Draco


With vast convolutions Draco holds
Th’ ecliptic axis in his scaly folds.
O’er half the skies his neck enormous rears,
And with immense meanders parts the Bears.[i]
The Economy of Vegetation, Erasmus Darwin.


Draco

Nosso Dragão, o inglês Dragon, o alemão Drache, o italiano Dragone, e o espanhol Dragón eram Δράκων entre os gregos — de fato, este tem sido o título universal nas formas transcritas da palavra. Autores clássicos, astrônomos e o povo conheciam-na assim, embora Eratóstenes e Hiparco a tenham denominado Ὄφις (Serpente), e nas Tábuas latinas,[ii] bem como entre alguns poetas desse período, ocasionalmente apareceu, tal qual as outras cobras estreladas, como Anguis, Coluber (ambos com sentido de Cobra), Python (Píton) e Serpens (Serpente). Deste último título veio Aesculapius (Esculápio), e talvez Audax (Audaz).
O Dragão, nas pranchas de Hevelius.

Ele foi descrito no Escudo de Héracles, com os dois Cães, a Lebre, Órion, e Perseu, como

O horror escamoso de um dragão, enrolado
Totalmente no campo central; [iii]

e mitologistas dizem que ele representa a Serpente arrebatada por Minerva dos gigantes e arremessada ao céu,[iv] onde ele se tornou Sidus Minervae et Bacchi[v] (Astro de Minerva e Baco) ou o monstro morto por Cadmo junto à fonte de Marte, cujos dentes ele semeou para obter uma colheita de homens armados.
Dragão, na Uranometria de Bayer.

Julius Schiller, sem considerar sua história anterior, afirmou que suas estrelas representavam os Santos Inocentes de Belém; outros, de forma mais consistente, que ele era a Velha Serpente que tentou Eva nos Jardins do Éden; Caesius comparou-o ao Grande Dragão que os babilônios adoravam juntamente com Bel; e Olaus Rudbeck,[1] o naturalista sueco dos 1700, disse que seus compatriotas consideravam-no um antigo símbolo para o Mar Báltico; mas ele também procurou mostrar que o Paraíso estava localizado na Suécia!
A constelação dos Santos Inocentes, que Schiller tentou criar em lugar do Dragão.

Delitzsch asseverou que os hebreus concebiam a disposição de suas estrelas como uma Aljava; mas isso deve ter sido excepcional, pois a figura normal para aquele povo era o familiar Dragão, ou algum tipo de monstro marinho. Renan achava que a alusão de Jó à “serpente enroscadiça”[vi] seria a essa constelação ou a Ofiúco; mas é mais provável que tenha sido ao Dragão por ser então o antigo possuidor da estrela polar, e, tal como o nosso agora, situar-se em posição mais importante do céu. Enroscadiço é uma tradução especialmente apropriada para uma figura tão sinuosa. Outras versões da Bíblia em português qualificam-na como serpente “arisca”, “fugitiva” ou, ainda, “veloz”, um epíteto muito inadequado ante o movimento lento do Dragão, embora aplicável à Hidra mais ao sul.
O Dragão e constelações circunvizinhas, no atlas de Bode

Referindo-se à mudança de posição do Dragão com respeito ao polo devido à precessão, Proctor escreveu em seu Myths and Marvels of Astronomy:

Se estivermos imaginativamente dispostos, pode-se quase ver aí o deslocamento gradual do Dragão de seu antigo lugar de honra, em certas tradições acerca da queda do grande Dragão cuja “cauda levava após si a terça parte das estrelas do céu”, aludido no Apocalipse 12:4.

e a conclusão desse versículo, “e lançou-as sobre a terra”, mostraria uma possível referência aos meteoros.[vii]
Dragão no Firmamentum Firmicum

Na Pérsia, o Dragão era Azhdahā, a Serpente Devoradora de Homens, ocasionalmente transcrita como Hashteher; e, no muito antigo culto hindu, Shishumara, o Crocodilo, ou Toninha, o qual também foi identificado com o nosso Golfinho.

Registros babilônicos aludem a uma constelação próxima ao polo como um Caracol desenhado ao longo da cauda de um Dragão que pode ter sido nossa constelação; já noutras inscrições encontramos Sīr, uma Cobra, mas é incerto a qual das serpentes celestes esse título se aplica. E alguns veem aqui o dragão Tiāmat,[2] derrotado pelo deus solar ajoelhado Gilgamesh,[viii] nosso Hercules, cujo pé jaz sobre ele. Rawlinson, entretanto, afirma que o Dragão representava Ea (ou Aos), o terceiro deus da trindade assíria, também conhecido como Kim-mut, ou Enki entre os sumérios.

Como uma figura caldeia, provavelmente trazia os chifres e garras do típico dragão primitivo, e as asas que Tales utilizou para compor a Ursa Menor; portanto, estes nunca aparecem em nossos mapas. Mas junto àquele povo, ela era uma constelação muito mais longa do que a nossa, serpenteando para baixo e à frente da Ursa Maior, e, mesmo em épocas posteriores, envolvendo ambas as Ursas em suas ondulações: isso é mostrado em manuscritos e livros até o século XVII, com o título combinado Arctoe et Draco (Ursas e Dragão). Ainda nos dias atuais ela praticamente enclausura a Ursa Menor. Sua representação usual é uma combinação de pássaro e réptil, magnus et tortus, um Monstrum mirabile (Monstro Admirável) e Monstrum audax (Monstro Audaz), ou simplesmente Monstrum em Germânico. Virgílio apoda-o Maximus Anguis (Serpente Máxima), que,

coleia à guisa de um rio de movimentos sinuosos, em torno e através das duas Ursas; [ix]

um símile que pode ter dado origem a outra de suas representações e títulos, encontrado nas Argonauticae, — Ládon, do proeminente rio da Arcádia, ou, mais provavelmente, o estuário que delimita o Jardim das Hespérides, o qual, na versão usual da lenda, era guardado pelo Dragão, “um emblema da eterna vigilância, pois nunca se põe”.[x] Aí ele era Coluber arborem conscendens (Serpente que sobe a árvore), e Custos Hesperidum, o Vigilante do fruto dourado; sendo eles próprios, tal fruto e a árvore que os carregava, símbolos estelares pois, na visão de Sir William Drummond:

uma árvore frutífera era certamente um símbolo dos céus estrelados, e as frutas tipificavam as constelações; [xi]

e George Eliot, em seu poema Spanish Gypsy:

As estrelas são frutos dourados em cima de uma árvore
Todos fora de alcance. [xii]

As estrelas do Dragão eram circumpolares por volta de 5000 aC, e, como todas aquelas nessa condição, — certamente poucas em termos numéricos devido à baixa latitude do país do Nilo — foram muito observadas nos primórdios do Egito, ainda que configuradas de forma diferente daquela entre nós. Algumas delas faziam parte do Hipopótamo, ou de sua variante, o Crocodilo, e assim eram mostradas no planisfério de Dendera e nas paredes do Ramesseum em Tebas. Como tal, Delitzsch diz que era Hes-mut, talvez significando a Mãe Furiosa. Um objeto que se assemelha a uma relha presa às patas da criatura teria, na fantasia de alguns, dado nome ao Arado[xiii] adjacente.

O hieróglifo para este Hipopótamo foi usado para os céus em geral; já a constelação supostamente teria sido um símbolo de Ísis Hator, Athor ou Athyr, a Vênus egípcia; e Lockyer afirma que o mito de Hórus que trata dos Shemsu Hor, um povo quase pré-histórico até para os registros egípcios, faz referência indubitável a estrelas dessa região do céu; embora posteriormente esse mito tenha sido transferido para a Coxa, nossa Ursa Maior. Diz-se que durante uma época os egípcios chamavam o Dragão de Tanem, não muito diferente do hebraico Tannīm, ou aramaico Tannīn, e talvez com o mesmo significado bem como deles derivado.

O asterismo egípcio Necht era próximo a, ou situava-se entre, as estrelas do Dragão; mas não se conhece sua localização exata e limites, como ele estava configurado e tampouco o que representava.
Dragão, numa edição do
Livro das Estrelas Fixas de al-Ṣūfī

Entre os astrônomos arábios, al-Tinnīn (o Dragão) e al-Thuʿbān (a Grande Serpente ou Basilisco) eram traduções para o Δράκων de Ptolomeu; e no globo borgiano, sobre β e γ, encontram-se escritas as palavras Alghavil Altannin na transcrição feita por Assemani, o Dragão Venenoso em sua tradução, que ele considerou referir-se à constelação inteira. Que havia algum fundamento para isso pode ser inferido da crença tradicional dos antigos astrólogos de que quando um cometa estivesse nessa constelação, veneno era espalhado pelo mundo. De mapas turcos, Bayer cita Etanin, e de outros Aben, Taben e Etabin; Riccioli, Abeen vel Taeben; Postello, Daban; Chilmead, Alanin; e Schickard, Attanino. Os arábios também aplicaram ao Dragão o nome al-Shujāʿ, uma Serpente Macho, que também foi usado para a Hidra; e al-Ḥayyah, a Cobra, embora este fosse mais comumente associado à nossa constelação da Serpente, a cujo título ele era sinônimo.

Bayer tinha Palmes emeritus, o Ramo de Vinha Exaurido, que mais ninguém parece citar; mas o original provavelmente era um termo árabe para algum pequeno grupo estelar da constelação.

Williams menciona um grande cometa, visto da China em 1337, que passou por Yuen Wei, aparentemente algumas estrelas não identificadas no Dragão.[xiv] A própria criatura era o símbolo nacional daquele país, mas o dragão do horóscopo chinês situava-se entre as estrelas que compõe nossa Balança. Edkins escreve que o Dragão era Zǐ Gōng, o Palácio do Imperador Celestial,[xv] acrescentando, embora não muito claramente, que este palácio

é delimitado pelas estrelas do Dragão, em número de quinze, que se distribuem em uma forma oval ao redor da estrela polar. Elas incluem a estrela Tài Yǐ, ξ, ο, σ e ς do Dragão, que está distante cerca de dez graus da cauda da Ursa e vinte e dois do polo atual. Ela própria marcava o polo à época do início da astronomia chinesa.[xvi]

Dragão se estende por mais de doze horas de ascensão reta e contém 130 componentes visíveis a olho nu, segundo Argelander; 220, de acordo com Heis; mas ambos autores estendem a cauda da figura, muito além de sua estrela λ, até uma de 4.a magnitude sob as mandíbulas da Girafa — muito mais longe do que é frequentemente encontrado nos mapas estelares.

α, 3.6, amarelo pálido.

Thuban é seu nome oficial, reconhecido em 2016 pelo WGSN da União Astronômica Internacional; esta e outra de suas antigas denominações, Al Tinnin, provém dos títulos arábios usados para a constelação como um todo, tal como Azhdahā, usado pelos persas.

Ela também era Adib, Addib, Eddib, Adid, Adive e El Dsib, todos do árabe al-Dhiʾb, o Lobo,[xvii] que também aparece na nomenclatura de outras estrelas nessa constelação, bem como no Boieiro e na Ursa Maior. E al-Tizīnī a denominava al-Dhīkh, a Hiena Macho.

Entre os homens do mar, ela é a Cauda do Dragão, um título explicado no texto para γ.

Na China, ela era Yòu Shū, o Pivô Direito; e o espaço entre ela e ι Draconis era chamado de Chung Ho Mun.[xviii]

Sayce afirma que a grande obra astrológica e astronômica compilada para o primeiro Sargão, rei de Ágade, ou Acádia, dedicou muita atenção a essa estrela, que então marcava o polo, como Tir-anna, a Vida do Firmamento; Dayan Same, o Juiz do Céu; e Dayan Sidi, o Juiz Benigno,— todos os títulos representando o deus Caga Gilgati, cujo nome ela também levava. Brown aplica estes títulos à Vega da Lira, uma estrela polar ainda mais antiga, — mas ela o foi há 14,000 anos! — e citou para α Draconis Dayan Esiru, o Juiz Próspero, ou a Coroa do Céu, e Dayan Shisha, o Juiz Dirigente, por ter o assento mais alto entre as hostes celestiais. Em torno de 2786 aC, ela estava a estava a menos de 8ʹ do polo exato, embora agora a mais de 26°; e como se encontra quase no centro da figura, toda a constelação então visivelmente girava em torno dela, como num pivô, similar aos ponteiros de um relógio, mas na direção inversa.

A estrela podia ser vista, tanto durante o dia quanto durante a noite, a partir do fundo da passagem central[3] da Grande Pirâmide de Quéops (Khnum Khufu) em Gizé, na latitude 30° norte, bem como de pontos similares em cinco outras estruturas desse tipo; e o mesmo fato foi afirmado por Sir John Herschel acerca de duas pirâmides em Abusir.

Herschel considerava haver nítida evidência de que Thuban anteriormente fosse mais brilhante do que é nos dias atuais, tanto por ter herdado o título da constelação quanto pela letra que a representa; pois Bayer lhe anota a 2.a magnitude, — de fato, a única a ter esse brilho em sua lista para o Dragão, — e geralmente ela assim também figura em catálogos estelares anteriores a três séculos atrás.

β, binária, 3 e 14, amarela.

Rastaban, seu nome oficial, bem como a antiga variante Rastaben, provém de al-Rās al-Thuʿbān, a Cabeça do Dragão, — que Schickard escreveu como Raso tabbani.

Na antiga astronomia árabe, ela era uma das al-ʿAwāʾidh, os Camelos-Mães, figura completada por γ, μ, ν e ξ, que posteriormente se tornaram conhecidos como Quinque Dromedarii (Cinco Camelos). Da palavra arábica vem outro dos nomes que lhe foram atribuídos mais recentemente: Alwaid. Ideler propôs um interpretação diferente para a etimologia desse grupo, derivando-o de al-ʿAwwāyd, forma plural de al-ʿAwwād (o Alaudista), mas esse título não possui o respaldo de nenhuma fonte árabe. No deserto, ela foi al-Rāqiṣ, o Dançarino, ou o Camelo Trotante, — nome atualmente conferido a μ —, e fazia parte do al-Ṣalīb al-Wāqiʿ, a Cruz em Queda, da qual β e ξ formavam a perpendicular, enquanto γ, ν e ξ, a barra transversa; e assim designada como se estivesse inclinada para longe do observador de modo a explicar a escassez de estrelas na posição vertical.

Asuia, corrente na Idade Média e desde então, vem de al-Shujāʿ, um dos títulos da constelação, e foi frequentemente escrito como Asvia, no qual se tomou a letra u como um primitivo v. A companheira, distante 4", em um ângulo de posição de 13.4°, foi descoberta por Burnham.

β e γ, separadas por 4°, próximas ao coluro solsticial, eram conhecidas como os Olhos do Dragão, incorretamente agora, embora Proctor considere que devessem estar assim localizados na representação original de uma visão frontal do Dragão. Representações modernas as colocam no topo da cabeça.

Na China, juntamente com ν e ξ Draconis e ι Herculis, elas formavam o asterismo Tiān Bàng, o Mangual Celeste.

γ, Dupla, 2.4 e 13.2, laranja.

Seu nome oficial Eltanin, bem como as antigas variantes Ettanin, Etannin, Etanim, Etamin, etc., derivam-se do al-Rās al-Tinnīn (a Cabeça do Dragão) de Ulugh Beg aplicado a esta estrela, bem como a α; Riccioli transcreveu-o como Ras Eltanim. O termo Tinnīn é aproximadamente sinônimo de Thuʿbān, e Bayer mentionou Rastaben como um de seus títulos, as Tábuas Afonsinas, Rasaben, e a Century Cyclopedia, Rastaban; mas na antiga astronomia arábica ela era participava da Manada de Camelos mencionada em β.

al-Fayrūzabādī refere-se a uma Rās al-Tinnīn e Dhanab al-Tinnīn nos céus, a Cabeça e a Cauda do Dragão; mas estes não têm conexão com o nosso Dragão, são somente referência aos nodos ascendentes e descendentes das órbitas da Lua e dos planetas, que eram conhecidos pelos astrônomos árabes sob esses títulos. Essencialmente, no entanto, estes vinham da Índia e eram conhecidos como Rahu e Kitu. A ideia parece ter-se originado do fato de que o curso ondulante da Lua, acima e abaixo da eclíptica, era simbolizado pelo da Hidra estelar. Tivesse esta sido usada em vez de "Dragão", a expressão talvez fosse atualmente melhor compreendida. Mas ela era familiar aos marinheiros até o século XVI, pois “the head and tayle of the Dragon”[4] é usado na Dedication de Eden a Sir Wyllyam Wynter, em 1574;[xix] e mesmo nos dias atuais os símbolos ☊, para o nodo ascendente, e ☋, para o descendente, são usados em livros-texto e almanaques.

γ tem sido um astro notável em várias épocas. Robert Hooke observou-a com um telescópio durante o dia, em 1669, enquanto tentava determinar sua paralaxe, mas seu resultado posteriormente foi atribuído ao efeito da aberração. Posteriormente, essa estrela foi usada por Bradley para o mesmo propósito, embora sem sucesso; mas, por outro lado, isso lhe rendeu sua grande descoberta da aberração da luz,[5] sobre a qual Hooke, é claro, ignorava.

Milênios antes disso, entretanto, ela teve importância no Nilo, pois deixou de ser circumpolar por volta de 5000 aC, e alguns séculos depois tornou-se a sucessora natural de Dubhe (α Ursae Majoris), que até aquela data tinha sido o proeminente objeto de adoração em templos egípcios no Norte. γ era conhecida lá como Isis, ou Taurt Isis, — o primeiro desses nomes também foi aplicado durante algum tempo a Sirius, — e ela marcava a cabeça do Hipopótamo que era parte do nosso Dragão. Por volta de 3500 aC, seu nascer era visível através das passagens centrais dos templos de Hathor em Dendera e de Mut em Tebas; Canopus era vista através de outras aberturas voltadas para o Sul na mesma época. Treze séculos depois, segundo Lockyer, ela se tornou o ponto de orientação dos grandes templos de Ramsés e Consu no Complexo de Carnaque em Tebas. No primeiro deles, a passagem através da qual a estrela era observada tinha 450 metros de comprimento. Lockyer também indicou que pelo menos sete templos diferentes foram orientados para essa estrela. Ele supõe que outros templos foram construídos com o mesmo propósito em vista, quando a precessão pôs fim a esse uso desses templos; de modo que agora são encontrados três conjuntos diferentes de estruturas próximas umas das outras, e orientadas de modo que suas datas de construção, doutra forma desconhecidas, poderiam ser determináveis pelo conhecimento do propósito para o qual elas foram projetadas. Sendo esse o caso, Lockyer opina que Hiparco não foi o descobridor da precessão dos equinócios, como geralmente se supõe, mas apenas o divulgador dessa descoberta feita pelos egípcios, ou talvez adotada por eles da Caldeia.[xx]

Ele também assevera que Apet, Bast, Mut, Sekhet e Taurt eram todos títulos de uma deusa na adoração do Nilo, simbolizada por γ Draconis.

É interessante saber que a Tebas beócia, a Cidade do Dragão, com base na história de seu fundador, Cadmo, compartilhava com seu homônimo egípcio o culto a essa estrela em um templo dedicado, pelo que mostra sua orientação, por volta de 1130 aC: um culto sem dúvida extraído da cidade-mãe no Egito, e adotado noutras partes da Grécia, como também na Itália no pequeno templo de Ísis em Pompéia. Aí, no entanto, as autoridades da cidade interferiram com essa adoração de estrelas em um de seus numerosos ataques aos astrólogos e fecharam com tijolos a abertura através da qual a estrela era observada.

γ culmina quase exatamente no zênite de Greenwich, de fato até foi chamada por lá de Zenith-star (Estrela do Zênite); e, sendo circumpolar, desce em direção ao horizonte, mas, sem desaparecer, ergue-se mais para leste, e assim explica este verso do poeta:

the East and the West meet together.[xxi]

Ela estava mais perto do polo celestial norte do que qualquer outra estrela brilhante há cerca de 4000 anos. Possui seis companheiras, todas descobertas por Burnham.

δ, 3.1, amarelo profundo,

foi oficialmente batizada pelo WGSN da União Astronômica Internacional em 2016 como Altais, do árabe al-Tais, o Bode, que al-Tizīnī atribuiu ao quadrângulo formado por δ, π, ρ e ε. Esse foi um título surgido numa fase mais tardia da astronomia dos árabes do deserto, que chega a contrastar com o costume desse povo de geralmente dar nomes de animais apenas a estrelas isoladas. O Jais, que pode ser encontrado em várias listas, mapas e globos, parece ser um erro tipográfico ou uma transliteração errônea do original árabe. δ também deve ser uma das duas estrelas indeterminadas que al-Fayrūzabādī chama de al-Tayyāsān, os Dois Pastores de Bodes.

Ela também aparece em vários catálogos com o nome Nodus Secundus, por marcar o 2.o dos quatro nós, ou convoluções, da figura do Dragão.

δ, ε, π, ρ e σ, além de 64 Draconis, compunham o asterismo chinês Tiān Chú, a Cozinha Celestial.

ε, 4.0

Bečvář, em seu Atlas Coeli Skalnate Pleso, denomina-lhe Tyl, de etimologia desconhecida.

É uma estrela dupla que pode ser facilmente resolvida com telescópios de 10 cm. Sua companheira é uma gigante de classe F, afastada por 3.2ʺ.

ζ, 3.2,

foi oficialmente batizada em 2017 pelo WGSN da União Astronômica Internacional como Aldhibah (a Loba), forma feminina do árabe al-Dhiʾb, nome também aplicado à α.

Na Arábia, ela formava com η o asterismo al-Dhiʾbayn (as Duas Lobas). Ela também já foi chamada de Nodus Tertius (ou Nodus III), por marcar o terceiro nó do corpo do Dragão.

Os chineses a conheciam como Shǎng Bì, o Primeiro Ministro.

Textos hindus referem-se a esta estrela como Tara, nome da deusa celeste casada com Bṛhaspati, o deus guru dos devas, associado a Júpiter.

A meio caminho entre ela e δ, a 9.6' da nebulosa planetária NGC 6543, encontra-se o polo norte da eclíptica; já o polo sul está na cabeça do Dourado. Diversas chuvas de meteoro têm seu radiante ao redor dessa estrela, como os Zeta Draconídeos de Janeiro, os de Abril e os de Julho.

η, Dupla, 2.a e 8.a magnitude, amarelo profundo e azulado,

foi batizada oficialmente em 2017 pelo WGSN da União Astronômica Internacional como Athebyne, uma transcrição anglicizada[xxii] de al-Dhiʾbayn, nome pelo qual ela e ζ eram conhecidas. Do nome árabe vem o Duo Lupi presente em obras antigas, isto é, as Duas Lobas, — por vezes Duas Hienas, — que espreitam o Filhote do Camelo, a pequena estrela Alruba, protegida pelos Camelos-Mães, as estrelas mais brilhantes situadas na cabeça do Dragão. Elas também eram al-ʿAwhaqān, os Dois Touros Negros, ou Gralhas, pois o termo em árabe se aplica a ambas criaturas;[xxiii] mas este último nome também é usado para ω e f, e para χ e ψ; todos esses títulos provêm duma época bem remota da Arábia.

Na China, ela era conhecida como Shǎo Zǎi, o Segundo Premiê.[xxiv]

Os componentes desse par encontram-se separados por 5.1", a um ângulo de posição de 143°.



θ, uma estrela de magnitude 4.1, é Shǎng Zǎi, o Primeiro Premiê; enquanto as estrelas menores próximas a ela (incluindo HD 141653 e HD 146603) eram conhecidas como Tiān Chuáng, a Cama Celestial.

ι, 3.6, laranja.

Smyth a identifica com a al-Ḍibāʿ do globo de Dresden e de Ulugh Beg, mas Qazwīnī a nomeou al-Dhīkh, a Hiena Macho, do qual teria vindo a corruptela Ed Asich, escrito como Eldsich no Century Cyclopedia. Em julho de 2016, o WGSN da União Astronômica Internacional batizou-a oficialmente como Edasich.

Em 2015, um de seus planetas conhecidos recebeu o nome Hypatia, em homenagem à famosa astrônoma grega Hipácia, durante o concurso NameExoWorlds promovido pela União Astronômica Internacional.

Na China, ι era Zuǒ Shū, o Pivô Oriental.

Ela marca o radiante dos meteoros Quadrantídeos de 2 e 3 de janeiro, assim denominados por se situarem junto à antiga constelação do Quadrante Mural.

Uma estrela de 9.a magnitude, de tom amarelo pálido, encontra-se a 2′ dela.

κ, de magnitude 3.8, era conhecida pelos chineses como Shǎo Wèi, o Segundo Juiz-Chefe.

λ, 4.1, laranja.

Giausar, seu nome oficial, e as variantes Giansar, Gianfar e Giauzar possuem uma etimologia confusa. Poderiam vir de al-Jawzāʾ, os Gêmeos, — uma pequena estrela situada em sua proximidade, — ou de al-Jawzah, o Centro ou Meio, pois ela se encontra aproximadamente a meio caminho entre as Apontadoras e Polaris; ou, e ainda mais plausível, do persa Gauzahr,[xxv] — que al-Bīrūnī transcreveu como Jauzahar e lhe atribuiu origem sassânida,— o Local do Veneno, em referência à concepção de que os nodos, ou pontos em que a Lua cruza a eclíptica, eram venenosos porque eles usualmente eram chamados de Cabeça e Cauda do Dragão. Essa curiosa ideia propagou-se até tempos comparativamente modernos e, embora esses pontos estejam muito distantes da constelação do Dragão, ainda prevalece no nome de λ. Juza foi outro título muito popular para essa estrela.

Ela também foi conhecida como Nodus Secundus, o Segundo Nó, possivelmente porque em algumas representações ela se situasse nessa dobra do corpo do animal; muito embora ela esteja bem afastada de δ, que tradicionalmente leva esse nome.

Na China, ela era Shǎng Fǔ, o Primeiro Ministro.

Embora seja a última estrela letreada dentre as que compõe a figura estelar, ela se encontra a considerável distância do fim, como é representado nos atlas de Heis e Argelander.[xxvi]

μ, Tripla, 5, 5.1 e 14, branco brilhante, branco pálido e vermelha.

É oficialmente nomeada Alrakis, do árabe al-Rāqiṣ, presente no catálogo de Ulugh Beg, e corrompido como Arrakis e Errakis noutras listas. Literalmente, o termo árabe significa o Dançarino, e alguns viram nisso uma referência ao Alaudista situado próximo, a estrela β; mas aqui provavelmente significa o Camelo Trotante, um do grupo desses animais localizados neste local. Ideler aditou-lhe al-Rafad, o Camelo Que Pasta Livremente, que o original, salientado de forma diferente, poderia significar.

A pequena estrela no centro do grupo de Camelos (β, γ, μ, ν e ξ) é denominada al-Rubaʿ no globo borgiano, embora seja muito pouco visível; ela não aparece nos catálogos até à época de Piazzi, excetuando o Coelum Stellatum Christianum de 1627, de Julius Schiller, no qual era é a 37.a estrela em sua constelação dos Santos Inocentes.

Assemani anotou μ como al-Qaʿab, o Pequeno Escudo, mas não forneceu nenhum motivo para isso, e a falta de relação entre esse nome e o Dragão torna sua afirmação muito duvidosa.

Nas representações modernas, ela marca a fuça ou língua do Dragão.

Os componentes são estrelas com massa aproximadamente idêntica, separadas por 2.5″; o período orbital é longo, por volta de oitocentos anos, mas ainda não pode ser precisamente determinado. Há uma terceira estrela que parece orbitar o par, separada deste por 13.2″.

ν, Binária,

na cabeça do Dragão, já mencionada em conexão com β, γ, μ e ξ, aparece em listas modernas como Kuma, cuja etimologia até hoje permanece obscura. Ela é uma binária muito interessante para avistamento com um pequeno telescópio. Cada um de seus componentes possui magnitude 4.9, separados por 62.1″, a um ângulo de posição de 311°.

De acordo com sua paralaxe, o par se encontra a cem anos-luz de distância do Sol.

ξ, 3.8, amarela,

fazia parte da Manada de Camelos; mas seu nome oficial atual, Grumium, é um barbarismo presente no Almagesto de 1515, do latim Grunnum, um equivalente ao γένυς usado por Ptolomeu para a mandíbula inferior do Dragão. Esta palavra é atualmente vista no italiano grugno e no francês groin. Bayer seguiu Ptolomeu ao chamar essa estrela de Genam.

Ela também foi conhecida no passado como Nodus Primus ou Nodus I, por corresponder à primeira convolução do Dragão em certas representações.

Proctor considerava que ela marcasse a língua protusa do Dragão nas mais antigas representações da figura, — a menos que ι Herculis fosse essa estrela; já Denning marcou-a como o ponto radiante da chuva de meteoros vista por volta de 29 de maio, — os Draconídeos.[xxvii]

σ, 4.7, na segunda dobra a nordeste de δ, é Alsafi, corruptela de Athāfi, erroneamente transcrita do plural arábico Athāfiyy, pelo qual os nômades denominavam os tripés usados em suas cozinhas ao ar livre; um desses imaginados na configuração de σ, τ e υ. Uthfiyyah é a forma singular. É uma das estrelas de nossa vizinhança, — encontra-se a 19 anos-luz de distância.

φ, um sistema triplo de 4.a magnitude, era conhecida na China como Zhù Shǐ, o Oficial dos Arquivos Reais;[xxviii] enquanto τ e χ, com outras estrelas menos brilhantes, formava o asterismo Yù Nǚ, as Serviçais.[xxix]

ψ1 e ψ2, 4.3 e 5.2, branca perolada e amarela.

Dziban é o nome oficial de ψ1, reconhecido em 2017 pelo WGSN da União Astronômica Internacional. Antes disso, ambas as estrelas eram conhecidas como Dsiban, do árabe al-Dhiʾbayn, os Dois Lobos ou Chacais, um título árabe para as estrelas ζ e η, que alguns também atribuíram a este par; embora Lach tenha cogitado que ela, juntamente com χ, formasse o asterismo al-ʿAwhaqān, que igualmente é atribuído a ζ e η.

Na China, ela era Nǚ Shǐ, a Erudita ou Literata.[xxx]

Os componentes de ψ1 estão separados por 31", com um ângulo de posição de 15°.

ω, 4.9, e f, 5.1.

Essas estrelas fracas, situadas entre ζ e o grupo φ, χ e ψ eram chamadas de al-ʾAẓfār al-Dhiʾb, as garras da Hiena, estendidas para agarrar o Filhote do Camelo. Assim aparecem nos textos de Ulugh Beg e no globo de Dresden; mas em outras obras elas são al-ʿAwhaqān, uma designação compartilhada com ζ e η, e com φ e χ. Elas também eram às vezes denominadas de al-Dhīkh, o Lobo.

Na China, ω era a primeira estrela do asterismo Shàng Shū, o Secretário Real, que também incluía 15, 18 e 19 Draconis, entre outras.

Segundo alguns autores, os chineses alocavam a estrela 7 Draconis no asterismo Nèi Chú, a Cozinha Interna; contudo o WGSN da União Astronômica Internacional em 2017 batizou-a como Tianyi, do chinês Tiān Yī, a Primaz do Céu, que outros identificam como 10 Draconis, a qual, juntamente com Thuban, desempenhava o papel de estrela polar por volta de 2600 aC, o que justificaria bem mais para si esse título.

Confusão similar ocorre com a estrela 8 Draconis, batizada pelo WGSN da União Astronômica Internacional em 2017 como Taiyi, do chinês Tài Yī, a Grandiosa, atribuído por outros a HD 119476.

Parece haver confusão e alguma duplicidade na nomenclatura das estrelas do Dragão, mas seus muitos títulos mostram a grande atenção dada à constelação nas antigas eras.

HD 161693, a pequena estrela situada no meio de β, γ, ε e ν é Alruba, do árabe al-Rubaʿ, o Filhote (isto é, dos Camelos).

Mais recentemente, 42 Draconis foi nomeada Fafnir, e seu primeiro planeta conhecido recebeu o nome Orbitar, durante a campanha NameExoWorlds de 2015. Os nomes foram submetidos pela Sociedade Astronômica Brevard, situada na Flórida. Fafnir é uma referência ao anão da mitologia nórdica que é transformado em um dragão, enquanto Orbitar é uma homenagem às operações espaciais desenvolvidos pela NASA.


Notas de Rodapé (do texto original)


[1] Rudbeck talvez seja o “sueco sagaz” sobre o qual o Papa fala no The Ring and the Book de Browning.
[2] Esta notável criação da mitologia eufrateana era a personificação do caos primevo hostil aos deuses e oposto à lei e à ordem. Gilgamesh derrotou o monstro durante uma luta, enviando um vento em direção a suas mandíbulas abertas e dividindo-o em dois. A Baleia, a Hidra e a Serpente de Ofiúco também foram considerados seus símbolos. Sua representação é encontrada em selos cilíndricos desenterrados em fins do século XIX.
[3] Esta passagem, que mede 1 por 1.2 metros em diâmetro e se estende por 115 metros de comprimento, estava apontado para o norte em direção a esta estrela, indubitavelmente por desígnio de seu construtor, a partir de um ponto abaixo de sua presente base, com uma inclinação de 26°17' com respeito ao horizonte. Ao tempo de sua construção, por volta de 2620 aC, o Cruzeiro do Sul era inteiramente visível aos selvagens habitantes do atual Sul da França.
[4] O mês nódico, isto é o período em que a Lua leva para passar novamente sobre o mesmo nodo, é também chamado de dracônico, draconiano ou draconítico.
[5] A data desta descoberta é variadamente atribuída ao período entre 1726 a 1729, embora o fenômeno tenha chamado a atenção de Bradley pela primeira vez em 21 de dezembro de 1725, por uma discordância inexplicável em suas observações; mas levou algum tempo para ele completar esta explicação.


Notas Explicativas da Tradução


[i] Excerto dos vv. 517-520, Canto I, do poema The Economy of Vegetation, de Erasmus Darwin. Em tradução aproximada: “Com vastas convoluções, o Dragão mantém / O eixo da eclíptica entre suas dobras escamosas. / Sobre metade do céu, seu enorme pescoço se empina, / E com imensos meandros separa as Ursas”.
[ii] O texto original de Allen não permite identificar que Tábuas latinas sejam essas.
[iii] O poema Escudo de Héracles é usualmente atribuído a Hesíodo. Allen cita aqui o excerto (versos 144-145) da tradução ao inglês feita por Charles Abraham Elton: “The scaly horror of a dragon, coiled / Full in the central field” (in Elton, C. A., 1815, The remains of Hesiod the Ascræan, including the Shield of Hercules, Londres: Baldwin, Cradock & Joy, pg. 221); usei uma tradução livre a esse trecho. A presença do Dragão nessas linhas não é respaldada pelo original grego: “ἐν μέσσῳ δ' ἀδάμαντος ἔην Φόβος οὔ τι φατειός, ἔμπαλιν ὄσσοισιν πυρὶ λαμπομένοισι δεδορκώς (No meio, de material muito duro, estava o indescritível Pânico, olhando para trás com olhos que faiscavam com fogo). Compare com a tradução ao Português feita por Jaa Torrano (in Escudo de Heracles: Poema de Hesíodo, 2000, ΗΥΡΝΟΣ, ano 5, n.o 6, pg. 195): “No meio era de aço Pavor não dizível / a fitar atrás com olhos ígneos brilhantes”. De fato, não há menção a quaisquer constelações no Escudo de Héracles, mas elas são mencionadas nas linhas 485-488 do Livro XVIII da Ilíada, de Homero, como parte do escudo de Aquiles. A descrição geral de ambos os escudos é similar, sugerindo que tenham sido talvez compostas pelo mesmo poeta. Isso é longamente discutido pelo tradutor, Charles Elton, que provavelmente por isso associou Φόβος (Fóbos) a um dragão.
[iv] Essa alusão à Gigantomaquia é encontrada no Livro II, Capítulo 3 do De Astronomica, de Higino. No original latino: “Nonnulli etiam dixerunt hunc draconem a Gigantibus Mineruae obiectum esse, cum eos obpugnaret; Mineruam autem adreptum draconem contortum ad sidera iecisse et ad ipsum axem caeli fixisse. Itaque adhuc eum inplicato corpore uideri, ut nuper ad sidera perlatum” (Alguns também disseram que este dragão foi lançado contra Minerva pelos Gigantes quando ela lutou contra eles; mas Minerva, tendo agarrado o dragão contorcido, jogou-o para as estrelas e o fixou no próprio eixo do céu. E assim ele ainda é visto com o corpo emaranhado, como se tivesse sido colocado recentemente entre as estrelas).
[v] Embora Dioniso (Baco) seja mencionado na Gigantomaquia, ele não parece ter relação com o episódio do dragão arremessado por Atena (Minerva) aos céus. Em seu caso, trata-se provavelmente de outro dragão; de fato, Nono de Panópolis, na Dionisíaca, Livro V, versos 565-570, conta que Zeus assumiu a forma de um dragão para seduzir Perséfone e nela engendrar um novo Dioniso, após o primeiro ter sido desmembrado pelos Titãs. O título Sidus Minervae et Bacchi aparece ao menos em duas fontes: Lalande, F., 1792, L'Astronomie, Paris: Didot L’aîné, vol. 1, Livro III, pg. 212; e von Zach, F. X. F., 1820, Correspondance astronomique, géographique, hydrographique et statistique, Gênova: A. Ponthenier, vol. IV, pg. 584.
[vi] Referência a Jó 26:13: “Pelo seu Espírito ornou os céus; a sua mão formou a serpente enroscadiça”, na versão Almeida Corrigida Fiel.
[vii] Essa adição foi feita por Allen.
[viii] Allen usou aqui os nomes variantes “Izhdubar” e “Gizdhubar”, que correspondem a antigas (e errôneas) transcrições do nome de Gilgamesh.
[ix] Versos 244-245 do Livro I das Geórgicas de Virgílio. Tradução de Sérgio Monteiro Zan (in Georgicon I, Uma Tradução, Uniletras, vol. 24, dez 2002, pgs. 245-286). No original latino: “maximus hic flexu sinuoso elabitur Anguis / circum perque duas in morem fluminis Arctos”. Allen usou uma tradução inglesa de 1826, atribuída a G. B. Whittaker: “after the manner of a river, glides away with tortuous windings, around and through between the Bears” (in The Works of Vergil: Translated into English Prose, v. 1, pg. 67).
[x] A frase entre aspas é uma citação feita por Allen: “the emblem of eternal vigilance in that it never set”. Não fui capaz de identificar o autor original desse texto. Para os gregos, o Dragão é uma constelação circumpolar, por isso nunca se põe abaixo do horizonte. Figurativamente, estaria assim sempre alerta, vigiando o Jardim das Hespérides.
[xi] Trecho da obra Œdipus Judaicus de Sir William Drummond. No original: “a fruit tree was certainly a symbol of the starry heavens, and the fruit typified the constellations”.
[xii] Trecho do Livro II do poema Spanish Gypsy, de George Eliot. No original: “The stars are golden fruit upon a tree / All out of reach”.
[xiii] Allen aqui aponta que certos autores, os quais ele não nomeia, tomaram a aparente relha nas patas do Hipopótamo como o motivo pelo qual a Ursa Maior veio a ser conhecida posteriormente como o Arado.
[xiv] Cabe apontar a semelhança entre o nome Yuen Wei e 紫微垣 (Zǐ Wēi Yuán), sendo este último parte reconhecida da constelação do Dragão. Contudo, sem acesso ao original chinês usado por Williams, essa associação é meramente especulativa.
[xv] Literalmente, 紫宫 significa “Palácio Púrpura”. O asterismo é mais conhecido como 紫微垣 (Zǐ Wēi Yuán), a “Fortificação do Palácio Proibido Púrpura”, que por sua vez representava o Palácio Imperial.
[xvi] Tài Yǐ é a atual HD 119476. Entre as outras estrelas listadas por Edkins, há uma duplicação: σ e ς do Dragão deveriam ser o mesmo objeto, já que as letras gregas σ e ς são meras variantes.
[xvii] Tal como no caso de estrelas do Boieiro, Allen confunde al-Dhiʾbah/al-Dhiʾb (Loba/Lobo) com al-Ḍibāʿ (Hienas). Talvez essa confusão seja ainda mais antiga, já que al-Tizīnī a denominava como al-Dhīkh, a Hiena Macho, conforme informação adiante no próprio parágrafo.
[xviii] O texto de John Williams em Observations of comets, from B.C. 611 to A.D. 1640, pg. 74-75 dá a entender que também áreas do céu chinês recebiam nomes. Ele se refere a essa região inicialmente como Chung Ho gate e, mais adiante, na mesma efeméride explica: “Chung Ho Mun, space between α and ι Draconis”. Considerando a tabela de conversão da grafia Wade-Giles para Pinyin da Indiana University Bloomington, Chung Ho Mun poderia corresponder a Zhong He Men (中河门 ?).
[xix] Essa dedicatória se encontra no livro A very necessarie and profitable booke concerning nauigation, de Jean Taisnier, traduzido ao inglês por Richard Eden.
[xx] A hipótese lançada por Lockyer é muito especulativa e não possui respaldo no nosso conhecimento atual sobre o Egito Antigo e sobre a História da Astronomia. Ela foi mantida nesta versão traduzida por conter algumas informações interessantes sobre o alinhamento de templos egípcios.
[xxi]O Leste e o Oeste se encontram”. O verso é muito genérico e Allen não dá nenhuma pista acerca de a qual poeta ele está se referenciando.
[xxii] Nesse caso, a transcrição usa a pronúncia da palavra, pois o artigo al é assimilado à inicial posterior: adh-Dhiʾbayn.
[xxiii] Essa afirmação é feita por Ideler (in Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 38); contudo essa palavra não está registrada no Arabic-English Lexicon de Lane.
[xxiv] Allen nomeou essa estrela erroneamente de Shang Tsae (Shǎng Zǎi), que é o nome chinês para Theta Draconis.
[xxv] Allen escreveu esse nome como Ghāuzar, mas a grafia em persa (گوزهر) só admite a transliteração como Gawzahr.
[xxvi] Nos dias atuais, essa afirmação não faz mais sentido pois os limites das constelações são definidos pela União Astronômica Internacional. Antes, cada autor sentia certa liberdade para estender ou encurtar uma figura constelada segundo sua conveniência. Nos limites atuais, λ fica no fim da figura constelada, junto à separação entre o Dragão e a Ursa Maior.
[xxvii] Não há registros dessa chuva de meteoros nos tempos mais recentes. O próprio nome Draconídeos passou a ser usado para nomear uma chuva de meteoros observada em outubro, que anteriormente era denominada Giacobinídeos.
[xxviii] Allen a indica como Shaou Pih (em pinyin, Shǎo Bì), mas estudos posteriores atribuem esse título a υ Draconis.
[xxix] Allen atribui a χ Draconis o nome Kwei She. Esse nome não se encontra nas pranchas de John Williams em Observations of comets, from B.C. 611 to A.D. 1640, mas é listado por Reeves no Apêndice do Dictionary of the Chinese Language, de Morrison. Os caracteres usados por Reeves, 柱史, correspondem a Zhù Shǐ em Mandarim, nome atribuído à estrela φ Draconis.
[xxx] Allen o traduziu um tanto erroneamente como a Governanta do Palácio, além de a Mulher Literária.

Dorado


DORADO

foi inicialmente publicada por Bayer entre as novas figuras austrais, e assim ainda é conhecida na Alemanha, nos países de língua inglesa e na Itália, mas nós a chamamos de Dourado; e os franceses, de Dorade, embora Flammarion tenha usado Doradus, talvez por confusão com seu genitivo. Os anglófonos a conhecem igualmente por Goldfish. Seu nome oficial vem do espanhol e se refere não aos pequenos e exóticos ciprinídeos, mas sim aos grandes corifenídeos dos mares tropicais, que mudam de cor quando morrem. No planisfério, na tradução inglesa feita por Gore ao Astronomie Populaire, a constelação é estranhamente chamada de Gold Field (Campo Dourado); e Craver (Suplicante), no Celestial Handbook de Colas, publicado em 1892, está igualmente errado. Chilmead menciona-a como Gilthead fish (Peixe de Cabeça Dourada),[i] mas este, na ictiologia, era um peixe bem diferente, o Crenilabrus melops[ii] das costas britânicas.
A constelação do Dourado nas pranchas de Ignace Pardies.

Caesius combinou suas estrelas com as da Grande Nuvem e do Peixe Voador para formar sua figura do Velho Testamento: Abel, o Justo.

O título alternativo Xiphias, Peixe-espada, aparece pela primeira vez nas Tábuas Rodolfianas de 1627; Halley usou-o, em adição a Dorado, em seu catálogo de 1679; Flamsteed forneceu ambos os nomes em sua edição do catálogo de Sharp; e o planisfério de Stieler, de 1872, ainda trazia Schwertfisch (Peixe-espada). Xiphias, entretando, apareceu na astronomia no primeiro século de nossa era, pois Plínio o aplicava a cometas em forma de espada, tal como Josefo se referenciou àquele que “permaneceu por um ano (!) sobre Jerusalém sob a forma de uma espada”[iii] — possivelmente o cometa Halley durante sua passagem no ano 66.
Dourado, no Prodomus Astronomiae, de Hevelius. Note o uso do nome Xiphias para a constelação.

As Tábuas Rodolfianas e Riccioli catalogaram aqui 6 estrelas de 4.a e 5.a magnitude, mas Gould lista 42 entre as magnitudes 3.1 e 7.

A cabeça do Dourado marca o polo sul da eclíptica, tal que, de acordo com Caesius, a constelação deu seu nome àquele ponto como Polus Doradinalis. A própria constelação, ou parte dela, foi inicialmente denominada com o neologismo grego Polophylax (Guardião do Polo) por Peter Plancius, representada como um ancião barbado em seus mapas de 1592 e 1594, um título e figura que ele próprio abandonou em seus mapas posteriores. A cerca de 3° deste polo se encontra a notável Nebulosa da Tarântula, ou 30 Doradus, que Smyth denominou de True Lover’s Knot (Laço do Verdadeiro Amante), também conhecida como Great Looped Nebula (Grande Nebulosa do Laço), NGC 2070, descrita por John Herschel como um conjunto de laços e um dos objetos mais extraordinários do céu, — “o centro de uma grande espiral”.[iv]

ε encontra-se na lista de Reeves como Jīn Yú (Peixe Dourado), acompanhada pela anotação de que provavelmente corresponda à toda constelação. De fato, trata-se dum asterismo austral, introduzido na China pelos jesuítas, o qual em estudos mais atuais incluiria α, β, γ, δ e η2, mas não ε.

Na mesma listagem, Reeves indica para θ,[v] uma estrela de 5.a magnitude, o nome Kaou Pih — transcrito como Keaou Pih em Williams. Segundo os caracteres usados por ambos, na grafia atualmente usada para representar o chinês esse nome seria Jiāo Bái, que por sua vez parece ser uma confusão com Jiā Bái (Manchas Brancas Justapostas),[vi] um asterismo formado por θ Doradus e α Reticuli.

Notas Explicativas da Tradução


[i] Em Portugal, esse peixe é comercialmente conhecido como Dourada.
[ii] O nome científico do gilthead fish é Sparus aurata. O Crenilabrus melops (atualmente denominado Symphodus melops) corresponde a uma outra espécie: o corkwing wrasse, que em Portugal é chamado de bodião vulgar.
[iii] A frase entre aspas é um rearranjo da citação original de Josefo: “Thus there was a star, resembling a sword, which stood over the city: and a comet, that continued a whole year” (in Flavius Josephus, The War of the Jews, v. 6, cap. 5, 3). Allen a reescreveu como “which for a year had hung over Jerusalem in the form of a sword”.
[iv] A frase entre aspas é citação a E. Pickering, in Miscellaneous Investigations of the Henry Draper Memorial, Annals of the Astron. Observ. Harvard Coll., v. 26, part II, pg. 206 (1897): “It seems to be the centre of a great spiral, and to bear the same relation to the entire system that the nebula in Orion bears to the great spiral nebula, which covers a large part of that constellation”. A associação de ambas as nebulosas com o centro de uma espiral não faz sentido nos dias atuais. Parece que Pickering busca associar essas regiões de formação estelar com as nebulosas espirais, que atualmente reconhecemos como galáxias espirais.
[v] Na edição original deste livro, Allen erroneamente atribui esse nome à estrela ζ Doradus.
[vi] Reeves e Williams usam 交白 (Jiāo Bái). Este último claramente associa o nome a um asterismo composto por duas estrelas, tal como 夾白 (Jiā Bái). A confusão parece provir da semelhança entre os caracteres 交 e 夾 manuscritos e de seus sons. Já a diferença fonética entre Bái e Pih se deve ao som de 白 em dialetos da China.

Delphinus


... the Delphienus heit
Up in the aire.[i]
Ane schort Poeme of Tyme, de James I


DELPHINUS

É a constelação do Golfinho ou Delfim, chamado Dauphin na France, Delfino na Itália, Dolphin nos países anglófonos, e Delphin na Alemanha: todos esses nomes derivados do grego Δελφίς e Δελφίν, transcrito pelos romanos como Delphis e Delphin. Este último nome continuou em uso no inglês ao longo do século XVII, e foi retomado por Proctor em sua lista de constelações reformadas em fins do século XIX. Chaucer, em sua House of Fame, usou Delphyn, e em épocas posteriores a ele, encontramos Dolphyne.
A constelação do Golfinho, nos mapas de Hevelius

Atualmente é uma das menores constelações, mas originalmente pode ter incluído as estrelas que Hiparco destacou para formar a constelação do Pequeno Cavalo; e em toda a literatura astronômica manteve seu título e forma atuais, com muitas e variadas histórias associadas, pois seu homônimo sempre foi considerado a mais notável das criaturas marinhas.
Golfinho, nos mapas de Ignace Pardies

Na Grécia, ele também era Ἵερος Ἰχθύς, o Peixe Sagrado, pois essa criatura tinha tanto significado religioso lá quanto o peixe mais tarde passou a ter entre os primeiros cristãos; e era o emblema celestial da filantropia, não só pelas histórias clássicas ligadas ao seu protótipo, mas também pela devoção deste último a sua prole. Deve ser lembrado que nosso golfinho estelar é representado por um cetáceo comum, Delphinus delphis, de águas atlânticas e mediterrâneas, não a Coryphaena tropical[ii] que o Dourado representa. Ovídio, designando-o como clarum sidus (astro brilhante), personificou-o como Anfitrite, a deusa do mar, porque o golfinho a induziu a se tornar a esposa de Netuno, e por este serviço, diz Manílio:

eleva-se do mar o Golfinho,
glória do oceano e do céu, consagrado em ambos.[iii]

O Golfinho, no Firmamentum Firmianum de Corbiano Thomas

Desta história, a constelação veio a ser conhecida como Persuasor Amphitrites (Persuasor de Anfitrite), bem como Neptunus e Triton.
Golfinho, representado por John Bevis

Em Cícero ele aparece como Curvus, um adjetivo que apropriadamente foi usado para descrever a forma da criatura em várias épocas,[1] até o “delfins curvados” no quadro que Milton pintou da Criação.[iv] O Currus usado por Bayer é meramente o nome empregado por Cícero com um erro tipográfico, pois ele o explica com Ciceroni ob gibbum in dorso;[v] mas ele também tinha Smon nautis, e Riccioli Smon barbaris, que parecem provir de Simo, de Nariz Achatado, termo que os velhos marinheiros usavam para denominar o golfinho, segundo Plínio.
O Golfinho se encontra no centro desse mapa feito por Andreas Cellarius.
Note abaixo deste duas constelações desusadas: o Rio Tigre e, como afluente, o Rio Eufrates.


Outro título favorito era Vector Arionis (Condutor de Árion), da fábula grega que atribuía ao golfinho o resgate de Árion em sua viagem de Tarento a Corinto[vi] — uma variação do mito muito anterior do deus-sol Baʿal Hammon. Daí os versos de Henry Kirke White:

lock’d in silence o’er Arion’s star,
The slumbering night rolls on her velvet car.[vii]

Em continuação à história grega de Árion e sua Lira surge a denominação Μουσικόν ζώδιον, o Musicum signum dos romanos; ou isso pode vir do fato mencionado em Os Fastos de Ovídio, que a constelação supostamente conteria nove estrelas, o número das Musas, embora Ptolomeu prosaicamente tenha catalogado 10; Argelander, 20; e Heis, 31.
Parte da carta celeste de R. Brookes, mostrando o Golfinho entre a Águia e o Pequeno Cavalo.

Riccioli e Lalande citam Hermippus como nome alternativo para a constelação,[viii] e Acetes em referência ao pirata timoneiro que protegeu Baco em sua viagem a Naxos, onde este encontrou Ariadne e a desposou; já para outros ele representava Apolo em retorno a Crissa ou levando Castalius de Creta.[ix]

Os hindus, de quem os gregos supostamente o teriam tomado emprestado, — embora o contrário disso possa ter sido o caso, — conheciam-no como Shishumara ou Śiśumāra, por vezes transcrito como Zizumara, Toninha, também atribuída a Capricórnio e ao Dragão. E eles localizavam aí o the 23.o nakshatra,[x] Śrāviṣṭha, o Mais Rápido, também denominado Dhaniṣṭha, o Mais Rico. Os regentes desse asterismo seriam as divindades conhecidas como Vasus (Brilhantes ou Provedores de Riquezas), cujos símbolos são o Tambor e a Flauta; a estrela β marcaria a junção desse nakshatra com o seguinte, Shatabhisha.

Brown acreditava que ela pudesse corresponder ao eufrateano Makhar, embora esse título também seja reivindicado para o Capricórnio.

Al-Bīrūnī, dando-lhe o título arábico al-Qaʿūd, o Jovem Camelo, afirma que os primeiros cristãos — os membros das seitas melquita[2] e nestoriana — consideravam-na a Cruz de Jesus transferida aos céus após a crucificação; mas aos dias de Qazwīnī os eruditos da Arábia chamavam α, β, γ e δ de al-ʿUqūd al-Ṣalīb,[xi] as Pérolas e Gemas que adornam a Cruz; a estrela ε, em direção à cauda, era al-ʿAmūd al-Ṣalīb, o Pilar da Cruz. Mas os astrônomos arábios adoraram a figura grega como seu Dulfīn, que um de seus cronistas decreveu como “um animal marinho amistoso ao homem, que costuma atender a navios para salvar os marinheiros que estão se afogando”.
O Golfinho era representado como um monstro marinho, em certas edições
do Descrição das Estrelas Fixas, de al-Ṣūfī.


As Tábuas Alfonsinas de 1545 dizem sobre o Golfinho: Quae habet Stellas quae sapiunt naturam,[xii] uma expressão um tanto enigmática, mas comum à tradução de 1551 do Tetrabiblos, no qual significa que as estrelas supostamente regeriam os nascimentos humanos e influenciariam sobre a personalidade, — naturam. Ptolomeu, como é mostrado nesses Quatro Livros, acreditava na influência genetlíaca de certas estrelas e constelações, das quais esta parece ter sido uma especialmente notável.

O Golfinho fica a leste da Águia, à borda da Via Láctea, ocupando, juntamente com outras figuras aquáticas ao seu redor, a porção do céu que Arato denominava de Água.

Caesius situou aqui o Leviatã do Salmo 104;[xiii] Novidius, o Grande Peixe que engoliu Jonas; mas Julius Schiller nomeou algumas de suas estrelas como as Talhas de Água de Caná. Suas quatro estrelas mais brilhantes estão dispostas sob a forma de um pequeno losango ou diamante, que veio a ser popularmente conhecido como Job’s Coffin (Caixão de Jó).

Os chineses denominavam essas quatro estrelas principais juntamente com ζ de Hù Guā (a Cabaça).

α, 4, amarelo pálido; β, Binária, 4 e 6, esverdeada e escura.

Os estranhos nomes Sualocin e Rotanev apareceram pela primeira vez atribuídos a estas estrelas no Catálogo de Palermo de 1814. Por muito tempo eles foram um mistério para todos, bem como aparentemente um grande enigma para Smyth, o qual talvez ele nunca tenha resolvido, embora fosse muito íntimo da equipe do Observatório de Palermo. Webb, entretanto, descobriu sua origem ao reverter as letras que compunham o nome de Nicolaus Venator, a forma latinizada de Niccolo Cacciatore, nome do assistente e sucessor de Piazzi. Mas Frances Rolleston, em seu peculiar livro Mazzaroth, considerado uma autoridade em certos círculos, escreveu que eles derivavam, um do

arábico Scalooin, rápido (como o fluxo da água);

e o outro do

siríaco e caldeu Rotaneb, ou Rotaneu, que corre rapidamente (como água numa calha).

Porém nenhuma parte dessa afirmação parece ter fundamento. Ainda assim, Burritt escreveu esses nomes como Scalovin e Rotanen.
Golfinho, no mapa de Burritt

No século XIX, suspeitava-se que α variasse em até meia magnitude ao longo de um período de 14 dias.[xiv] Essa variabilidade não foi confirmada nos dias atuais, mas surpreendentemente descobriu-se que a estrela possui 6 companheiras próximas, a maioria das quais apenas coincide na linha de visada.

β é um par muito próximo, separado por 0.57″ em 2006, segundo um ângulo de posição de 3.1°, numa órbita rápida de período igual a 26.65 anos.[xv] Outras companheiras ópticas, com magnitude entre 11 e 13, foram posteriormente encontradas separadas por poucas dezenas de arcossegundos, situadas na mesma linha de visada.

γ, dupla,

embora não tenha um nome próprio, é conhecida por ser uma bela binária de 4.a e 5.a magnitudes, separadas por 8.9″, segundo um ângulo de posição de 265°; o ajuste à órbita indica um período longo de 3249 anos em uma órbita de excentricidade 0.88. Os componentes têm tonalidade dourada e verde azulada, formando um alvo excelente para a observação em pequenos instrumentos.

ε, 4.0,

embora se encontre próxima à barbatana dorsal da nossa atual figura estelar, portou por muito tempo o nome comum Deneb, de al-Dhanab al-Dulfīn, a Cauda do Golfinho. No Calendarium de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit, esse nome está corrompido para Dzaneb al Delphin, traduzido para o latim como Cauda Delphini. Em 2017, o WGSN da União Astronômica Internacional usou parte desse nome para batizá-la oficialmente como Aldulfin.

Mas na Arábia ela também foi al-ʿAmūd al-Ṣalīb, marcando o Pilar da Cruz. Na China, ela era a primeira estrela do asterismo Bài Guā, a Cabaça Podre, do qual as demais estrelas eram η, θ, ι e κ.

Ao longo do século XIX, a comparação entre os brilhos relativos de β, γ, δ e ε variou bastante — a começar pelas observações de Gould em Albany em 1858, e em Córdoba entre 1871 e 1874, sugerindo que as quatro fossem estrelas variáveis. Porém não há informação atual que sustente isso.

ρ Aquilae, 4.9, originalmente parte da constelação da Águia, migrou em 1992 para a constelação do Golfinho devido a seu movimento próprio. Ela é informalmente conhecida nas listas de nomes estelares como Tso Ke, do cantonês Zó Kěi, a Bandeira Esquerda, asterismo do qual ela faz parte. Em mandarim, esse mesmo asterismo é Zuǒ Qí, de igual significado, e ρ Aquilae é Zuǒ Qí Jiǔ, a Nona Estrela da Bandeira Esquerda.

A estrela 18 Delphini foi batizada de Musica ao fim da primeira campanha NameExoWorlds promovida pela União Astronômica Internacional em 2015. Seu planeta recebeu o nome Arion. Ambos os nomes foram propostos por alunos do Clube de Ciências de uma escola de ensino médio da prefeitura de Tokushima, no Japão, e fazem menção à mitologia da constelação, posto que Árion teria sido salvo por golfinhos ao atraí-los com sua música.


Notas de Rodapé (do texto original)


[1] Huet, em suas anotações a Manílio, citou muitos exemplos do uso deste termo pelos romanos. Sobre isso Burman escreveu Perpetuam hoc Delphinum Epitheton (Este é o perpétuo epíteto do golfinho). [Nota do tradutor: Allen dá a entender que a frase latina seria de Huet, mas parece vir dos comentários de Burman a Ovídio, segundo a nota 410 em The Aldine Edition of the British Poets, 1832, Londres: William Pickering, pg. 90].
[2] Estes Melquitas, ou Reais como o nome indica, compunham a igreja grega, cujo líder espiritual era o Czar da Rússia, sucessor do Patriarca de Bizâncio. [Nota do tradutor: melquita é um nome genérico para algumas igrejas cristãs orientais. Algumas não reconheciam o Czar como autoridade].


Notas Explicativas da Tradução


[i] Excerto dos vv. 13-14, do poema Ane schort poeme of tyme, escrito pelo rei James I. Em tradução aproximada: “O Golfinho alto / no céu”.
[ii] Essa observação faz mais sentido para o leitor de língua inglesa, pois a Coryphaena é denominada dolphinfish em seu idioma.
[iii] Excerto dos vv. 399-400 do Livro I, do Astronomicon de Manílio. Tradução de Marcelo Vieira Fernandes (in Manílio — Astronômicas: Tradução, Introdução e Notas, Dissertação de Mestrado, PPG Letras Clássicas, Universidade de São Paulo, 2006). Compare com o texto latino: “surgit Delphinus ad astra, / oceani caelique decus, per utrumque sacratus”. Allen usou a tradução versificada feita por Thomas Creech que não corresponde estritamente ao original grego devido às demandas da versificação: “Next rais’d from Seas the Dolphin’s Tail appears, / The Glory of the Floud and of the Stars” (Em seguida, erguida do mar a Cauda do Golfinho aparece / A Glória do Dilúvio e das Estrelas).
[iv] Referência ao verso 410, do Canto VII, de Paraíso Perdido, de Milton. No original: “And bended dolphins play” (e delfins curvados brincam).
[v] Em tradução aproximada: “de Cícero, devido à corcova nas costas”.
[vi] A lenda conta que Árion era insuperável em sua arte de tocar a lira. Em visita a Tarento, recebeu um grande prêmio e retornava para Corinto quando seu navio foi atacado por piratas. Condenado a saltar ao mar, Árion fez um último pedido: tocar sua lira pela última vez. Ele cantou em louvor a Apolo e sua canção atraiu um grande número de golfinhos, um dos quais o resgatou quando ele saltou ao mar.
[vii] Versos 79-80 do poema Clifton Grove — a Sketch, escrito por Henry Kirke White aos 16 anos de idade. Em tradução aproximada: “trancada em silêncio sobre o astro de Árion / a noite adormecida rola em seu carro de veludo”. Vários comentaristas apontam que a expressão “Arion’s Star” se refere à constelação do Golfinho, com base em Os Fastos de Ovídio. Todavia, além de não se tratar de uma constelação muito relevante no céu, não há outras referências a constelações no poema, fazendo que com o destaque ao Golfinho pareça improvável. Talvez por isso em Poems of Places: An Anthology in 31 Volumes, editado por Henry Wadsworth Longfellow, esta expressão apareça corrigida para “Orion’s Star”. Por outro lado, Árion é um aclamado poeta na lenda grega, e o jovem Kirke White pode ter usado essas estrelas justamente por se autoidentificar.
[viii] Hermipo (do grego Ἕρμιππος, formado por Ἑρμῆς +‎ ἵππος), o cavalo de Hermes. Lalande (in L’Astronomie, vol. 1, 1771, Paris: Chez la Veuve Desaint, p. 270) atribui o termo a Plínio o Jovem.
[ix] Na mitologia, Castalius seria filho de Apolo e pai de Delfo, que teria viajado de Creta a Crissa e aí fundou um culto a Apolo. Outras versões indicam que Apolo montava o dorso de um golfinho quando conduzia Castalius, donde o epíteto Apollo Delphinius.
[x] Para Allen, trata-se do 22.o nakshatra. Veja a nota [xi] em Andromeda para entender a variação na numeração dos nakshatras.
[xi] Ideler (in Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 110) transcreveu o primeiro desses nomes como al-ʿAqūd, por interpretá-lo como plural de ʿUqdah. Em suas próprias palavras: “Ich nehme hier عقود für den Plural von عقدة, Okda, Knoten, und verstehe darunter die Verbindung der Querhölzer des Kreuzes. Man kann es aber auch, wie Hr. Beigel bemerkt, für den Plural von عقد, Ikd, ansehn. Dann bezeichnet es die Perlen und Steine (baccae), womit das zum Schmuck dienende Kreuz besetzt wird” (Aqui, tomo عقود como o plural de عقدة, ʿUqdah, nó, e com isso quero indicar a união das barras transversais da cruz. Mas também se pode tomá-lo, como aponta o Sr. Beigel, como o plural de عقد, ʿIqd. Nesse caso, denotaria as pérolas e contas com as quais a cruz é decorada).
[xii] Em tradução aproximada: “que possui estrelas que conhecem a natureza”.
[xiii]Ali andam os navios; e o leviatã que formaste para nele folgar”, Salmos 104:26, na tradução Almeida Corrigida Fiel.
[xiv] A origem dessa suspeita é o artigo de A. Auwers, Resultate aus Beobachtungen veränderlicher Sterne, Astron. Nachr., 50, 106 (1859). Em 1948, a estrela foi incluída como suspeita de variabilidade no General Catalogue of Variable Stars, sendo alvo de monitoramento mais regular desde então. Porém, a amplitude de variação de magnitude registrada nesse catálogo corresponde a apenas 0.03, que não corrobora a informação de Auwers.
[xv] In A. Alzner, Orbital elements of 9 visual double stars, Astron. & Astroph. Supp. Ser., 132, 253 (1998).

Cygnus


Sentinela do luar numa alameda
Dei-lhe meu corpo aéreo de penumbra,
Fui a alma dum cisne amando leda...[i]
Aparição, de Ernani Salomão Rosas


CYGNUS

É o Cisne, situado entre o Dragão e Pégaso. Os franceses o conhecem como Cygne; os italianos, como Cigno; os ingleses como Swan; e os alemães como Schwan. Já para alguns, seu nome latino mais corretamente deveria ser Cycnus (Cicno).
Cygnus, na representação de Hevelius

Ele é nomeado Κύκνος por Eratóstenes, mas geralmente Ὄρνις por outros gregos, pelo qual simplesmente indicavam um Pássaro de algum tipo, mais particularmente uma Galinha; embora o ἀιόλος de Arato pode indicar que ele tivesse em vista um cisne capaz de voar rapidamente; mas, como em grego esse adjetivo também significa “variegado”, é possível que a referência seja à posição do Pássaro sobre a Via Láctea, ante a sequência de áreas claras e escuras do plano galáctico. Daí que Brown o traduziu como “lantejoulado”. Arato também o descreveu como ἠερόεις,[ii] “escuro”, especialmente com respeito a suas asas,[iii] um erro que Hiparco corrigiu.[iv]

Cygnus, no Urania's Mirror de Sidney Hall

Quando os romanos adotaram o título que usamos atualmente, nossa constelação tornou-se o cisne mítico associado a Cicno, o filho de Marte, ou do rei lígure Estênelo; ou o irmão [v] de Faetonte, transformado em cisne no rio Erídano (o atual rio Pó) e transportado ao céu.[1] Associada, também, a Leda, a amada de Jupiter e mãe de Castor, Pólux e Helena, ela foi classificada entre as constelações argonáuticas, e Helenae Genitor (Genitor de Helena), assim como outros nomes derivados dessa bem conhecida lenda, foram-lhe aplicados.
Cygnus, na Uranometria de Bayer

Popularmente a constelação era chamada de Ales, Avis e Volucris, um Pássaro, — Ales Jovis (Pássaro de Jove), Ales Ledaeus (Pássaro de Leda) e Avis Veneris (Ave de Vênus), — enquanto Olor, outro termo para o Cisne, tanto o ornitológico quanto o estelar, esteve em uso até pouco tempo. Phoebi Assessor (Assistente de Febo) foi citado por Lalande, sendo o pássaro sagrado para essa divindade; e também encontramos para ele a denominação Vultur cadens (Abutre Cadente), embora este seja mais apropriadamente um título para a Lira. Como pássaro de Vênus ele também era conhecido como Myrtilus (Mirtilo), da murta consagrada àquela deusa; e ele também foi visto como Orpheus (Orfeu), colocado nos céus após a morte, junto à sua favorita Lira.
Cygnus, na representação de Bode.

Cisne pode ter-se originado no Eufrates, pois as tabuinhas mostram um tipo de pássaro estelar, talvez Urakhga, a origem do árabe Rukh, o Pássaro Roca, o marinheiro Simbad encontrou. Em todo o caso, a sua figura atual não se originou entre os gregos, pois a história da constelação havia sido totalmente perdida para eles,[vi] como a do misterioso Engonasin, — uma prova evidente de que eles não eram os inventores de pelo menos alguns dos grupos estelares atribuídos a eles.

No Livro das Estrelas Fixas, de al-Ṣūfī,
o Cisne era, por vezes, representado
como uma Galinha.
Na Arábia, embora ocasionalmente conhecida como al-Ṭāʾir al-Ardūf,[vii] a Águia Voadora, a Altayr de Chilmead, ou como al-Ridf [viii] (O Que está mais Atrás ou o Perseguidor), usualmente era al-Dajājah, a Galinha, e assim aparece até nos textos do sacerdote egípcio Mâneton, do século III aC, um nome que se degenerou em Adige, Adigege, Aldigaga, Addigagato, Degige, Edegiagith, Eldigiagich, etc., das antigas listas, alguns dos quais foram inclusive aplicados a sua estrela mais brilhante.

O termo que Scaliger citou para a constelação, al-Ridhādh, que se degenerou para El Rided, talvez seja o origem do Arided empregado para a lucida, mas seu significado é incerto, embora o autor afirme que tenha encontrado o termo num antigo dicionário Latim–Espanhol–Árabe com o significado de uma espécie de flor de perfume doce.[ix]

Hyde usa para ela o nome Kathā, do árabe al-Qaṭā, o Cortiçol, uma ave muito comum no Velho Mundo em regiões de planície e savana em climas desérticos ou semiáridos, similar em tamanho ao pombo; de fato, o tradutor de al-Ṣūfī, Schjellerup, definiu al-Ṭāʾir como le pigeon de poste (o Pombo-Correio).

As Tábuas Alfonsinas, na edição de Madri, que supostamente é uma reprodução das originais, ilustra sua Galina com uma galinha tristonha em vez de um Cisne, com o corrompido título árabe Altayr aldigeya, embora noutra parte elas mencionem Olor: Hyparcus Cygnum vocat;[x] o Almagesto Árabo-Latino de 1515 tinha Eurisim: et est volans: et jam vocatur gallina. et dicitur eurisim quasi redolens ut lilium ab ireo;[xi] as Tábuas Alfonsinas de 1521 traziam Hyresym; et dicitur quasi redolens ut lilium: et est volans: et jam vocatur gallina; Bayer escreveu sobre isso, quasi Rosa redolens Lilium; Riccioli, quasi Galli rosa; e contemporâneos deste último autor escreveram Hirezym e Hierizim. Os comentários de Ideler sobre isso mostram o processo indireto pelo qual alguns de nossos nomes de estrelas se originaram e são dignos de uma citação mais extensa:

Além disso, eles mantiveram o grego Ὄρνις não traduzido, como indica o globo borgiano, sobre o qual está escrito Lūrnis, ou Ūrnis (pois a primeira letra não está unida à segunda, então temos ambas as possibilidades de leitura). É muito provável que esse Ūrnis deu origem ao estranho título pelo qual o Cisne está listado no Almagesto Árabo-Latino: Eurisim (...). Provavelmente o tradutor encontrou no original arábico a palavra Ūrnis, a ele desconhecida. Naturalmente supôs que fosse grega, mas não sabia seu significado correto. Por outro lado, deve ter-lhe ocorrido a planta Ἐρύσιμον (Erysimum officinale, Linn.), que os romanos denominam Irio (veja Plínio, Hist. Nat. XVIII, 10, XXII, 25), e isso lembrava a Íris ou Lírio Florentino (Iris florentina, Linn.), ricamente perfumado, e assim, ao que me parece, ele traçou o pensamento por meio de uma associação perfeitamente natural de ideias até seu belo Eurisim, quasi redolens, ut lilium ab ireo. Ao mesmo tempo, acredito ter deparado com a pista para o título Albireo, que nunca foi satisfatoriamente explicado. Ele é dado à estrela que se situa no bico,— β,— por Bayer e em nossos mapas. Parece-me ser nada mais do que o ab ireo da frase acima, que veio a ser tornar um nome estelar arábico por um l interpolado.[xii]

O antigo Gallina continuou sendo usado pelos astrônomos até o século XVIII.
Na prancha de Ignace Pardies, a constelação aparece com seu nome alternativo: Olor.

O Cisne é geralmente representado em pleno voo descendo a Via Láctea, a Correnteza do Céu, “planando em asas brilhantes”;[xiii] mas desenhos antigos mostram-no aparentemente levantando voo do solo.
O Coelum Stellatum Christianum propunha substituir o Cisne por Santa Helena com a Cruz.

Caesius considerava que a constelação representasse o Cisne do Levítico 11:18, o Tinshemeth dos hebreus; mas outras traduções da Bíblia consideram que essa palavra represente um Bubo ou até mesmo por uma Íbis. Outros cristãos de seu tempo viram aí a Cruz do Calvário, Christi Crux, como Schickard escreveu, e Schiller, Crux cum S. Helena; isso chegou aos nosso dias como a Cruz do Norte,[xiv] bem conhecida por todos, e para os iniciantes em observações estelares provavelmente mais até do que o verdadeiro título da constelação. Lowell estava familiarizado com ela, e assim a traz ao seu New Year’s Eve, 1844:

Órion reclina-se em nicho estrelado,
A Lira que toca música audível
A ouvidos santos, e mil esplendores,
Coroado pela Cruz flamejante;[xv]

e Smith, em Come Learn of the Stars:

Lá vai Cygnus, o Cisne, voando para o sul, —
Sinal da Cruz e de Cristo para mim.[xvi]

Essa Cruz é formada por α, γ, η e β, marcando a posição vertical ao longo da Galáxia, tendo mais de 20° de comprimento, e ζ, ε, γ e δ correspondendo à trave.

Estas últimas também compunham um asterismo árabe, al-Fawāris, os Cavaleiros; a este grupo às vezes se juntava α e κ.

A lenda chinesa do Boiadeiro, ou Pastor, geralmente contada para nossa Águia, e seu amor pela habilidosa Donzela Fiandeira, nossa Lira, ocasionalmente inclui estrelas do Cisne. A constelação, em seus limites definidos pela União Astronômica Internacional, é denominada na China como Tiān É, com o mesmo significado da figura ocidental.

Embora seja interessante em muitos aspectos, destaca-se especialmente por possuir um número incomum de estrelas fortemente coloridas. Sobre isso Birmingham escreveu:

Uma área dos céus que inclui a Via Láctea, entre a Águia, Lira e o Cisne, parece ser tão peculiarmente povoada por estrelas vermelhas e laranjas que não poderia ser inadequadamente chamada de Região Vermelha ou Região Vermelha de Cygnus.[xvii]

Argelander localizou 146 membros da constelação visíveis a olho nu; e Heis, 197. É a posição do Cisne sobre a Via Láctea que explica essa densidade. Dentre essas estrelas, Espin listou uma centena que são duplas, triplas ou múltiplas. A Nebulosa do Véu Ocidental, também chamada de Nebulosa da Renda ou Nebulosa da Vassoura da Bruxa, NGC 6960, encontra-se dentro dos limites dessa constelação.

Encontramos entre os autores clássicos Ἰκτίνος, Miluus, Milvus e Mylvius, tirados do Parapegmata,[xviii] e, mesmo recentemente, considerados títulos para nosso Cisne, Águia e alguma figura celeste não identificada; mas Ideler mostrou que, por meio dessas palavras, provavelmente se fazia referência ao Milhafre, a ave de rapina predatória que migra anualmente na primavera, e não a qualquer objeto estelar.

α, 1.4, branco brilhante.

Deneb provém de al-Dhanab al-Dajājah, a Cauda da Galinha, que se tornou Denebadigege, Denebedigege, Deneb Adige, etc.

Nas Tábuas Alfonsinas aparece o nome Arided, e que frequentemente encontrado para essa estrela, como al-Ridhādh e El Rided o foram para a constelação. Referindo-se a este último título, Caesius denominou a estrela de Os rosae (Lábios de Rosa), correspondente ao alemão Rosamund, embora ele também a designou como Uropygium (Uropígio), a parte da ave popularmente conhecida como Bispo ou Sobrecu.

Ainda, α também é Aridif, de al-Ridf, o Que está mais Atrás; mas Bayer mudou-o para Arrioph; e Cary, para Arion.

Bayer indicou Gallina como um de seus títulos individuais.

Royal Hill afirmou que esta e as três estrelas brilhantes adjacentes na figura constelada eram conhecidas como os Triângulos.

Deneb possui um movimento próprio extremamente pequeno,[xix] o que a levou a ser considerada quase uma “estrela fixa”, embora isso não seja real.[xx]

Em 1892, Elkin estimou sua paralaxe como 0".047, mas o valor atualmente aceito é ainda menor: 0".00201. Seu espectro é do tipo siriano.

Fotografias feitas por Max Wolf, de Heidelberg, em junho de 1891, mostram que ela e γ encontram-se envolvidas por uma vasta nebulosa.

β, 3.2 e 5.1, amarelo topázio e azul safira.

Albireo, seu título universalmente conhecido, não está de modo algum associado com a Arábia, mas sim parece ter sido inicialmente aplicado à estrela a partir de uma confusão no sentido da locução ab ireo que se encontra na descrição da constelação no Almagesto de 1515. Albireo no Standard Dictionary indubitavelmente vem de um erro de tipografia, assim como Abbireo, Alberio e Albeiro, que ocasionalmente se lê.

Os arábios designam β como al-Minqār al-Dajājah, o Bico da Galinha, onde ela ainda se situa em nossos mapas. Riccioli escreveu-o como Menkar Eldigiagich; e também a citou como Hierizim. Já no Catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit seu nome está corrompido para Menchir al Dedjadjet, traduzido ao latim como Rostrum Gallinae (Bico da Galinha).

β é um dos majestosos objetos do céu, e Agnes Clerke, classificando suas cores como dourado e azul claro, afirma que ela “talvez apresente o mais adorável efeito de cor dos céus”.[xxi] Por estarem separados por 35", os componentes podem ser facilmente resolvidos por um pequeno telescópio amador. Não sabemos ainda se o sistema é uma binária física ou uma dupla óptica. Sendo uma binária, deve ter um período de revolução muito longo, ainda indeterminado. Pesquisas mais recentes tendem a considerar que Albireo seja uma dupla óptica, pois os movimentos próprios dos componentes são ligeiramente diferentes. Também as distâncias das estrelas ao Sol diferem um pouco nas medições feitas pelo satélite Hipparcos.

Próximo a β, em 20 de junho de 1670 surgiu uma nova que foi descrita pelo monge cartuxo Anthelme Voituret.[xxii] Ela desapareceu após dois anos de brilho variável, mas ainda é observada como uma fonte de radiação infravermelha e ondas de rádio. Hevelius a denominou Nova 1670, considerada a mais antiga nova registrada desde a invenção do telescópio. Na divisão do céu empreendida em 1928 pela União Astronômica Internacional, essa estrela passou a figurar na constelação da Raposa, donde seu atual nome Nova Vulpeculae 1670, bem como CK Vulpeculae.[xxiii]

No pescoço do Cisne, não muito longe de β, encontra-se a variável χ, uma estrela de tipo S que vai da magnitude 4.5 até 13.5 em 406 dias. Algumas vezes, em seu máximo, ela se mantém apenas na sexta magnitude.

γ, 2.7,

é Sadr, — por vezes incorretamente escrito como Sudr ou Sadir, — de al-Ṣadr al-Dajājah, o Peito da Galinha, e era um dos Fawāris dos árabes. No Catálogo de al-Akhṣāṣī al-Muwaqqit, esse nome surge corrompido como Sadr al Dedjadjet, que foi traduzido ao latim como Pectus Gallinae (Peito da Galinha).

Na China, ela era a principal estrela do asterismo Tiān Jīn, o Vau Celestial, no qual também se encontravam as estrelas α e δ, entre outras.

γ encontra-se no meio de belas fileiras de pequenas estrelas, estando ela própria envolvida por uma nebulosidade difusa que se estende até α; enquanto o espaço entre ela e β talvez seja mais o rico em estrelas dentre quaisquer outros de extensão semelhante nos céus.[xxiv] Espin afirma que as estrelas que apresentam espectro do quarto tipo [xxv] parecem se concentrar em torno de γ e dos chifres de Touro.[xxvi] Seu próprio espectro é de uma supergigante de tipo F. De acordo com as observações do satélite Gaia, ela se move em nossa direção a uma velocidade de 6 km/s.

δ, 2.7, branca.

É oficialmente conhecida como Fawaris desde 2018, quando recebeu essa denominação do WGSN da União Astronômica Internacional. Embora tradicionalmente não possuísse nome próprio, ela fazia parte do asterismo árabe al-Fawāris (os Cavaleiros).

ε, 2.6, amarela,

sobre a asa direita, é Aljanah, do árabe al-Janāḥ, a Asa. Este nome lhe foi oficialmente conferido em 2017 pelo WGSN da União Astronômica Internacional, já que anteriormente ε era denominada por uma diferente transliteração da mesma palavra árabe, Gienah, ou ainda como Gienah Cygni para evitar confusão com γ Corvi (também denominada Gienah).

Entre α, γ e esta estrela encontra-se o Saco de Carvão Boreal, uma área que parece quase vazia à olho nu, em plena Via Láctea; tal como o seu análogo mais famoso que, coincidentemente, situa-se junto à Cruz do Sul.

6° a nordeste de ε temos 61 Cygni, uma das estrelas mais próximas ao Sol. Se a distância da Terra ao Sol fosse representada como 1 centímetro, aquela a 61 Cygni seria pouco mais de 7 quilômetros. Também é notável por seu grande movimento próprio, que lhe rendeu a alcunha de Estrela Voadora; ela se aproxima da estrela σ com 5.2 segundos de arco por ano, e estará ao seu lado dentro de 1500 anos.[xxvii] Há 4000 anos, ela estava ao lado de ε.

Ela é uma binária de 6.a magnitude, estando seus componentes separados por 28″, com ângulo de posição 152°. Foi a primeira estrela a ter paralaxe trigonométrica determinada, por Friedrich Bessel entre 1837 e 1840; daí sua alcunha Estrela de Bessel.

Na China, ζ, ρ e outras estrelas adjacentes formavam o asterismo Chē Fǔ, o Pátio para Carretas; θ, ι, κ e várias outras estrelas vizinhas formavam Xī Zhòng, nome de um lendário ministro da dinastia Xia que teria inventado a carreta de guerra, a qual leva o mesmo nome. Já a estrela μ1 era Jiù, o Pilão, e as estrelas 4 e 17 Cygni participavam do asterismo Niǎn Dào, a Passagem Imperial.

π1, 4.8,

é Azelfafage, possivelmente uma forma corrompida de Adelfalferes, de al-Ẓilf al-Faras, a Pegada ou Rastro do Cavalo; e, citando Ideler,

Deve-se a que ou a pata de Pégaso [atualmente marcada por π Pegasi] se estendia a esta estrela, ou que nesta região deveriam estar localizados os pés do Garanhão que, como iremos ver mais adiante, algum astrônomo árabe introduziu entre Pégaso e o Cisne.[xxviii]

Ou o título pode ter vindo de al-Dhayl al-Dajājah, a Cauda da Galinha, cujo local exato ela marca.

Seu nome já foi escrito como Azelfafge; mas Bayer, em cujo texto a palavra aparentemente foi usada pela primeira vez, tinha “Azelfage id est Tarcuta”.[2]

π1, com outras vinte estrelas no Cisne, Andrômeda e Lagarto, formavam o asterismo chinês Téng Shé, a Serpente Alada.

P Cygni, ou 34 Cygni, de 5.a magnitude, localizada na base do pescoço do Cisne, é uma hipergigante da classe das estrelas variáveis luminosas azuis. Ela apresenta linhas de emissão antecedidas por seus análogos em absorção, em um padrão característico de estrelas envolvidas por nuvens de gás. Foi descoberta por Janson, como uma nova de 2.a magnitude, em 18 de agosto de 1600; foi numerada como 27 no catálogo de Tycho, com a designação nova anni 1600 in pectore Cygni; e Kepler achou relevante dedicar-lhe uma monografia em 1606. Christian Huygens, o astrônomo holandês do século XVII, chamou-a de Renaissante (Renascente) do Cisne, por sua extraordinária variação de brilho; mas estas agora parecem ter cessado.

ω1, ω2 e 43 Cygni,[xxix] segundo Ideler, eram coletivamente Ruchba de al-Rukbah al-Dajājah, o Joelho da Galinha; mas atualmente as três marcam a terça parte da asa esquerda.


Notas de Rodapé (do texto original)


[1] Um artigo muito interessante sobre os símbolos astronômicos encontra-se em Histoire de l' Astronomie Ancienne, de Bailly, publicado em Paris, em 1775.
[2] O que seria isto? Parece ter escapado aos comentários de todas as autoridades no assunto.


Notas Explicativas da Tradução


[i] Versos 9-11 do soneto Aparição, de Ernani Rosas. No texto em inglês, à epígrafe deste capítulo, Allen citou um excerto de tradução versificada do poema Pan Tadeusz, de Adam Mickiewicz: “Those deathless odalisques of heaven’s hareem, / The Stars, unveil; a lonely cloud is roll’d / Past by the wind, as bears an azure stream / A sleeping swan’s white plumage fringed with gold” (Tais odaliscas imortais do harém celestial, / As estrelas, revelam-se; uma nuvem solitária é levada a rolar / Pelo vento, como carrega uma corrente azul / Uma plumagem branca de um cisne adormecido com franjas de ouro). Não consegui identificar a tradução usada por Allen, mas esses versos correspondem a parte da 17.a estrofe do Livro XI no Pan Tadeusz, na qual originalmente nada há sobre o Cisne, o qual foi incluído na versificação inglesa por uma metáfora: “Kilka gwiazd świeci z głębi, jako perły ze dna / Przez fale; z boku chmura biała, sama jedna, / Podlatuje i skrzydła w błękicie zanurza, / Podobne do niknących piór Anioła Stróża” (Algumas estrelas brilham das profundezas, como pérolas no fundo do mar / Através das ondas; uma nuvem branca ao lado, isolada, / Ela voa e mergulha suas asas no azul, / Semelhante às esvanescentes penas do Anjo da Guarda).
[ii] Allen escreveu erroneamente ἠϱόεις.
[iii] Referência aos versos 276-277 dos Fenômenos de Arato: “ἄλλα μὲν ἠερόεις, τὰ δέ οἱ ἐπὶ τετρήχυνται / ἀστράσιν οὔτι λίην μεγάλοις, ἀτὰρ οὐ μὲν ἀφαυροῖς”. Na tradução de Luciana Malacarne (in Arato, Fenômenos. Cadernos de Tradução, 38, jan-jun, 2016, org. Bacarat Jr., J. C., Porto Alegre: Instituto de Letras da UFRGS): “escura em algumas partes, mas outras encrespam-se / com estrelas não muito grandes, ainda que não débeis”.
[iv] Arato afirma que o Cisne seria escuro pois não teria estrelas muito brilhantes e Hiparco aponta que isso está errado: “Πάλιν δέ Ἄρατος ἐν τοῖς ἑξῆς ἀγνοεῖ, ἐπὶ τοῦ Ὄρνιϑος λέγων — (...) — καὶ γὰρ πολλοὺς καὶ λαμπροὺς ἀστέρας ἐχει ὁ Ὄρνις, τὸν δέ ἐν τῇ οὐρα καὶ σφόδρα λαμπρόν, ἔγγιστα τε ἴσον τῷ ἐν τῇ Λύρα λαμπρῷ” (Além disso, Arato se engana quando fala sobre o Cisne: (…) A saber, o Cisne tem muitas estrelas brilhantes; a da cauda é até muito brilhante e quase igual em brilho à mais brilhante da Lira) — in Hipparchi in Arati et Eudoxi Phaenomena commentariorum libri tres, 1894, Leipzig: B. G. Teubner, pg. 63).
[v] Sérvio Honorato escreve que Cicno era amante de Faetonte, uma informação que talvez Allen tenha preferido omitir por questões da moral de seu tempo. A lenda conta que Cicno passou a prantear a morte de Faetonte junto ao rio Erídano. Para liberá-lo de sua dor, os deuses o transformaram num cisne. Mesmo assim ele mantinha a memória do incidente de Faetonte, evitando o calor do Sol. Já para Virgílio, Cicno lamentou a morte do amante até a velhice, e seus cabelos grisalhos se tornaram penas brancas quando foi transformado em cisne.
[vi] Allen se refere aqui ao fato de os gregos darem ao Cisne o nome genérico Ὄρνις, Pássaro, o que implicaria a ausência de um mito particular para a constelação.
[vii] O nome al-Ṭāʾir al-Ardūf, citado por Allen, provavelmente está incorreto, uma vez que o termo Ardūf (اردوف) não se encontra em dicionários de árabe e tampouco corresponde a uma palavra árabe, com base em buscas online. Além disso, Ideler cita para a constelação apenas a denominação al-Ṭāʾir. Não fui capaz de descobrir em que referência Allen se baseou para fazer essa citação. Contudo, noto que Ardūf contém o radical RDF tal como ردف (Ridf) citado por Ideler como nome variante para essa constelação (Allen transcreveu-o como Radif), bem como o têm al-Ridfu, um dos nomes de α Cygni segundo o Arabic-English Lexicon de Lane. Ideler aponta que o Almagesto Árabo-Latino transcreve o nome de α Cygni como Aridef. Essa confluência de palavras com o radical RDF sugere que um desses termos (ou palavra similar) esteve em uso na nomenclatura do Cisne na Arábia.
[viii] Allen transcreveu-o como al-Radif.
[ix] Apud Ideler, in Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 79: “Arided, wofür der arabisch-lateinische Almagest richtiger Aridef liest, nimmt Scaliger S. 476 für الرذاذ, El-rided, welches er in einem alten spanisch-lateinisch-arabischen Wörterbuch als die Benennung einer wohlriechenden Blume gefunden haben will. Existirt wirklich ein solches Wort in irgend einem Dialect der arabischen Sprache, so ist das obige quasi redolens um so erklärlicher.” (Arided, para a qual o Almagesto árabo-latino mais corretamente lê Aridef, foi tomada por Scaliger à página 476 como الرذاذ, El-rided, que ele afirma ter encontrado em um antigo dicionário espanhol-latim-árabe como o nome de uma flor perfumada. Se tal palavra realmente existe em qualquer dialeto da língua árabe, então o quasi redolens acima é ainda mais explicável”. Sobre o termo “quasi redolens” veja a nota [xvii] abaixo.
[x] Olor e Cygnus são sinônimos em Latim. A frase se lê como Olor: que Hiparcos chama de Cignus.
[xi] Em tradução aproximada: “que é Volante, também chamada de Galinha, que é dita Eurisim tão perfumada quanto o Lírio dentre as Íris”.
[xii] Ideler (in Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 75) supõe que Eurisim seja um erro de tradução do árabe ao latim, pela confusão do nome اورنس (Ūrnis) com uma palavra grega, que tomou como a planta Ἐρύσιμον. Nesse caso, a expressão “quasi redolens” teria sido adicionada pelo tradutor. Contudo, Ideler também aponta, páginas depois, que a tradução de Scaliger para الرذاذ (ver a nota [ix] acima) como uma flor perfumada poderia reforçar a relação entre a constelação e a planta.
[xiii] O trecho entre aspas é uma citação aos versos 45-46 do poema The Constellations, de William Culent Bryant: “The Lyre with silver cords, the Swan uppoised / On gleaming wings, the Dolphin gliding on” (A Lira com cordas prateadas, o Cisne planando / em Asas Brilhantes, o Golfinho deslizando).
[xiv] O asterismo da Cruz do Norte é o principal fator pelo qual a constelação Crux é denominada Cruz (Cruzeiro) do Sul.
[xv] Tradução metrificada dos versos 33-36 do poema New Year’s Eve, 1844 de James Russell Lowell. No original em inglês: “Orion kneeling in his starry niche, / The Lyre whose strings give music audible / To holy ears, and countless splendors more, / Crowned by the blazing Cross high-hung o’er all”.
[xvi] No original: “Yonder goes Cygnus, the Swan, flying southward, — / Sign of the Cross and of Christ unto me”. Não fui capaz de localizar nem o poema original citado por Allen, nem identificar seu autor. Com base no índice de autores fornecido por Allen ao fim do livro, Smith deve ser George Smith, porém este é assiriologista e não poeta.
[xvii] Apud Birmingham, J. (1879), The Red Stars: Observations and Catalogue, Trans. of the Royal Irish Acad., v. 26, pp. 249-354. Essa região de estrelas vermelhas é um reflexo do avermelhamento causado pela poeira interestelar nessa região da Via Láctea. É justamente aí que encontramos a Fenda de Aquila (Aquila Rift), uma área de grande extinção interestelar causada por uma nuvem molecular próxima ao Sol.
[xviii] Parapegma (pl. parapegmata) é qualquer recurso utilizado para traçar uma data de ocorrência cíclica. No caso desse texto, a migração do milhafre é o parapegmata associado ao período do ano e, por conseguinte, à uma configuração estelar.
[xix] Os dados atuais indicam um movimento próprio total de 2,01 milissegundos de arco por ano.
[xx] No texto original, esse parágrafo contém algumas informações adicionais sobre o movimento de Dened e sua aproximação ao Sol. Retirei-o desta versão porque essas informações se baseiam em dados de velocidade e distância muito ultrapassados.
[xxi] A frase entre aspas é uma citação a Clerke, A. M. 1890, in System of Stars, Londres: Longmans, Green and Co., pg. 157. No original: “perhaps the most lovely effect of colour in the heavens”.
[xxii] Anthelme Voituret, também conhecido como Antelmo de Dijon, padre Antelmo ou Dom Antelmo, viveu entre 1618 e 1683 na França.
[xxiii] Allen informa ainda que John Russell Hind teria localizado uma estrela de magnitude 10.5 em 1852 que poderia corresponder ao remanescente da Nova 1670. Hetherington, B. (1970, in Nova Vulpeculae 1670, Journal of the British Astronomical Association, v. 80, p. 381) aponta que tal estrela apresentava magnitude 12 em 1861 e que várias buscas posteriores não mais tiveram sucesso em encontrar uma contrapartida óptica para a nova.
[xxiv] Isso se deve a que o Braço Local (também chamado de Esporão de Órion) cruza a dianteira do anel galactocêntrico do Sol na região do Cisne, levando a uma grande concentração de estrelas jovens e regiões de formação estelar nessa área.
[xxv] Trata-se do tipo IV na antiga classificação estelar de Angelo Secchi, que corresponde às atuais estrelas carbonadas.
[xxvi] Em A Catalogue of the Stars of the IV. Type (Espin, T. E. 1889, Month. Not. Roy. Astr. Soc. 49, p. 364), Espin lista 113 estrelas que apresentam espectro de quarto tipo. De sua tabela é possível verificar que há um grande número delas ao redor das ascenções retas 5h e 20h, aproximadamente aquelas que correspondem a Sadr e aos Chifres do Touro. Essa concentração se deve apenas a presença de regiões de formação estelar e associações estelares próximas ao Sol em Cisne e no Touro; para os limites de magnitude das observações de Espin, tais foram as regiões onde um maior número de estrelas carbonadas foi encontrado. Atualmente consideramos que a distribuição espacial das estrelas carbonadas se concentre em torno do plano galáctico (veja Galactic distributions of carbon- and oxygen-rich AGB stars revealed by the AKARI mid-infrared all-sky survey, Ishihara D. et al. 2011, Astron. & Astroph., 534, A79).
[xxvii] Allen superestimou esse intervalo de tempo como 15000 anos.
[xxviii] Apud Ideler, in Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 79-80. No original: “es sey nun, daſs man den Fuſs des Pegasus bis zu diesem Stern verlängert, oder sich in dieser Gegend die Füſse des vollständigen Pferdes, jenes Sternbildes, gedacht hat, das einige Araber, wie wir unten sehn werden, zwischen den Pegasus und den Schwan eingeschoben haben”.
[xxix] No original, Allen cita ω3 Cygni como Ruchba, com base no texto de Ideler: “und für 3 ω ركبة الدجاجة , Rukhba el-dedschâdsche, Knie der Henne” (in Untersuchungen über den Ursprung und die Bedentung der Sternnamen, pg. 79). Todavia, não existe uma estrela ω3 Cygni na base de dados CDS. Nas pranchas originais de Bayer no Uranometria, nota-se que mesmo a estrela ω Cygni não está claramente marcada (ao contrário de outras). Ideler menciona três estrelas designadas como ω. Há na região indicada por Bayer duas estrelas próximas de 5.a magnitude, reconhecidas como ω1 e ω2 Cygni, além de uma terceira de magnitude 5⅔ (43 Cygni), 40′ a noroeste de ω1 Cygni. Concluo ser esta a terceira estrela mencionada por Ideler.