O Centauro enfurecido!
(...)
Sua flecha, para furar, já pronta
Um rival; o arco dobrado aponta
Para o azul do céu.[i]
Endymion, de John Keats
CENTAURUS
Nosso Centauro, o inglês Centaur, o francês Centaure, o alemão Zentaur, e outros termos similares em idiomas modernos, todos têm origem no Κένταυρος que Arato usou, provavelmente já de tempos mais remotos, pois este era um termo comumente conhecido entre os gregos; mas ele também o denominou Ἱππότᾶ Φήρ, a Besta-Cavaleiro, o termo habitual para um centauro nos dialetos Épico e Eólico. Esta também foi a designação especial do clássico Folo, filho de Sileno e uma das Melíades, que foi o mais hospitaleiro da família e morreu em consequência do exercício dessa virtude a Hércules. Apolodoro nos conta que a gratidão do herói causou a transformação desse centauro na constelação que vemos no céu, com a designação apropriada Ἐυμενής, “bem disposto”.
Centauro, no Prodomus Astronomiae de Hevelius |
Eratóstenes assegurava que a figura estelar representasse Χείρων, um título que, em suas formas transcritas Chiron e Chyron, era de frequente uso poético nos tempos clássicos e era encontrado em trabalhos astronômicos mesmo aos dias de Ideler. Esse foi apropriadamente traduzido como o Habilidoso, uma representação que se adéqua bem à reputação desse centauro. Ele era filho de Cronos e da oceânide Filira, que foi transmutada após seu nascimento em uma tília, daí o nome Philyrides (Filírida, isto é Filho de Filira) ocasionalente foi aplicado à constelação; embora uma variante da história fez dele Phililyrides, o filho de Fililira, a que ama a Lira, de quem ele teria herdado sua habilidade com a música. Ele era representado com aparência calma e nobre, muito diferente do aspecto ameaçador do centauro Sagitário; e São Clemente de Alexandria escreveu que teria sido ele quem primeiramente levou os mortais à retidão. Sua lenda foi tomada como parcialmente histórica em algum grau, até mesmo por Sir Isaac Newton.[ii] Como o mais justo e mais sábio de sua raça geralmente sem lei, ele era amado por Apolo e Diana, e a partir dos ensinamentos destes tornou-se proficiente em botânica, música, astronomia, adivinhação e medicina, bem como instrutor dos mais notáveis heróis da lenda grega. Matthew Arnold escreveu sobre ele em Empedocles on Etna:
Em Pélion, no chão gramado,
Jaz Quíron, o velho centauro,
Co’o jovem Aquiles ao lado.
O centauro o ensina a explorar
As montanhas de vales secos
onde os irmãos vão descansar,
E as nascentes são numerosas.
(...)
Falou-lhe de deuses e estrelas,
E das marés. [iii]
De fato, a lenda o reputa como inventor das constelações, como vemos no poema de Dyer, The Fleece:
Led by the golden stars as Chiron’s art
Had marked the sphere celestial;[iv]
e pai de Hipo, quem Eurípides mencionou ser capaz de predizer eventos a partir da observação das estrelas.
Centauro no planisfério de Coronelli em 1691 |
Prometeu evidentemente herdou os conhecimentos astronômicos de Quíron, bem como sua imortalidade, pois Ésquilo, que o considerava o fundador da civilização e “cheio do amor mais dedicado à raça humana”, fê-lo dizer em Prometeu Acorrentado:
Sem raciocinar, agiam ao acaso
Até o momento em que eu lhes chamei a atenção
Para o nascimento e o ocaso dos astros.[vi]
A concepção da figura de um centauro para Homero, Hesíodo e até mesmo em Berōssōs, provavelmente era de uma forma humana perfeita, tendo sido Píndaro quem primeiro a descreveu como semisselvagem, e desde seus dias a parte humana do Centauro termina na cintura à qual se acrescentam os quartos traseiros de um cavalo. William Morris assim o retratou em sua Life and Death of Jason:
(…) at last in sight the Centaur drew,
A mighty grey horse, trotting down the glade,
Over whose back the long grey locks were laid,
That from his reverend head abroad did flow;
For to the waist was man, but all below
A mighty horse, once roan, but now well-nigh white
With lapse of years ; with oak-wreaths was he dight
where man joined unto horse, and on his head
He wore a gold crown, set with rubies red,
And in his hand he bare a mighty bow,
No man could bend of those that battle now.[vii]
Alguns artistas e mitólogos antigos mudaram esses quartos traseiros para os de um touro, representando assim o Minotauro, e no Eufrates ele era considerado um Touro completo. Os árabes desenharam a figura estelar com os quartos traseiros de um urso, mas adotaram o título grego em seu al-Qanṭūrus,[viii] considerado a origem do inexplicável Taraapoz, usado nos Comentários de Ridwan para nossa constelação.
Centauro na Uranometria de Bayer, em 1603. Note que o Cruzeiro do Sul era parte das patas da figura. |
Algumas estrelas do Centauro, com aquelas do Lobo, eram conhecidas pelos antigos árabes como al-Qaḍīb al-Karm, o Ramo da Videira; e também como al-Shamārīkh, o Talo Carregado de Tâmaras, o qual, na descrição de Qazwīnī, era segurado pelas mãos do Centauro. Este degenerou-se em Asemarik, e talvez seja a origem da palavra Asmeat em Bayer. Ele também tinha Albeze; e Riccioli, Albezze e Albizze, — ininteligíveis a menos que tenham vindo do arábico al-Wazn, Peso, que algumas vezes foi aplicado à α e β.
Representações do Centauro em três antigos manuscritos árabes |
Hyde é nossa autoridade para outro de seus títulos (apud Albumasar), Birdun, do árabe al-Birdhawn, o Cavalo de Carga.
Ptolomeu descreveu a figura com o Lobo em uma mão e o Tirso [ix] na outra, marcado por quatro estrelas de quarta magnitude, das quais apenas duas atualmente podem ser encontradas; segundo Gêmino, este Tirso fora formado como uma constelação distinta por Hiparco com o nome θυρσόλογκος, — no texto de Manílio como θύρσος, — e Plínio escreveu nos mesmos termos, mas parece notável que o tenham marcado por tão pequenas estrelas.
Centauro nas Tábuas Afonsinas |
Centauro no Hyginus de 1488 |
Robert Recorde, em 1551, tinha o Centaure Chiron, mas Milton, em 1667, chamou de Centauro a figura zodiacal, como outros tantos o fizeram antes e desde os seus dias; de fato, Sagitário indubitavelmente era o Centauro celeste original, proveniente do Eufrates, enquanto o Centauro do Sul provavelmente foi uma criação grega. Mas na era clássica surgiu uma confusão entre os não versados em Astronomia acerca da nomenclatura das duas figuras, que ocasionalmente perdura até os dias atuais; muito do que encontramos dito sobre uma delas por um autor é atribuído à outra figura por outro autor. No entanto, durante o século XVII, uma distinção foi feita por autores ingleses que chamaram este de Great Centaure.
Centauro em duas Arateas: à esquerda, Aratea de Cícero; à direita, Aratea de Germânico. |
Em certo tratado de Astronomia medieval cristã, ele representava Noé, mas Julius Schiller mudou esta figura para Abraão com Isaque; e Caesius assemelhou-o a Nabucodonosor quando o fizeram “comer erva como os bois”.[xiii]
Esta é uma das maiores constelações, tendo mais de 60° de comprimento, com seu centro a cerca de 50° a sul da estrela Spica abaixo cauda de Hidra; mas Arato localizou-a inteiramente sob o Escorpião e as Garras, um erro que Hiparco criticou.
A lista de Gould contém 389 estrelas visíveis a olho nu nesta constelação.
Uma das nebulosas mais notáveis do céu, NGC 3918, foi descoberta nesta constelação por Sir John Herschel, que a chamou Planetária Azul, e em suas palavras era “muito similar a Urano, apenas com metade do tamanho”.[xiv]
α, Tripla, 0.2, 1.5, e 11, branca, amarelada e vermelha.
A edição de Baily do catálogo de Ulugh Beg dá a esta estrela o nome Rigil Kentaurus, de al-Rijl al-Qanṭūrus, o Pé do Centauro; colocando-a na ponta da pata dianteira direita, e Bayer assim a ilustrou. Chrysococcas tinha o sinônimo πους κοντουρος. Este nome ocasionalmente foi usado abreviado como Rigil Kent, ou mesmo simplesmente Rigil, — no Century Dictionary, Rigel —, embora estes seja mais conhecido para a estrela brilhante de Órion. Burritt situou na pata dianteira esquerda uma estrela de 4.a magnitude que ele erroneamente marcou com a letra α; e acima da canela nossa estrela de 1.a magnitude, também com a letra α, intitulada Bungula, que só se encontra nessa obra e no Standard Dictionary. Burritt não fornece explicação para ele, e não há formas anteriores que o sustentem; pode ser uma palavra especialmente cunhada por Burritt da justaposição de β e ungula, o casco, embora mesmo assim a letra usada estaria errada. Popularmente, é até mais conhecida por sua denominação no sistema de Bayer: Alpha Centauri, com os aportuguesamentos Alfa Centauri ou Alfa do Centauro.
Centauro no afresco da Sala del Mappamondo, em Siena. Esse afresco data do século XIV. Note que não há ainda o Cruzeiro do Sul em suas patas. |
Ideler afirma que α e também β eram conhecidas entre os árabes como Ḥaḍār, Solo, e Wazn, Peso, como é explicado para a estrela β; mas ele parece perdido quanto à atribuição correta desses nomes, embora inclinado a considerar Ḥaḍār para β.
Estas duas estrelas faziam parte de um dos al-Muḥlifayn, muito discutidos e descritos em γ Argus e δ Canis Majoris.
O esplendor da Alfa do Centauro naturalmente tornou-a objeto de adoração no Nilo, e o avistamento de sua primeira emergência dos raios do Sol, na manhã no equinócio outonal, foi associado por Lockyer à orientação de pelo menos nove templos no Norte do Egito, que datam de 3800 a 2575 aC, e de vários no Sul do Egito de 3700 aC em diante. Como tal objeto de adoração parece ter sido conhecida como Serk-t.
Ela também tinha um papel importante no Sul da China como estrela determinante do asterismo Nán Mén, o Portão do Sul.
Trata-se de um sistema triplo, que jaz na Via Láctea, 60° ao sul do equador celeste. É de grande interesse aos astrônomos por compreender o grupo de estrelas mais próximas ao Sol. Sua paralaxe, obtida primeiramente no Cabo da Boa Esperança por Henderson em 1839, e posteriormente por Gill e Elkin, atualmente ficada em 0.754″, indica uma distância igual àquela O exemplo dado por Sir John Herschel é elucidativo acerca do significado das distâncias estelares:
deixar cair uma ervilha, num oceano infinito, ao fim de cada milha de uma viagem à estrela fixa mais próxima, exigiria uma frota de 10000 navios, cada qual iniciando a viagem com uma carga completa de 600 toneladas de ervilhas.[xv]
A precisão da observação paralática pode ser apreciada do fato que um ângulo de 1″ é aproximadamente aquele subtendido por uma moeda de 1 centavo situada a 4 km do observador.
Fosse o nosso sol movido à distância de α Centauri, seu diâmetro 1392700 km subtenderia um ângulo de apenas 0,006″, que seria totalmente inapreciável mesmo com o maior telescópio. Visto de α Centauri, parece uma estrela de 2.a magnitude situada próximo ao trono de Cassiopeia.
Richaud foi quem primeiramente descobriu a binariedade de α, a partir de observações realizadas em Pondicherry, na Índia, em 1689; a primária (α Centauri A) possui luminosidade três vezes maior que a da secundária (α Centauri B). Juntas elas emitem cerca de 2 vezes mais luz que o Sol.[xvi] O par tem uma órbita moderadamente excêntrica, com período de revolução orbital de 79.91 anos; o mais recente periastro ocorreu em agosto de 1955 e o próximo será em maio de 2035. Seu movimento próprio de 3.7″ anuais as levará para o Cruzeiro do Sul em 12000 anos.
Em 1915, Robert Innes descobriu que o sistema hospedava uma terceira estrela, α Centauri C, uma anã vermelha muito mais débil, que orbita o centro de massa das duas maiores; esta é a que apresenta a menor distância ao Sol dentre as três; daí foi inicialmente batizada Proxima Centaurus, sendo atualmente conhecida como Proxima Centauri. Esta terciária encontra-se afastada das demais por cerca de 0.21 anos-luz; isso leva alguns a considerar que talvez não forme um par físico com as duas primeiras. Os dados atuais ainda não permitem refutar esta hipótese.
Em 2016 e 2018, o WGSN da União Astronômica Internacional oficializou e restringiu os nomes Rigil Kentaurus, Toliman e Proxima Centauri para as estrelas α Centauri A, B e C, respectivamente.
β, 1.2.
É um sistema composto por três estrelas de grande massa, todas de classe espectral B. A estrela primária foi oficialmente batizada pelo WGSN da União Astronômica Internacional como Hadar, em 2016. Tanto o árabe Ḥaḍār, que lhe dá nome, quanto Wazn, que significam respectivamente Solo e Peso, parecem ter sido aplicados sem muita definição às α e β desta constelação, bem como para estrelas da Nave Argo, da Pomba e do Cão Maior, provavelmente devido à sua proximidade ao horizonte, vistas daquelas terras; a altura meridiana de β, 1000 anos atrás, no Cairo (latitude +30°) era de apenas 4°. Entretanto, Hyde, afirma que esses títulos arábicos se referem a α e γ.
Burritt situou-a próximo da perna direita dianteira, chamando-a de Agena, um título de etimologia desconhecida,[xvii] que alguns acreditam ter origem no latim genua (joelhos). Bayer estranhamente colocou-a no quarto traseiro esquerdo, onde não há nenhuma estrela brilhante.[xviii]
Os chineses incluíram-na no asterismo Mǎ Fù, o Abdômen do Cavalo.
Nos países de língua inglesa, α e β são também ocasionalmente chamadas de Southern Pointer Stars (Estrelas Apontadoras do Sul) ou apenas Pointer Stars, pois parecem apontar para o Cruzeiro do Sul, frequentemente visto como a Cinosura do hemisfério austral.[xix] Servem assim para distingui-lo da Falsa Cruz, com a qual é frequentemente confundido.
Os bosquímanos da África do Sul conheciam-nas como os Dois Homens que já foram Leões; e os nativos australianos, como Bermbermgle ou Bram-bram-bult, os dois irmãos que mataram Tchingal (a “constelação” Emu, que inclui o Saco de Carvão), marcando as estrelas orientais do Cruzeiro do Sul a lança que perfurou seu corpo.
γ, 2.4,
que Bayer na pata dianteira direita, é conhecida nas listas modernas como Muhlifain, respaldada pela autoridade de Paul Kunitzsch, embora seu nome não tenha sido ainda oficializado pela União Astronômica Internacional. Sua origem é o árabe al-Muḥlifayn (o Júri), que tantas vezes aparece em partes distintas do céu.
Juntamente com diversas estrelas do Centauro (ζ, η, θ, ξ, τ e σ, entre outras), γ formava o asterismo chinês Kù Lóu, o Arsenal.
Entre povos das regiões centrais da Austrália, com δ Centauri, δ Crucis e γ Crucis ela compunha um asterismo quadrangular chamado Iritjinga, a Águia-Falcão.
δ, 2.8,
é conhecida em listas modernas pelo nome não-oficial Ma Wei, por ser a mais brilhante do asterismo chinês Mǎ Wěi, a Cauda do Cavalo. Mas na China também foi conhecida como Shuǐ Fǔ Xī Xīng, a Estrela à Oeste do asterismo Oficial de Irrigação.
ε, 2.3.
Na nomenclatura proposta por Bayer, as antigas ε, ζ, ν e ξ, as quatro Dictis a nautis Croziers [xx] do catálogo de Halley, correspondem ao Cruzeiro do Sul,[xxi] antes de sua classificação como uma constelação separada; posteriormente, um novo letreamento foi empregado por Lacaille, o qual reintroduziu as letras ε, ζ, ν e ξ no Centauro, bem como mudou a designação grega de várias estrelas.
Centauro no planisfério de Lacaille |
É uma estrela variável muito jovem, com aproximadamente 16 milhões de anos de idade, localizada a 430 anos-luz de distância.
ζ, 2.5,
é reconhecida como a estrela que al-Tizīnī denominou Nayyir Baṭn al-Qanṭūrus,[xxii] a Brilhante da Barriga do Centauro. Daí eventualmente figurar em listas estelares modernas com o nome Al Nair al Baten ou simplesmente Alnair; mas este último atualmente é o nome oficialmente aceito pela União Astronômica Internacional para α Gruis e deveria ser evitado para ζ Centauri.
Na China, era parte do asterismo Kù Lóu, o Arsenal.
θ, 2.1,
é Menkent, nome formado pela aglutinação dos termos na expressão árabe Mankib al-Qanṭūrus (Ombro do Centauro) lido como Menkib al-Kentaurus. Este nome foi oficializado em 2016 pelo WGSN da União Astronômica Internacional.
Ela foi listada no Century Cyclopedia como Chort, um erro do editor que trocou Leonis por Centauri, pois este nome realmente é atribuído a θ Leonis, nos quartos traseiros do Leão, próximo às Costelas; em árabe, Khurt é uma pequena costela. θ Centauri, ao contrário, marca o ombro esquerdo da figura.
ι fazia parte do asterismo chinês Zhǔ, Pilares, juntamente com υ1, υ2, ψ e outras estrelas mais fracas do Centauro.
κ, 3.13, é por vezes denominada não oficialmente Ke Kwan, uma transcrição antiga do chinês Qí Guān, Guardas Imperiais, nome de um antigo asterismo composto por κ Centauri e várias estrelas do Lobo.
λ, 3.13, era parte do asterismo chinês Hǎi Shān (Mar e Montanha).
μ, ν e φ, estrelas de terceira magnitude, faziam parte do asterismo chinês Héng, a Balança.[xxiii]
Bayer designou a letra ω a uma difusa estrela de 4.a magnitude situada no dorso da parte humana da figura, a qual Halley, em 1677, incluiu em seu catálogo como uma nebulosa; mas que, em Feldhausen, no Cabo da Boa Esperança, o mais refinado telescópio de Sir John Herschel mostrou tratar de “um distinto aglomerado globular, sem sombra de dúvida o maior e mais rico dos céus”.[xxiv] Ele parece absolutamente esférico, com 20′ de diâmetro, e contém milhares de estrelas de magnitude 13 a 15. Atualmente muitos astrônomos especulam que este aglomerado globular seja, na verdade, o núcleo remanescente de uma antiga galáxia satélite da nossa.
As pequenas estrelas b Centauri e c1 Centauri marcavam o asterismo chinês Yáng Mén, a Porta Yáng.
V816 Centauri é conhecida como Estrela de Przybylski, em referência Antoni Przybylski, astrônomo polonês que a estudou em 1961. A distinção se deve à descoberta de que o espectro da estrela não se encaixa no esquema de classificação espectral usual por apresentar poucas linhas fracas de Fe e Ni, mas intensas de outros elementos pesados normalmente raros em atmosferas estelares. Ela é o protótipo do grupo de estrelas variáveis conhecidas como roAp (estrelas Ap que oscilam rapidamente).
No âmbito da campanha IAU100 NameExoWorlds, os três seguintes sistemas exoplanetários do Centauro receberam nomes oficiais.
HD 102117 foi batizada como Uklun pelos habitantes das Ilhas Pitcairn. Seu planeta HD 102117b recebeu o nome Leklsullun. Ambas as palavras vêm do idioma pitcairneso e significam “nós” (Uklun) e “filho ou filhos” (Leklsullun).
HD 117618 foi batizada como Dofida pelos habitantes da Indonésia. Seu planeta HD 117618b recebeu o nome Noifasui. Ambas as palavras vêm do Nias, idioma falado na Sumatra; nele, Dofida significa “nossa estrela”, e Noifasui é uma composição formada por ifasui, que significa girar ao redor, e no, prefixo indicativo de uma ação que correu nopassado e continua na época atual.
WASP-15 foi batizada como Nyamien pelos habitantes da Costa do Marfim. Seu planeta WASP-15b recebeu o nome Asye. Ambos são nomes de divindades da mitologia Akan, sendo Nyamien seu supremo criador, e Asye a deusa da Terra.
Notas Explicativas da Tradução
[i] Excerto dos vv. 598-602, Livro IV, do poema Endymion, de John Keats. A tradução versificada é nossa. No original: “The ramping Centaur ! / (…) / The Centaur’s arrow ready seems to pierce / Some enemy ; far forth his bow is bent / Into the blue of heaven”.
[ii] Em The Chronology of Ancient Kingdoms Amended, publicado em 1728, em Londres, Newton tenta usar configurações planetárias e trechos de obras antigas para ajustar uma cronologia aos diversos eventos da antiguidade visando, entre outras coisas, provar que Salomão foi o primeiro rei na história da humanidade e que seu templo foi o primeiro a ser construído, sendo todos os demais reis e templos meros simulacros. Nela, Newton tomou o centauro Quíron como uma representação de um personagem real da história, criador das primeiras constelações com o propósito de auxiliar a navegação da expedição dos argonautas.
[iii] Trecho da fala de Callicles, Ato I, Cena 2, vv. 59-73, de Empedocles on Etna, por Matthew Arnold. A tradução versificada é nossa. No original: “On Pelion, on the grassy ground, / Chiron, the aged Centaur lay, / The young Achilles standing by. / The Centaur taught him to explore / The mountains where the glens are dry / And the tired Centaurs come to rest, / And where the soaking springs abound. / (…) / He told him of the Gods, the stars, / The tides”.
[iv] Excerto dos vv. 241-242, Livro II, do poema The Fleece, de John Dyer. Em tradução aproximada: “Guiados pelas estrelas douradas que a arte de Quíron / marcou sobre a esfera celeste”.
[v] Não consegui encontrar nenhuma outra referência à Chironeion, além do próprio livro de Allen; este nome sequer se encontra na base de dados do International Plant Names Index. Talvez se trate do gênero Chironia, que também possui espécies com propriedades medicinais.
[vi] Trecho da fala de Prometeu em Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, na tradução de J. B. de Mello e Souza. Allen usou a tradução ao inglês feita por Robert Potter: “I instructed them to mark the stars, / Their rising, and, a harder science yet, / Their setting”. Compare com a tradução ao inglês por Herbert Weir Smyth: “until I taught them to discern the risings of the stars and their settings, which are difficult to distinguish”. No original grego, esse trecho corresponde aos versos 456-458: “ἀλλ᾽ ἄτερ γνώμης τὸ πᾶν / ἔπρασσον, ἔστε δή σφιν ἀντολὰς ἐγὼ / ἄστρων ἔδειξα τάς τε δυσκρίτους δύσεις”.
[vii] Excerto dos versos 140-150 do poema The Life and Death of Jason, por William Morris. Em tradução aproximada: “(…) finalmente, o centauro se moveu à vista, / um poderoso cavalo cinza, trotando pela clareira, / sobre cujas costas estavam as longas madeixas cinzas, / que pendiam de sua reverenda cabeça; / pois na cintura havia um homem, mas tudo abaixo / era de um cavalo poderoso, antes ruão, agora quase branco / devido ao passar dos anos; equipado com grinaldas de carvalho / justo onde o homem se juntava ao cavalo, e na cabeça / usava uma coroa de ouro cravejada de rubis vermelhos / e, na mão, exibia um poderoso arco, / que nenhum dos que batalham agora conseguiria tensionar”.
[viii] Allen usou a transliteração Kentaurus, que não é compatível com suas próprias regras de romanização do árabe. As vogais da palavra árabe marcadas no Arabic-English Lexicon de Lane (قَنْطُورُس) levam à romanização Qanṭūrus, que foi a que usei nesta tradução.
[ix] O tirso é um bastão coberto por folhas, hera e ramos de videira, costumeiramente associado a Dioniso e usado em cerimônias de fertilidade.
[x] Não está claro de onde Allen retirou essa informação, pois o manuscrito carolíngio conhecido como Aratea de Leiden não possui a ilustração correspondente ao Centauro: “In the Leiden manuscript two of the original illustrations of constellations are now missing: the zodiacal constellation Virgo and the southern constellation Centaurus” (in Katzenstein, R., & Savage-Smith, E., The Leiden Aratea, Malibu: The J. Paul Getty Museum, 1988, p. 15). Uma possibilidade é que Allen confundiu-se com a Aratea Phenomena de Germânico, republicada em Leiden em 1660 por Hugo Grócio, que traz uma ilustração muito similar à descrição. Ainda assim, cabe anotar que “the illustrations of the Leiden Aratea are presumed to be copies of the miniatures made for a Late Antique manuscript, now lost, of Germanicus’ treatise” (in Katzenstein, R., & Savage-Smith, E., The Leiden Aratea, Malibu: The J. Paul Getty Museum, 1988, p. 6); isto é, talvez a descrição de Allen não esteja tão distante daquela no fólio que se perdeu, ainda que os manuscritos tenham sido confundidos.
[xi] Verso 477 do Livro I do Astronomicon de Manílio. Na tradução de Marcelo Vieira Fernandes (in Manílio — Astronômicas: Tradução, Introdução e Notas, Dissertação de Mestrado, PPG Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, 2006): “o Centauro, em sua figura dúplice”.
[xii] “Sagitário que segura uma taça ou pátera”. A pátera é uma tigela cerimonial, usada pelos romanos em libações.
[xiii] Referência a Daniel 4:25: “Serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e te farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti; até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer”, na versão Almeida Corrigida Fiel.
[xiv] No original: “very like Uranus, only half as large again” (apud Clerke, A. M., The System of Stars, Cambridge: Cambridge Univ. Press, p. 258).
[xv] No original: “to drop a pea at the end of every mile of a voyage on a limitless ocean to the nearest fixed star, would require a fleet of 10,000 ships of 600 tons burthen, each starting with a fall cargo of peas”. Não encontrei a referência original desta frase.
[xvi] Allen incluiu nesse parágrafo algumas considerações sobre a estimativa discrepante do brilho da secundária, por diferentes autores, concluindo que talvez a estrela tenha tido aumento em seu brilho desde que foi descoberta. Retirei essas considerações desta versão porque não estão de acordo com o conhecimento atual sobre o par, podendo ser atribuídas a erros de medida.
[xvii] Allen afirma desconhecer a etimologia do nome Agena. Portanto a associação desta com a palavra latina genua é relativamente recente. Uma hipótese é a relação entre os nomes Agena e Bungula, usados por Burritt, respectivamente, para β e α. Allen comenta que o nome Bungula poderia ser entendido como β + ungula (unha); de modo similar, Agena talvez seja desmembrável como α + genua (joelho). Essa hipótese se choca basicamente com a letra trocada usada nas justaposições: β no caso da estrela α, e vice-versa. Supor que Burritt tenha cometido um erro soa pouco provável; mas não é incredível que a troca tenha sido proposital, seja por questões de pronúncia (β + genua?), seja para mascarar ligeiramente a etimologia e garantir o uso dos nomes cunhados por ele para a posteridade.
[xviii] Segundo Phil Simon (in Guidebook to the Constellations: Telescopic Sights, Tales, and Myths, Springer, pg. 276), boa parte da constelação do Centauro não era visível a Bayer, que teve de usar cartas celestes pouco precisas, preparadas por marinheiros que cruzavam os mares do Sul. Isso deu origem a muitos erros na colocação de estrelas. Usando cartas mais atualizadas, Lacaille teria reassinalado as letras no Coelum australe stelliferum, publicado 150 anos após a Uranometria.
[xix] Cinosura, do grego Κυνοσούρα (cauda do cão), é usado por Allen como um guia de orientação e navegação. O nome é usualmente atribuído à Polaris ou à Ursa Menor, que indicam a direção do Norte, no hemisfério boreal. Allen compare esse papel àquele empregado pelo Cruzeiro do Sul no hemisfério austral.
[xx] “Que são chamadas pelos nautas de Cruzeiro”.
[xxi] As estrelas ε, ζ, ν e ξ Centauri, na Uranometria de Bayer, correspondem respectivamente às atuais γ, α, δ e β Crucis. Foi Frederik de Hout quem primeiro catalogou o Cruzeiro do Sul como constelação separada do Centauro, em 1603. Porém, as designações α, β, γ e δ Crucis, bem como novas ε, ζ, ν e ξ Centauri, foram estabelecidas por Lacaille.
[xxii] Allen menciona essa informação no mesmo parágrafo em que fala sobre a antiga ζ Centauri designada por Bayer. Isso de alguma forma deixa a dúvida se ele ainda está se referindo à mesma estrela. Todavia, a tradução do nome árabe (a Brilhante da Barriga do Cavalo) sugere que a referência seja à ζ Centauri de Lacaille, que se situa na barriga do Centauro, enquanto a de Bayer está numa das patas (posteriormente desmembrada para formar o Cruzeiro do Sul).
[xxiii] Allen dá ao asterismo o nome Wei, de mesmo significado.
[xxiv] No original em inglês: “a noble globular cluster, beyond all comparison the richest and largest in the heavens” (apud Clerke, A. M., 1895, The Herschels and modern astronomy, Londres: Cassell and Co., pg. 169).
"SÓ SEI QUE NADA SEI"...
ResponderExcluirGratisão.
ResponderExcluirÔps! Gratidão ...
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