Té à crinita estrela que, transpondo
De Atlante os mares, do horizonte as metas,
A Andrômeda livrou de crua morte. [i]
Paraíso Perdido, de Milton.
ARIES
é conhecida entre nós tanto como Áries ou Carneiro; Ariete, entre os italianos; Bélier, para os franceses; e como Widder na Alemanha — origem do Wider usado por Bayer; na língua anglo-saxã, ela era Ramm, donde o nome Ram usado no inglês moderno; já entre os anglo-normandos do século XII, Multuns. A constelação é marcada por um perceptível triângulo a oeste das Plêiades, 6° a norte da eclíptica, 20° a norte do equador celeste e 20° para o sul de γ Andromedae.
Entre os gregos, ela era Κριός, e por vezes Ἀιγόκερως, embora este último seja mais usual para Capricórnio.
Ela sempre foi Aries entre os romanos; mas Ovídio a chamou de Phrixea Ovis (Ovelha de Frixo); e Columela, Pecus Athamantidos Helles (Animal da Atamântida Hele), Phrixus e Portitor Phrixi (Condutor de Frixo); outros, Phrixeum Pecus (Animal Frixeano), Phrixeus Agnus (Cordeiro de Frixo) e Phrixi Vector (Portador de Frixo), sendo Frixo o herói grego, filho de Atamante, que montado neste Carneiro rumou para a Cólquida com sua irmã Hele para escapar da ira de sua madrasta Ino. Devemos lembrar que, no caminho, Hele caiu no mar, no local que passou a ser chamado de Helesponto, como escreveu Manílio:
O chefe do rebanho e vitorioso sobre o mar, ao qual,
Deixando uma parte de seu fardo, deu um nome; [ii]
e Longfellow, em sua tradução de Tristia de Ovídio:
O Carneiro que suportou perigosamente o fardo de Hele.[iii]
Ao chegar ao fim de sua jornada, Frixo sacrificou a criatura e pendurou seu velo no Bosque de Ares, onde foi transformado em ouro e se tornou o objeto da busca dos Argonautas. Disto vem outros dos títulos de Áries: Ovis Aurea e Ovis Auratus (Carneiro de Ouro), Chrysomallus e o baixo latim Chrysovellus, ambas com o significado de Velocino de Ouro.
Áries, no mapa estelar de Bode |
Cícero e Ovídio apelidaram a constelação de Cornus (Corno); em outros autores, ela era Corniger (Cornígero) e Laniger (Lanígero); Vervex, o Carneiro Castrado; Dux Opulenti Gregis (Líder do Rebanho Opulento); Caput Arietinum (Cabeça de Carneiro); e, em alusão à sua posição, Aequinoetialis (Equinocial). Vernus Portitor, o Portador da Primavera, é citado por Caesius, que também menciona Arcanus (Arcano), o que pode se referir aos rituais secretos dos cultos das divindades que Áries representava.
De aproximadamente o ano 1730 antes de nossa era, ele tornou-se o Princeps Signorum Coelestium (Príncipe dos Signos Celestes), Princeps Zodiaci (Príncipe do Zodíaco) e o Ductor Exercitus Zodiaci (Condutor da Tropa do Zodíaco), e assim continuou através da época de Hiparco; sobre isso, escreveu Manílio:
O Carneiro tendo passado o Mar brilha serenamente
E conduz o ano, o Príncipe de Todos os Signos.[v]
Mas por volta de 420, essa tarefa foi transferida para os Peixes.
Brown discute acerca da origem do título Áries, sem fazer qualquer suposição de semelhança entre a constelação e o animal:
As estrelas eram consideradas pela população pastoril como rebanhos; cada asterismo tinha seu líder especial, e a estrela, e subsequentemente a constelação, que conduzia os céus ao longo do ano era o Carneiro.
Noutra obra, ele nos conta que quando Áries tornou-se o chefe do zodíaco, ele recebeu os títulos acadianos Ku, I-ku e I-ku-u, de sua lúcida Hamal, todos equivalentes ao assiriano Rubū, Príncipe, e muito apropriado ao grupo estelar condutor àquela época, embora ele não tenha sido uma das primeiras formações.
Áries, no Astronomicon de Manílio |
Jensen acredita que Áries foi primeiramente adotado no zodíaco pelos babilônios, quando suas estrelas começaram a marcar o equinócio vernal; e que sua inserção entre Touro e Pégaso forçou o corte de parte de cada uma dessas figuras, — uma inovadora hipótese que economizaria muita teorização quanto ao aspecto seccional delas.
O Nīsān judeu, nossos março–abril, foi associado a Áries, pois Josefo afirma ter sido quando o Sol estava nesta constelação nesse mês que seu povo foi libertado da escravidão do Egito; e o mesmo ocorria para o mês Nisanu da Assíria, onde Áries representava o Altar e o Sacrifício, sendo um carneiro a vítima usual. Daí a importância dada a este signo na antiguidade, mesmo antes de suas estrelas se tornarem as líderes das demais; embora Berōssōs e Macróbio atribuíram-na à antiga crença de que a Terra foi criada quando o Sol encontrava-se em seus limites; e Albuxar de Bactro,[1] do século IX, em sua Revolução dos Anos [vi] escreveu que a Criação ocorreu quando os “sete planetas” — o Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno — estavam em conjunção em Áries, e previu que a destruição do mundo ocorreria quando eles estivessem na mesma configuração, no último grau de Peixes.
Outra representação de Áries atribuída a J. E. Bode |
Dante, que chamou a constelação de Montone — uma palavra italiana que também significa Carneiro, seguiu um raciocínio parecido em Inferno:
Subia o sol, dos astros rodeado,
Seus sócios, quando o Amor divino um dia
A tais primores movimento há dado. [vii]
Para chegarmos, no entanto, a uma data mais precisa, Plínio afirmou que Cleóstrato de Tênedos inicialmente formou Áries e, ao mesmo tempo, Sagitário; mas a origem de ambas provavelmente vem de séculos, talvez milênios, antes disso, e sua afirmação só estaria correta no que diz respeito a ele poder ter sido o primeiro a fazê-la.
Muitos creem que nossa figura estelar foi criada para representar o rei dos deuses egípcios mostrado em Tebas com chifres de carneiro, ou velado e coroado com penas, conhecido como Amon, Ammon, Hammon, Amen ou Amun, e verenado com grande cerimônia em seu templo no oásis Ammonium, atualmente Siuá, 5° a oeste do Cairo na borda setentrional do deserto líbio. Kircher forneceu o título de Áries lá como Ταμετοῦϱο Αμοῦν, Regum Ammonis (do Rei Amon). Mas há dúvidas se o Carneiro estelar dos egípcios coincidisse com o nosso, embora Agnes Clerke afirme que estas últimas estrelas fossem lá chamadas de Velocino.
Como o deus Amen foi identificado com Ζεύς e Júpiter dos gregos e romanos, assim também o foi Áries, embora isso fosse popularmente atribuído à lenda de que a divindade clássica assumiu a forma de um carneiro quando todos os habitantes do Olimpo partiram para o Egito fugindo dos gigantes liderados por Tifão. Daí vieram os seguintes títulos usados para a constelação: Jupiter Ammon; Jovis Sidus (Constelação de Jove); Minervae Sidus (Constelação de Minerva), em alusão à deusa filha de Jove; bem como o Jupiter Libycus (Júpiter Líbico, i.e. da Líbia) de Propércio, Deus Libycus de Dionísio Exíguo e Ammon Libycus de Nono de Panópolis.
Os hebreus conheciam-na como Telī, e colocaram-na nos estandartes de Gade ou Naftali; os sírios, como Amru ou Emru; os persas, como Bara, Bere ou Berre; os turcos, como Kuzi; e no Bundahishn dos parses ela era Varak; todos esses sinônimos de Áries. Os inexplicáveis Arabib, ou Aribib,[viii] também se encontram para ela. Os primitivos hindus chamavam-na de Aja e Mesha (Servo), o tâmil Mesham; mas estes últimos seguiam os gregos com o nome Kriya.
Um comentarista arábio das obras de Ulugh Beg chamava a constelação como al-Kabsh al-Alīf, o Carneiro Domesticado; mas o povo geralmente a conhecia como al-Ḥamal, a Ovelha, — o Hammel de Riccioli, Alchamalo de Schickard, e Alhamel de Chilmead.
Como um dos doze asterismos zodiacais da China ela era o Cão, inicialmente conhecida como Xiáng Lóu ou Jiàng Lóu;[ix] e posteriormente, sob influência dos jesuítas, como Bái Yáng, a Ovelha Branca; enquanto com Touro e Gêmeos ela constitui o Bái Hǔ, o chamado Tigre Branco, o ocidental dentre os quatro grandes grupos zodiacais da China, também conhecido como Lago da Plenitude, os Cinco Reservatórios do Céu e a Casa dos Cinco Imperadores.[x] Outros pequenos asterismos chineses situados nessa constelação eram Wèi (Estômago), Tiān Qūn (Celeiro Circular do Céu) e Tiān Hé (Rio Celestial).
Chaucer e outros escritores ingleses dos séculos XIV, XV e XVI anglicizaram seu título como Ariete, que também aparece no baixo latim do século XVII. Foi por volta dessa época, quando se buscava reconstruir as constelações segundo modelos bíblicos, que Áries foi visto como o Carneiro de Abraão capturado no bosque; e também como São Pedro, o bispo da primitiva igreja, tendo o Triângulo como sua Mitra. E Caesius considerou-o o Cordeiro sacrificado no Calvário para redimir toda a humanidade pecadora.
Áries no Urania's Mirror |
Geralmente, Áries é representado reclinado com a cabeça voltada a admirar seu próprio velo de ouro, ou olhando com espanto para o Touro que sobe atrás de si; mas no Albumasar de 1489 [xi] ele está de pé, e alguns dos primeiros artistas mostraram-no correndo para o oeste, com o que provavelmente foi projetado como um cinto zodiacal em torno de seu corpo. Uma moeda de Domiciano ostenta uma representação sua como Princeps Juventutis,[xii] e ele aparece naquelas de Antíoco da Síria com a cabeça voltada em direção a Lua e Marte [xiii] — uma figura apropriada, pois, astrologicamente, Áries era a casa lunar daquele planeta. E como todos os outros signos, ele é representado nas rúpias zodiacais geralmente atribuídas ao grande príncipe mogol Jahangir,[xiv] entre 1616 e 1624, sendo cada figura cercada por raios solares com uma inscrição no verso.
Sua posição equinocial transmite força à descrição feita por Arato sobre seus “rápidos trânsitos”,[xv] mas é estranhamente impreciso ao considerá-lo
apagado e sem estrelas,
como se fosse observado com a Lua [xvi] —
um disparate sobre o qual Hiparco parece tê-lo repreendido. Arato, todavia, era mais bem sucedido como versificador do que como astrônomo.
Entre os astrólogos, Áries era um signo temido que indicava temperamento apaixonado e ferimentos corporais, e assim formava a Casa de Marte, embora alguns atribuíssem-lhe a regência a Palas Minerva, filha de Jove, a quem Áries representava. Supostamente tinha influência sobre a cabeça e o rosto; na verdade, os egípcios chamavam-no de Arnum, o Senhor da Cabeça; enquanto, geograficamente, regia a Dinamarca, Inglaterra, França, Alemanha, Pequena Polônia e Suíça, Síria, Cápua, Nápoles e Verona, tendo o branco e o vermelho como suas cores. No tempo de Manílio, considerava-se que também regesse naturalmente o Helesponto e a Propôntida (o atual Mar de Mármara), o Egito e o Nilo, a Pérsia e a Síria; e, com Leão e Sagitário, formava o Trígono de Fogo.
Ampélio afirmava que ele era responsável pelo Africus dos romanos, o vento sudoeste, que os italianos chamam de Affrico ou Gherbino, mas que o Arqueiro e Escorpião também compartilhavam este dever. Plínio escreveu que a aparição de um cometa nos limites de Áries pressagiava grandes guerras e mortandade, degradação dos grandes e elevação dos pequenos, com terríveis secas nas regiões sobre as quais o signo regia; enquanto almanaques do século XVII imputavam muitos problemas aos homens e declaravam que muitos morreriam “na corda” quando o sol se encontrasse neste signo; mas também atribuíam a sua influência uma “abundância de ervas”.
Seu símbolo, ♈, provavelmente representa a cabeça e cornos do animal.
Sua porção oriental é inconspícua, e por vezes os astrônomos mapearam algumas dessas estrelas de forma um tanto irregular, colocando um dos chifres em Peixes e uma das pernas na Baleia.
Argelander atribui a ele 50 estrelas visíveis a olho nu; Heis, 80.
Uma nova foi registrada em Áries em maio de 1012, sendo descrita por Epidamnus, o monge de São Galo, como oculos verberans (que chicoteia os olhos).
α, 2.3, amarela.
Hamal, do título da constelação, era anteriormente escrito Hamel, Hemal, Hamul e Hammel; já Riccioli tinha Ras Hammel de Rās al-Ḥamal, a Cabeça da Ovelha.
O El Nāṭh de Burritt, de al-Naṭḥ, o Chifre Cabeceante, é bastante apropriado para esta estrela, mas atualmente é reservado para β Tauri; ainda assim Burritt tinha autoridade para isso, bem como Qazwīnī, al-Tizīnī, Ulugh Beg e os globos arábicos, todos usaram esse termo aí; e Chaucer escreveu, em 1374:
Ele sabia muito bem o quão longe Alnath foi empurrada da cabeça daquele Áries fixo lá em cima. [xvii]
O título da figura inteira também é encontrado em Arietis, outra designação para esta estrela, como é usualmente o caso de muitas das lúcidas das constelações.
Nas descrições de Ptolomeu e Ulugh Beg ela estava “acima da cabeça”; mas ambos mencionam que Hiparcos a situou acima do focinho, e foi aí perto que Tycho a colocou, na testa do animal, onde atualmente a representamos.
Renouf identificou-a com a cabeça do Ganso, supostamente uma das primitivas constelações zodiacais do Egito.
Strassmaier e Epping, e sua obra Astronomisches aus Babylon, afirmam que lá suas estrelas formavam a terceira das vinte e oito constelações eclípticas,— Arku-sha-rishu-ku, literalmente a Parte de Trás da Cabeça de Ku, — que foram estabelecidas ao longo daquele círculo máximo milênios antes de nossa era; e Lenormant cita, como um título individual das inscrições cuneiformes, Dil-kar, o Anunciador da Alvorada, que Jensen lê como As-kar, e outros Dil-gan, o Mensageiro da Luz. George Smith inferiu das tabuinhas que ela deveria ser a Estrela dos Rebanhos; enquanto outros de seus nomes eufrateanos foram Lu-lim, ou Lu-nit, o Olho do Carneiro; e Si-mal ou Si-mul, a Estrela Chifre, que chegou à astrologia de pouco tempo atrás como o Chifre do Carneiro. Ela também era Anuv, e tinha os títulos de sua constelação I-ku e I-ku-u, — por abreviação Ku, — o Príncipe, o Líder, o Carneiro que conduzem os rebanho celeste, títulos que, numa diferente era, também foram aplicados à Capella no Cocheiro.
Brown associa-a a Aloros, o primeiro dos dez reis míticos da Acádia [xviii] anteriores ao Dilúvio, cuja duração dos reinados proporcionalmente coincidiria com as distâncias que separariam as dez principais estrelas eclípticas a começar por Hamal, e ele deduz desse título real o assiriano Ailuv e o hebraico Ayîl; as outras estrelas que corresponderiam aos demais reis míticos seriam Alcyone, Aldebaran, Pollux, Regulus, Spica, Antares, Algedi, Deneb Algedi e Scheat.
As interessantes pesquisas de F. C. Penrose acerca da orientação na Grécia mostraram que muitos de seus templos apontavam para o nascer ou pôr de várias estrelas proeminentes, como vimos ser o caso no Egito; sem dúvida, essa característica de sua arquitetura foi tomada pelos receptivos, bem como “um tanto supersticiosos”, gregos dos egípcios, os quais, acredita-se, orientavam desta forma suas estruturas de há seis ou sete milênios antes da era cristã, embora nossa estrela Hamal não estivesse entre as assim observadas no Nilo, pois a precessão ainda não a havia trazido a uma posição de importância. Dentre os templos gregos pelo menos oito, em vários locais e de datas que variam entre 1580 a 360 aC, foram orientados a essa estrela; eram especialmente favorecidos aqueles de Zeus e sua filha Atena, pois Áries era o símbolo deste deus no céu.
Foi talvez a prevalência dessa orientação dos templos, além de suas muitas divindades e especialmente ὁ Ἄγνωστος Θεός, o Deus Desconhecido,[xix] que forneceu o contexto apropriado ao grande sermão de São Paulo no Areópago aos “homens de Atenas” quando, de modo a provar que descendemos do Deus cristão, citou, como descrito em Atos 17:28, do célebre quinto verso dos Fenômenos:
τοῦ γάρ καί γένος ἐσμίν [2]
(Pois somos também sua geração.) [xx]
A este trabalho tal citação geralmente é atribuída, e naturalmente o seria, pois o poeta e o apóstolo eram compatriotas da Cilícia; mas as mesmas palavras são encontradas no Hino a Júpiter composto por Cleantes de Assos, em 265 aC. Entretanto, como São Paulo usou o plural τίνες em sua referência, “como também alguns dos vossos poetas”, ele pode ter tido ambos autores em mente.
Hamal fica logo ao norte da eclíptica e é muito usada na navegação em conexão com observações lunares.
Vogel descobriu que ela está se aproximando no Sistema Solar a uma velocidade de quinze quilômetros por segundo. Seu espectro é o de uma estrela gigante ligeiramente mais fria que o Sol.
β, 2.9, branca perolada.
Sheratan, seu nome oficial, e a antiga variante Sharatan provêm de al-Sharaṭayn,[xxi] dual de al-Sharaṭ, o Signo, referência a esta e a γ, a terceira estrela na cabeça do animal, como um sinal do início do ano, uma vez que ambas marcavam o equinócio vernal aos dias de Hiparco, época em que foram nomeadas. O Sartai de Bayer vem desta palavra dual.
Ambas formavam o 1.o manzil da lista de al-Bīrūnī, anteriormente 27.o, mas alguns juntaram α ao grupo, chamando-o al-ʾAshrāṭ no plural; e Hyde afirmou que λ também se incluía neste. Outro nome desta estação lunar foi al-Naṭḥ, pois seus principais componentes situavam-se próximos aos chifres de Áries.
β e γ constituem o 1.o nakshatra Ashvini,[xxii] os Ashvins, ou Cavaleiros, os antigos duais Ashvinau e Ashvayujau,[xxiii] os Dois Cavaleiros, correspondentes aos Gêmeos de Roma, mas representados como uma Cabeça de Cavalo. Algumas vezes α era juntada a esta estação lunar, mas β sempre foi a estrela de junção com o adjacente Bharani.[xxiv] Cerca de 400 anos antes da nossa era, esta tomou o lugar de Kṛttikā como o primeiro dos nakshatras. Elas correspondiam à mansão lunar persa Padēvar, o Par Protetor; à sogdiana Bashish, o Protetor; e à equivalente copta Pikutorion; enquanto na Babilônia, segundo Epping, elas marcavam a segunda constelação eclíptica, Mahrū-sha-rishu-ku, a Fronte da Cabeça de Ku.
α, β e γ correspondiam ao xiù Lóu, o Laço (ou Cauda) do Vestido, sendo β a determinante.
γ, dupla, 4.5 e 5, branco brilhante e cinzenta,
já foi chamada de Primeira Estrela em Áries, por ser a mais próxima do ponto equinocial em épocas passadas.
Seu título atual, Mesarthim, também escrito como Mesartim, já foi associado ao hebraico Meshāretīm, o Ministro, mas a conexão não é aparente; já Ideler considerou que a palavra fosse uma dedução errônea de Bayer acerca do nome da estação lunar à qual esta e β faziam parte. Mais recentemente, George Davis Jr. propôs que o nome venha da palavra árabe al-Mutharṭim,[xxv] que significaria Carneiro Extremamente Gordo; enquanto Steve Gibson aponta para a curiosa coincidência entre Mesarthim e o sânscrito Meshadi, nome usado nesse idioma para indicar o Primeiro Ponto de Áries, isto é, o Ponto Vernal. No índice de Smyth, ela figura como Mesartun; e Caesius tinha Scartai de Sharaṭayn. α, β e γ podem ter sido a Shalisha dos judeus, — mais corretamente Shālish, — um instrumento musical de forma triangular, um dos títulos da constelação do Triângulo. E elas formavam um dos diversos Athāfiyy, Tripés, palavra árabe usada para um arranjo rudimentar de três pedras sobre as quais o nômade colocava sua chaleira ou caçarola para cozinhar ao ar livre; os demais se situavam no Dragão, Órion, Mosca e Lira.
A duplicidade de gama foi descoberta pelo Dr. Robert Hooke enquanto ele acompanhava o cometa de 1664, o que o levou a escrever: “algo semelhante ao qual eu não mais encontrei em todo o céu”;[3] mas esta foi uma descoberta fácil pois os componentes estão separados por 8″.8, prontamente resolvíveis por um instrumento de baixo poder. O ângulo de posição entre elas manteve-se em torno de 0° por cinquenta anos.
Em 2016, o WGSN da União Astronômica Internacional decidiu que o nome Mesarthim se aplica somente à componente primária que, ao contrário do usual, é designada como γ2 Arietis.
δ, 4.6.
Botein provém do árabe al-Buṭayn, diminutivo de al-Baṭn, a Barriga, provavelmente de alguma representação antiga, pois nos mapas modernos a estrela se situa no rabo do animal. Já no catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit, ela portava o nome Nir al Botain, que foi traduzido como Lucida Ventris (A Brilhante da Barriga).
Com as estrelas ζ, τ e outras três mais fracas, ela formava o asterismo chinês Tiān Yīn (Sombra Celestial).
δ, ε e ρ3 geralmente eram consideradas parte do 2.o manzil, al-Buṭayn,[xxvi] mas al-Bīrūnī substituiu π por ρ3, e outros, por ζ; enquanto outros ainda localizaram essa estação na Mosca Boreal,[xxvii] o débil e pequeno triângulo acima da figura do Carneiro. À conta do nome da mansão lunar, suas estrelas constituintes chegaram a ser assim denominadas num catálogo publicado pela NASA: π (como Al Butain I), ρ3 (Al Butain II), ε (Al Butain III) e ζ (Al Butain IV).
Já os chineses juntavam ε, ν, μ, ο, ρ3, π, σ com algumas outras estrelas mais fracas para compor o Zuǒ Gēng (Guarda da Floresta).
ε marca a base da cauda, e é o ponto radiante dos Arietídeos,[xxviii] a chuva de meteoros que ocorre entre 11 e 24 de outubro. É uma estrela dupla de magnitudes 5 e 6.5, separadas por 0.5ʺ. Seu atual ângulo de posição é 209°.
As estrelas 39 e 41 Arietis, de magnitudes 4.5 e 3.63, foram denominadas, respectivamente, Lilii Borea (a Boreal do Lírio) e Lilii Austrina (a Austral do Lírio) por Lacaille.[xxix] O WGSN da IAU, honrando as contribuições de tão célebre astrônomo, adotou oficialmente o nome Lilii Borea para 39 Arietis em 2017. Já para 41 Arietis, o nome oficial escolhido foi Bharani, do nome da mansão lunar hindu ao qual essa estrela pertencia.
Notas de Rodapé (do texto original)
[1] Este autor, também conhecido como ʾAbū Maʿshar Jaʿfar ou Albumasar, era de Bactro (atual Balkh) no Turquestão, celebrado como astrólogo e citado por al-Bīrūnī, mas com a ressalva de não ser um astrônomo muito correto. A Lenox Library de Nova Iorque possui uma cópia de sua Opus introductorii in astronomiā Albumazaris abalachi, Idus Februarii, 1489, publicada em Veneza com ilustrações. Sua similaridade com o Hyginus do ano anterior indicaria que eles foram rodados na mesma gráfica.
[2] Os patriarcas cristãos Eusébio e Clemente de Alexandria fizeram esta mesma citação; e frequentes referências ao poema de Arato podem ser encontradas nos escritos de São João Crisóstomo e São Jerônimo, bem como nos de Ecumênio. Da mesma forma, o pagão Manílio escreveu “(...) nostrumque parentem / pars sua”, para provar a imortalidade da alma. [Nota do Tradutor: trechos de uma estrofe do Livro IV do Astronomicon, de Manílio: “(...) iam nusquam natura latet; pervidimus omnem / et capto potimur mundo nostrumque parentem / pars sua perspicimus genitique accedimus astris / an dubium est habitare deum sub pectore nostro / in caelumque redire animas caeloque venire”. Na tradução de Marcelo Vieira: “A natureza já não se esconde em parte alguma; nós a conhecemos inteiramente, somos os senhores do céu, que conquistamos, observamos o nosso criador como parte que somos dele, e, filhos dos astros, deles nos aproximamos. Acaso é duvidoso que sob o nosso coração habita um deus e que ao céu retornam as nossas almas e que do céu elas vêm?” (in Manílio — Astronômicas: Tradução, Introdução e Notas, Dissertação de Mestrado, PPG Letras Clássicas, USP, 2006). Na tese de Vieira Fernandes, esses versos correspondem aos 943-947 do Livro IV. Porém, a M. Manilii Astronomicon: ex editione Bentleiana, 1828, Londres, referencia-se a eles como os versos 883-887 do mesmo livro. Também parece haver dúvida sobre o começo do terceiro desses versos. Allen e a edição londrina acima mencionada citam-no como “Stirps sua, (...)”, enquanto Vieira Fernandes e outros, incluindo o The Oxford Book of Latin Verse, como “Pars sua, (...)”].
[3] Huygens supostamente teria visto três estrelas em ϑ1 Orionis em 1656, e Riccioli, duas em ζ Ursae Majoris em 1650.
Notas Explicativas da Tradução
[i] Trechos dos vv. 558-560 do Canto III de Paraíso Perdido, de Milton. No original: “(…) fleecy star that bears / Andromeda far off Atlantic seas / Beyond th' Horizon (...)”. Tradução versificada feita por António José de Lima Leitão.
[ii] Trecho dos vv. 32-33, Livro V do Astronomicon de Manílio. A tradução usada é a de Marcelo Vieira Fernandes (in Manílio — Astronômicas: Tradução, Introdução e Notas, Dissertação de Mestrado, PPG Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, 2006). Allen usou a tradução de Thomas Creech: “First Golden Aries shines (who whilst he swam / Lost part of s Freight, and gave the Sea a Name)”. No original: “Vir gregis et ponti victor, cui parte relicta / nomen onusque dedit nec pelle immunis ab ipsa”.
[iii] Verso 3 do Livro III, Elegia XII, de Tristia, de Ovídio. Tradução nossa a partir do verso Longfellow quotado por Allen: “The Ram that bore unsafely the burden of Helle”. No original latino: “inpositamque sibi qui non bene pertulit Hellen”.
[iv] Não consegui entender, nem tampouco verificar essa afirmação de Allen. A confusão se inicia pelo seu uso de negrito na palavra Athamas. Quando Allen o faz, normalmente está se referenciando a um nome (ou título) usado para objeto celeste, no caso, supostamente para a constelação de Áries. Athamas, aportuguesado como Atamante, é o rei da Beócia, pai de Frixo e Hele, que fogem para a Cólquida no carneiro alado para não serem sacrificados pelo pai. Do texto de Allen, devemos concluir que Athamas seria um título usado para Áries por Columela? Não me parece ser o caso, pois o nome Athamas não se encontra em nenhuma passagem das duas obras de Columela: De Re Rustica e De Arboribus (busca eletrônica realizada nos textos disponíveis em http://www.thelatinlibrary.com/columella.html em 28/12/2018). Outra informação, nesse mesmo parágrafo, é a suposta identificação entre Athamas e Tammuz, que parece ter sido inicialmente proposta por Maury em 1859, no seu Histoire des religions de la Grèce antique, e que foi efusivamente defendida por Robert Brown Jr. em seu Semitic Influence in Hellenic Mythology, um dos autores preferidos de Allen. A identificação toma por base considerações etimológicas, bem como que o mito de Athamas envolve o sacrifício humano a um deus de características mais semíticas do que gregas, tema que também foi mais recentemente tratado pelo Dr. Renaud Gagné em um artigo entitulado Athamas and Zeus Laphystios: Herodotus VII, 197 acerca da recusa de Xerxes em adentrar o santuário de Atamante, à qual interpreta como um receio do persa ao deus do local: Zeus Laphystios, considerado um deus devorador, mais próximo a Cronos do que ao Zeus do Olimpo. Ainda daí não vê relação entre Áries e Athamas que poderia justificar seu uso por Columella, a não ser indiretamente, pela legação familiar entre este e Frixo. Cabe mencionar também que Tammuz é tido como um análogo ao Adônis grego, com quem partilha mais características do que com Atamante. Curiosamente, Dumuzid/Tammuz era considerado o deus dos pastores e tinha poderes sobre a vegetação. Os antigos povos do Eufrates associavam-no à primavera, quando a terra era fértil e abundante. Assim, Tammuz estaria associado à Áries, porque o início da primavera se dá neste signo.
[v] V. 34 do Livro II do Astronomicon de Manílio. Tradução nossa a partir da de Thomas Creech quotada por Allen: “The Ram having pass'd the Sea serenely shines. / And leads the Year, the Prince of all the Signs”, a qual não é muito fiel ao original, devido à busca por versos metrificados. Compare com o texto latino: “Lanigerum victo ducentem sidera ponto” que nada menciona sobre a condução do ano, adição feita por Creech a partir do contexto geral do poema. Veja ainda a tradução de Marcelo Vieira Fernandes (in Manílio — Astronômicas: Tradução, Introdução e Notas, Dissertação de Mestrado, PPG Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, 2006): “o Lanígero, a conduzir os signos pelo mar conquistado”.
[vi] O nome completo da obra é Livro das Revoluções dos Anos de Nascimento (Kitāb Taḥāwil Sinī al‐Mawālīd). Foi traduzida ao grego no século X e, deste, ao latim no século XIII.
[vii] Vv. 38-40 do Canto I, Inferno, Divina Comédia de Dante. Tradução de José Pedro Xavier Pinheiro, que não é tão explícita na imagem transmitida por Dante quanto a tradução de Longfellow quotada por Allen: “The sun was mounting with those stars / That with him were, what time the Love Divine / At first in motion set those beauteous things”. No original em italiano: “e 'l sol montava 'n sù con quelle stelle / ch'eran con lui quando l'amor divino / mosse di prima quelle cose belle”.
[viii] O nome Aribib associado a Áries pode ser visto no vol. 2 do The Bedford Catalogue, pg. 53: “Hevelius refers those who wish to be familiar with the different appellations of signs and stars, to the works of Blævius, Alsted, Ricciolus, Goldemayer, Bartschius, and Cellarius; and says he selected the name mostly used — ‘non attento, quòd Aries nonnunquam etiam Vervex, Chrysomalus, Jupiter Ammon, Krios, Aribib, Elhemal, et Elhamel, &c. vocetur’”. Não encontrei referência ao nome Arabib, provavelmente uma variante de Aribib.
[ix] Allen fornece os nomes Heang Low e Kiang Leu, que parecem corresponder a uma transliteração antiga de Xiáng Lóu e Jiàng Lóu. É importante mencionar que nenhum destes significa “Cão”, mas sim uma espécie de laço ou liga.
[x] Não fui capaz de localizar as referências que citam esses nomes usados por Allen: Lake of Fullness, Five Reservoirs of Heaven e House of the Five Emperors.
[xi] Trata-se da obra De magnis coniunctionibus, de Albuxar de Bactro (também conhecido como Albumasar), cuja tradução feita por Hermano Dálmata foi primeiramente publicada em 1489 em Augsburgo.
[xii] O texto de Allen é dúbio, posto que o pronome him poderia significar tanto o imperador quanto Áries: “A coin of Domitian bears a representation of him as the Princeps juventutis”, mas provavelmente Allen se referia ao carneiro, do contrário a frase não teria motivo para estar em seu livro. Todavia, Princeps juventutis era um dos títulos usados por Domiciano (ver Jones, B. W. 1992, The Emperor Domitian, London: Routledge), e nada tem a ver com Áries. De fato, há várias moedas conhecidas deste período em que o título de Dominiciano pode ser encontrado circundando figuras diversas tais como um altar, a deusa Minerva, um jovem de pé, uma cabra, segundo uma consulta simples pelo título acima no Coin Archives.
[xiii] Não fui capaz de encontrar uma moeda que se encaixasse nessa descrição particular nos catálogos numismáticos que consultei. Mas há certo número de moedas emitidas em Nísibis onde Áries é representado, normalmente sobre a efígie da deusa Tique. Essas moedas datam do período em que Nísibis estava sob o Império Romano, mas a cidade fez parte dos domínios de Antíoco. Destarte, é possível que a representação de Áries nas moedas de lá fosse já antiga e apenas não tive sorte em encontrar a moeda mencionada por Allen. Cabe ainda mencionar que o site Antioch — Roman Coins mostra uma moeda ligeiramente similar, emitida também pelo Império Romano, no reinado de Augusto, em cujo reverso se vê um carneiro com a cabeça voltada para uma estrela brilhante.
[xiv] Lê-se no original de Allen: “he is shown on the zodiacal rupees generally attributed to the great Mogul prince Jehangir Shah, but really struck by Nūr Mahal Mumtaza, his favorite wife, between 1616 and 1624, each figure being surrounded by sun-rays with an inscription on the reverse”. Parece haver uma confusão entre pai e filho nessas frases. O imperador mogol que reinava no período mencionado, de 1616 a 1625, chamava-se apenas Jahangir, e teve Nur Jahan como uma de suas esposas. Seu filho Shah Jahan assumiu o trono em 1628; foi este filho que se casou com Mumtaz Mahal. Catálogos numismáticos situam a cunhagem dessas moedas no reinado de Jahangir, não no de Shah Jahan.
[xv] Menção aos vv. 225-227 dos Fenômenos, de Arato, segundo a tradução de Robert Brown Jr.: “The rapid transits of the Ram are there / who, truly, though mighty circles chased / nor feebler runs than doth bear trail-of-light”. Compare com a tradução de A. W. e G. R. Mair, de 1921: “There too are the most swift courses of the Ram, who, pursued through the longest circuit, runs not a whit slower than the Bear Cynosura”; e com a de Filipe Klein de Oliveira: “E lá também estão os caminhos mais rápidos do Carneiro / que, percorrendo ciclos maiores, / não correrá mais lento do que a Ursa Cinosura” (in Arato, Fenômenos. Cadernos de Tradução, 38, jan-jun, 2016, org. Bacarat Jr., J. C., Porto Alegre: Instituto de Letras da UFRGS). Os “rápidos trânsitos” referem-se a seu movimento diurno; por ser uma constelação equinocial, Áries encontra-se junto ao equador celeste, tendo assim que se mover ao longo de um círculo máximo. Portanto, em comparação com as constelações situadas mais proximamente aos polos, como a Ursa Maior, Áries aparenta mover-se mais rapidamente no céu. No original grego: “αὐτοῦ καὶ Κριοῖο θοώταταί εἰσι κέλευθοι, / ὅς ῥά τε καὶ μήκιστα διωκόμενος περὶ κύκλα / οὐδὲν ἀφαυρότερον τροχάει Κυνοσουρίδος Ἄρκτου”.
[xvi] Menção aos vv. 228-229 dos Fenômenos, de Arato. Na tradução de Robert Brown Jr. usada por Allen: “faint and starless to behold / As stars by moonlight”. Usei a tradução dada por Filipe Klein de Oliveira em Arato, Fenômenos (Cadernos de Tradução, 38, jan-jun, 2016, org. Bacarat Jr., J. C., Porto Alegre: Instituto de Letras da UFRGS). Compare ainda com a tradução de A. W. e G. R. Mair: “weak and starless as on a moonlit night”. No original grego: “αὐτὸς μὲν νωθὴς καὶ ἀνάστερος οἷα σελήνῃ / σκέψασθαι (...)”
[xvii] Versos 573-574 das Os Contos de Cantuária, de Geoffrey Chaucer. Tradução nossa a partir do original em inglês médio apresentado por Allen: “He knew ful wel how fer Alnath was shove ffro the heed of thilke fixe Aries above”.
[xviii] Trecho do livro Researches into the origin of the primitive constellations of the Greeks, Phoenicians and Babylonians, de Robert Brown Jr., 1899, Londres: Williams and Norgate, pg. 54: “And this stellar Ram was, in the first place, only the star Ilamal (‘the Ram,’ α Arietis), the nucleus of the constellation, called in Ak. Si-mul (...), ‘Horn-star,’ = As. Ailuv (‘Ram’), Heb. Ayîl, Bab.-Gk. Alôros, the first of the ten antediluvian kings who represented, amongst other things, ten of the principal stars in the ecliptic, the alleged lengths of their reigns corresponding with the distances between these stars”. O nome Aloros (Ἄλωρος) é fornecido por Berōssōs; em listas modernas, seu nome é escrito como Alulim.
[xix] O “Deus Desconhecido” é mencionado em textos de Apolodoro, Filostrato e Pausânias, além de aparentemente ter um templo dedicado em Atenas. Em 1913, Eduard Norden publicou em Agnostos Theos: Untersuchungen zur Formengeschichte religiöser Rede a hipótese de que os gregos o cultuavam além dos doze principais deuses e inúmeros deuses menores.
[xx] Atos 17:28 aparentemente cita o quinto verso dos Fenômenos, onde se lê que a humanidade é descendência de Zeus. Compare o versículo bíblico, na versão Almeida Corrigida Fiel: “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração”, com trechos dos versos 4-5 do célebre poema grego: “(…) Zeus demandamos todos. / Pois somos também sua progênie” na tradução de Nykolas Friedrich Von Peters Correia Motta em Arato, Fenômenos (Cadernos de Tradução, 38, jan-jun, 2016, org. Bacarat Jr., J. C., Porto Alegre: Instituto de Letras da UFRGS).
[xxi] Em algumas referências, esse nome aparece como al-Sharaṭān (الشرطان).
[xxii] No texto de Allen, trata-se do 27.o nakshatra. Veja a nota [xi] em Andromeda.
[xxiii] Aqui a frase de Allen soou-me um tanto dúbia: “the Ashwins, or Horsemen, the earlier dual Açvināu and Açvayujāu”. O termo dual pode indicar tanto uma classe gramatical (um nome usado para designar uma dupla) quanto um par de elementos distintos. Parece-me que Allen fala da primeira opção, neste caso Ashvinau e Ashvayujau seriam duas palavras para designar o dual de Ashvin. Isso coincide com o uso indiscriminado que encontrei dos termos Ashvini, Ashvinau e Ashvayujau para um período do ano. Todavia, devido à forma como a frase foi construída (sem conjunção ou verbo) não consegui eliminar de todo a possibilidade de que Allen estivesse usando Ashvinau e Ashvayujau como nomes individuais de cada um dos Ashvins, os quais na verdade são chamados Nasatya e Dasra.
[xxiv] Trata-se do 2.o nakshatra, chamado Bharani.
[xxv] Davis Jr. (1944, in The pronunciations, derivations, and meanings of a selected list of star names, Popular Astronomy, 52, p.13). Segundo o autor, a palavra árabe que originou o nome desta estrela seria المثرطم, devido à transcrição errônea do ث por s, em vez de th. Cabe mencionar, todavia, não encontramos a palavra árabe nos diversos dicionários que consultamos, tampouco essa versão parece estar respaldada em páginas árabes de Astronomia.
[xxvi] No texto de Allen, trata-se do 28.o nakshatra. Veja a nota [xi] em Andromeda.
[xxvii] Trata-se da constelação desusada Musca Borealis, situada ao norte de Áries. Foi criada em 1612 por Petrus Plancius com o nome Apes (Abelhas). Atualmente, todas as suas estrelas originais encontram-se incorporadas à área correspondente à constelação de Áries.
[xxviii] Essa chuva de meteoros em particular talvez tenha perdido intensidade durante a última metade do século XX, pois listas modernas não a referenciam. A chuva Epsilon Arietídeos coincide ligeiramente em radiante, mas não em época (ocorre em maio — embora, num artigo de 1922, Grace Cook a situe em agosto; in Section for the Observation of Meteors, Memoirs of the British Astronomical Association, v. 24, pg. 66). Já a chuva Arietídeos de Outono coincide aproximadamente em época com aquela mencionada por Allen, mas não em radiante, sendo o seu mais para o sul. Essa confusão de nomes, radiantes e datas já tinha sido apontada em 1919 por William Denning no artigo Showers of Meteors from near ε Arietis (The Observatory, v. 42, p. 246): “At various times of the year from July to January there are well-defined showers of meteors from about 2° preceding the 4½-mag star ε Arietis. Several observers (…) determined the radiant, and Mr. Greg, in his catalogue of average positions of radiants, gives the place as 43°+26° Oct.– Nov., but this is too far north. The fact is there are a number of good radiants in this particular region, and notably at 31°+8°, 33°+19°, 39°+28°, 42°+14°, 47°+26°, and 52°+31°, which apparently confuse the various streams and render their individual identification difficult”, e mais adiante no mesmo artigo, respaldando Allen: “Generally I have found it most productive during the last half of October”.
[xxix] Lilii é genitivo de Lilium (Lírio), nome de uma antiga constelação desusada à qual pertenciam 33, 35, 39 e 41 Arietis. É a mesma pequena constelação desusada que foi chamada Apes, Vespa, Musca ou Musca Borealis. O nome Lilium foi cunhado por Augustin Royer para representar a flor de lis, em homenagem a seu patrono Luís XIV, rei da França, país de Lacaille.
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