Introdução da edição inglesa


“Gostarias de aprender algo sobre as estrelas?
(...)
Quisesses, ter-te-ia contado,”
disse ela, “os nomes das estrelas,
e todos os sinais dos céus, também,
e que eles são.” [i]
House of Fame, Geoffrey Chaucer



INTRODUÇÃO

Esta lista de nomes estelares é publicada no esforço de preencher uma lacuna reconhecida em nossa literatura astronômica popular. Ela não se destina ao astrônomo profissional, o qual, via de regra, pouco se importa com as antigas designações dos objetos de seu estudo, — sendo-lhes preferíveis, e a rigor necessários, alfabetos, números e círculos para seus propósitos de identificação. Não obstante, grandes estudiosos não consideraram esta nomenclatura indigna de sua atenção, — Grócio, Scaliger, Hyde, e o próprio Whitney, entre outros, dedicaram grande parte do seu raro talento a sua elucidação; enquanto Ideler, há um século atrás, com sua autoridade em Astronomia bem como noutros ramos do conhecimento, escreveu a respeito da investigação dos nomes estelares:

Esta é, em sua própria natureza, coincidentemente uma pesquisa sobre as constelações, e é muito mais valioso aprender as histórias destas, de como, ao longo de todas as eras, o espírito humano veio-se ocupando de um assunto que sempre lhe despertou o maior interesse, — o céu estrelado.

O velho Thomas Hood, do Trinity College, Cambridge, em 1590 asseverou que eles se destinavam “ao propósito da instrução: as coisas não podem ser ensinadas se não tiverem nomes” [ii]; e é certo que seu conhecimento nos aumenta em muito o prazer intelectual quando examinamos o céu à noite. Que quase todos podem repetir o lamento de Thomas Carlyle:

Por que alguém não me instruiu sobre as constelações e me familiarizou com o céu estrelado, sobre o qual sempre estamos e do qual pouco sei até hoje?

Naturalmente essas denominações vêm sobretudo dos árabes, cuja vida sob os céus límpidos do deserto em muito os familiarizou com as estrelas, como escreveu al-Bīrūnī [1]:

Aquele cujo teto é o céu, que não dispõe doutro abrigo, sobre quem as estrelas continuamente nascem e se põe em único e mesmo curso, faz com que o início de seus negócios e seu conhecimento do tempo dependam delas.

Assim bem o disse o xeque Ilderim a Ben Hur no Pomar das Palmeiras:

Tu não podes saber o quanto nós, árabes, dependemos das estrelas. Nós tomamos seus nomes emprestados com gratidão, e usamo-los com amor. [iii]

Mas muitos nomes estelares supostamente originários da Arábia são meramente traduções árabes a termos descritivos gregos, adotados, durante o domínio dos abássidas [2], do Ἡ Μεγάλη Σύνταξις τῆς Ἀστρονομίας — o Grande Sistema da Astronomia — de Cláudio Ptolomeu, datado do século II. Pois foi no começo deste califado,

No apogeu dourado
Do bom Harun Al-Rashid [iv]

(Aarão, o Justo), que a Σύνταξις [3] de Ptolomeu foi traduzida como al-Kitāb al-Mijisti [v], o Livro Maior. Este, em suas várias edições, introduziu entre as classes mais instruídas uma nova nomenclatura; dentre as quais a edição revisada por Thābit ibn Qurrah na última parte do século X eventualmente se tornou, através de uma versão latina por Cremonaeus [vi] (Gerard de Cremona) do século XII, a base do primeiro Almagesto integralmente impresso. Publicado em Veneza em 1515, esta versão exibia tão ostensivamente sua origem composta que Ideler e Smyth sempre se referenciavam a ela como o Almagesto árabo-latino. O texto grego da Syntaxis parece ter sido desconhecido na Europa até ser traduzido em Latim a partir dum manuscrito do Vaticano escrito por Trapezuntius (o monge George da Trebizonda), em várias edições durante o século XVI. De todas estas obras e outras afins vieram os termos bárbaros greco-latino-arábicos que, em uma ortografia variante, aparecem como nomes de estrelas em listas modernas.

Mas havia outros termos puramente indígenas, e portanto muito antigos, dos dias pagãos dos ismaelitas antes de influências mediterrâneas, talvez até mesmo dos ancestrais “Arab al-Baidā”, os árabes do deserto, — termos esses geralmente de carácter pastoral, em acordo com essa origem. Assim que encontramos entre eles palavras dos nômades para pastores e boieiros com suas donzelas; cavalos, cavaleiros e seus arreios; gado, camelos, ovelhas e cabras; predadores e outros animais, pássaros e répteis. Deve-se lembrar, entretanto, que a nomenclatura arcaica dos árabes — arcaica assim chamada embora nada saibamos sobre sua origem — é, em certo aspecto, única. Eles não agruparam várias estrelas para formar figuras animadas, como faziam seus vizinhos ocidentais, que posteriormente se tornaram seus professores; estrelas isoladas representavam criaturas isoladas, — uma regra que parece raramente ter sido descumprida, — embora o caso fosse diferente em suas contrapartidas estelares de objetos inanimados. Mesmo aí, usaram senão poucas estrelas para os seus termos geográficos, anatômicos e botânicos; suas tendas, ninhos, artigos de uso doméstico e ornamentos; manjedouras e estábulos; barcos, esquifes, cruzes e tronos; poços, lagoas e rios, frutas, grãos e nozes; — todos os quais eles representaram no céu.

Ainda tinham, também, outra classe de nomes peculiares mesmo a eles próprios, como al-Ṣādiq [vii], al-Simāk, al-Suhā, respectivamente, o Confiável, o Elevado, o Negligenciado; e os seus Modificadores, Condutores, Seguidores e Vigilantes; seus Afortunados ou Desafortunados, seus Solitários, etc. Nenhum desses asterismos iniciais, no entanto, foi utilizado pelos cientistas arábios, embora, juntamente com seus títulos, tenham-se tornado meramente curiosidades interessantes para eles, assim como para nós. Eles eram conhecidos como “dos árabes”, enquanto as figuras de Ptolomeu eram “dos astrônomos”, — uma distinção mantida neste livro pelo uso de “árabe” ou “arábico” aos primeiros, e “arábio” aos últimos. O astrônomo e dervixe persa ʿAbd al-Raḥmān Abū al-Ḥusayn, atualmente mais conhecido como al-Ṣūfī [4], o Místico ou o Sábio, fez menção a essa distinção inicial em 964, em sua Descrição das Estrelas Fixas [viii]; Qazwīnī seguiu-o, três séculos depois, com as mesmas expressões.

As várias denominações árabes que vemos aplicadas a uma única estrela ou grupo, e os nomes duplicados para algumas que se encontram muito separadas no céu, aparentemente vêm de várias tribos, tendo cada qual, até certo ponto, uma nomenclatura própria.

O restante de nossos nomes estelares, com poucas exceções, vem diretamente dos originais gregos e latinos, — muitos dos quais, como no caso dos arábios, embora atualmente sejam vistos como nomes próprios, eram inicialmente apenas adjetivos ou meramente descritores da posição da estrela na figura constelada; enquanto outros resultaram de má compreensão ou de erros de tradução e repetidas transcrições. Mas estes estão hoje em dia muito fortemente estabelecidos para serem desconsiderados ou mesmo corrigidos.

Virgílio escreveu na 1a. Geórgica:

Nauita tum stellis numeros et nomina fecit;[ix]

e Sêneca, o tradicional amigo de São Paulo, em sua Quaestiones Naturales:

Graecia stellis numeros et nomina fecit;[x]

ambos autores pagãos quase exatamente seguiram as palavras do salmista sagrado, o qual, pelo menos quatrocentos anos antes, tinha cantado:

[Ele] Conta o número das estrelas,
chama-as a todas pelos seus nomes. [xi]

E do profeta Isaías:

Ele as chama a todas pelos seus nomes. [xii]

Embora a declaração de Sêneca possa ter algum fundamento, e a afirmação de Virgílio sobre a influência do marinheiro na nomeação de estrelas possa ser, em parte, verdadeira, ainda assim, para grande parte dos casos devemos provavelmente olhar para o deserto, onde as estrelas seriam tão requeridas e confiáveis para orientação como sobre o oceano sem trilhas, e portanto necessariamente objetos de interesse e estudo atentos. De fato, Maomé disse a seus discípulos, na sexta sura do Alcorão:

Deus deu-vos as estrelas como guias nas trevas tanto da terra quanto do mar. [xiii]

Parece seguro concluir que elas foram inicialmente nomeadas por pastores, caçadores e lavradores, marinheiros e viajantes, — pelas pessoas comuns em geral, em vez de pelos eruditos e cientistas; e que nossas listas modernas são o acúmulo gradual de pelo menos três mil anos de várias nações, embora, principalmente, dos nômades, bem como dos estudiosos, da Arábia, —

aqueles padrinhos terrestres das luzes celestiais,
que dão um nome a cada estrela fixa [xiv], —

da Grécia e de Roma.

Pode-se pensar que muita atenção foi dada à mitologia estelar, agora praticamente um assunto banal; mas isso serve para elucidar a história literária das estrelas, e a época de suas histórias desperta, para dizer o mínimo, o nosso interesse. Na verdade, devemos lembrar que as estrelas eram em grande parte a fonte dessas histórias, — Eusébio, no início de nosso século IV, afirmava em seu Praeparatio Evangelica:

Os antigos acreditavam que as lendas sobre Osíris e Ísis, e todas as outras fábulas mitológicas [de tipo similar], eram referência às estrelas, suas configurações, seus nasceres e ocasos, etc [xv],

E Proctor escreveu em Myths and Marvels of Astronomy que o principal encanto desse estudo

não está nas maravilhas que nos são reveladas pela ciência, mas no folclore e lendas ligados a sua história, nas estranhas fantasias com as quais em tempos antigos ela foi associada, nos mitos meio esquecidos aos quais tenha dado luz.

Esses mitos, ainda que alguns dos quais possam parecer antigos sob suas roupagens atuais, são correntes e triviais quando se volta para o passado obscuro de seu provável manancial entre os Himalaias e no Ganges, ou ao longo das margens do Eufrates, onde estudos mitológicos identificam sua origem em forte conexão com a mais antiga das religiões terrenas, muito tempo antes de Moisés, — “tentativas de explicações dos fenômenos naturais”, elaborada a partir de observações na terra e no céu dos poderes da natureza e da natureza de Deus.

O largo campo de pesquisa que tenho procurado atravessar, contendo os registros de quatro ou cinco milênios, nem preciso dizer, demanda para sua exploração os melhores e persistentes esforços do cientista e estudioso versado em Astronomia, Arqueologia, Literatura e Filologia. Nenhum assim, no entanto, surgiu desde os dias de Ideler, quase um século atrás; de modo que, com o desejo de levar adiante novamente esta interessantíssima tarefa e com a esperança de, assim, estimular outros mais competentes a executá-la, fiz o que eu pude, embora francamente reconheça que tenha ficado muito longe do meu ideal. Originalidade não é reivindicada para o meu livro. Muito dele foi recolhido em fontes esparsas, aqui reunidas, pela primeira vez em forma facilmente acessível, embora, sem dúvida, com erros e, certamente, com consideráveis omissões; porquanto, embora tenha procurado, como o fez Il Penseroso de Milton,

sentar-se e corretamente soletrar
cada estrela que acaso o céu mostrar, [xvi]

enquanto preparava meu material, notei, como o Dr. Samuel Johnson escreveu no prefácio de seu Dictionary,

que uma pesquisa apenas criava a motivação para outra, que um livro se referenciava a outro livro, que buscar não significa sempre encontrar, e que encontrar nem sempre levava à elucidação.

Destarte, seguindo-o,

defini limites para o meu trabalho, que em tempo seria encerrado embora não completado.

E para amenizar as críticas que possam ser conferidas aos meus esforços, cito novamente da mesma fonte:

Dicionários [5] são como relógios; o pior ainda é preferível a nenhum, e não se pode esperar que o melhor esteja exatamente correto.

A obra Untersuchungen über den Ursprung und die Bedeutung der Sternnamen, do Dr. Christian Ludwig Ideler, publicada em 2 de abril de 1809, em Berlim, constitui-se no principal compêndio crítico de informação acerca de nomes estelares — árabes, gregos e, especialmente, latinos. É a ele que devemos a tradução do texto original em árabe de Qazwīnī [6], Descrição das Constelações, escrito no século XIII, o qual forma a base do Sternnamen, com adições de Ideler e anotações de obras clássicas e outras fontes. Deste tanto de informações deriva-se meu livro.

O Bedford Catalogue da obra Cycle of Celestial Objects do Capitão, posteriormente Vice-Almirante, William Henry Smyth [7], um livro de valor excepcional para a informação sobre nomes estelares e único em seu estilo vigoroso, também foi consultado.

Dawn of Astronomy de Sir Joseph Norman Lockyer — um trabalho bastante interessante, mesmo que todas as suas deduções não sejam aceitas — forneceu muitas das referências ao Egito e à adoração de diversas estrelas em seus templos; tendo esse novo estudo sobre a orientação sido iniciado pelo Professor Nissen da Alemanha, embora também, independentemente, e aproximadamente ao mesmo tempo, por Lockyer.

Glossary of Greek Birds do Professor D'Arcy Wentworth Thompson foi utilizado para o simbolismo ornitológico [8] na antiga cunhagem de moedas, escultura, etc.; pois este, até agora incompreensível, pode ser em grande parte astronômico.

As informações sobre os espectros estelares são principalmente do Spectralanalyse der Gestirne, de 1890, pelo Dr. J. Scheiner, do Real Observatório Astrofísico de Potsdam, traduzido pelo Prof. E. B. Frost, do Dartmouth College, em 1894.

As correlações com a Astronomia chinesa vêm principalmente do trabalho do Sr. John Williams de 1871 — Observations of Comets from 611 B. C. to A. D. 1640, extracted from the Chinese Annals, — sendo os nomes estelares obtidos desta obra ou do Apêndice I do Sr. John Reeves [9] ao Volume I, Parte II, do Dictionary do Rev. Dr. Robert Morrison, publicado em Macau em 1819, com os números estelares de Bode. Eu fui também auxiliado pelos recentes artigos do Rev. Dr. Joseph Edkins publicados no China Review. As traduções dos nomes da lista de Reeves foram feitas pelo Prof. Kazutami Ukita, da Escola Teológica Doshisha de Kyoto, no Japão; mas ele nutre dúvidas quanto à exatidão de muitas dessas na sua aplicação às estrelas.

Professor Richard J. H. Gottheil, da Universidade de Columbia, muito gentilmente supervisionou a transcrição e tradução dos nomes estelares hebraicos e árabes, e juntou a esta obra uma tabela contendo o alfabeto arábico e as letras equivalentes em Inglês. Mas sua estadia em viagem ao Exterior, quando as páginas iniciais deste livro estavam em impressão, pode explicar alguns erros, os quais, todavia, esforcei-me por corrigir no Índice. As denominações eufrateanas [10] vêm de diversas fontes.

As magnitudes estelares foram estimadas pela Harvard Photometry, uma lista de 4260 estrelas visíveis a olho nu a norte do 30o. paralelo de declinação sul, publicada em 1884 pelo Prof. Edward C. Pickering, ou vêm da Uranometria Argentina [11] do Dr. Benjamin A. Gould, publicada em 1879.

As cartas celestes do céu boreal às quais geralmente me refiro são aquelas do Dr. Friedrich Wilhelm August Argelander em sua Uranometria Nova, publicada em Berlim, em 1843, contendo 3268 estrelas com magnitude inferior à sexta; e do Dr. Eduard Heis em seu Atlas Coelestis Novus de 1872. Embora esse último, exímio observador, tenha incluído aquelas com magnitude [12] até 6½ — 5421 estrelas situadas entre o polo e 40° de declinação sul, em oito décimos de área do céu. Smyth discute sobre este ponto frequentemente debatido na astronomia observacional de forma mais comedida:

O número daquelas visíveis a olho nu duma só vez muito raramente ultrapassa um milhar; embora devido a sua cintilação e ao modo indistinto com a qual são vistas, pareçam ser quase infinitas. Com efeito, embora uma vista aguçada e experiente possa fazer mais do que isso, o número total das que podem ser geralmente observadas a olho nu, tomando ambos os hemisférios, não é muito superior a três mil, da primeira à sexta magnitude, nestas proporções:

I II III IV V VI
20 70 220 500 690 1500, —

3000 ao todo. Prof. David P. Todd, em sua New Astronomy de 1897, aumentou o número das estrelas de quinta magnitude para 1400, e o das de sexta magnitude para 5000, — 7185 ao todo; mas condições excepcionais de céu e atmosfera devem ser necessárias para confirmá-los.

As cores estelares geralmente são da lista de Smyth, sempre que anotadas por ele; mas deve-se ter em mente que mesmo as melhores autoridades algumas vezes entram em discordância acerca das tonalidades estelares, e aquelas assinaladas aqui não devem ser aceitas por todos, e no caso de objetos mais fracos são muito duvidosas.

Inicio meu trabalho com breves notas sobre os Zodíacos, — Solar e Lunar, — que são, necessariamente, amiúde aludidos ao tratar das constelações individuais; seguindo-os com três capítulos sobre estas, — sua história entre as nações, catalogação e tratamento por autores antigos, e sua conexão com a astrologia, arte, folclore, literatura e religião. A lista detalhada das constelações, em ordem alfabética, e de seus componentes nomeados seguem-lhes, com a derivação, significação e história de seus nomes, e alguns fatos quanto aos aspectos científicos das estrelas. Neste último ponto de meu livro, o Prof. Charles A. Young, da Universidade de Princeton, proporcionou-me uma valiosa assistência, para a qual, embora muito inadequadamente, eu aqui lhe deixo meus sinceros agradecimentos. Um capítulo sobre a Galáxia termina o trabalho.

Onde necessário, indiquei a sílaba tônica dos nomes estelares nos Índice, embora em alguns casos, dada a incerteza da origem, essa possa ser duvidosa.

Por fim, sinto-me obrigado a agradecer pelas úteis sugestões ao Prof. Edward S. Holden, até recentemente Diretor do Lick Observatory; ao Sr. Addison Van Name, da Biblioteca da Universidade Yale, pelo acesso às obras de referência e auxílio com traduções; aos Srs. Theodore L. De Vinne & Co. (da Gráfica De Vinne), por sua experiente habilidade na confecção de meu livro; e ao Sr. P. J. Cassidy, por seu interesse e dedicada atenção à leitura das provas. Finalmente, agradeço à minha jovem amiga Srta. Lucy Noble Morris, de Morristown, pela longa e continuada ajuda de várias formas, especialmente na refinada seleção de citações poéticas.

E agora, com a esperança de que o meu trabalho, mesmo com suas imperfeições, possa servir para promover um interesse mais intelectual acerca da nomenclatura e da “arqueologia da astronomia prática”, apresento-o a todos os amantes das estrelas.

Richard Hinckley Allen.

Meadow View,
Chatham, New Jersey,

16 de fevereiro de 1899


Notas de Rodapé (do texto original)


[1] Este foi o célebre corasmiano Abū al-Rayḥān Muḥammad ibn Aḥmad al-Bīrūnī de 1000 dC, cujo nome na literatura veio de seu local de nascimento, um birun, ou subúrbio, da Corásmia. Suas obras Chronology of Ancient Nations or Vestiges of the Past e India são textos de interesse e referência, mesmo nos dias atuais.
[2] Este primeiro governo organizado entre os árabes começou em 749, e sob “sua iluminada e generosa proteção Bagdá logo tornou-se o que Alexandria tinha há muito deixado de ser”. (Nota do Tradutor: embora Allen não o especifique, a frase destacada neste rodapé é uma citação de frase similar no Preface to Ulugh Beigh's Catalogue, de autoria de Francis Baily, publicado no Memoirs of the Royal Astronomical Society, vol. 13, p. 20, 1842).
[3] Este foi subsequentemente designado Ἡ Μεγίστη para distingui-lo de outra obra sua menos importante, astrológica, em quatro volumes, o Τετράβιβλος Σύνταξις. Atualmente supomos que nossa denominação Almagesto seja uma composição das principais letras do título grego.
[4] Al-Ṣūfī foi também conhecido como al-Rāzī, de seu local de nascimento, Ray, a leste de Teerã. Uma tradução francesa de seu trabalho foi publicada em 1874 por H. C. F. C. Schjellerup, em São Petersburgo. (Nota do Tradutor: Há uma confusão nesta nota. Al-Ṣūfī e al-Rāzī são cientistas distintos, ambos nascidos em Ray, que viveram no mesmo período. Al-Ṣūfī foi astrônomo, enquanto al-Rāzī foi químico. Todavia, entre os diversos nomes pelos quais al-Ṣūfī se tornou conhecido, encontramos Abuʾl-Ḥusayn ʿAbd al-Raḥmān ibn ʿUmar al-Rāzī, segundo Paul Kunitzsch, no Complete Dictionary of Scientific Biography.)
[5] É muito lamentável que nossos dicionários sejam, sem exceções, particularmente insatisfatórios com respeito aos nomes estelares, estando sempre deficientes e muitas vezes errados. O Century Cyclopedia of Names, no entanto, contém a mais correta, detalhada, concisa e erudita lista de que dispomos.
[6] Seu nome mais conhecido vem de seu local de nascimento, Qazwin, no norte da Pérsia, e tem sido dado de forma variada; Smyth abreviou-o para ʿOmadu-d-dīn Abu Yahya Zakariyā ibn-Mahmūd Ansārī al-Kazwīnī. O nome é corretamente escrito como Zaqariyā ibn Muḥammad ibn Maḥmūd al-Qazwīnī. Ele colaborou com seu famoso conterrâneo Naṣīr al-Dīn al-Tūsī,  que, em 1270, compilou as Tábuas Ilkhanianas, usadas na Pérsia, talvez, até quase os dias atuais. (Nota do Tradutor: Dada a quantidade de nomes variantes com os quais os antigos cientistas do Islã são conhecidos, não está claro o que Allen quer dizer ao apontar para o nome mais “correto” de al-Qazwīnī, visto que ele mesmo parece usar uma variante não oficial. Atualmente, usa-se mais comumente o nome Abū Yahya Zakariyā ibn Muḥammad ibn Maḥmūd al-Qazwīnī.)
[7] É motivo de orgulho para nós, norte-americanos, saber que Smyth era um descendente direto do famoso capitão John Smith, da Virgínia; e do interesse de todas as pessoas de Nova Jersey que seu pai era da província de East Jersey, mas, como um legalista em nossa Revolução, foi obrigado a fugir para a Inglaterra, onde o filho nasceu em 1788. Ele morreu, em 1865, após uma proveitosa e distinta carreira na marinha britânica e como astrônomo e hidrógrafo.
[8] Esta ideia foi originalmente proposta por Gorius, em 1750, na sua De Gemmis Astriferis; e Dupuis tratou dela, embora de forma exagerada, um século depois. (Nota do Tradutor: Allen parece se referenciar à obra Origine de tous les Cultes, de Charles-François Dupuis, na qual mitos de origem primariamente astronômica são propostos como origem primaz de todos os cultos antigos.)
[9] A lista de Reeves tem origem no volume 31 da Yùzhì Lǜlì Yuānyuán, obra em cem volumes, publicada no reinado de Kāngxī, com o apoio dos jesuítas. As antigas denominações estelares chinesas parecem ter sido arbitrariamente aplicadas a estrelas individuais ou em pequenos grupos, sem uma correspondente configuração estelar aparente.
[10] O termo “eufrateano” é usado nestas páginas em um sentido generalizante para o material descoberto no Vale do Eufrates, cuja origem — sumeriana, acadiana, babilônica, caldeia ou assiriana — ainda está por ser determinada. Tomei as referências a este material diretamente dos trabalhos de Hommel, Sayce, Strassmaier e Epping, Jensen, e Robert Brown Jr..
[11] Esta imensa obra inclui todas as estrelas com magnitude inferior a 7 situadas dentro de 100° em torno do polo sul, — nas condições atmosféricas favoráveis de Córdoba, nas quais as observações foram feitas, permitiam que mesmo esta magnitude fosse facilmente visível. Ela contém, é claro, todas as constelações austrais, com 6733 estrelas, e a região das constelações boreais, totalizando 907 estrelas, que se situam abaixo do décimo grau de declinação norte, — 66 constelações ao todo, com 7730 estrelas.
[12] Ele foi capaz de fazer isso por meio de um arranjo especial para bloquear a luz proveniente de fora do campo do céu sob observação; destarte, embora suas observações fossem a olho nu, não são típicas.


Notas Explicativas da Tradução

[i] Traduzido a partir da versão moderna do poema House of Fame, disponibilizada pelo sítio eChaucer — Chaucer in the Twenty-First Century. No original: “'Wilt thou lere of sterres aught? / Elles I wolde thee have told,' / Quod he, 'the sterres names, lo / And al the hevenes signes to, And which they ben.'
[ii] Esta frase também é citada por Joseph Moxon (A Tutor to Astronomie and Geographie, 1659) e por William Henry Smyth (Prolegomena, pg. 436, 1844). Parece provir do livro The Use of the Celestial Globe in Plano, set forth in two hemispheres (1590), de Thomas Hood, ao qual não tive acesso.
[iii] Traduzido segundo o contexto da sentença no original Ben-Hur — A Tale of the Christ, por Lew Wallace.
[iv] Estribilho do poema Arabic Nights, de Arthur Tennyson.
[v] Uma variante mais comum é: al-Kitāb al-Majisti. Também referenciado como al-Kitābu al-Majisti.
[vi] Segundo a Wikipedia, seu nome latino seria Gerardus Cremonensis.
[vii] Allen usa al-Ṣaidak, porém para ter o significado que ele oferece (The Trusted One) deveria ser al-Ṣādiq. Em capítulo mais adiante, Allen menciona a variação al-Ṣaidak (que traduz como A Verdade) e al-Ṣādak (que traduz como O Teste). Ambas as palavras estão incorretas em árabe.
[viii] Segundo Paul Kunitzsch, o nome original desta obra é Kitāb Suwar al-Kawākib al-Thābita que se traduziria como “Livro sobre as Constelações das Estrelas Fixas”.
[ix] Verso 137 do Livro I das Geórgicas. Tradução literal nossa: “o marinheiro então numerou e deu nome às estrelas”. Na tradução versificada feita por António Feliciano de Castilho: “astros numera o nauta e nomes lhes comparte”.
[x] Tradução literal nossa: “Grécia numerou e deu nome às estrelas”. O original encontra-se no parágrafo 25 do Livro VII (De Cometis) das Quaestiones Naturales.
[xi] Salmos 147:4, na versão da tradução Almeida Corrigida Fiel.
[xii] Isaías 40:26, na versão da tradução Almeida Corrigida Fiel.
[xiii] Alcorão, sexta sura, versículo 97.
[xiv] Trecho da fala de Biron, Ato I, Cena I, na peça Love's Labor's Lost, de Shakespeare. Traduzido sem versificação a partir do original.
[xv] Trecho da fala de Porfírio, §2, Cap. IV, Livro III da Praeparatio Evangelica de Eusébio. A tradução foi feita a partir da frase quotada por Allen. A tradução em língua inglesa feita por E. H. Gifford, em 1903, tem um sentido ligeiramente diverso: “those who assert the Sun to be the Creator twist the story of Osiris and Isis, and all the priestly legends, either into allusions to the stars and their appearances and disappearances and their solar distances at rising”. No original em grego, digitalizado pelo projeto de pesquisa Δρόμοι της Πίστης, do Departamento de Tecnologia e Comunicação Cultural da Universidade do Egeu, lê-se “ἑώρα γὰρ τοὺς τὸν ἥλιον δημιουργὸν φαμένους καὶ τὰ περὶ τὸν Ὄσιριν καὶ τὴν Ἶσιν καὶ πάντας τοὺς ἱερατικοὺς μύθους ἢ εἰς τοὺς ἀστέρας καὶ τὰς τούτων φάνσεις καὶ κρύψεις καὶ ἐπιτολὰς ἑλιττομένους”, ao qual a tradução de Gifford é mais fiel que a de Allen.
[xvi] Tradução nossa a partir do original citado por Allen.

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