Bootes


Boötes’ golden wain. [i]
Statius His Thebais, de Pope

Boieiro apenas parece deslizar
Sua carga ao redor da Estrela Polar. [ii]
3.a Ode de Byron nas Horas de Ócio.


BOOTES

Nosso Boieiro, o italiano Boöte e o francês Bouvier ultimamente provém do grego Βοώτης, que foi usado na Odisseia, de modo que este título tem estado em uso por aproximadamente 3000 anos, talvez até por mais tempo; embora, indubitavelmente, de início apenas fosse aplicado a sua estrela proeminente, Arcturus. Formas degeneradas desse nome também chegaram a ser usadas, como Bootis e Bootres.

O Boieiro e constelações vizinhas, no Urania's Mirror de Sidney Hall.

Foi derivado de várias formas. Alguns o fazem de βοῦς, Boi, e ὠθεῖν, conduzir, e daí seu nome em inglês: Wagoner, ou Driver of the Wain, isto é, Carroceiro, sobre o qual escreveu Claudiano:

o Boieiro com a carroça abre o Norte; [iii]

ou o Lavrador das Triones [iv] que, como Arator, ocorre em Nigídio e Varrão do século anterior à nossa era. Mais recentemente a figura foi representada como o Instigador de Asterion e Chara em sua perseguição à Ursa ao redor do polo, assim aludido por Carlyle em Sartor Resartus:

O que pensa o Boieiro deles, enquanto conduz seus Cães de Caça pelo zênite em sua coleira de fogo sideral? [v]

Outros derivaram seu nome de Βοητής, Clamoroso, transcrito como Boetes, dos brados do Condutor aos seus Bois, — os Triones, — ou do Caçador em perseguição à Ursa, tendo Hevelius sugerido que a gritaria fosse feita em encorajamento aos Cães. Em traduções da Syntaxis esta ideia de um Gritador mostrava-se por Vociferator, Vociferans, Clamans, Clamator, Plorans, o Carpideiro, e até mesmo, talvez, por Canis latrans, o Cão Ladrador, que Abenezra aplicou a suas estrelas no título hebraico Kelebh hannabāh.

Nas representações feitas a partir do século XVIII, o Boieiro já é mostrado como a instigar os Cães de Caça
contra a Ursa Maior, embora em muitas dessas representações curiosamente ele mire a outra direção.

Os arábios representaram sua concepção similar para a figura como al-ʿAwwāʾ (Ladrador),— o Alhava de Chilmead.

O não infrequente título inglês Herdsman (Boiadeiro), do francês Bouvier, também lhe é adequado, pois não só ele estava associado aos Bois da Carroça, como os antigos árabes consideravam as estrelas circumpolares próximas como um Curral com seus ocupantes e inimigos.

Outros nomes eram Ἀϱκτοφύλαξ e Ἀϱκτοῦϱος, o Vigia da Ursa e o Guardião da Ursa, o último dos quais se encontra pela primeira vez no Ἔϱγα καὶ Ἡμέραι, As Obras e os Dias, “um calendário pastoril beócio”, de Hesíodo, oito séculos antes do começo de nossa era. Mas, embora essas palavras fossem frequentemente trocadas, a primeira geralmente era usada para a constelação e a última para sua lúcida, como nos Fenômenos e em Gêmino e Ptolomeu. Ainda assim, os poetas nem sempre discriminavam isso, e mesmo os versificadores de Arato confundiam os títulos, não obstante a exatidão do original; embora Cícero tenha definido textualmente:

Arctophylax, vulgo qui dicitur esse Bootes. [vi]

Assim, tanto a transliteração Arctophylax (ou a variante Artophilaxe) como Arcturus são usadas para a constelação por escritores e astrônomos até mesmo no século XVIII, como Chaucer que tinha “ye sterres of Arctour”.[vii] Santo Isidoro a conhecia como Arcturus Minor, sendo o Major a Grande Ursa. Smyth derivou esta palavra de Ἄρκτου ὀυρά, a Cauda da Ursa, pois o Boieiro está próximo desta parte da Ursa Maior; mas isso não é geralmente aceiro — de fato, foi expressamente condenado por Buttmann.

Estácio também a chamou de Portitor Ursae (Barqueiro da Ursa); Vitrúvio tinha Custos e Custos Arcti, o Guardião das Ursas; Ovídio, Custos Erymanthidos Ursae (Guardião da Ursa Erimântida);[viii] as Tábuas Afonsinas, Arcturi Custos (Guardião de Arcturus); já Bear-driver (Condutor da Ursa) é frequentemente encontrado entre os primeiros escritores ingleses.

Embora Manílio o conhecesse em conexão com a Ursa, ele mudou a representação quando escreveu:

é razoável o nome que em todos os lugares lhe puseram, inclinado que vem,
semelhantemente àquele que tange, conforme o costume, os bois jungidos; [ix]

e Arato muito antes já tinha unido as duas ideias e títulos:

Atrás de Hélice, assemelhando-se a um condutor, vem
Artofílace, a quem os homens chamam Boieiro
porque parece tocar levemente o carro da Ursa. [x]

Plaustri Custos, o Guardião da Carroça, era outro de seus nomes que alterava a natureza dos deveres do Boieiro; Ovídio seguiu essa linha com:

interque Triones
Flexerat obliquo plaustrum temone Bootes. [xi]

Ele foi tido como Lycaon (Licáon), o pai, ou avô, de Calisto, quando esta ninfa era identificada com a Ursa Maior; ou como Arcas, o filho dela. Ovídio claramente afirmou no Livro II de Os Fastos que Arctophylax nos céus era o Arcas terrestre,[xii] embora muitas vezes se suponha erroneamente que este seja representado pela Ursa Menor; ele era Septentrio, de sua proximidade ao norte, tomando assim um dos títulos da Ursa; e Atlas, pois, próximo ao polo, sustentava o mundo.

O Boieiro na Uranographia de Bayer.

Hesíquio de Alexandria, do quinto século da nossa era, chamava-a de Orion, mas isso parece ininteligível a menos que tenha se originado de uma má compreensão das linhas de Homero, traduzidas por Lorde Derby como:

Arctos call’d the Wain, who wheels on high
His circling course, and on Orion waits, [xiii]

como se estivessem próximos. Ou o título pode ter vindo de alguma confusão com Orus, ou Hórus, dos egípcios, que estava associado tanto a Órion quanto ao Boieiro. Lalande aludiu a isto quando escreveu:

Arctouros ou l'Orus voisin de l'Ourse, pour le distinguer de la constellation meridional d'Orion; [xiv]

e, considerando essa derivação muito peculiar da nossa palavra Arcturus, devemos lembrar que Κάνδαος e Κανδάων eram títulos também aplicados ao Boieiro, e a últimas dessas duas foi usada pelos beócios para Órion.[xv] Seria interessante saber mais sobre essa conexão.

Philomelus era outra designação, como se ele fosse filho da constelação vizinha da Virgem Ceres; e o antigo título Venator Ursae, o Caçador da Ursa, novamente aparece como Nimrod, o Poderoso Caçador diante do Senhor,[xvi] junto à escola bíblica de dois ou três séculos atrás; embora este título fosse mais comum para Órion.

O Boieiro no Planisphæri Cœleste
de Frederik de Wit.
Pastor presumivelmente da ideia arábica de um Curral ao redor do polo, ou do rebanho próximo no Pasto em direção ao sudeste, correspondente aos nossos Hércules e Ofiúco; ou talvez de alguma confusão com Cefeu, que também era o Pastor com seu Cão.

Pastinator é a representação de Hyde para um suposto título arábico que significaria um Escavador ou Valador num vinhedo. Um comentarista de Arato chamou-o Τρυγητής,[xvii] o Vindimeiro, pois seu nascer no crepúsculo matinal coincidia com o equinócio outonal e a época para a colheita das uvas; Cícero repetiu este conceito com seu Protrygeter (Anunciador da Vindima); mas ambos os nomes melhor se adéquam à estrela Vindemiatrix, nossa ε Virginis.

Ainda assim, seus nasceres e ocasos eram frequentemente observados e considerados importantes nos tempos clássicos, e mesmo após a era de Augusto, embora muitas, talvez a maioria, dessas alusões fossem à sua estrela brilhante. Como um sinal de calendário, ela foi mencionado pela primeira vez por Hesíodo, assim traduzido por Thomas Cooke:

When in the rosy morn Arcturus shines,
Then pluck the clusters from the parent vines; [xviii]

e novamente, mas para uma diferente estação do ano:

When from the Tropic, or the winter's sun,
Thrice twenty days and nights their course have run;
And when Arcturus leaves the main, to rise
A star bright shining in the evening skies;
Then prune the vine. [xix]

Columela, Rutílio Paládio, Plínio, Virgílio e outros fizeram referência similar ao Boieiro ou a Arcturus, como indicações às temporadas adequadas para vários trabalhos agrícolas, com na 1.a Geórgica:

O Boieiro poente lhe concederá sinais nada obscuros. [xx]

Icarus, ou Icarius, também foi um título para essa constelação, do nome do desafortunado ateniense que tantos problemas trouxe ao mundo por sua exposição prática das ideias de Baco quanto ao uso apropriado da uva, e que foi tão imerecidamente exaltado nos céus, com sua filha Erigone como a Virgem, e seu fiel cão de caça Maera como Procyon ou Sirius.[xxi] Desta história vem o Icarii boves aplicado às Triones por Propércio, e no Lexicon de Andrews-Freund [xxii] ao próprio Boieiro.

Dioniso, Acme e Icário, em um antigo mosaico grego.
Ceginus, Seginus e Chegninus, bem como o Cheguius do Almagesto árabo-latino, pode ter perambulado para cá como uma forma estranhamente alterada do nome de seu vizinho Cefeu; embora Buttmann afirme que provavelmente se originam, por longas transcrições repetidas e consequentes erros, de Kheturus, a ortografia arábia para Arcturus. [xxiii] Bayer tinha Thegius, como usualmente, sem explicar-lhe a origem; ainda assim, encontra-se no Almagestum Novum de Riccioli: Arabicē Theguius, quasi plorans aut vociferans; mas os estudiosos árabes não confirmam isso.

Lalande citou Custos Boum, o Guardião dos Bois, e Bubulus, ou Bubulcus, o Camponês Condutor de Bois, embora Ideler negou que este último já tenha sido usado para o Boieiro. Contudo, Juvenal tinha-o, e Minsheu definiu o Boieiro como Bubulcus coelestis. Landseer, seguindo Lalande, afirmou que o Boiadeiro era um símbolo nacional do antigo Egito, tendo o mito do desmembramento de Osíris se originado dos sucessivos ocasos de suas estrelas; e que lá ele era chamado Osiris, Bacchus ou Sabazius, o antigo nome para Baco e Noé; e que o planisfério de Kircher [xxiv] mostrava uma Videira em vez da figura usual; evocando assim acontecimentos da história dessas personagens, bem como da de Icarius.

Planisfério egípcio publicado por Kircher.
Vê-se uma árvore no local do Boieiro, na parte central esquerda.

Homero caracterizou a constelação como ὀψέ δύων, “que demora a se pôr”, um pensamento e expressão que agora se tornaram banais pela repetição frequente.[xxv] Sobre isso, Arato tinha:

quando saciado de luz,
ocupa mais que a metade da noite passante; [xxvi]

Manílio variou pouco com:

O lento Boieiro conduz sua vagarosa Junta de Bois. [xxvii]

Também Claudiano, Juvenal e Ovídio caracterizaram-no como tardus, lento, e piger, preguiçoso, o que seu compatriota posterior Ariosto, do século XVI, repetiu em seu pigro Arturo; e Minsheu, no século XVII, escreveu sobre ele nesses termos:

Bootes, or the Carman, a slow mooving starre, seated in the North Pole neere to Charles Waine, which it followes. [xxviii]

E tudo isso porque, para um habitante das latitudes do Velho Mundo, o Boieiro se põe em posição perpendicular ao longo de umas oito horas ao todo, e mesmo assim sua mão nunca desaparece sob o horizonte — um fato que era mais perceptível nos dias antigos do que atualmente. O contrário, contudo, ocorre durante seu nascer numa posição horizontal; daí o ἀθρόος, “de uma só vez”, de Arato.[xxix]

Alguns dizem que essas expressões acerca de sua preguiça se devem ao seu lento ocaso no final da estação quando a luz do dia é reduzida, ou uma referência à marcha natural das Triones que o Boieiro conduz ao redor do polo; enquanto outros, ainda, mais inclinados à astronomia, atribuíam-nas à sua proximidade comparativa

à parte em que os luzeiros são mais lentos,
Qual roda onde o seu eixo está disposto [xxx]

que Dante escreveu no Purgatório.

A representação de Hevelius para o Boieiro mostra o Monte Mênalo sobre
o qual o herói se apoia. Além disso, nessa imagem o Boieiro claramente olha
para a Ursa e contra ela lança os cães.
A associação do Boieiro com o Mons Maenalus (Monte Mênalo),[xxxi] sobre o qual ele algumas vezes é mostrado, é inexplicável a não ser pela ideia subjacente ao título daquela constelação. Esta associação era usual mesmo nos dias antigos, se Landseer estiver correto ao afirmar que:

Eusébio, citando um antigo oráculo onde havia uma aparente referência a esta constelação como anteriormente representada, escreveu —
Uma aguilhada mística o boiadeiro da montanha segura. [xxxii]

Brown informou que ele era conhecido na Assíria como Riʼu-but-same, “que reaparece em grego como Bootes”; e portanto

a noção de um lavrador ou pastor que conduz seus bois, tal como aplicada à constelação, é de origem eufrateana. [xxxiii]

Entre seus derivados arábios encontra-se Nekkar, frequentemente considerado advindo de al-Naqqār, o Escavador ou Cortador, análogo ao clássico Valador no vinhedo; mas Ideler mostrou que se trata de uma forma errônea de al-Baqqār, o Boiadeiro, encontrado em Ibn Yunus.

O Boieiro, em gravura de Dürer, porta uma
lança em lugar da clava. À esquerda, o grande
espaço vazio onde se formará séculos depois
a constelação dos Cães de Caça.
Alkalurops, que aparece para o Boieiro nas Tábuas Afonsinas como Incalurus, vem de Κᾶλαῦροψ, o Bastão ou Cajado de um boiadeiro, com o artigo árabe prefixado; atualmente este é o nosso título para a estrela μ. O cajado, por fim representado como uma Lança, deu origem ao nome al-Rāmiḥ, que se tornou de uso geral entre os arábios, mas posteriormente degenerou nas primeiras obras astronômicas europeias em Aramech, Ariamech, e palavras similares para a constelação, bem como para sua estrela maior.

A mesma representação é encontrada em al-Ḥāmil Luzz, o Portador da Lança,[xxxiv] ou, como Caesius o tinha, Alkameluz, o Kolanza de Riccioli, e o Azimeth Colanza do tradutor de Ali ibn Ridwan, o qual Ideler comparou ao latim cum lancea e ao italiano. Da mesma forma, Bayer afirma que, num mapa turco, ele era Ὀϊστοφόρος, o Portador das Flechas; e noutros locais, Sagittifer e Lanceator.

Representação do Boieiro na
Descrição das Estrelas Fixas, de al-Ṣūfī.
O al-Ḥāris al-Samā (Guardião do Céu) da literatura arábica era originalmente usado para Arcturus, embora eventualmente aplicado à constelação. Mas muito antes dessas ideias terem-se disseminado na Arábia, esse povo supostamente teria tido um enorme Leão, seu primitivo Asad, que se estendia por um terço dos céus, do qual as estrelas Arcturus e Spica marcavam as panturrilhas; Regulus, a testa; as cabeças dos Gêmeos, uma das patas dianteiras; o Cão Menor, a outra; enquanto o Corvo corresponderia aos quartos traseiros. No entanto, parece haver alguma dúvida quanto a tudo isso, como é explicado mais completamente no capítulo dedicado aos Gêmeos.

Na Polônia, o Boieiro forma o Ogka, ou Eixo, do muito extenso Wóz Niebieski, o Carro Celestial, daquele país; e no antigo idioma da Boêmia, ele era Przyczck, nome tão ininteligível quanto impronunciável.

Os antigos católicos conheciam-no como São Silvestre; Caesius afirmou que ele poderia representar o profeta Amós, o Boiadeiro, ou Cultivador de Sicômoros, de Tecoa;[xxxv] mais Weigel tornou-o As Três Coroas Suecas.[xxxvi]

Proctor afirmou que o Boieiro, quando formado pela primeira vez, talvez incluísse até mesmo a Coroa Boreal, como sabemos que incluía os Cães de Caça; e que, assim constituído,

exibe melhor do que a maioria das constelações o feitio a ele atribuído. Pode-se imaginar facilmente a figura de um Pastor com o braço erguido a conduzir diante de si a Ursa Maior. [xxxvii]

O desenho de Heis, após Dürer, mostra um homem maduro, com um cajado de boiadeiro, segurando a correia dos Cães; mas representações anteriores são de uma figura mais jovem: em todos os casos, no entanto, bem equipado com armas de caça, ou apetrechos de agricultura e pecuária; o mais antigos dos quais provavelmente foi a joeira de Baco.

O Boieiro, no Hyginus de 1488.
O Hyginus veneziano de 1488 mostra a seus pés o Feixe de Trigo, nossa Cabeleira de Berenice; e Argelander, no Uranometria Nova, trazia diferentes figuras em suas duas pranchas — uma referente à forma antiga, e a outra referente à moderna a qual segura a correia dos Cães de Caça em perseguição à Ursa.

Esta constelação, bem como a Ursa, Órion, as Híades, Plêiades e o Cão foram as únicas figuras estelares mencionadas por Homero e Hesíodo; o versificador deste último, Thomas Cooke, forneceu como razão para isto — “os nomes que naturalmente se enquadram num verso hexâmetro”;[xxxviii] mas a suposição geral de que estes grandes poetas não conhecessem outras constelações não parece razoável, embora se note que todas as aludidas por eles são as mesmas.

O Boieiro é uma constelação de grande extensão, que se estende do Dragão até Virgem, aproximadamente 50° em declinação, e 30° em ascensão reta, e contém 85 estrelas visíveis a olho nu de acordo com Argelander, 140 de acordo com Heis.



Poises Arcturus aloft morning and evening his spear.[xxxix]
Tradução de Emerson ao To the Shah, de Hafiz.

α, 0.3, amarelo ouro.

Arcturus tem sido um objeto do mais alto interesse e admiração para a humanidade desde os primeiros tempos, e indubitavelmente foi uma das primeiras estrelas a serem nomeadas; pois desde os dias de Hesíodo até a era presente tal estrela é mencionada na literatura, embora muitas vezes confundida com a Ursa Maior. De fato, o uso que Hesíodo fez dessa palavra provavelmente destinava-se àquela constelação, exceto em dois casos, já citados, onde ele inquestionavelmente se referiu a esta estrela, mencionando seu nascer cinquenta dias após o solstício de inverno, a primeira alusão que temos acerca desse ponto celestial. Também na Bíblia do Rei James, Arcturus é usado para representar a Ursa Maior (Livro de Jó, 38:32), confusão já corrigida em muitas das versões atuais.[xl]

Mas, tal como outras estrelas proeminentes, ela compartilhava seu nome com sua constelação — na verdade, provavelmente no começo, e até os dias de Plínio, era uma constelação por si só. O Βοώτης usado por Homero sem dúvida a indicava com, possivelmente, algumas próximas mais brilhantes; e Bayer citou Bootes como nome dessa estrela; mas em épocas recentes tal último título passou a ser monopolizado pela constelação.

Era famosa entre os marinheiros da antiguidade, mesmo desde o período tradicional do Evandro arcadiano, e regulava seu festival anual por seus movimentos em relação ao sol. Mas sua influência sempre foi temida, como é visto no δεινοῦ Ἀρκτοῦροιο de Arato [xli] e no horridum sidus de Plínio;[xlii] enquanto Demóstenes, em seu discurso contra Lacrito, 341 aC, nos fala duma bodemeria, firmada em Atenas sobre uma embarcação que ia para o rio Borístenes — o atual Dnieper — e para Táurida — a Crimeia —, que estipulou uma taxa de 22,5% de juros, se ela retornasse ao Bósforo “antes de Arcturus”, i.e. antes de seu nascer helíaco [1] em meados de setembro, após o que seria de 30%. Seu nascer acrônico [2] fixava a data da Lustratio frugum [xliii] dos lavradores; e Virgílio na 1.a Geórgica fez duas alusões [xliv] à sua influência desfavorável ao trabalho dos fazendeiros. Outros autores de sua época confirmaram essa reputação tempestuosa, enquanto todos os calendários clássicos [3] forneciam as datas de seus nasceres e ocasos.

Hipócrates, 460 aC, considerou grande a influência de Arcturus sobre o corpo humano, alegando, por exemplo, que uma estação seca, após seu nascer,

se adéqua melhor àqueles que são naturalmente fleumáticos, àqueles que são de temperamento úmido e às mulheres; mas é mais hostil ao bilioso; [xlv]

e que

as doenças são especialmente aptas a se mostrar críticas nesses dias. [xlvi]

O Prólogo de O Cabo de Plauto, proferido por Arcturus em pessoa, e “uma das primeiras opiniões sobre a presença de agentes invisíveis entre a humanidade”,[xlvii] declara sobre si mesmo ser considerado um signo tempestuoso nos momentos de seu nascer e ocaso, — como o original diz:

Arcturus signum, sum omnium quam acerrimum.
Vehemens sum, cum exorior, cum occido vehementior. [xlviii]

E a passagem das Odes de Horácio —

Nec saevus Arcturi cadentis
Impetus aut orientis Haedi — [xlix]

é familiar a todos. Esta mesma ideia chegou à era moderna, pois Pope repetiu-a em seu verso

When moist Arcturus clouds the sky. [l]

Astrologicamente, contudo, a estrela trazia riquezas e honra àqueles nascidos sob sua influência.

Um calendário astronômico egípcio do século XV antes de Cristo, decifrado por Renouf, associa-a com a estrela Antares na imensa figura celestial Menat; e Lockyer sustenta que ela era um dos objetos de adoração nos templos do Nilo, bem como o era no templo de Vênus em Ancona, na Itália.

Na Índia marcava o 15.o nakshatra,[li] Svāti, a Muito Beneficiente, ou talvez Espada, mas representada como uma Conta de Coral, Gema ou Pérola; também conhecido como Nishṭya, Exilado, possivelmente de sua remota posição ao norte, distante do zodíaco, da qual, por seu brilho, foi arbitrariamente tomado para completar a série de asterismos hindus. Hewitt acreditava que ela, ou Capella, era o Āryamān do Rig Veda; e Edkins, que ela era Tistar, nome geralmente atribuído a Sirius.

Os chineses chamavam-na Dà Jiǎo, o Grande Chifre. Mas ela também recebeu lá outros nomes, que atestam sua importância: Méi Yǔ Xīng (Estrela da Estação Chuvosa), Tiān Dòng (Viga do Céu), Mài Xīng (Estrela do Trigo) e Tiān Wáng Zuò (Trono do Imperador Celestial). Quatro estrelas situadas próximas a ela formavam o Kàng Chí, a Laguna Árida; Edkins escreve mais sobre isso:

Arcturus representa o palácio do imperador. Os dois grupos de três estrelas menores a sua direita [η, τ, υ] e esquerda [ζ, ο, π] são chamados Shè Tí, os Líderes ou Condutores, pois eles estabelecem uma direção fixa à cauda da Ursa, a qual, à medida que revoluciona, marca as doze horas do horizonte.[lii]

Os árabes conheciam Arcturus como al-Simāk al-Rāmiḥ,[4] algumas vezes traduzida como a Perna do Portador da Lança, e também, talvez mais corretamente, como o Sublime Portador da Lança. Do título árabe vieram várias formas degeneradas: Al Ramec, Aramec, Aremeah, Ascimec, Azimech e Azimeth, encontrados naqueles estranhos compêndios de nomenclatura estelar: as Tábuas Afonsinas e o Almagesto de 1515; Somech haramach do Treatise de Chilmead; e Aramākh, que Karsten Niebuhr ouviu dos árabes 136 anos depois. O Kheturus de seus predecessores, já aludido sob o Boieiro, também foi usado para ela.

A ideia de uma arma novamente se manifesta no Κονταράτος, o Portador do Dardo, das Tábuas Greco-Persas; enquanto Bayer listou Gladius, Kolanza e Pugio, todos aplicados a Arcturus, a qual provavelmente marcava em alguns desenhos antigos a Espada, Lança ou Adaga na mão do Caçador. Similarmente, ela tomou o título Alkameluz da constelação inteira.

Al-Ḥāris al-Samā, o Guardião do Céu, talvez tenha vindo de ser a estrela facilmente visível aos árabes já no início do crepúsculo, devido a sua grande declinação boreal, como se estivesse em vigilância para garantir a segurança e o adequado comportamento de suas companhas estelares menores, e assim “Patriarca Mentor do Cortejo”.[liii] Subsequentemente, tornou-se al-Ḥāris al-Simāk, o Guardião de Simāk, provavelmente referindo-se a Spica, a Desarmada.

Al-Bīrūnī mentionou Arcturus como a Segunda Panturrilha do Leão, o primitivo Asad, sendo Spica a Primeira Panturrilha.

Ela foi identificada com o Papsukkal caldeu, o Mensageiro Guardião, a divindade de seu 10.o mês Ṭebētum; enquanto Smith e Sayce afirmaram que no Eufrates ela era o Pastor do Rebanho Celestial, ou o Pastor da Vida do Céu, indubitavelmente o Sib-zi-anna das inscrições; sendo a estrela η frequentemente juntada a ela nesses títulos, compondo assim um dos diversos pares de Estrelas Gêmeas eufrateanas. Já os inuítes a chamavam de Uttuqalualuk, o Ancião.

O Almagesto de 1515 e as Tábuas Afonsinas de 1521 aditaram à sua estranha lista de estranhos títulos et nominator Audiens, que parece ininteligível a menos que a palavra seja um erro de impressão em lugar de Audens, o Ousado.

John de Wiclif, em sua tradução de Amós 5:8, em 1383, tinha Arture, que ele tomou do Arcturus usado na Vulgata para a Ursa Major; mas John Trevisa em 1398 mais corretamente escreveu:

Arthurus is a signe made of VII starres, (...) but properly Arthurus is a sterre sette behynde the tayle of the synge that hyght Vrsa maior. [liv]

Entre outros, ela era Arturis e Ariture, ou a Carlwaynesterre (Estrela da Carreta de Charles) de uma antiga confusão com a aplicação do nome Arcturus à Carreta de Charles, bem como ao Boieiro e a sua lúcida.

Embora essa estrela sempre tenha sido proeminente e foi uma das poucas a que Ptolomeu atribuiu um nome, sua posição variou consideravelmente nos desenhos; de fato, nos mais antigos, estava localizada fora da figura e assim foi descrita na Syntaxis. Também chegou a ser posicionada no tórax; no cinturão, donde, talvez, veio o Arctuzona de Bayer; na perna; entre os joelhos, — Robert Recorde, o primeiro escritor inglês em Astronomia, em 1556, mencionou no Castle of Knowledge aquela “very bryght ſtarre called Arcturus, which ſtandeth betweene Bootes his legges” —;[lv] e, como alguns de seus títulos indicam, na arma à mão. Mas, desde o tempo de Dürer, ela costuma marcar a franja da túnica.

Smyth assegura que esta foi a primeira estrela a ter observações registradas sob a luz do dia com um telescópio, em 1635 por Jean-Baptiste Morin, e subsequentemente, em julho de 1669, pelo abade Picard, com o Sol a uma altura de 17°.[lvi] Schmidt a observou a olho nu por vinte e quatro minutos antes do pôr do Sol. Embora esses exemplos sirvam para demostrar seu brilho, este é ainda era mais evidente quando, envolta pela coma do cometa Donati de 1858, no dia 5 de outubro, distante apenas 20’ do núcleo, “ela cintilava tão vividamente sua superioridade”,[lvii] visível por muitas horas. E é um tanto notável que o mesmo tenha sido observado 240 anos antes no caso do cometa de 1618; pelo menos esse é o registro de John Bainbridge, que escreveu:

The 27th of November, in the morning, the comet’s hair was spread over the faire starre Arcturus, betwixt the thighs of Arctophylax, or Bootes. [lviii]

É interessante saber que a primeira fotografia de um cometa foi justamente a do Donati, próximo a essa estrela, em 28 de setembro de 1858.

Ptolomeu especificou sua cor como ὑπόκιῤῥος, traduzido como rutilus, “vermelho dourado”, no Almagesto de 1515; mas Schmidt observou, em 21 de março de 1852, que a estrela tinha perdido sua coloração habitual, a qual não recuperou durante vários anos. Este fenômeno foi confirmado por Argelander e por Frederik Kaiser, de Leiden; mas geralmente ela “figurou imemorialmente na pequena lista de objetos visivelmente ardentes”.[lix] Sua rica cor, em contraste com o branco de Spica, o vermelho mais profundo de Antares e o safira de Vega, é muito perceptível quando todas podem ser vistos juntas, em quase uma única olhada, numa noite de verão.

Os alemães a conhecem como Arctur; os italianos e espanhóis, como Arturo; e os portugueses e brasileiros vez por outra usam Arcturo, a par de seu nome latino.

Na tradução de Coleridge ao Wallensteins Tod, de Schiller, lemos

Nem todos se questionam
O quão distante está Arcturus. [lx]

mas Elkin o fez ainda em 1892, e suas observações resultaram numa paralaxe de 0.016ʺ. As medidas atuais na verdade indicam um valor muito maior, 0.089ʺ, que corresponde a uma distância de 36.7 anos-luz.

A estrela possui um grande movimento próprio,[5] da ordem de 2.3" por ano, que provavelmente deslocou sua posição para o sudoeste com respeito às estrelas mais distantes por um pouco mais 1° desde o tempo de Ptolomeu; e uma grande velocidade na linha de visada foi determinada para ela pelos primeiros espectroscopistas, algo como uma centena de quilômetros por segundo; mas as observações mais recentes reduziram esse valor para 5.2 quilômetros por segundo. Seu espectro indica que ela é uma gigante, com diâmetro cerca de 25 vezes maior que o Sol, embora sua massa seja similar a deste.

β, 3.6, amarelo ouro.

Em diversas listas de nomes estelares, seu título oscilou entre Nekkar e Nakkar, ambos provenientes de uma das denominações arábicas aplicaveis à constelação inteira. Mas em 2016, a variante Nekkar foi adotada como nome oficial pelo WGSN da União Astronômica Internacional.

Nas pranchas do Observations of Comets de Williams, β é listada com o nome Zhāo Yáo, traduzido vagamente como Indicador Cintilante, mas as identificações recentes atribuem esse nome a γ.

Com γ, δ e μ, ela constituía o trapézio al-Dhiʾbah, a Loba, ou talvez, al-Ḍibāʿ, Hienas,[lxi] um primitivo asterismo dos árabes antes que eles adotassem a constelação grega; esses animais, juntamente com outros similares mostrados por estrelas no Dragão e próximo dele, espreitavam pelos ocupantes do antigo Curral ao redor do polo.

β marca a cabeça da figura moderna.

γ, 3.1.

Chama-se Seginus no Atlas de Burritt, do Ceginus usado para a constelação.[lxii] Em 2016, esse nome foi adotado oficialmente pelo WGSN da União Astronômica Internacional para a primária desse sistema, que é composto por três estrelas.

Manílio a denominou prona Lycaonia, “inclinando-se para, ou defronte a, Licáon”,[lxiii] referindo-se à Ursa Maior, pois esta estrela marca o ombro esquerdo do Boieiro próximo daquela constelação; e Eurípides escreveu de modo similar em sua Ἴων de aproximadamente 420 aC:

Acima, Arcturus ao polo dourado se inclina. [lxiv]

Da posição da estrela na figura vem o Menkib al Aoua al Aisr, do árabe Mankib al-ʿAwwāʾ al-ʾAysar, o Ombro Esquerdo do Ladrador, no catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit, que foi traduzido ao latim como Humerus Sinister Latratoris.

Flammarion dá para ela o Alkalurops que é mais reconhecido para μ. Os chineses a chamavam de Máo Shǔn (Lança e Escudo) ou Dùn (Escudo). Mas nas pranchas do Observations of Comets de Williams, ela é listada com o nome Xuán Gē (Alabarda Sombria), romanizado no século XIX como Heuen Ko, o qual fontes modernas atribuem a λ; para arrematar essa confusão, tais mesmas fontes atribuem a γ o nome Zhāo Yáo (Indicador Cintilante) que a obra de Williams assinala como o título de β.

Já no Atlas Coeli Skalnate Pleso de Bečvář, seu nome é Haris, talvez do al-Ḥāris al-Samā usado para a constelação.

δ, 3.5, amarelo pálido.

Tem sido chamada informalmente de Princeps (Príncipe ou Primeira),[lxv] embora mais num contexto astrológico.

Na China, era parte do asterismo Qī Gōng, as Sete Excelências, sendo as outras componentes: μ, ν1 e ν2, φ, ψ, χ1 e χ2 , ou b, na mão direita e na Clava, 20° a noroeste de Arcturus. Contudo, identificações mais recentes adotam uma lista das excelências diferente: δ, ν1, ν2 e μ1 do Boieiro, juntamente com 42, τ, φ e χ de Hércules.

ε, binária, 3 e 6, laranja pálido e verde azulado,

situada a 10° a nordeste de Arcturus, foi oficialmente denominada Izar, em 2016 pelo WGSN da União Astronômica Internacional, nome derivado do árabe ʾIzār, um Saiote. E dois outros nomes que os árabes lhe deram também indicavam sua posição na figura: Mīʾzar, uma Tanga ou Avental, e al-Minṭaqah al-ʿAwwāʾ, o Cinturão do Ladrador. Esta corrompeu-se no Mintek al Aoua do catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit, e chegou a ser traduzido ao latim como Cingulum Latratoris, de significado idêntico. Já a primeira foi transformada pelos primeiros escritores de astronomia europeus em Micar, Mirar, Merer, Meirer, Mesen, Mezer, Merak e Mirak, similares ao título de β Andromedae, em confluência com o árabe al-Marāqq (a Virilha) que também se supõe ter sido usada para nomeá-la. O análogo Perizoma (Saiote) foi usado para ela nas Tábuas Afonsinas.

Na China, era a principal estrela do asterismo Gěng Hé, o Rio Violento ou Obstruído,[lxvi] que também incluía ρ e σ.

Não sabemos por que foi tão favorecida na nomenclatura, pois só nos parece digna de nota por sua requintada beleza ao telescópio, donde seu título Pulcherrima (Belíssima), que lhe foi dado pelo Struve sênior.

Os componentes possuem separação angular de 2.8", a um ângulo de posição de 343°. Seu período de revolução é de pelo menos 1000 anos, e ambas se aproximam do Sol com uma velocidade de 16 quilômetros por segundo.

Este par foi o principal alvo das investigações de Sir William Herschell para a medição da paralaxe estelar em 1782, nas quais, é claro, ele não teve sucesso, embora não soubesse a causa de seus resultados negativos senão anos depois, quando descobriu que se tratava de uma estrela binária.

ζ, ξ, ο e π compõem o asterismo chinês Zuǒ Shè Tí, o Condutor Esquerdo.

η, 2.8, amarelo pálido.

Muphrid, seu nome oficial, e as variantes Mufrid e Mufride, do catálogo de Palermo, bem como doutros, é a al-Mufrid al-Rāmiḥ de Ulugh Beg, a Solitária do Portador da Lança, o que é inexplicável a menos sob a suposição de que estivesse fora dos limites da figura tal como imaginada no passado. Qazwīnī chamou-a al-Rumḥ; al-Tizīnī, com Naṣīr al-Dīn al-Tūsī, mais explicitamente, al-Rumḥ al-Rāmiḥ, a Lança do Portador da Lança, que aparece corrompido no Ramih al Ramih de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit e traduzido ao latim como Lancea Lanceator; mas essa associação é inapropriada, pois ambos al-Tizīnī e Naṣīr al-Dīn designam sua posição relativa na figura no al-Sāq, na Canela da Perna, e assim aparece como Saak em algumas listas; mas do modo como a figura é atualmente desenhada η jaz sobre o joelho esquerdo.

Ela parece ter sido incluída com Arcturus no Sib-zi-anna eufrateano.

Com υ e τ nos pés, formava o Yòu Shè Tí, o Condutor Direito.

θ, 4.1; ι, tripla, 4.4, 4.5, e 8; e κ, dupla, 4.5 e 6.6.

Bayer chama-as Asellus, — primus, secundus e tertius, respectivamente, — embora sem explicações; mas este título é bem conhecido para duas estrelas em Câncer que flanqueiam o Presépio. Elas marcam as pontas dos dedos da mão esquerda erguida a leste de Alkaid, a última estrela na cauda da Ursa Maior.

Na China elas formavam o Tiān Qiāng, a Lança Celestial.

Os membros do componente principal de ι estão separados por 0.8"; o menor dos três dista em 38". Já κ tem cor esbranquiçada, e suas duas estrelas estão separadas por 12", tornando-as um alvo fácil a um pequeno telescópio.

Todas essas, juntamente com a estrela λ, de 4.a magnitude, no antebraço esquerdo da figura, compunham Aulād al-Ḍibāʿ, os Filhotes das Hienas, representadas por β, γ, δ e μ, e assim indicadas nos mais antigos mapas e globos arábicos.

λ, 4.2.

Xuange é seu nome oficial, estabelecido em 2016 pelo WGSN da União Astronômica Internacional, derivado do asterismo chinês Xuán Gē, a Alabarda (ou Lança) Sombria.

No catálogo compilado em 1971 por Jack Rhoads para o JPL/NASA, λ foi denominada Aulad al Thiba, do asterismo árabe ao qual ela fazia parte com θ, ι e κ.

μ1, tripla, 4.2, 8, e 8.5, branco alvo, as duas menores branco-esverdeadas,
sendo a companheira menor μ2 uma dupla próxima.

É conhecida como Alkalurops, adaptação arábica ao Κᾶλαῦροψ, usado por Hesíquio para nomear a Clava, Bastão ou Cajado do Boieiro, analogamente ao Ρόπαλον de Higino e à Clava usada pelos romanos.

Inkalunis aparece em algumas das Tábuas Afonsinas; Icalurus naquelas de 1521, e Incalurus no Almagesto de 1515. Já de há muito se supõe que todos esses sejam representações imperfeitas do Κολλορόβος usado por Ptolomeu, essa mesma provavelmente uma palavra de sua própria lavra para designar a posição da estrela na clava. Seria também a origem do Colorrhobus de Riccioli. Mas Ideler, rejeitando tal hipótese, considerou que Schickard estivesse mais correto ao derivar estas palavras de ἐν κολόυρω, “no coluro”, uma afirmação que estava aproximadamente certa no que diz respeito a Arcturus há 2000 anos; o nome desde então teria, de algum modo, sido transferido para esta estrela, bem como para a constelação. O editor do Almagesto de 1515 aditou ao título para esta estrela et est hastile habens canes,[lxvii] o que, diz Ideler, — e Homero concordaria com isto,[lxviii] — “é uma referência às hienas que se encontram ao redor”. Esta errônea explicação foi corrigida pelo falecido Prof. C. H. F. Peters do Observatório Hamilton, que possuía um exemplar desta rara edição e indicou que o original árabe deveria ter sido traduzido ao latim como ferrum curvatum (lâmina curva) em vez de canes (cães). Alguns escritores latinos chamaram esta estrela de Venabulum, uma Lança de Caça.

ρ e σ, estrelas de 4.a e 5.a magnitude, faziam parte do Gěng Hé, o Rio Violento ou Obstruído; e, de acordo com Assemani, ψ, juntamente com outra estrela no braço direito que deve ter sido ε, constituía o Aulād al-Nadhlat dos árabes, que ele traduziu como Filii Altercationis (Filhos da Contenda).[lxix] Por conta disso, no catálogo de Jack Rhoads para o JPL/NASA, ψ foi denominada Aulad al Nathlat.

h, ou 38 Bootis, uma estrela de 5.a magnitude dificilmente visível a olho nu, é Merga, e marca a foice à mão esquerda da figura. Esta palavra vem do latim Marra,[lxx] o Gancho ou Enxada, usado por Columella e Juvenal, e algumas vezes visto como Marrha para a estrela. Esta era conhecida por Plínio como Falx Italica.

Três outras estrelas menores desta constelação, aquelas numeradas como 9, 11 e 12 na nomenclatura de Flamsteed, formavam o pequeno asterismo chinês Dì Xí, o Assento (ou Colchão) do Imperador.


Notas de Rodapé (do texto original)


[1] Trata-se da primeira aparição perceptível do astro na alvorada imediatamente antes do nascer do Sol, distante de 10° a 12°.
[2] Trata-se do momento em que o astro nasce em oposição ao Sol, isto é, durante o pôr deste.
[3] Cópias desses calendários, chamados Παράπηγματα, gravados em pedra ou bronze, eram visivelmente expostos nos mercados e dois deles supostamente chegaram a nós, — aquele de Gêmino de Rodes, 77 aC, e o de Ptolomeu, 140 dC. Embora esses provavelmente fossem precisos o bastante, as alusões ao que continham por poetas e autores frequentemente parecem estar tão erradas quanto corretas, sendo baseadas em observações tomadas sob a confiança em escritores anteriores, ou da tradição, embora por causas diversas, e especialmente pelo efeito da precessão, eles se tornaram incorretos. Considera-se que a declaração de Hesíodo, em As Obras e os Dias, sobre o nascer helíaco de Arcturus permite fixar sua própria data na História em cerca de 800 aC.
[4] O significado dessa palavra Simāk é um tanto incerto e foi tema de uma fecunda discussão no século XVIII. Sua raiz significa “elevar-se ao alto”, e acredita-se que fosse empregada pelos árabes quando eles desejavam indicar qualquer objeto proeminente alto no céu, mas com referência especial a esta estrela e ao outro Simāk, Spica da Virgem.
[5] O movimento próprio das estrelas, i.e. o deslocamento angular perpendicular à linha de visada, foi detectado pela primeira vez por Halley, em 1718, a partir da comparação entre observações de sua época, especialmente as de Tycho para Arcturus, Aldebaran e Sirius, com aquelas em registros antigos.


Notas Explicativas da Tradução


[i] Excerto de um verso na tradução que Pope fez para a Tebaida de Estácio. O verso faz parte da seguinte estrofe: “So fares a sailor on the stormy main, / when clouds conceal Bootes golden wain, / when not a star its friendly lustre keeps, / nor trembling Cynthia glimmers on the deeps” (Assim se arrisca no alto-mar tempestuoso um marinheiro, quando as nuvens escondem a carroça dourada do Boieiro, quando não há uma estrela que seu brilho amistoso mantenha, nem a Lua tremeluzente cintile nas profundezas).
[ii] Versos 3-4 da Ode III em Horas de Ócio, de Byron. Tradução versificada nossa. No original: “Bootes only seem’d to roll / His Arctic charge around the Pole”.
[iii] Traduzido a partir do verso citado por Allen: “Bootes with the wain the north unfolds”, cuja origem não consegui descobrir, embora possivelmente seja uma das traduções versificadas ao inglês dos textos de Claudiano, embora ele não esteja nas duas traduções mais conhecidas à época de Allen: A. Hawkings (1817) e Henry Howard (1823). Embora haja muitas referências a Boötes e wain em diversos poemas dessas traduções, comparando o texto de ambas, suponho que a tradução usada por Allen seja ao v. 181 do poema De Tertio Consulatu Honorii Augusti: “(…) Arctoa parat convexa Bootes”, representada por Hawkings como: “To deck the Arctick space Bootes tried” e por Howard como: “(…) There Boötes waits, / Inviting to the North (...)”.
[iv] Segundo Varrão, Triones foi um nome particularmente preferido por agricultores romanos para se referenciar à Ursa Maior. A palavra parece ser uma redução de Septentriones, um título clássico dessa constelação, pela confusão etimológica entre inicial septen- com septem (sete), considerando que a Ursa Maior apresenta sete estrelas de forte brilho.
[v] Trecho do Capítulo III, do Livro I, de Sartor Resartus, de Thomas Carlyle. No original: “What thinks Bootes of them, as he leads his Hunting Dogs over the zenith in their leash of sidereal fire?
[vi] Trecho do Livro II, Cap. XLII, §109, do De Natura Deorum de Cícero. Em português: “Arctophylax, comumente chamada como Bootes”.
[vii] Metro 5, Livro 4 do De Consolatione Philosophiae, de Boethius, na tradução ao inglês feita por Chaucer. O verso completo é: “Who so þat ne knowe nat þe sterres of Arctour” correspondente ao verso latino: “Si quis Arcturi sidera nescit”.
[viii] Erimanto é o nome de uma montanha da Aquéia. Também era o nome pelo qual a Arcádia era conhecida. Assim, seus habitantes eram erimântidas, entre os quais estava Calisto, a ninfa transformada em ursa por Hera e colocada nos céus por Zeus.
[ix] Versos 363-364, do Livro I, do Astronomicon de Manílio. Tradução de Marcelo Vieira Fernandes (in Manílio — Astronômicas: Tradução, Introdução e Notas, Dissertação de Mestrado, PPG Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, 2006). Compare com o texto latino: “cui verum nomen vulgo posuere, minanti / quod similis iunctis instat de more iuvencis”. Alen usou a tradução versificada feita por Thomas Creech que não é estritamente correspondente ao original grego devido às demandas da versificação: “(…) whose order'd Beams / Present a Figure driving of his Teams” (cujos raios ordenados / apresentam uma figura que conduz sua junta de bois).
[x] Referência aos vv. 91-93 dos Fenômenos de Arato. Tradução de Raphael Zillig em Arato, Fenômenos (Cadernos de Tradução, 38, jan-jun, 2016, org. Bacarat Jr., J. C., Porto Alegre: Instituto de Letras da UFRGS). Allen usou os seguintes versos traduzidos: “Behind and seeming to urge on the Bear, / Arctophylax, on earth Bootes named, / Sheds o'er the Arctic car his silver light.” No original grego: “ἐξόπιθεν δ᾽ Ἑλίκης φέρεται ἐλάοντι ἐοικὼς / Ἀρκτοφύλαξ, τόν ῥ᾽ ἄνδρες ἐπικλείουσι βοώτην, / οὕνεχ᾽ ἁμαξαίης ἐπαφώμενος εἴδεται Ἄρκτου”.
[xi] Excerto dos versos 446-447, Livro X, de Metamorfoses de Ovídio. Em tradução aproximada nossa: “e entre os bois, o Boieiro curvava a corroça com timão oblíquo”. Nesses versos, triones pode indicar tanto as duas Ursas, quanto a representação da Ursa Maior como sete bois (“septem triones”). Compare com a tradução de David Jardim Júnior: “Arcturo, inclinando o timão de seu carro, desviara-se obliquamente entre as Ursas” (in Ovídio, Metamorfoses, Rio de Janeiro: Ediouro, 1983).
[xii] Citação aos vv. 189-190 do Livro II de Os Fastos, de Ovídio: “signa propinqua micant: prior est, quam dicimus Arcton, / Arctophylax formam terga sequentis habet”, que faz parte de uma longa sequência de versos onde Ovídio conta sobre como Arcas quase matou a mãe. A história pode ser melhor apreciada na tradução de Maria Lia Leal Soares a tais versos: “Ultrajada, Juno enlouquece e muda a aparência da jovem. Que fazes? Foi contra a vontade que ela se submeteu a Júpiter. E, quando Juno vê o torpe rosto de fera na amante, diz: ‘Júpiter, corre agora aos braços dela!’ Esquálida errava pelos selvagens montes a ursa, que fora, há pouco, amada pelo supremo Júpiter. A criança concebida furtivamente contava já três lustros quando a mãe foi ao encontro do filho. Ela, na verdade, como conhecesse o filho, parou perturbada e gemeu: os gemidos eram as palavras de mãe. O menino, sem reconhecê-la, tê-la-ia trespassado com pontiaguda lança, se não fossem ambos arrebatados às moradas celestes. Suas constelações brilham próximas. Primeiro está a que chamamos Árcton, Arctófilax parece seguir suas costas" (in Ovídio e o poema calendário: Os Fastos, Livro II, o mês das expiações, Dissertação de Mestrado, PPG em Letras da Universidade de São Paulo, 2007, pg. 50). Disso entende-se que Ovídio refere-se a Calisto e Arcas como a Ursa Maior (Árcton) e o Boieiro (Arctófilax), respectivamente.
[xiii] Em português: “Arctos chamado de Carroça, que rola no alto / Seu curso circular, e por Órion espera”. Correspondem aos vv. 487-488 do Livro XVIII da Ilíada de Homero. A tradução ao inglês de Lorde Derby data de 1864. O original grego: “Ἄρκτόν θ᾽, ἣν καὶ Ἄμαξαν ἐπίκλησιν καλέουσιν, / ἥ τ᾽ αὐτοῦ στρέφεται καί τ᾽ Ὠρίωνα δοκεύει”, também traz Órion (Ὠρίωνα, no acusativo) como objeto da ação de vigilância (δοκεύει) da Ursa (Ἄρκτόν), e não o oposto como na representação figurativa entre o Boieiro e a Ursa. Compare com a tradução feita por A. T. Murray em 1924: “the Bear, that men call also the Wain, that circleth ever in her place, and watcheth Orion” (a Ursa, que os homens também chamam de Carroça, que circula sempre em seu lugar e observa Órion). Curiosamente, a tradução da Ilíada ao português feita por Manuel Odorico Mendes, publicada em 1874, elimina o verso que gerou a confusão, fundindo ambos em apenas um: “A Ursa que o vulgo domina Plaustro”.
[xiv] “Arcturus ou o Orus vizinho da Ursa, para distingui-lo da constelação meridional de Órion”. In Astronomie, de Lalande, J., Paris, pg. 195 (1764). O trecho completo é interessante: “Bootes étoit une ancienne constellation égyptienne, nommée Oros, selon Nigidius cité par Servius; et la principale étoile étoit nommée Arctouros ou l'Orus voisin de l'Ourse, pour le distinguer de la constellation méridionale d'Orion (Salmasius, de Ann. Climact. p. 594, cité par Fréret, p. 5o1); d'autres le tirent de ὀυρος, custos, avec Ἄρκτος, ursa”, isto é, Lalande citou autores que alternativamente derivavam o nome da estrela Arcturus como “o Orus vizinho da Ursa”.
[xv] Κανδάων (Candáon) é um nome grego de etimologia obscura, mencionado no poema Alexandra de Licofronte. Muitos o associaram a Zeus, Hermes, Poseidon e Ares, bem como a Órion.
[xvi] Citação a Gênesis 10:9. Na versão Almeida Corrigida Fiel: “E este foi poderoso caçador diante da face do Senhor; por isso se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor”.
[xvii] Allen escreveu Τρυγετής, mas os dicionários gregos só contém Τρυγητής e Τρυγητήρ com o mesmo significado.
[xviii] Em tradução nossa: “E quando na manhã rosada Arcturus brilhar, retire os cachos das parreiras”. Versos 610-611 de As Obras e os Dias, de Hesíodo. Compare com a tradução feita em 1914 por Hugh G. Evelyn-White: “and rosy-fingered Dawn sees Arcturus, then cut off all the grape-clusters”. No original em grego: “(…) Ἀρκτοῦρον δ᾽ ἐσίδῃ ῥοδοδάκτυλος Ηώς, / ὦ Πέρση, τότε πάντας ἀποδρέπεν οἴκαδε βότρυς”.
[xix] Em tradução nossa: “Quando do trópico, ou do sol do inverno, / três vezes vinte dias transcorrerem; / E quando Arcturus deixar o alto-mar, para nascer / como uma estrela brilhante no céu da noite; / Então pode a videira”. Excerto dos vv. 564-570 de As Obras e os Dias, de Hesíodo. Compare com a tradução feita em 1914 por Hugh G. Evelyn-White: “When Zeus has finished sixty wintry days after the solstice, then the star Arcturus1 leaves the holy stream of Ocean and first rises brilliant at dusk. After him the shrilly wailing daughter of Pandion, the swallow, appears to men when spring is just beginning. Before she comes, prune the vines, for it is best so”. No original grego: “εὖτ᾽ ἂν δ᾽ ἑξήκοντα μετὰ τροπὰς ἠελίοιο / χειμέρι᾽ ἐκτελέσῃ Ζεὺς ἤματα, δή ῥα τότ᾽ ἀστὴρ / Ἀρκτοῦρος προλιπὼν ἱερὸν ῥόον Ὠκεανοῖο / πρῶτον παμφαίνων ἐπιτέλλεται ἀκροκνέφαιος. / τὸν δὲ μέτ᾽ ὀρθογόη Πανδιονὶς ὦρτο χελιδὼν / ἐς φάος ἀνθρώποις, ἔαρος νέον ἱσταμένοιο. / τὴν φθάμενος οἴνας περταμνέμεν: ὣς γὰρ ἄμεινον”.
[xx] Tradução nossa para o v. 229 da 1.a Geórgica, de Virgílio, na tradução inglesa publicada em 1770 por Joseph Davidson: “Setting Bootes will afford thee signs not obscure”. Allen escreveu erroneamente “the” em lugar de “thee”. No original latino: “Haud obscura cadens mittet tibi Bootes”. Compare ainda com a tradução ao português feita por Arthur Rodrigues Pereira Santos (in A tradução identificadora aplicada ao Livro I das Geórgicas de Virgílio, Dissertação de Mestrado, PPG em Letras Clássicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014, pg. 103): “nada obscuros serão os signos dados por Bootes, baixando”.
[xxi] Na lenda, Icário acolheu Dioniso em sua chegada à Ática e recebeu do deus agradecido alforjes de vinho, bem como aprendeu o cultivo da videira. Julgando o presente do deus muito útil, ele resolveu distribuir o vinho a alguns amigos pastores, mas, ao consumi-lo, esses pensaram que Icário tentava intoxicá-los e envenená-los com o vinho. Furiosos e bêbados, mataram-no. Sua filha Erigone, após uma longa busca, encontrou o túmulo do pai, ao qual foi conduzida pelo fiel cão Maera. Pesarosa, ela se enforcou na árvore sob a qual Icário foi enterrado. Por conta disso, Zeus (noutras versões, Dioniso) colocou-os no céu, fazendo de Erigone a Virgem, de Icário o Boieiro ou Arcturus, e de Maera a Estrela do Cão. Dioniso também puniu os atenienses ingratos com uma praga, através da qual todas as donzelas atenienses se enforcavam como Erigone tinha feito. Essa calamidade só cessou quando Atenas instituiu festivais honoríficos, durante os quais os frutos eram oferecidos como sacrifício a ela e seu pai. Nota-se também que Allen parece repreender (jocosamente?) o consumo do vinho em seu comentário: “que tantos problemas trouxe ao mundo por sua exposição prática das ideias de Baco quanto ao uso apropriado da uva, e que foi tão imerecidamente exaltado nos céus”.
[xxii] Latin-English Lexicon, de E. A. Andrews, publicado em Nova Iorque, em 1851, tendo por base o dicionário latim-alemão de William Freund.
[xxiii] A suposição aqui é que o nome ارکتوروس (Arkhturus) possa ser sido confundido com al-Khturus, transformando-se daí em Kheturus pela elisão do falso artigo al. E, ainda, que nessa forma deu origem às corruptelas Seginus, Cheguius, etc.
[xxiv] Kircher, A. 1653, Oedipus Aegyptiacus, vol. II, p. 206. Sobre isso, Landseer (in Sabæan Researches, Londres: Hurst, Robinson & Co., 1823, pg. 130) traz uma interessante discussão: “I have before intimated that I think but little ought to be granted in all cases where antique authorities are not brought forward: yet I must add that I do not suppose Kircher to have invented his planispheres — which would be to pronounce him outright to have been an impostor. No: I rather think they are compilations ; and that no authority has been adduced, because from no single authority were they copied. Sir William Drummond says that, ‘to the accuracy of the planispheres exhibited by Kircher, many objections have been made, but Bailly, (the French astronomer) has certainly repelled the most important of them’ *— Whatever weight of authority you may be pleased to allow to them: it is remarkable that in his plate of ‘the northern constellations,’ instead of Bootes, Noah, or Osiris, — ‘the first cultivator of the vine’ — we behold the vine itself!* — I introduce the mention of this, not merely as a curious fact ; but (to those who place reliance on Athanasius Kircher) as a buttress of unexpected support to the mass of evidence which so many antiquaries have laboured to collect, in order to shew the identity of the very ancient personages who are here in question. It is difficult to suppose the vine itself to have been constellated in a planisphere where it is the sole vegetable asterism, upon any other principle than as the substitute, and fit symbolical representative, of him who first expressed and fermented its generous juice" (Antes, declarei que penso que pouco crédito deveria ser dado a todos os casos em que fontes autoritativas antigas não sejam apresentadas: devo ainda acrescentar que não suponho que Kircher tenha inventado seus planisférios - o que seria declará-lo abertamente de ter sido um impostor. Não: eu prefiro pensar que eles são compilações; e que nenhuma fonte autoritativa foi aduzida, porque de nenhuma em particular eles foram copiados. Sir William Drummond diz que, ‘sobre a precisão dos planisférios exibidos por Kircher, muitas objeções foram feitas, mas Bailly, (o astrônomo francês) certamente rechaçou a mais importante delas.’ *— Qualquer que seja peso de autoridade que você lhes permita para: é notável que em sua prancha das "constelações boreais", em vez de Bootes, Noé ou Osíris, ‘o primeiro cultivador da videira’, contemplemos a própria videira! *— introduzo a menção a isso, não meramente como um fato curioso; mas (para aqueles que confiam em Athanasius Kircher) como um suporte de apoio inesperado à massa de evidências que tantos antiquários têm trabalhado para coletar, a fim de mostrar a identidade dos personagens muito antigos que estão aqui em questão. É difícil supor que a própria videira tenha sido constelada em um planisfério onde é o único asterismo vegetal, sob qualquer outro princípio que não seja como substituto, e como representante simbólico, daquele que primeiro expressou e fermentou seu generoso suco).
[xxv] Uma outra possibilidade de tradução em português seria “que tem poente tardio”. Allen se refere à tradução de ὀψέ δύων para o inglês: late in setting, que é usada idiomaticamente com o sentido de “estar atrasado nos preparativos de algo” ou “demorar a realizar uma ação”, os quais não estão presentes nas traduções para o português.
[xxvi] Excerto dos vv. 582-583 dos Fenômenos de Arato. Tradução de Márcio Felix Jobim em Arato, Fenômenos (Cadernos de Tradução, 38, jan-jun, 2016, org. Bacarat Jr., J. C., Porto Alegre: Instituto de Letras da UFRGS). Allen usou os seguintes versos traduzidos: “he, when tired of day, / At even lingers more than half the night”. Compare com a tradução ao inglês feita em 1921 por A. W. Mair & G. R. Loeb: “and when he is sated with the light he takes till past midnight in the loosing of this oxen”. No original grego: “ὁ δ᾽ ἐπὴν φάεος κορέσηται, / βουλυτῷ ἐπέχει πλεῖον πλεῖον δίχα νυκτὸς ἰούσης”.
[xxvii] Tradução nossa para o verso citado por Allen: “Slow Bootes drives his lingering Teams”, que corresponde ao v. 20, Livro V, do Astronomicon, de Manílio. Uma vez que Allen usa a tradução versificada de Thomas Creech, seus versos ocasionalmente não correspondem com exatidão ao verso latino. Em particular, o verso 20 original nada possui acerca da lentidão do Boieiro: “Heniochusque memor currus plaustrique Bootes” e devemos considerar que Thomas Creech se baseou noutros versos ou obras análogas para ganhar mais flexibilidade em suas rimas.
[xxviii] “O Boieiro, ou o Carroceiro, uma constelação de movimento lento, assentada no Polo Norte próximo à Carreta de Charles, o qual ela segue”. A Carreta de Charles (Charles Wain) era um dos nomes associados à Ursa Maior.
[xxix] Referência a parte dos vv. 608-609 dos Fenômenos de Arato: “(...) ἐπεὶ μέγα σῆμα Βοώτης / ἀθρόος ἀντέλλει βεβολημένος Ἀρκτούροιο” (pois a grande constelação do Boieiro / levanta-se de uma só vez, precipitada por Arcturo). A tradução ao português é de Inara Zanuzzi em Arato, Fenômenos (Cadernos de Tradução, 38, jan-jun, 2016, org. Bacarat Jr., J. C., Porto Alegre: Instituto de Letras da UFRGS).
[xxx] Excerto dos versos 86-87 do Canto VIII, do Purgatório, na Divina Comédia de Dante. Allen usou a tradução inglesa de Longfellow. A tradução apresentada é de José Pedro Xavier Pinheiro. No original, em italiano: “pur là dove le stelle son più tarde, / sì come rota più presso a lo stelo”.
[xxxi] Mons Maenalus é um pequeno e débil asterismo situado ao pé do Boeiro. Formado em 1687 por Hevelius, teve status de constelação em algumas antigas cartas celestes, mas atualmente é considerada desusada. Seu nome corresponde ao de uma montanha da Arcádia. Na mitologia grega, Mênalo (lat. Maenalus) era tido como tio ou filho de Arcas, o filho de Calisto, que representa a Ursa Menor.
[xxxii] No original: “Eusebius, quoting an ancient oracle which has apparent reference to this constellation as formerly represented, writes — A mystic goad the mountain herdsman bears” (in Landseer, J. 1823, Sabæan Researches, Londres: Hurst, Robinson & Co., pg. 106).
[xxxiii] Brown, R., Jr. 1893, Eufratean Stellar Researches, Proceedings by Society of Biblical Archæology, vol. XV, pg. 323.
[xxxiv] al-Ḥāmil Luzz (الحامل لزّ) é a palavra árabe proposta por Ideler para explicar a origem do nome Alkameluz. Nota-se da leitura de Ideler, que esta última palavra não tinha uma interpretação clara: “Nach dem Coelum astronomico-poëticum des Caesius sollen sich für dieses Bild auch die Namen Alkameluz und Colanza finden. Den ersten erklärt Herr Beigel sehr glücklich durch الحامل لز, El-hhâmel luz, portans hastam, von لز, lazza, confossit hasta, so dass es ein Synonym von El-râmih ist” (in Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 55-56). Embora al-Ḥāmil (الحامل) possa significar “portador”, Luzz (لزّ) corresponderia a “atar, unir, juntar”. Não encontrei esse termo com o significado exclusivo de “lança”, mas é forçoso anotar que tanto os dicionários de Lane (Arabic-English Lexicon, 1876) e de Richardson (A Dictionary, Persian, Arabic, and English, 1852) registram sob o verbete لزّ, a par daqueles supracitados, o significado “perfurado por uma lança”. De fato, “Confossit hasta” no texto citado acima tem o mesmo significado de “perfurado por uma lança”. Parece-me portanto plausível que o principal motivador da tradução como Portador da Lança provavelmente foi o nome al-Rāmiḥ (Lança) ser usado para o Boieiro. Ainda, é curioso ressaltar uma outra senda etimológica para essa palavra, posto que الحامل também pode significar “feixe, braçadeira, viga, suporte”, entre outros termos associados justamente ao ato de “atar, unir, juntar”. Nesse caso, al-Ḥāmil Luzz poderia ser um objeto que une. A dificuldade aqui poderia estar em associar o significado ao Boieiro, mas talvez tenha relação com o “jugo”, a peça de madeira que une os bois duma junta: as Triones.
[xxxv] Referência a Amós 7:14: “E respondeu Amós, dizendo a Amazias: Eu não sou profeta, nem filho de profeta, mas boiadeiro, e cultivador de sicômoros”, na versão Almeida Corrigida Fiel.
[xxxvi] As Três Coroas correspondem ao símbolo heráldico da Suécia. Supõe-se que foi criada no século XIV para representar os domínios do rei Alberto sobre a Suécia, Finlândia e Meclemburgo.
[xxxvii] In Proctor R. A. 1873, Half-hours with the telescope, Nova Iorque: G.P. Putnam's sons, pg. 58.
[xxxviii] In The Works of Hesiod, trad. Thomas Cooke, 1740, Londres, pg. 139. Os hexâmetros eram o verso padrão épico e mítico usado nas obras clássicas greco-romanas.
[xxxix] “No alto, manhã ou tarde, segura Arcturus sua lança”. A tradução de Emerson aparece em May-day, and other pieces, Boston: Ticknor and Fields, 1867. Hafiz foi um poeta lírico persa, nascido entre 1310 e 1337 em Xiraz.
[xl] Compare 38:32, na Bíblia do Rei James: “Canst thou bring forth Mazzaroth in his season? or canst thou guide Arcturus with his sons?”; e na versão Almeida Corrigida Fiel: “Ou produzir as constelações a seu tempo, e guiar a Ursa com seus filhos?”.
[xli] “Terrível Arcturus”; referência ao v. 745 dos Fenômenos de Arato: “ἐφράσατ᾽ ἢ δεινοῦ μεμνημένος Ἀρκτούροιο”.
[xlii] Referência ao capítulo LXIX do Livro XVIII do Naturalis Historia de Plínio: “haec ab horridis sideribus exeunt, ut saepius diximus, veluti arcturo, Orione, haedis”.
[xliii] A Lustratio frugum era um festival romano dedicado à purificação das frutas.
[xliv] Versos 68 e 204 do Livro I das Geórgicas de Virgílio.
[xlv] Trecho da Parte 10 do livro Dos Ares, Águas e Lugares, de Hipócrates. Allen usou a tradução de Charles Darwin Addams, na qual me baseei para traduzir ao português. Os termos fleumático, úmido e bilioso se referem à teoria humoral hipocrática, segundo a qual a vida era mantida pelo equilíbrio de quatro humores: sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra. O predomínio de um destes humores em cada indivíduo corresponderia a diferentes tipos fisiológicos, respectivamente, o sanguíneo, o fleumático, o colérico (ou bilioso) e o melancólico.
[xlvi] Trecho da Parte 11 do livro Dos Ares, Águas e Lugares, de Hipócrates. Veja a nota [xlv] acima.
[xlvii] Citação ao Bedford Catalogue, pg. 317, de William H. Smyth.
[xlviii] Tradução aproximada: “A constelação mais severa de todas sou eu, Arcturus; turbulento sou quando nasço, e mais turbulento ainda quando me ponho”.
[xlix] Versos 27-28 da Ode III.1 de Horácio. Tradução aproximada: “Nem o ímpeto feroz de Arcturus poente ou dos Cabritos nascentes”.
[l]Quando o úmido Arcturus nublar o céu”. Verso 119 do poema Windsor Forest, de Alexander Pope.
[li] No texto de Allen, trata-se do 13.o nakshatra. Veja a nota [xi] em Andromeda.
[lii] In “Star Names Among the Ancient Chinese” (Edkins, J. 1888, The Chinese Review, vol. XVI, no. 5, pg. 262). Os caracteres que formam o nome Shè Tí, 攝提, também admitem a pronúncia alternativa Niè Dī. Optei por Shè Tí por ser aquele fornecida por Edkins e Allen.
[liii] Excerto do poema The Stars, de Lydia Huntley Sigourney, publicado em Richmond, em 1837, no Southern Literary Messenger, vol. III, no. V, pg. 280. No original: “Arcturus! Patriarch, Mentor of the Train”.
[liv]Arcturus é um signo formado por sete estrelas, (...) mas mais apropriadamente Arcturus é uma estrela situada atrás da cauda daquele signo chamado Ursa Maior”.
[lv]Estrela muito brilhante chamada Arcturus que se situa entre as pernas do Boieiro”; in Recorde, R. 1556, Castle of Knowledge, pg. 264.
[lvi] No texto original, Allen informa que tanto o abade Picard quanto Gautier realizaram essa observação. Não há maiores elementos que permitam identificar esse Gautier. Uma possibilidade seria Joseph Gaultier de La Valette, astrônomo provençal dos séculos XVI e XVII; que todavia este morreu em 1647 e não poderia participar da observação em 1669. Em todo caso, Allen afirma que essa declaração é de Smyth, mas o Bedford Catalogue (pg. 316) cita apenas o abade Picard; nenhum Gautier.
[lvii] A citação entre aspas provém de Webb, T. W. 1873, Celestial objects for common telescopes, Londres: Longmans, Green & Co., pg. 210.
[lviii]Na manhã de 27 de novembro, a cabeleira do cometa estava espalhada por sobre a brilhante estrela Arcturus, entre as coxas do Arctophylax ou Bootes”. Esse trecho é mencionado por Thos. M. Rickman no The Athenaeum, n. 1617, pg. 528, como excerto do panfleto An Astronomicall Discription of the late comet, de John Bainbridge, de 1619, que se encontrava num volume de panfletos do British Museum folheados por Rickman em 1858.
[lix] A citação entre aspas provém de Clerke, A. M. 1890, The System of the Stars, Londres: Longmans, Green & Co., pg. 151.
[lx] Allen afirma que se trata do próprio texto de Schiller, mas a menção a Arcturus só faz parte da tradução versificada ao inglês feita por Coleridge: “Not every one doth it beseem to question / The far-off high Arcturus (...)”, excerto do Ato III, Cena XVIII de Death of Wallenstein, de Schiller, trad. S. T. Coleridge. Reescrevi o parágrafo para esclarecer isso.
[lxi] A palavra hienas (ضباع ; ḍibāʿ) em árabe pode soar ligeiramente semelhante à palavra loba (ذئبة ; dhiʾbah) para um ouvido ocidental. Mas a transliteração é diferente. Allen usa a transliteração que aponta para a tradução como Loba, tanto nessa passagem quanto, mais adiante, acerca do asterismo Aulād al-ḍibāʿ, embora este seja apresentado por Ideler com os caracteres arábicos: “Auf den Borgianischen Globus steht längs dem emporgehaltenen rechten (eigentlich linken) Arm اولاد الضباع, Aulâd el-dibâ”, o que bastaria para eliminar a dúvida acerca da transliteração. Devido à essa indefinição, adicionei ao texto principal ambas as transliterações.
[lxii] Ao fim da seção dedicada a essa estrela, Allen incluiu a seguinte informação, que eliminei na tradução: “It is interesting to know that the variable ν is in the telescopic field with γ”. Esta informação está errada, pois a dupla visual ν1 e ν2 encontra-se junto ao outro braço do Boieiro, próximo à estrela φ, que em algumas listas aparece com o nome Ceginus.
[lxiii] Referência ao v. 386 do Livro III do Astronomicon de Manílio: “prona Lycaoniae spectantem membra puellae”.
[lxiv] Referência ao verso 1154 de Ἴων. No original, Eurípides fala sobre a Ursa Maior, cuja cauda gira ao redor do polo, não sobre Arcturus: “Ἄρκτος στρέφουσ᾽ οὐραῖα χρυσήρη πόλῳ”. A confusão entre Ἄρκτος e Arcturus vem da tradução ao inglês feita pelo Reverendo R. Potter, publicada em 1814 em Londres, que Allen citou: “Above, Arcturus to the golden pole inclines”. Numa correção a essa tradução, publicada em 1938 em Nova Iorque pela Random House, já se lê: “above, Arktos turned his golden tail on the pole”. Optei por manter o sentido dado por Allen para não descaracterizar o parágrafo.
[lxv] A razão para este nome é considerada obscura, mas provavelmente tem relação com o asterismo chinês Qī Gōng, do qual ela faz parte, uma vez que Allen o traduziu como Sete Príncipes. Reforça esta hipótese que o nome Princeps parece ter aparecido pela primeira vez em 1923 no The Fixed Stars and Constellations in Astrology de Vivian Robson, décadas após a obra de Allen ser publicada.
[lxvi] A identificação de asterismos chineses no Boieiro apresenta inconsistências tanto de atribuição quanto de tradução. As seções dedicadas a α, β e γ Bootis exemplificam as confusões de atribuição. No caso de ε, listas disponíveis na internet afirmam que o asterismo Gěng Hé, 梗河, signifique Lança Celestial, embora nenhum dos conceitos de lança ou céu estejam entre os significados dos ideogramas que o compõem (esse asterismo é inclusive romanizado por Allen como Kang Ho, com a informação de que representa um rio na China). Por outro lado, estas mesmas listas mencionam outro asterismo com o mesmo significado de Lança Celestial: Tiān Qiāng, 天槍, desta vez corretamente. Completa essa confusão a informação de Allen de que γ Bootis era chamada de Heuen Ko numa antiga romanização da palavra chinesa e teria o significado de Lança Celestial. Os caracteres fornecidos por Williams nas pranchas do Observations of Comets permite-me concluir que o nome em pinyin seria escrito Xuán Gē, 玄戈, o qual na verdade significaria aproximadamente Alabarda (ou Lança) Sombria e é atualmente atribuído a λ Bootis. Não me espantaria se essa confusão foi gerada pela presença de nomes chineses com significado ligeiramente similar misturados às afirmações no texto de Allen tomado como autoritativo.
[lxvii] Em tradução aproximada: “e é o bastão (ou lança) que mantém os cães”.
[lxviii] Referência à diversas passagens da Ilíada, de Homero, especialmente em seu Livro XXII, após a captura de Heitor por Aquiles. Homero menciona em diversas passagens desse livro os cães e abutres que conspurcarão o corpo do troiano. A palavra que Homero usou para cães foi κύων, que muitos interpretam como hienas ou chacais.
[lxix] Allen adita que a tradução fornecida por Assemani está errada, pois “the original [arabic word] signifies the Low, or Mean, Little Ones”. Sobre essa afirmação, algumas considerações são necessárias. Assemani traz: “اولاد النضلة Aulad Alnadhlat, Filii Altercationis: Stellæ illæ, quæ sunt in manu, & brachio dextero” (in Globus Caelestis Cufico-Arabicus Veliterni Musei Borgiani, pg. CV). Primeiramente, noto que a palavra árabe talvez fosse melhor transcrita como Aulād al-Nadhlah devido ao ة final. Allen usou uma vogal longa na última sílaba dessa palavra, mas a grafia árabe não a autoriza. Ainda, a palavra نضلة não se encontra nos dicionários árabes que consultei, porém o radical نضل está presente no Arabic-English Lexicon de Lane (1876) com o sentido de “competição, contenda”, entre outros, dando apoio à tradução proposta por Assemani, e não àquela mencionada por Allen. Por conta disso, exclui essa sua ressalva na tradução.
[lxx] Uma vez que Allen não explicitou o idioma de origem da palavra Marra, alguns pretendem derivá-la do nome árabe da constelação de Andrômeda: al-Marʾah al-Musalsalah, talvez por desconhecer que Marra é uma palavra do latim. Ademais, Andrômeda sequer está próxima ao Boieiro para que essa suposta derivação fizesse sentido.

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