Antlia

ANTLIA

anteriormente Antlia Pneumatica (a Máquina de Ar), é a Machine Pneumatique de Lacaille, primeiramente latinizada como Machina Pneumatica, como é encontrada em Burritt, — e este também é seu nome em Italiano —; mas os astrônomos a conhecem simplesmente como Antlia. Na Alemanha, ela se chama Luft Pumpe, e nos países de língua inglesa, Air Pump, ambas significando “Bomba de Ar”.

Antlia Pneumatica, representada na Uranografia de Bode.
A constelação situa-se ao sul da Taça e da Hidra, estendendo-se à Vela da Argo ao longo dos ramos da Via Láctea.

Gould anota para ela oitenta e cinco estrelas visíveis a olho nu. A estrela α, sua lúcida, é uma gigante de tipo espectral K3 III, situada a cerca de 366 anos-luz do Sol. É uma estrela variável, como diversos de seus observadores do passado já notaram ao apontá-la ora como estrela de magnitude 4, ora como de 5; Argelander chegou a marcar ambos os valores. Na antiga Coreia, α provavelmente era parte da grande constelação Iik, a Asa do Pássaro Vermelho.

Sua estrela β na lista de Lacaille encontra-se dentro dos limites da constelação da Hidra.

Embora inconspícua e sem dispor de qualquer estrela com nome, Antlia tem alguns objetos de interesse e, por sua vez, chega a dar seu nome a outros objetos, posto que os nomes de constelações são usualmente reciclados por astrônomos profissionais para nomear estruturas galácticas ou extragalácticas.

É de especial interesse aos astrônomos a variável S Antliae [i], descoberta em 1888 por H. M. Paul, de Washington. Trata-se de uma binária eclipsante do tipo W Ursae Majoris. Seu brilho varia em meia magnitude, num período de pouco mais de 7 horas, sendo um ótimo alvo variável para observação ao longo duma única noite. À época de sua descoberta, tinha o mais curto período de variabilidade estelar conhecido.

Prancha 32 do Urania's Mirror, conjunto de gravuras produzidas em 1824 por Sidney Hall.
Antlia pode ser vista na parte de baixo da prancha, entre a Hidra e a Argo.
A galáxia anã Antlia recebeu esse nome por situar-se na área dessa constelação. Ela já era conhecida desde 1985, mas apenas em 1997 foi identificada como uma galáxia anã por Allan Whiting, Mike Irwin e George Hau. Ela situa-se a 4,3 milhões de anos-luz e parece estar em interação gravitacional com a galáxia NGC 3109. Faz parte de um pequeno grupo de galáxias também chamado Antlia (ou, mais frequentemente, grupo NGC 3109), que é vizinho ao Grupo Local.

Galáxia anã de Antlia, em imagem do telescópio espacial Hubble.
Crédito: NASA / STScI / WikiSky

O nome Antlia também é comumente usado para se referenciar ao aglomerado de galáxias Abell S636, o terceiro aglomerado mais próximo da Terra, após Virgo e Fornax, situado a 132,1 milhões de anos-luz.

Os anos 80 do século XX evidenciaram pela primeira vez a estrutura em larga escala do Universo. Os mapas de desvio para o vermelho de galáxias próximas compostos por John Huchra, Margareth Gallagher e Valérie de Lapparent apontaram para uma distribuição de galáxias altamente hierarquizada, com aglomerações, filamentos e grandes vazios. Um desses filamentos, que une o superaglomerado de Centaurus ao de Hidra, passando pelo aglomerado Abell S636, foi batizado de Muralha de Antlia [ii] ou Muralha de Hydra-Antlia [iii]. Toda essa estrutura composta pelos dois aglomerados e a muralha também é mais frequentemente conhecida como Superaglomerado Centaurus-Hydra.


Notas Explicativas da Tradução


[i] A nomenclatura de estrelas variáveis segue um conjunto de curiosas regras que se foram fixando com o tempo, à medida que novas variáveis iam sendo descobertas. Argelander foi quem a iniciou, em 1855, ao escrever: “Nomeei como R a estrela da Virgem cuja variabilidade periódica foi descoberta em 1809 por Harding... Espero ser perdoado por tomar a liberdade de designar por uma letra uma estrela que não se encontra no catálogo de Bayer, mas parece-me que devido a sua originalidade estrelas variáveis merecem a reivindicação duma distinção do tipo. (...) Para evitar confusão com a designação alfabética de Bayer, escolhi usar apenas as últimas letras do alfabeto e escrevê-las em maiúsculas”. A proposta foi aprovada por outros astrônomos e adotada para as demais constelações, caso as estrelas variáveis já não tivessem uma denominação na nomenclatura Bayer, nem uma numeração Flamsteed. Assim, a primeira variável descoberta numa constelação receberia a designação R; a segunda, S; a terceira, T; etc, até a letra Z. A partir daí, decidiram usar letras duplicadas, na ordem RR, RS, RT, ..., RZ, seguida por SS, ..., SZ, TT, ..., até ZZ, sempre pulando as combinações em que a primeira letra teria ordem alfabética posterior à da segunda. A regra possibilitava nomear 54 variáveis em cada constelação. Quando ZZ Cygni foi descoberta em 1907, decidiu-se ampliar a regra, e adotou-se a sequência AA, AB, AC, ..., AZ, seguidas por BB, BC, ..., BZ, ..., até QZ, possibilitando ao todo 334 combinações de letras para cada combinação. Em 1929, QZ Sagitarii foi descoberta e outra regra precisou ser criada. As variáveis descobertas além da 334.a são nomeadas segundo a proposta de Charles André, que na verdade foi feita quase à mesma época da de Argelander: usa-se para elas a letra V seguida por um número de ordem de sua descoberta. Assim, após QZ Sagitarii, a próxima estrela variável foi denominada V335 Sagitarii, e o mesmo foi usado noutras constelações. Para mais informações acerca da nomenclatura e catálogos de estrelas variáveis, ver The names and catalogues of variable stars (texto de Emile Schweitzer, traduzido por Jacques Vialle)
[ii] Cosmography of the Local Universe (Courtois et. al. 2013, The Astronomical Journal, v. 146, art.id. 69)
[iii] Extragalactic Large-Scale Structures behind the Southern Milky Way. — I. Redshifts Obtained at the SAAO in the Hydra/Antlia Extension (Kraan-Korteweg, Fairall & Balkowski 1995, Astronomy & Astrophysics, v. 297, pp. 617-633).

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