova, Argelander já a tinha mapeado em 18 de maio de 1855 e a notou novamente em 31 de março de 1856, provavelmente em sua magnitude normal. Foi a primeira variável desse tipo a ser “estudada pelo método químico universal” [xviii] — a espectroscopia. Hoje sabemos que ela é uma estrela simbiótica.

Próximo a sua posição, Variabilis Coronae (Variável da Coroa), atualmente designada como R Coronae Borealis, foi descoberta por Pigott em 1795, ainda apresentando uma variação entre as magnitudes 5.8 a 13, mas com muita irregularidade.

Charles Young repete o βαγδει de Cassiopeia como um macete para memorização da posição das estrelas desta constelação. A mais extrema ao norte é θ, mas daí segue nesta ordem β, α, γ, δ, ε e ι. Elas formam um semicírculo quase perfeito a 20° a nordeste de Arcturus.

Argelander cataloga nesta constelação um total de 27 estrelas visíveis a olho nu; e Heis, 31.

Pois seu círculo é dominado por uma só estrela,
que resplandece grandiosa no centro, à frente,
e matiza com seu brilho intenso a pálida luz da constelação.
Fulge, assim, o monumento à abandonada menina de Creta. [xix]
Astronomicon, de Manílio

α, 2.4, branco brilhante.


Alphecca, a Alphaca do Atlas de Burritt de 1835, era para Ulugh Beg al-Nayyir al-Fakkah, a Brilhante do Anel Quebrado, sendo este Nayyir o equivalente ao latim lucida. Este nome aparece degenerado como Nir al Feccah no catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit.

Bayer asseverou que os árabes conheciam esta estrela como Pupilla, que também aparece na nomenclatura da constelação, com uma possível explicação para sua derivação; mas como a palavra pertence à Lira, e certamente não é árabe, devemos recorrer a primeiros princípios e ligar sua origem à clássica Papilla. [xx]

Munir, anotado em Bayer como dos “babilônios”, — segundo o qual ele provavelmente intencionava referenciar-se àqueles versados em astrologia, — é dos árabes e sinônimo ao seu Nayyir. Chilmead forneceu-o como Munic.

Nas Geórgicas de Virgílio, ela era a Gnosia Stella Coronae (Estrela da Coroa de Cnossos). [xxi]

Gemma e Gemma Coronae (Gema da Coroa) não eram usados nos tempos clássicos, mas são títulos tardios, talvez do gemmasque novem que Vulcano usou para fabricar a Coroa de Ariadne,[xxii] em Ovídio; mas Spence afirma, em Polymetis, que a palavra deveria ser tomada em seu sentido original de um Broto, referenciando-se a botões de flores fechados e folhas da coroa floral, em acordo portanto com a primitiva representação da figura. O Gema, que ocasionalmente é encontrado em algumas fontes, sem sombra de dúvida provém de alguma omissão tipográfica mais antiga.

Alphecca é a mais central dentre os sete membros mais brilhantes desse agrupamento, e em tempos não muito remotos era a Margarita Coronae, a Pérola da Coroa, ocasionalmente transformada em Santa Margarida. Ela marca o laço, ou nó, da fita ao longo da qual estão fixados os botões, flores ou folhas da guirlanda mostrada nas suas primeiras representações pictográficas com duas pontas longas e salientes.

Ela na verdade é um sistema binário eclipsante formado por uma estrela de tipo A0 e outra de tipo G5, que se afasta de nós a uma velocidade de quase 2 quilômetros por segundo.

Ela marca o ponto radiante dos Coronídeos,[xxiii] a chuva de meteoros visível entre 12 de abril a 30 de junho.

β, 3.7,

é Nusakan, presente na 2.a edição do Catálogo de Palermo. Poderia se tratar de uma corruptela do Masākīn usado para a constelação, embora mais recentemente Paul Kunitzsch a derive de al-Nasaqān, as Duas Linhas, asterismos que teriam sido compostos por alinhamentos de estrelas em Hércules, Serpente e Ofiúco.

No âmbito da campanha IAU100 NameExoWorlds, sua estrela HD 145457 foi batizada pelos japoneses e recebeu o nome Kamuy, que representa uma entidade espiritual do povo Ainu; seu planeta HD 145457b recebeu o nome Chura, uma palavra da língua Ryukyuan-Okinawan que significa Beleza Natural.

γ, η e σ, embora não possuam nomes, são todas binárias interessantes para a observação.


Notas de Rodapé (do texto original)


[1] Dante representou-o “com uma cauda (colla coda), tornando-o, segundo a moda medieval, em um demônio cristão”. Era também uma longa cauda, pois lemos: A Minos me arrastou, que sem mais prazo, da cauda em voltas oito o dorso enreda. (Nota do Tradutor: versos 124-125, Canto XXVII, Inferno, Divina Comédia de Dante, na tradução de José Pedro Xavier Pinheiro. Allen usou a tradução de H. W. Longfellow em The Divine Comedy of Dante Alighieri, vol. I, pg. 170: Who bore me unto Minos, who entwined eight times his tail about his stubborn back. Dessa mesma tradução, como nota à pg. 235.)
[2] Pode não ser do conhecimento geral que este foi publicado inicialmente como Twelve Aeglogues, Proportionable to the Twelve monethes.
[3] Aurélio Clemente Prudêncio, poeta romano cristão do nosso século IV.


Notas Explicativas da Tradução


[i] Excerto da Estrofe 13, Canto X, Livro VI do The Faerie Queene de Edmund Spencer. Em tradução livre: “Olha! Como a coroa que Ariadne usava / Sobre sua testa ebúrnea, (…) / É agora colocada no firmamento, / Através dos céus brilhantes, seus feixes são exibidos, / E é para as estrelas um ornamento, / Ao redor do qual elas se movem em ordem excelente”.
[ii] Versos 1002-1004 do Livro III de As Argonáuticas, de Apolônio de Rodes. Tradução de Fábio Gerônimo Mota Diniz in A Passagem do Cetro: Aspectos dos Personagens Héracles e Jasão na Argonáutica de Apolônio de Rodes, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras, Unesp/Araraquara, pg. 82. Allen usou a tradução ao inglês feita por Ekins, Fawkes e Preston: “Still her sign is seen in heaven / And midst the glittering symbols of the sky / The starry crown of Ariadne glides” (Seu sinal ainda é visto no firmamento / E em meio aos brilhantes símbolos do céu / Desliza a coroa estrelada de Ariadne). Compare com a tradução ao inglês feita por R. C. Seaton: “and, as a sign in mid-sky, a crown of stars, which men call Ariadne's crown, rolls along all night among the heavenly constellations”. No original grego: “(...) μέσῳ δέ οἱ αἰθέρι τέκμαρ / ἀστερόεις στέφανος, τόν τε κλείουσ᾽ Ἀριάδνης, / πάννυχος οὐρανίοισιν ἑλίσσεται εἰδώλοισιν”.
[iii] Versos 28-30 do poema How Bacchus comforts Ariadne, de Elizabeth B. Browning. No original: “Or wilt thou choose / A still surpassing glory? — take it all — / A heavenly house, Kronion's self for kin”. Kronion (filho de Cronos) era um dos epítetos de Zeus.
[iv] Divina Comédia, Paraíso, Canto XIII, versos 13-15: “aver fatto di sé due segni in cielo, / qual fece la figliuola di Minoi / allora che sentì di morte il gelo”. Na tradução ao português feita por José Pedro Xavier Pinheiro: “Se em signos dois tais astros considera / Iguais à c’roa que no céu fulgura, / Dês que Ariadne à morte se rendera”.
[v] Citação à nota de Henry W. Longfellow em The Divine Comedy of Dante Alighieri, vol. I, pg. 235. No original: “was so renowned for justice as to be called the Favorite of the Gods, and after death made Supreme Judge in the Infernal Regions”.
[vi] Versos 338-339 do poema The Legende of Ariadne of Athens, de Chaucer. Em tradução aproximada: “E no signo do Touro os homens podem ver as gemas de sua coroa brilharem claramente”.
[vii] Corônis (Κορωνίς) era o nome de uma das ninfas conhecidas como Híades.
[viii] Versos 17-20 do capítulo Julho do extenso poema The Shepheardes Calender, composto por Edmund Spenser e publicado em Londres em 1579. Em tradução aproximada, os versos citados dizem: “E agora o Sol empina seu bando de pés de fogo, abrindo caminho entre a Taça e o Diadema dourado”.
[ix] Versos 219-224 do Livro I, das Geórgicas de Virgílio, na tradução de João Félix Pereira. Allen usa a tradução de Thomas May: “But if thou plow to sowe more solid graine, / A wheat or barley harvest to obtaine, / First let the morning Pleiades be set, / And Ariadnes shining coronet, / Ere thou commit thy seed to ground, and there / Dare trust the hope of all the following yeare”. No original latino: “At si triticeam in messem robustaque farra / Exercebis humum solisque instabis aristis, / Ante libi Eoae Atlantides abscondantur, / Gnosiaque ardentis decedat stella Coronae, / Debita quam sulcis committas semina quamque / Invitae properes anni spem credere terrae”. Sobre o período do ano a que esse evento marca, João Félix Pereira oferece a seguinte nota: “A data do estado do céu, a que o poeta se refere, isto é, do ocaso cósmico das Atlântides ou Plêiades e do nascimento helíaco da Coroa Gnosia ou Coroa de Ariadne era, naquele tempo, um mês depois do equinócio do outono” (in As Geórgicas de Virgílio, trad. João Félix Pereira, Lisboa, 1875, pg. 13).
[x] Allen anotou erroneamente Gnosia Ardor Bacchi. Referência ao verso 52 do livro X do De Re Rustica: “Expectetur hiems, dum Bacchi Cnosius ardor” (espere pelo inverno, quando a paixão cnossiana de Baco). Noutras versões desta obra, o mesmo verso aparece escrito como “Expectetur hiems, dum Bacchi naxius ardor”.
[xi] Excerto dos vv. 256-264 do Livro V, do Astronomicon de Manílio. Tradução de Marcelo Vieira Fernandes (in Manílio — Astronômicas: Tradução, Introdução e Notas, Dissertação de Mestrado, PPG Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, 2006). Compare com o texto latino: “ille colet nitidis gemmantem floribus hortum / caeruleumque oleis viridemve in gramine collem. / pallentis violas et purpureos hyacinthos / liliaque et Tyrias imitata papavera luces / vernantisque rosae rubicundo sanguine florem / conseret et veris depinget prata figuris. / aut varios nectet flores sertisque locabit / effingetque suum sidus similisque coronas / Cnosiacae faciet”. Allen usou a tradução versificada feita por Thomas Creech que não corresponde estritamente ao original grego devido às demandas da versificação: “Births influenc'd then shall raise fine Beds of Flowers, / And twine their creeping Jasmine round their Bowers ; / The Lillies, Violets in Banks dispose, / The Purple Poppy, and the blushing Rose : / For Pleasure shades their rising Mounts shall yield, / And real Figures paint the gawdy Field : / Or they shall wreath their Flowers, their Sweets entwine, / To grace their Mistress, or to Crown their Wine” (Os que nascerem sob sua influência, então, criarão belos canteiros de flores e enrolarão seu rastejante jasmim ao redor de seus caramanchões; e disporão em bancos os lírios e violetas, a papoula púrpura e a rosa ruborizada: por prazer as sombras devem ceder suas crescentes elevações, e figuras reais pintarão o festivo campo: ou eles irão enfeitar suas flores, e entrelaçar suas doçuras, para agraciar sua Senhora, ou para coroar seu vinho).
[xii] Parma é o nome pelo qual determinado escudo romano circular era conhecido.
[xiii] Al Malf al Khatar não parece corresponder a um nome árabe válido, por isso foi deixado na grafia do texto original de Allen. A primeira parte, Malf, provavelmente é Milaff ou Malaff (ملف), mas não foi possível identificar Khatar.
[xiv] Segundo Allen, Scaliger teria interpretado Malphelcare como degeneração de Al Malif al Kurra. Todavia a grafia árabe usada por Scaliger foi مالف القرة (Mālf al Qurrah). Qurrah parece não ter significado adequado para representar a Coroa Boreal. Provavelmente por isso, Allen leu-o como Kurrah (كرة), que contudo significa esfera, bola, não exclusivamente um círculo.
[xv] A rigor, עטרות (ʿAṭārōth) deveria significar “coroas” ou “guirlandas”. Há eventualmente um problema em usar esse nome no plural para nomear uma figura que representaria uma coroa isolada no céu.
[xvi] Referência a Ester 2:17.
[xvii] Referência a I Crônicas 20:1-2.
[xviii] A frase entre aspas é uma citação a Agnes Mary Clerke in A Popular History of Astronomy during the Nineteenth Century, 3.a ed., 1893, Londres: Adam & Charles Black, pg. 478. A citação feita por Allen é provavelmente fruto de algum engano uma vez Agnes Clerke a usou para T Aurigae (à época chamada Nova Aurigae), e não para T Coronae Borealis.
[xix] Excerto dos vv. 367-370 do Livro I, do Astronomicon de Manílio. Tradução de Marcelo Vieira Fernandes (in Manílio — Astronômicas: Tradução, Introdução e Notas, Dissertação de Mestrado, PPG Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, 2006). Compare com o texto latino: “nam stella vincitur una / circulus, in media radiat quae maxima fronte / candidaque ardenti distinguit lumina flamma. / Cnosia desertae fulgent monumenta puellae”. Allen usou a tradução versificada feita por Thomas Creech que não corresponde estritamente ao original grego devido às demandas da versificação: “One plac’d i’ th’ front above the rest displays / A vigorous light, and darts surprizing rays — / The Monument of the forsaken Maid” (Uma posta acima das outras mostra / uma luz vigorosa, e lança raios surpreendentes — / O Monumento à donzela abandonada).
[xx] Papilla é o nome dado a algo que se pronuncia como um pequeno bico arredondado, incluindo um mamilo. Allen parece sugerir que o nome Pupilla deva ser uma degeneração de Papilla, provavelmente porque esta estrela se pronuncia destacada das demais no meio da Coroa Boreal.
[xxi] Verso 222 do Livro I das Geórgicas de Virgílio: “Gnosiaque ardentis decedat stella Coronae” (E que decaia a ardente estrela da Coroa de Cnossos).
[xxii] Referência aos vv. 515-516 do Livro III de Os Fastos, de Ovídio: “Dicta facit, gemmasque novem transformat in ignes. / Aurea per stellas nunc micat illa novem”. Antônio Feliciano de Castilho traduziu essa passagem assim, em 1862: “Preenche o dito: / as nove gemas que a marchetam, muda-as / em nove estrelas, com que brilha a c’rôa”. Allen interpretou de forma aparentemente errada os versos latinos, quando escreveu: “perhaps from Ovid’s gemmasque novem that Vulcan combined with his auro to make Ariadne’s Crown”. No poema, o termo Aurea se refere à coroa: (nunc illa micat aurea per novem stellas), e não a Vulcano.
[xxiii] Essa chuva é mencionada in Denning, W. F. 1885, Astronomical register, vol. 23, p.174-176. Tratando de chuvas históricas, Arlt, R. et al. 1999, Month. Not. of the RAS, v. 308, p 887–896 falam de uma de mesmo nome, mas ligeiramente deslocada em radiante. As listas modernas não a incluem.

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