Cassiopeia


Um trono no qual Cassiopeia se sente
À luz inferior, para todo o bem de sua filha. [i]
Paraphrases on Nonnus, de Elizabeth B. Browning


CASSIOPEIA

Também ocasionalmente escrita como Cassiope ou Cassiepeia, é uma das constelações mais antigas e mais popularmente conhecidas, e seu trono, “the shynie Cassiopeias chaire”,[ii] é um objeto familiar mesmo aos observadores mais jovens. Ela é também conhecida como o W Celeste quando se encontra abaixo do polo, e como o M Celeste quando acima dele.

Cassiopeia, no Atlas de Hevelius

Higino, escrevendo Cassiepia, conta que a figura estava presa a seu trono e, assim, protegida de cair dele quando ficasse de cabeça para baixo ao girar ao redor do polo — essa área do céu, em particular, fora escolhida pelos inimigos da rainha, as ninfas do mar, para lhe proporcionar uma eficaz lição de humildade, pois um local mais próximo ao equador a manteria quase na vertical. Arato diz sobre isso:

a infeliz Cassiopeia; porém não mais com decoro suas partes
aparecem fora do trono, os pés e os joelhos apontam para cima,
mas, igual a uma acrobata, ela mergulha de cabeça. [iii]

Para uma mulher acostumada ao estilo do Oriente, suas pernas estendidas também devem ter aumentado seu desconforto.

Cassiopeia, no Atlas de Pardies

Eurípides e Sófocles, do quinto século anterior à nossa era, escreveram sobre ela, e todos os gregos davam muita importância à constelação, conhecendo-a como Κασσιέπεια e Ἡ του θρόνου, Ela do Trono. Mas houve uma época na Grécia em que era chamada de Chave Laconiana, de sua semelhança com esse objeto, cuja invenção foi atribuída nos tempos clássicos àquele povo [1] embora Plínio a reivindique para Teodoro de Samos na Cária, 730 aC, donde vem outro título para estas estrelas: Carion (Cário). O sábio Huetius (Huet, bispo de Avranches e tutor do delfim Luís XV) disse mais especificamente que essa chave estelar representava aquela descrita por Homero como uma foice na porta do armário de Penélope:

(…) pelo ebúrneo cabo
Na mão toma carnuda a chave aênea
Curva e artefata, (...) [iv]

e Arato escreveu sobre a constelação:

Tal como quando a uma porta de duas folhas,
fechada por dentro, com uma clava golpeiam e empurram as suas barras. [v]

Mas mesmo Ideler não entendeu esse símile, embora o delineamento de suas principais estrelas mostre bem a forma dessa chave inicial.

Cassiopeia, na Uranometria de Bayer

Os romanos transliteraram o nome próprio grego, que é o mesmo que ainda usamos, mas também conheciam-na como Mulier Sedis, a Mulher do Trono; ou simplesmente como Sedes (Trono ou Assento), qualificado por regalis ou regia; e como Sella e Solium — ambas têm o significado de Assento ou Cadeira. A afirmação de Bayer de que Juvenal a chamou de Cathedra mollis (Cadeira Macia) foi um erro devido a uma leitura incorreta do texto original.[vi] O nome usado por Hyde, Inthronata, foi repetido por autores subsequentes; e Cassiopeia’s Chair (Trono de Cassiopeia) é um nome que crianças usam para ela no hemisfério norte.

Representação de Cassiopeia no livro de Naṣīr al-Dīn al-Tūsī

Os arábios a chamavam de al-Dhāt al-Kursī, a Dama no Assento, — o Dhath Alcursi de Chilmead, — uma vez que o nome próprio grego não tinha qualquer significado para eles; mas os antigos árabes tinham aqui uma figura muito diferente, que de forma alguma estava ligada à Dama como geralmente se supõe — Kaff al-Khaḍīb, a grande Mão Tingida,[vii] da qual as estrelas brilhantes marcavam as pontas dos dedos; embora nisto incluíssem o grupo nebuloso situado na mão esquerda de Perseu. Chrysococcas transcreveu-o em baixo grego como Χείρ βεβαμένη; e por vezes era a Mão das Plêiades — por estar um tanto próxima delas, enquanto Smyth afirmou que na Arábia ela levava até o título desse aglomerado, al-Thurayy, por sua figura comparativamente condensada.

Os antigos árabes adicionalmente formaram o asterismo dos Dois Cães a partir de Cassiopeia e Cefeu, donde deve vir o Canis listado por Bayer; mas seu Cerva, uma Corça, não é explicado, embora Lalande informe que a esfera egípcia de Petosíris continha um Veado ao norte dos Peixes. Al-Tizīnī via aqui a Sanām al-Nāqah, a Corcova do Camelo;[viii] daí o nome Shuter para esta constelação encontrado em Naṣīr al-Dīn al-Tūsī, e comum para esse animal na Pérsia.

Cassiopeia, nas Tábuas Afonsinas
As Tábuas Afonsinas e o Almagesto Árabo-Latino descrevem a figura como habens palmam delibutam, isto é “portando a palma consagrada”, de alguma ilustração inicial que ainda persistia; mas como a palma, símbolo clássico da vitória e sinal cristão do martírio, foi associada a essa rainha pagã não está claro. Da mesma forma, Lalande citou Siliquastrum, o nome de uma árvore da Judeia, referindo-se ao galho na mão da rainha.

O título hebraico que Bayer lhe atribuiu, Aben Ezra, provém de um engano de sua leitura das notas de Scaliger. [ix]

Lalande citou Harnacaff das Metamorphoses of Vishnu, mas os hindus posteriormente passaram a denominá-la Casyapi, evidentemente de seu nome grego clássico

Grimm lhe atribuiu o nome lituano Jostandis, de Josta, uma Cinta, embora sem explicação.

Como a figura jaz quase totalmente sobre a Via Láctea, os celtas viram nela seu Llys Dôn, a Corte de Dôn, seu rei das fadas e pai do personagem mítico Gwydion,[2] que emprestava o nome àquele grande círculo. [x]

O Wallenstein de Schiller, tal como versificado por Coleridge, traz

That one
White stain of light, that single glimmering yonder,
Is from Cassiopeia, and therein
Is Jupiter — [xi]

um erro por parte do tradutor que intrigou muitos, pois “therein” deveria ser “beyond” ou “in that direction”,[xii] mas mesmo assim o que tinha em mente o poeta?

Cassiopeia, no Urania's Mirror
de Sidney Hall

 Na antiga astronomia chinesa, de acordo com Williams, a constelação recebia o nome Gé Dào (o Corredor), embora Reeves limite este título ao asterismo formado pelas estrelas mais débeis ν, ξ, ο e π — e assim é reconhecido atualmente; e, posteriormente, de suas estrelas principais se formaria o asterismo Wáng Liáng, nome de um célebre condutor de bigas do reino Qín, por volta de 470 aC. Mas considerando os limites da figura estelar ocidental, seu nome chinês nos dias atuais é Xiān Hòu Zuò, a Constelação da Rainha Imortal.

Como uma figura estelar no Egito, Renouf a identificou com a Perna, assim mencionada no Livro dos Mortos, a Bíblia do Egito, o mais antigo ritual, de 4000 anos atrás ou mais:

Salve, Perna do céu boreal na grande bacia visível. [xiii]

E, sob alguma forma constelada, suas estrelas eram inquestionavelmente bem conhecidas no Eufrates — assim como o restante da Família Real, e eram exibidas lá em selos.

Sua forma peculiar atraiu a atenção de várias culturas. Por exemplo, os lapões consideravam que o W estelar representasse os chifres de um alce, enquanto os chukchis da Sibéria viam essas mesmas estrelas como renas machos. Mesmo índios amazônicos impressionaram-se por sua aparência; diferentes tribos chamavam-na de Tamaquaré ou Taquaré, nomes de um lagarto típico da região.

A Cassiopeia terrena deve ter sido negra, e é assim descrita por Milton em seus versos de Il Penseroso:

That starr'd Ethiop Queen that strove
To set her beauty's praise above
The Sea-nymphs; [xiv]

enquanto Landseer com a mesma opinião chamou-a de Cushiopeia, a Rainha do Cuche, mas a Aratea de Leiden a representou com uma aparência clara, levemente vestida, sentada desprotegida e com a coluna ereta em uma cadeira muito desconfortável; e esta é sua representação geral. Mas nas reconstruções das figuras celestes feitas no século XVII com propósitos religiosos, nossa Cassiopeia tornou-se Maria Madalena; ou Débora julgando debaixo de sua palmeira no monte Efraim; ou Betsabá, a mãe de Salomão, digna de sentar-se no trono real.

Os astrólogos afirmavam que ela compartilhava da natureza de Saturno e Vênus.

Charles Young sugeriu a palavra Bagdei como um macete para ajudar a memorizar a ordem de seus componentes principais a partir das letras β, α, γ, δ, ε e ι; sendo esta última a que se encontra mais alto quando a figura jaz junto ao horizonte, de cabeça para baixo.

Cassiopeia jaz entre Cefeu, Andrômeda e Perseus. Argelander catalogou 68 estrelas nela, mas Heis, 126; e a constelação é rica em aglomerados.

α, múltipla, 2.2 a 2.8, rosa pálido.

Seu nome oficial, Schedar, é encontrado inicialmente nas Tábuas Afonsinas; mas Hevelius o apresenta como Schedir; e noutras fontes se lê Shadar, Schedar, Shedar, Sheder, Seder, Shedis, Zedaron, etc.; todos supostamente provenientes de al-Ṣadr, o Seio, o qual a estrela marca na figura. Alguns, contudo, asseguraram que eles derivam do persa Shuter usado para a constelação.

Cassiopeia, no Hyginus de 1482
Ulugh Beg chamou-a al-Dhāt al-Kursī do conjunto, o que Riccioli mudou para Dath Elkarti.

Smyth informou que ela era conhecida como Lucida Cassiopea, — uma declaração trivial já que a estrela mais brilhante de qualquer figura constelada é a sua lúcida.

Birt anunciou em 1831 que ela seria uma estrela variável, cujo período foi posteriormente determinado de 79 dias. Mas medições realizadas ao longo do século XX não confirmaram essa variabilidade.

Burnham também descobriu dois companheiros adicionais bem débeis, estando o mais próximo dela separado por 17.5″; um componente mais antigo — uma pequena estrela azul — já tinha sido descoberto por Sir William Herschel, em 1781, a 63″ de distância. Todavia, observações mais recentes sugerem que todos estes são meramente duplas visuais, casualmente alinhadas na mesma visada desde a Terra.

α, β, η e κ formavam o asterismo chinês Yūh Lang,[xv] ou Wáng Liáng.

β, 2.4, branca.

Caph, seu nome oficial, bem como as variantes Chaph e Kaff, situada no canto superior direito do trono, vêm do título arábico da constelação; mas al-Tizīnī designou-a como Sanām al-Nāqah, a Corcova do Camelo, em referência à figura persa contemporânea.

Com α Andromedae e γ Pegasi, conjuntamente denominadas as Três Guias, ela marca o coluro equinocial, estando ela mesma extremamente próxima desse grande círculo máximo; e, por estar localizada no mesmo lado do polo em que Polaris está, ela sempre fornece uma indicação aproximada da posição desta última em relação àquele ponto. Esta mesma localização, 32° a partir do polo, e muito próximo do meridiano principal, tornou-a útil para estimar o tempo sideral. Quando se encontra acima de Polaris e mais próxima do zênite, o dia astronômico começa às 00h00m00s; quando a oeste, o tempo sideral é de 6 horas; quando está ao sul e mais próximo do horizonte, 12 horas, e quando a leste, 18 horas; desta forma, esse ponteiro estelar move-se, ante o fundo do céu, no sentido contrário ao movimento dos ponteiros de nossos relógios terrestres, e a apenas metade de sua velocidade.

Sua paralaxe de 0.59″ indica uma distância de 54.7 anos-luz.

Logo ao norte dela encontra-se uma seção da Via Láctea especialmente brilhante.

When first Al Aaraf knew her course to be
Headlong thitherward o’er the starry sea. [xvi]
Al Aaraaf, de Edgar Allan Poe

A cerca de 5° a oés-noroeste de Caph, 1½° distante de κ, e formando um paralelogramo com Caph, γ e α, apareceu, em 1572, uma famosa supernova que foi visível mesmo à luz do dia, tendo brilho superior ao de Vênus no perigeu.

O nome que Poe lhe dá vem do arábio al-ʿUrf, — no plural al-Aʿrāf, — sua moradia temporária para os espíritos situada a meio caminho entre o Céu e o Inferno e, portanto, aplicável a essa estrela temporária. Este objeto foi conhecido nos dois séculos seguintes à sua aparição como a Estrela Visitante, ou Peregrina, Star in the Chayre (Estrela na Cadeira, isto é, o trono de Cassiopeia), mas por nós como Estrela de Tycho, embora tenha sido notada pela primeira vez por Schuler em Wittenberg, na Prússia, no dia 6 de agosto de 1572; novamente em Augsburg, por Hainzel, e em Winterthür, na Suíça, por Lindauer, em 7 de novembro; e no dia 9, por Cornelius Gemma, que a chamou de Novo Vênus. Maurolycus deu início a seu estudo sistemático em Messina no dia 8, enquanto Tycho não a viu senão no enésimo dia, na época de seu maior brilho; mas foi a publicação de seu relato sobre ela em 1602, na sua Astronomiae Instauratae Proegymnasmata, que fez com que seu nome fosse-lhe associado. Seu brilho começou a diminuir em dezembro, e ela foi registrada nas Tábuas Rudolfinas como “Nova anni 1572” na 6.a magnitude, para a qual havia reduzido à época. Deixou de ser observável, ao menos aos instrumentos da época, em março de 1574.

Há quem afirme que foi esta supernova o que incitou Tycho à compilação de seu catálogo estelar, tal como aquela de dezessete séculos antes pode ter sido a inspiração para o catálogo de Hiparco. [xvii] De qualquer forma, ela criou uma grande comoção nessa época e induziu a célebre previsão de Teodoro de Beza quanto à Segunda Vinda de Cristo,[3] por ser considerada um reaparecimento da Estrela de Belém. A afirmação de que essa estrela tinha surgido antes em 945 e 1264 repousa sobre a autoridade duvidosa do astrólogo boêmio Cyprian Leowitz, e não é creditada por nossos astrônomos modernos; embora Williams afirme que um grande cometa foi visto nesse último ano próximo de Cassiopeia. Argelander identificou que o local da supernova coincidia com a posição de um objeto avermelhado, de magnitude 10, denominado B Cassiopeiae, atualmente reconhecido como o remanescente dessa explosão.

Os chineses registraram a supernova de Tycho como uma kè xīng,[xviii] isto é, uma estrela hóspede.

γ, Tripla, 2, 11 e 13, branca brilhante,

no cinturão de Cassiopeia, já foi ocasional e informalmente chamada pelo nome chinês Tsih, antiga transliteração de , termo que significa correia, usada pelo famoso Wáng Liáng. Mas este nome originalmente se refere a κ Cassiopeiae, enquanto γ era um dos quatro cavalos da biga de Wáng Liáng. Esta representação posteriormente foi modificada, tornando γ a correia. Esse nome também veio a ser escrito como Tiān Cè, a Correia Celestial. Ainda na China, outros a denominaram Bā Kuí Nán Dà Xīng, a Grande Estrela Sul da Rede para Pássaros, um de seus asterismos.

Mais recentemente também recebeu outra denominação não-oficial: Navi, nome formado pela inversão de Ivan, segundo nome do astronauta Virgil Ivan Grissom, que a usava como referência para navegação durante as missões espaciais.

Esta foi a estrela descoberta, cujo espectro continha linhas brilhantes — por Secchi em 1886 — e isso é de grande interesse para os astrônomos. O espectro é peculiarmente variável, assim como sua luz.

Os componentes estão separados por 2″, num ângulo de posição de 255°.2, e pouco mudaram em ângulo ou separação desde a medida inicial de Burnham em 1888. Além da secundária, conhece-se uma terceira componente, de magnitude 13, que também parece ser binária.

δ, 3,

é Ruchbah, às vezes escrita Rucba e Rucbar, do árabe al-Rukbah, o Joelho.

O Atlas Coeli Skalnate Pleso do astrônomo checo Antonín Bečvář lista para ela o nome Ksora, cuja origem e etimologia ninguém até hoje foi capaz de decifrar.

Ela foi utilizada por Picard na França, em 1669, para determinar latitudes durante sua medida de um arco do meridiano, — no primeiro caso de uso de um telescópio para propósitos geodéticos.

Na China, ela fazia parte do asterismo Gé Dào (o Corredor), juntamente com ε, ι, θ, ν e ο Cassiopeiae. Por conta disso, também portou o singelo nome Gé Dào Nán Dà Xīng, Grande Estrela Sul do Corredor.

ε, 3.6,

próximo ao pé da figura, é Segin, nome que provavelmente se deriva de uma transcrição errônea de Seginus (a estrela γ do Boieiro). Não é claro como esse nome veio a ser usado para esta estrela.

Ela também foi conhecida como Ruchbah, nome oficial de δ Cassiopeiae.

ζ, 3.7,

recebeu em 2016 do IAU/WGSN o nome oficial Fulu, proveniente do chinês Fù Lù, — que significa Estrada Auxiliar —, nome de um antigo asterismo chinês do qual essa era a única estrela componente. [xix]

η, Binária, 4 e 7.5, laranja e violeta,

recebeu em 2016 do IAU/WGSN o nome oficial Achird, de etimologia desconhecida. Este é mais um dos obscuros nomes estelares que Bečvář apresenta em seu Atlas Coeli Skalnate Pleso.

Situa-se muito próximo a Caph e é um dos mais belos objetos do céu disponíveis à observação em um telescópio de tamanho moderado. As componentes estão separadas por 12″ e orbitam-se mutuamente com um período de 480 anos. Estão tão próximas que sua distância no periastro chega a 36 UA. Trata-se de uma estrela vizinha: o par situa-se a 19 anos-luz do Sol.

θ, 4.4, e μ, Tripla, 5.1, 10.5 e 11, amarelo profunda, azul e corada.

Os arábios conheciam-nas como al-Marfiq, o Ombro, em cuja parte da figura elas se situam; e o Century Cyclopedia fornece Marfak como o nome de ambas as estrelas. São variantes destes: Al Mirfak e Al Marfik.

μ possui um grande movimento próprio anual de 3.8″ anuais, um deslocamento que a fará dar uma volta inteira na esfera celeste em cerca de 300000 anos.

ϱ, σ e τ, justamente com outras de constelações vizinhas, faziam parte do asterismo chinês Téng Shé, a Serpente Alada.

υ1 e υ2, estrelas de 5.a magnitude, foram apresentadas por Bayer sob o título Castula,[xx] citadas por Nonius. Esse nome de origem latina significa um tipo de anágua, em aparente referência às vestas de Cassiopeia. Bayer informa ainda que na Grécia eram conhecidas como Ταινία, a Frente do Traje, por elas marcado. Em 2017, o WGSN da União Astronômica Internacional atribuiu o nome oficial Castula a υ2 apenas.

Na China, 23 Cassiopeiae era conhecida como Shǎo Chéng, o Segundo Primeiro-Ministro, e se situava na grande Muralha Esquerda, o Zǐ Wēi Zuǒ Yuán, que cercava a região do polo celestial conhecida como Palácio Proibido Púrpura. Já 47 Cassiopeiae levava o pomposo título de Dōng Fāng Cāng Dì, o Rei Verde do Leste, parte do igualmente curioso asterismo Wǔ Dì Nèi Zuò, os Tronos Interiores dos Cinco Imperadores.

Outros asterismos chineses encontrados em Cassiopeia estendem-se a constelações vizinhas, como a da Girafa: Huā Gài (Dossel do Imperador), que incluía ψ, ω, quatro outras estrelas menores de Cassiopeia; Gāng (Suporte do Dossel), que incorporava várias estrelas de 4.a a 5.a magnitudes; e Chuán Shě (Casa de Hóspedes), também composta por estrelas menores.


Notas de Rodapé (do texto original)


[1] Fechaduras e chaves, no entanto, foram usadas no cerco a Troia; foram encontradas em catacumbas egípcias e esculpidas nas paredes do Grande Templo de Carnaque; desenterradas de locais em Corsabade, perto de Nínive; e mencionadas duas vezes no Antigo Testamento, desde os tempos de Eúde, em Juízes, III, 24 e 95.
[2] Gwydion foi identificado com o clássico Hermes–Mercúrio, reputado como inventor da escrita, um praticante da magia e construtor do arco-íris.
[3] De forma parecida, o cometa de 1843 reforçou aos Milleritas sua crença na destruição imediata do mundo. [Nota do Tradutor: o Millerismo foi um movimento religioso americano, baseado nas ideias de William Miller, que advocava a Segunda Vinda de Cristo no dia 22 de outubro de 1844.]


Notas Explicativas da Tradução


[i] Tradução aproximada dos vv. 103-104 do poema Paraphrases on Nonnus, de Elizabeth B. Browning (in Browning, E. B. 1862, Last Poems, Londres: Chapman & Hall, pg. 125). No original: “A place where Cassiopea sits within / Inferior light, for all her daughter’s sake”.
[ii] Excerto do v. 136, Canto III, Livro I, do poema quinhentista Fairie Queene, de Edmund Spenser. Em tradução aproximada: “o brilhante assento de Cassiopeia”.
[iii] Excerto dos vv. 654-656 dos Fenômenos de Arato. A tradução ao português é de Inara Zanuzzi em Arato, Fenômenos (Cadernos de Tradução, 38, jan-jun, 2016, org. Bacarat Jr., J. C., Porto Alegre: Instituto de Letras da UFRGS). Allen usou apenas o verso 656 da tradução de Robert Brown Jr.: “She head foremost like a tumbler sits”. Os versos originais em grego são: “δειλὴ Κασσιέπεια. τὰ δ᾽ οὐκέτι οἱ κατὰ κόσμον / φαίνεται ἐκ δίφροιο, πόδες καὶ γούναθ᾽ ὕπερθεν, / ἀλλ᾽ ἥ γ᾽ ἐς κεφαλὴν ἴση δύετ᾽ ἀρνευτῆρι”.
[iv] Excerto dos vv. 4-6 do Livro XXI da Odisseia de Homero, na tradução metrificada ao português por Manoel Odorico Mendes. Allen usou a tradução ao inglês feita por William Broome e Elijah Fenton, na qual os versos são os de número 9-10: “A brazen key she held, the handle turn’d, / With steel and polish’d elephant adorned”. Compare com a tradução não versificada ao inglês feita por Samuel Butler: “and took the bent key in her strong hand—a goodly key of bronze, and on it was a handle of ivory”. No original grego, são os vv. 6-7: “εἵλετο δὲ κληῗδ᾽ εὐκαμπέα χειρὶ παχείῃ / καλὴν χαλκείην: κώπη δ᾽ ἐλέφαντος ἐπῆεν”.
[v] Excerto dos vv. 192-193 dos Fenômenos de Arato. A tradução ao português é de Filipe Klein de Oliveira em Arato, Fenômenos (Cadernos de Tradução, 38, jan-jun, 2016, org. Bacarat Jr., J. C., Porto Alegre: Instituto de Letras da UFRGS). Allen usou a tradução de Robert Brown Jr.: “E’en as a folding door, fitted within / With key, is thrown back when the bolts are drawn”. Compare com a tradução ao inglês feita por A. W. e G. R. Mair: “Like the key of a twofold door barred within, wherewith men striking shoot back the bolts”. Os versos originais em grego são: “οἵῃ δὲ κληῖδι θύρην ἔντοσθ᾽ ἀραρυῖαν / δικλίδ᾽ ἐπτπλήσσοντες ἀνακρούουσιν ὀχῆας”.
[vi] Apud Ideler, Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 82: “Eben so lächerlich ist es, wenn Bayer behauptet (Lach schreibt es ihm nach), dass Cassiepea vom Juvenal Cathedra mollis, ein weicher Stuhl, genannt werde. Der Dichter gebraucht zwar diesen Ausdruck Sat. VI. v. 91, aber ohne auch nur von fern dabey an das Sternbild der Cassiepea zu denken”. O verso de Juvenal que teria confundido Bayer é: “cuius apud molles minima est iactura cathedras” (Sátiras de Juvenal, Livro VI).
[vii] Hyde afirma que era costume no Oriente tingir a mão dos noivos de hena (apud Ideler, Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 83). Daí Allen ter traduzido Kaff al-Khaḍīb no texto original como “Mão Manchada de Hena”. Aqui, segui a tradução de Ideler, que no alemão a chamou “die gefärbte Hand”, isto é, a Mão Tingida.
[viii] Ideler fornece o nome Sanām al-Nāqah e sua tradução como a Corcova do Camelo (Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 84), mas Allen, embora baseie-se fortemente nele, inexplicavelmente omitiu o nome árabe, anotando al-Tizīnī imaginava as estrelas de Cassiopeia como um “Kneeling Camel”, isto é, um Camelo Ajoelhado (!).
[ix] Apud Ideler, Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 81: “Bayer, bey dem sich ein buntes Gemisch ohne Kritik zusammengeraffter Sternnamen findet, sagt, Cassiepea werde von den Hebräern Aben Ezra genannt. Ein seltsamer Missgriff! Er fand im Scaliger S. 477: sic (nämlich Dsât el-khursi) etiam hebraice vocavit (Cassiepeam) Aben Ezra (ein rabbinischer Schriftsteller)”. Isto é, Scaliger informa que os hebreus também chamavam Cassiopeia como Dsât el-khursi, citando Aben Ezra, enquanto Bayer tomou este como o nome da constelação.
[x] Caer Gwydion (o Forte de Gwydion) é uma das formas pela qual a Via Láctea é conhecida em Gales.
[xi] Trecho da fala de Wallenstein em The Death of Wallenstein, de Schiller, traduzido ao inglês por Coleridge. Em tradução aproximada: “Aquela / Mancha branca de luz, aquele único brilho cintilante, / É de Cassiopeia, e aí / Se encontra Júpiter”.
[xii] Não parece ser um erro da tradução, mas sim dos versos originais de Schiller: “Der matte Schein dort, / Der einzelne, ist aus der Kassiopeia, / Und dahin steht der Jupiter” (O brilho opaco lá / Aquele é de Cassiopeia / E aí se encontra Júpiter).
[xiii] A frase original apresentada por Allen diz: “Hail, leg of the northern sky in the large visible basin”. Essa frase em particular não está presente no The Egyptian Book of the Dead, de Renouf & Naville, publicado em Londres em 1904; mas encontra-se uma outra muito similar no cap. XCVIII dessa mesma obra: “Oh thou Leg in the Northern Sky, and in that most conspicuous but inacessible Stream”. Suponho que esta corresponda ao mesmo trecho do livro, sob nova tradução ao inglês, pois Renouf faleceu em 1897, antes da publicação dessa obra, a qual veio a ser ampliada, corrigida e anotada por Naville, com base em notas e traduções prévias do primeiro autor. Allen provavelmente teve acesso a traduções iniciais, se não a citações a Renouf feitas por outros assiriologistas da época. A corrente conspícua e inacessível mencionada na frase é a Via Láctea, sobre a qual Cassiopeia (a Perna) é vista.
[xiv] Excerto dos versos 19-21 de Il Penseroso, de Milton. Em tradução aproximada: “Aquela estrelada rainha etíope que ambicionou colocar os elogios à sua beleza acima da das ninfas do mar”.
[xv] O nome Yūh Lang é fornecido por Williams na prancha 8 do seu Observations of comets, from B.C. 611 to A.D. 1640. Os caracteres manuscritos presentes na prancha parecem ser 玉㞋, mas estes seriam lidos Yù Niǎn, que não explicaria a grafia Yūh Lang no sistema Wade-Giles. É ainda possível que a marcação na prancha corresponda a 玉良, Yù Liáng, e não Yù Lang.
[xvi] Versos 413-414 do poema Al Aaraaf, de Edgar Allan Poe. Em tradução aproximada: “Quando Al Aaraf soube pela primeira vez que seu curso seria / Impetuosamente seguir avante sobre o mar estrelado”.
[xvii] Plínio afirmou que Hiparco teria sido inspirado a produzir um catálogo de estrelas fixas após observar uma supernova.
[xviii] Allen trata esse nome como próprio à Estrela de Tycho, chegando a negritá-lo como no caso de outros nomes próprios. Mas a denominação 客星 (kè xīng) é usada pelos chineses como um nome comum a todos os astros que surgem repentinamente na esfera celeste, de cometas a novas e supernovas.
[xix] Allen considerou erroneamente que a estrela λ Cassiopeiae fizesse parte desse mesmo asterismo, transliterado Foo Loo.
[xx] Allen erroneamente atribuiu essas estrelas ao Cefeu, que por sua vez sequer possui estrelas marcadas pela letra υ.

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